Análise|Deflação em agosto é pontual, e queda dos preços está longe de trazer conforto para o Banco Central


IPCA de -0,02% em agosto vem praticamente em linha com o previsto pelo mercado financeiro

Por Alvaro Gribel
Atualização:

Um erro comum que muitas autoridades e analistas de plantão cometem ao analisar a inflação é olhar apenas para o dado de um mês, em relação ao período anterior. Coube ao advogado-geral da União, Jorge Messias, ser o primeiro a externar o equívoco em uma rede social na manhã desta terça-feira, 10, logo após a divulgação, pelo IBGE, do IPCA de agosto, de -0,02%, com uma ligeira queda em agosto, na comparação com julho.

Segundo ele, “alguns economistas erraram”. “De novo. A inflação segue controlada, apesar de toda a histeria a favor do aumento dos juros. Naturalmente o governo seguirá vigilante para garantir o poder de compra da população”, escreveu.

O número, na verdade, veio praticamente em linha com o previsto pelo mercado. Segundo a pesquisa Projeções Broadcast, a mediana do mercado apontava uma alta de 0,02%, mas com intervalo de estimativas entre -0,07% e 0,13%. O IPCA de -0,02%, portanto, estava no radar e muito próximo da mediana.

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Mandato do BC o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Inflação longe da meta

O olhar mais abrangente sobre os dados de inflação está longe de trazer conforto, e por isso a alta da Selic continua sobre a mesa. O mandato do Banco Central o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto. É verdade que houve uma ligeira melhora em relação aos 12 meses encerrados em julho, que bateu no topo da banda de tolerância, em 4,5%, mas o número continua muito distante da meta de 3%.

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De janeiro a agosto, a inflação já subiu 2,88%, ou seja, em oito meses já chegou muito próximo da meta de 3%. Das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, quatro delas estão com a inflação acima do teto: Belo Horizonte (5,89%), São Paulo (4,61%), Brasília (4,53%) e São Luís (4,51%).

A grande preocupação do Banco Central está com o controle das expectativas. O Boletim Focus divulgado nesta semana mostrou uma nova piora nas projeções deste ano, pela oitava semana consecutiva. Agora, para 2024, a estimativa é a de que o IPCA termine o ano em 4,3%.

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Embora o BC não tenha muito o que fazer sobre a inflação até dezembro, porque a política de juros demora a fazer efeito, quanto maior o patamar de preços neste resto de ano, maior a dificuldade de queda do índice no ano que vem. Para 2025, o mercado estima o IPCA em 3,92%, muito acima da meta de 3%. E para 2026 e 2027, os números estão em 3,6% e 3,5%, respectivamente, também longe do centro.

Os números estão “desancorados”, como dizem os economistas. E, antes que digam que as projeções são terrorismo de mercado, a pesquisa Firmus feita pelo Banco Central com empresários apontou números ainda piores.

Energia e alimentos vão ‘devolver’ a queda

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Um item que ajudou para essa pequena deflação em agosto foi a energia elétrica. Como houve bandeira verde no mês, a energia elétrica residencial recuou 2,77%. O problema é que a Aneel acionou a bandeira vermelha 1 em setembro, em função da queda do nível dos reservatórios, e haverá novo aumento nesse item.

Outro grupo que ajudou foram os alimentos, e o efeito neste mês deve ser semelhante. O grupo alimentação e bebidas caiu 0,44%, mas o período mais seco do que o previsto este ano, e as queimadas que têm afetado diversas lavouras, vão pressionar novamente vários itens da cesta de compras.

Na visão do economista Leonardo Costa, do Asa, que, por sinal, previa deflação de 0,07% em agosto, outro ponto preocupante é que a alta do dólar está tendo efeito sobre os bens industrializados, que voltaram a subir no mês. Um estudo do Itaú Unibanco mostrou que a valorização entre 10% a 15% do dólar este ano está tendo impacto mais forte sobre esses itens, em função do mercado de trabalho aquecido, que aumenta a demanda por esses produtos.

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Para setembro, a expectativa da Asa é alta de 0,67%, para um novo aumento de 0,34% em outubro. Para o final do ano, a projeção foi revista para 4,6%, de 4,4%, acima, portanto, do teto da meta.

Luis Otávio Leal, da G5 Partners, diz que os dados deste mês foram bons, o que deve evitar uma alta de 0,5 ponto da Selic em setembro. Mas o aumento de 0,25 ponto na taxa continua no radar. Ele estima alta de 0,55% na inflação de setembro e colocou sob viés de alta a projeção para o ano.

“Por enquanto, mantemos a nossa projeção de 4,4%, mas esta claramente tem um viés de alta”, disse em relatório a clientes.

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Se a inflação não está descontrolada, por um lado, também não deixa de ser motivo de preocupação. Com o dólar em patamar elevado, piora das expectativas, e uma situação fiscal longe de ser resolvida, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia, de forma técnica, um novo ciclo de alta da taxa Selic.

Um erro comum que muitas autoridades e analistas de plantão cometem ao analisar a inflação é olhar apenas para o dado de um mês, em relação ao período anterior. Coube ao advogado-geral da União, Jorge Messias, ser o primeiro a externar o equívoco em uma rede social na manhã desta terça-feira, 10, logo após a divulgação, pelo IBGE, do IPCA de agosto, de -0,02%, com uma ligeira queda em agosto, na comparação com julho.

Segundo ele, “alguns economistas erraram”. “De novo. A inflação segue controlada, apesar de toda a histeria a favor do aumento dos juros. Naturalmente o governo seguirá vigilante para garantir o poder de compra da população”, escreveu.

O número, na verdade, veio praticamente em linha com o previsto pelo mercado. Segundo a pesquisa Projeções Broadcast, a mediana do mercado apontava uma alta de 0,02%, mas com intervalo de estimativas entre -0,07% e 0,13%. O IPCA de -0,02%, portanto, estava no radar e muito próximo da mediana.

Mandato do BC o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Inflação longe da meta

O olhar mais abrangente sobre os dados de inflação está longe de trazer conforto, e por isso a alta da Selic continua sobre a mesa. O mandato do Banco Central o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto. É verdade que houve uma ligeira melhora em relação aos 12 meses encerrados em julho, que bateu no topo da banda de tolerância, em 4,5%, mas o número continua muito distante da meta de 3%.

De janeiro a agosto, a inflação já subiu 2,88%, ou seja, em oito meses já chegou muito próximo da meta de 3%. Das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, quatro delas estão com a inflação acima do teto: Belo Horizonte (5,89%), São Paulo (4,61%), Brasília (4,53%) e São Luís (4,51%).

A grande preocupação do Banco Central está com o controle das expectativas. O Boletim Focus divulgado nesta semana mostrou uma nova piora nas projeções deste ano, pela oitava semana consecutiva. Agora, para 2024, a estimativa é a de que o IPCA termine o ano em 4,3%.

Embora o BC não tenha muito o que fazer sobre a inflação até dezembro, porque a política de juros demora a fazer efeito, quanto maior o patamar de preços neste resto de ano, maior a dificuldade de queda do índice no ano que vem. Para 2025, o mercado estima o IPCA em 3,92%, muito acima da meta de 3%. E para 2026 e 2027, os números estão em 3,6% e 3,5%, respectivamente, também longe do centro.

Os números estão “desancorados”, como dizem os economistas. E, antes que digam que as projeções são terrorismo de mercado, a pesquisa Firmus feita pelo Banco Central com empresários apontou números ainda piores.

Energia e alimentos vão ‘devolver’ a queda

Um item que ajudou para essa pequena deflação em agosto foi a energia elétrica. Como houve bandeira verde no mês, a energia elétrica residencial recuou 2,77%. O problema é que a Aneel acionou a bandeira vermelha 1 em setembro, em função da queda do nível dos reservatórios, e haverá novo aumento nesse item.

Outro grupo que ajudou foram os alimentos, e o efeito neste mês deve ser semelhante. O grupo alimentação e bebidas caiu 0,44%, mas o período mais seco do que o previsto este ano, e as queimadas que têm afetado diversas lavouras, vão pressionar novamente vários itens da cesta de compras.

Na visão do economista Leonardo Costa, do Asa, que, por sinal, previa deflação de 0,07% em agosto, outro ponto preocupante é que a alta do dólar está tendo efeito sobre os bens industrializados, que voltaram a subir no mês. Um estudo do Itaú Unibanco mostrou que a valorização entre 10% a 15% do dólar este ano está tendo impacto mais forte sobre esses itens, em função do mercado de trabalho aquecido, que aumenta a demanda por esses produtos.

Para setembro, a expectativa da Asa é alta de 0,67%, para um novo aumento de 0,34% em outubro. Para o final do ano, a projeção foi revista para 4,6%, de 4,4%, acima, portanto, do teto da meta.

Luis Otávio Leal, da G5 Partners, diz que os dados deste mês foram bons, o que deve evitar uma alta de 0,5 ponto da Selic em setembro. Mas o aumento de 0,25 ponto na taxa continua no radar. Ele estima alta de 0,55% na inflação de setembro e colocou sob viés de alta a projeção para o ano.

“Por enquanto, mantemos a nossa projeção de 4,4%, mas esta claramente tem um viés de alta”, disse em relatório a clientes.

Se a inflação não está descontrolada, por um lado, também não deixa de ser motivo de preocupação. Com o dólar em patamar elevado, piora das expectativas, e uma situação fiscal longe de ser resolvida, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia, de forma técnica, um novo ciclo de alta da taxa Selic.

Um erro comum que muitas autoridades e analistas de plantão cometem ao analisar a inflação é olhar apenas para o dado de um mês, em relação ao período anterior. Coube ao advogado-geral da União, Jorge Messias, ser o primeiro a externar o equívoco em uma rede social na manhã desta terça-feira, 10, logo após a divulgação, pelo IBGE, do IPCA de agosto, de -0,02%, com uma ligeira queda em agosto, na comparação com julho.

Segundo ele, “alguns economistas erraram”. “De novo. A inflação segue controlada, apesar de toda a histeria a favor do aumento dos juros. Naturalmente o governo seguirá vigilante para garantir o poder de compra da população”, escreveu.

O número, na verdade, veio praticamente em linha com o previsto pelo mercado. Segundo a pesquisa Projeções Broadcast, a mediana do mercado apontava uma alta de 0,02%, mas com intervalo de estimativas entre -0,07% e 0,13%. O IPCA de -0,02%, portanto, estava no radar e muito próximo da mediana.

Mandato do BC o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Inflação longe da meta

O olhar mais abrangente sobre os dados de inflação está longe de trazer conforto, e por isso a alta da Selic continua sobre a mesa. O mandato do Banco Central o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto. É verdade que houve uma ligeira melhora em relação aos 12 meses encerrados em julho, que bateu no topo da banda de tolerância, em 4,5%, mas o número continua muito distante da meta de 3%.

De janeiro a agosto, a inflação já subiu 2,88%, ou seja, em oito meses já chegou muito próximo da meta de 3%. Das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, quatro delas estão com a inflação acima do teto: Belo Horizonte (5,89%), São Paulo (4,61%), Brasília (4,53%) e São Luís (4,51%).

A grande preocupação do Banco Central está com o controle das expectativas. O Boletim Focus divulgado nesta semana mostrou uma nova piora nas projeções deste ano, pela oitava semana consecutiva. Agora, para 2024, a estimativa é a de que o IPCA termine o ano em 4,3%.

Embora o BC não tenha muito o que fazer sobre a inflação até dezembro, porque a política de juros demora a fazer efeito, quanto maior o patamar de preços neste resto de ano, maior a dificuldade de queda do índice no ano que vem. Para 2025, o mercado estima o IPCA em 3,92%, muito acima da meta de 3%. E para 2026 e 2027, os números estão em 3,6% e 3,5%, respectivamente, também longe do centro.

Os números estão “desancorados”, como dizem os economistas. E, antes que digam que as projeções são terrorismo de mercado, a pesquisa Firmus feita pelo Banco Central com empresários apontou números ainda piores.

Energia e alimentos vão ‘devolver’ a queda

Um item que ajudou para essa pequena deflação em agosto foi a energia elétrica. Como houve bandeira verde no mês, a energia elétrica residencial recuou 2,77%. O problema é que a Aneel acionou a bandeira vermelha 1 em setembro, em função da queda do nível dos reservatórios, e haverá novo aumento nesse item.

Outro grupo que ajudou foram os alimentos, e o efeito neste mês deve ser semelhante. O grupo alimentação e bebidas caiu 0,44%, mas o período mais seco do que o previsto este ano, e as queimadas que têm afetado diversas lavouras, vão pressionar novamente vários itens da cesta de compras.

Na visão do economista Leonardo Costa, do Asa, que, por sinal, previa deflação de 0,07% em agosto, outro ponto preocupante é que a alta do dólar está tendo efeito sobre os bens industrializados, que voltaram a subir no mês. Um estudo do Itaú Unibanco mostrou que a valorização entre 10% a 15% do dólar este ano está tendo impacto mais forte sobre esses itens, em função do mercado de trabalho aquecido, que aumenta a demanda por esses produtos.

Para setembro, a expectativa da Asa é alta de 0,67%, para um novo aumento de 0,34% em outubro. Para o final do ano, a projeção foi revista para 4,6%, de 4,4%, acima, portanto, do teto da meta.

Luis Otávio Leal, da G5 Partners, diz que os dados deste mês foram bons, o que deve evitar uma alta de 0,5 ponto da Selic em setembro. Mas o aumento de 0,25 ponto na taxa continua no radar. Ele estima alta de 0,55% na inflação de setembro e colocou sob viés de alta a projeção para o ano.

“Por enquanto, mantemos a nossa projeção de 4,4%, mas esta claramente tem um viés de alta”, disse em relatório a clientes.

Se a inflação não está descontrolada, por um lado, também não deixa de ser motivo de preocupação. Com o dólar em patamar elevado, piora das expectativas, e uma situação fiscal longe de ser resolvida, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia, de forma técnica, um novo ciclo de alta da taxa Selic.

Um erro comum que muitas autoridades e analistas de plantão cometem ao analisar a inflação é olhar apenas para o dado de um mês, em relação ao período anterior. Coube ao advogado-geral da União, Jorge Messias, ser o primeiro a externar o equívoco em uma rede social na manhã desta terça-feira, 10, logo após a divulgação, pelo IBGE, do IPCA de agosto, de -0,02%, com uma ligeira queda em agosto, na comparação com julho.

Segundo ele, “alguns economistas erraram”. “De novo. A inflação segue controlada, apesar de toda a histeria a favor do aumento dos juros. Naturalmente o governo seguirá vigilante para garantir o poder de compra da população”, escreveu.

O número, na verdade, veio praticamente em linha com o previsto pelo mercado. Segundo a pesquisa Projeções Broadcast, a mediana do mercado apontava uma alta de 0,02%, mas com intervalo de estimativas entre -0,07% e 0,13%. O IPCA de -0,02%, portanto, estava no radar e muito próximo da mediana.

Mandato do BC o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Inflação longe da meta

O olhar mais abrangente sobre os dados de inflação está longe de trazer conforto, e por isso a alta da Selic continua sobre a mesa. O mandato do Banco Central o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto. É verdade que houve uma ligeira melhora em relação aos 12 meses encerrados em julho, que bateu no topo da banda de tolerância, em 4,5%, mas o número continua muito distante da meta de 3%.

De janeiro a agosto, a inflação já subiu 2,88%, ou seja, em oito meses já chegou muito próximo da meta de 3%. Das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, quatro delas estão com a inflação acima do teto: Belo Horizonte (5,89%), São Paulo (4,61%), Brasília (4,53%) e São Luís (4,51%).

A grande preocupação do Banco Central está com o controle das expectativas. O Boletim Focus divulgado nesta semana mostrou uma nova piora nas projeções deste ano, pela oitava semana consecutiva. Agora, para 2024, a estimativa é a de que o IPCA termine o ano em 4,3%.

Embora o BC não tenha muito o que fazer sobre a inflação até dezembro, porque a política de juros demora a fazer efeito, quanto maior o patamar de preços neste resto de ano, maior a dificuldade de queda do índice no ano que vem. Para 2025, o mercado estima o IPCA em 3,92%, muito acima da meta de 3%. E para 2026 e 2027, os números estão em 3,6% e 3,5%, respectivamente, também longe do centro.

Os números estão “desancorados”, como dizem os economistas. E, antes que digam que as projeções são terrorismo de mercado, a pesquisa Firmus feita pelo Banco Central com empresários apontou números ainda piores.

Energia e alimentos vão ‘devolver’ a queda

Um item que ajudou para essa pequena deflação em agosto foi a energia elétrica. Como houve bandeira verde no mês, a energia elétrica residencial recuou 2,77%. O problema é que a Aneel acionou a bandeira vermelha 1 em setembro, em função da queda do nível dos reservatórios, e haverá novo aumento nesse item.

Outro grupo que ajudou foram os alimentos, e o efeito neste mês deve ser semelhante. O grupo alimentação e bebidas caiu 0,44%, mas o período mais seco do que o previsto este ano, e as queimadas que têm afetado diversas lavouras, vão pressionar novamente vários itens da cesta de compras.

Na visão do economista Leonardo Costa, do Asa, que, por sinal, previa deflação de 0,07% em agosto, outro ponto preocupante é que a alta do dólar está tendo efeito sobre os bens industrializados, que voltaram a subir no mês. Um estudo do Itaú Unibanco mostrou que a valorização entre 10% a 15% do dólar este ano está tendo impacto mais forte sobre esses itens, em função do mercado de trabalho aquecido, que aumenta a demanda por esses produtos.

Para setembro, a expectativa da Asa é alta de 0,67%, para um novo aumento de 0,34% em outubro. Para o final do ano, a projeção foi revista para 4,6%, de 4,4%, acima, portanto, do teto da meta.

Luis Otávio Leal, da G5 Partners, diz que os dados deste mês foram bons, o que deve evitar uma alta de 0,5 ponto da Selic em setembro. Mas o aumento de 0,25 ponto na taxa continua no radar. Ele estima alta de 0,55% na inflação de setembro e colocou sob viés de alta a projeção para o ano.

“Por enquanto, mantemos a nossa projeção de 4,4%, mas esta claramente tem um viés de alta”, disse em relatório a clientes.

Se a inflação não está descontrolada, por um lado, também não deixa de ser motivo de preocupação. Com o dólar em patamar elevado, piora das expectativas, e uma situação fiscal longe de ser resolvida, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia, de forma técnica, um novo ciclo de alta da taxa Selic.

Um erro comum que muitas autoridades e analistas de plantão cometem ao analisar a inflação é olhar apenas para o dado de um mês, em relação ao período anterior. Coube ao advogado-geral da União, Jorge Messias, ser o primeiro a externar o equívoco em uma rede social na manhã desta terça-feira, 10, logo após a divulgação, pelo IBGE, do IPCA de agosto, de -0,02%, com uma ligeira queda em agosto, na comparação com julho.

Segundo ele, “alguns economistas erraram”. “De novo. A inflação segue controlada, apesar de toda a histeria a favor do aumento dos juros. Naturalmente o governo seguirá vigilante para garantir o poder de compra da população”, escreveu.

O número, na verdade, veio praticamente em linha com o previsto pelo mercado. Segundo a pesquisa Projeções Broadcast, a mediana do mercado apontava uma alta de 0,02%, mas com intervalo de estimativas entre -0,07% e 0,13%. O IPCA de -0,02%, portanto, estava no radar e muito próximo da mediana.

Mandato do BC o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

Inflação longe da meta

O olhar mais abrangente sobre os dados de inflação está longe de trazer conforto, e por isso a alta da Selic continua sobre a mesa. O mandato do Banco Central o obriga a perseguir uma meta de 3%, e a inflação acumulada em 12 meses está em 4,28% até agosto. É verdade que houve uma ligeira melhora em relação aos 12 meses encerrados em julho, que bateu no topo da banda de tolerância, em 4,5%, mas o número continua muito distante da meta de 3%.

De janeiro a agosto, a inflação já subiu 2,88%, ou seja, em oito meses já chegou muito próximo da meta de 3%. Das 16 capitais pesquisadas pelo IBGE, quatro delas estão com a inflação acima do teto: Belo Horizonte (5,89%), São Paulo (4,61%), Brasília (4,53%) e São Luís (4,51%).

A grande preocupação do Banco Central está com o controle das expectativas. O Boletim Focus divulgado nesta semana mostrou uma nova piora nas projeções deste ano, pela oitava semana consecutiva. Agora, para 2024, a estimativa é a de que o IPCA termine o ano em 4,3%.

Embora o BC não tenha muito o que fazer sobre a inflação até dezembro, porque a política de juros demora a fazer efeito, quanto maior o patamar de preços neste resto de ano, maior a dificuldade de queda do índice no ano que vem. Para 2025, o mercado estima o IPCA em 3,92%, muito acima da meta de 3%. E para 2026 e 2027, os números estão em 3,6% e 3,5%, respectivamente, também longe do centro.

Os números estão “desancorados”, como dizem os economistas. E, antes que digam que as projeções são terrorismo de mercado, a pesquisa Firmus feita pelo Banco Central com empresários apontou números ainda piores.

Energia e alimentos vão ‘devolver’ a queda

Um item que ajudou para essa pequena deflação em agosto foi a energia elétrica. Como houve bandeira verde no mês, a energia elétrica residencial recuou 2,77%. O problema é que a Aneel acionou a bandeira vermelha 1 em setembro, em função da queda do nível dos reservatórios, e haverá novo aumento nesse item.

Outro grupo que ajudou foram os alimentos, e o efeito neste mês deve ser semelhante. O grupo alimentação e bebidas caiu 0,44%, mas o período mais seco do que o previsto este ano, e as queimadas que têm afetado diversas lavouras, vão pressionar novamente vários itens da cesta de compras.

Na visão do economista Leonardo Costa, do Asa, que, por sinal, previa deflação de 0,07% em agosto, outro ponto preocupante é que a alta do dólar está tendo efeito sobre os bens industrializados, que voltaram a subir no mês. Um estudo do Itaú Unibanco mostrou que a valorização entre 10% a 15% do dólar este ano está tendo impacto mais forte sobre esses itens, em função do mercado de trabalho aquecido, que aumenta a demanda por esses produtos.

Para setembro, a expectativa da Asa é alta de 0,67%, para um novo aumento de 0,34% em outubro. Para o final do ano, a projeção foi revista para 4,6%, de 4,4%, acima, portanto, do teto da meta.

Luis Otávio Leal, da G5 Partners, diz que os dados deste mês foram bons, o que deve evitar uma alta de 0,5 ponto da Selic em setembro. Mas o aumento de 0,25 ponto na taxa continua no radar. Ele estima alta de 0,55% na inflação de setembro e colocou sob viés de alta a projeção para o ano.

“Por enquanto, mantemos a nossa projeção de 4,4%, mas esta claramente tem um viés de alta”, disse em relatório a clientes.

Se a inflação não está descontrolada, por um lado, também não deixa de ser motivo de preocupação. Com o dólar em patamar elevado, piora das expectativas, e uma situação fiscal longe de ser resolvida, o Comitê de Política Monetária (Copom) avalia, de forma técnica, um novo ciclo de alta da taxa Selic.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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