Opinião|Vitória de Trump aumenta risco mundial e impõe ao Brasil pacote mais duro de corte de gastos


Volta do republicano à presidência, com maioria no Congresso, tende a facilitar a aprovação de medidas que vão gerar inflação nos EUA, afetando países com risco fiscal como o Brasil

Por Alvaro Gribel
Atualização:

O pior cenário para a economia mundial aconteceu: uma vitória de Donald Trump com alta probabilidade de maioria republicana na Câmara e no Senado. Isso aumenta o risco de que ele consiga aprovar medidas que vão gerar inflação nos EUA e também diminuir os fluxos de comércio internacional. Para o Brasil, o recado é claro de que é preciso acelerar o pacote de ajuste fiscal, que agora terá que ser mais duro para conter a valorização do dólar e um consequente aumento dos juros pelo Banco Central.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que volta à Casa Branca em 2025 com pacote de medidas anti-imigração  Foto: Evan Vucci/AP

Em junho, o Estadão conversou com o economista-chefe para os EUA do banco UBS, Jonathan Pingle, e ele já alertava que uma vitória completa republicana elevaria os riscos para o mundo. A visão é a mesma do consultor para os EUA da Eurasia, Jon Lieber, que também falou ao jornal.

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Trump agora terá mais força para passar medidas anti-imigração que irão atingir em cheio a inflação de serviços. Haverá menos mão de obra disponível para trabalhar sem os imigrantes, ainda que muitos deles sejam ilegais. O aumento de barreiras comerciais que ele promete também vai diminuir a oferta de produtos, com novo impacto sobre os preços, fora o impacto no nível de atividade mundial. E a promessa de redução de impostos tende a agravar o déficit fiscal nos EUA, aumentando a volatilidade nos mercados.

Há um combo de problemas nas promessas econômicas de Trump, e a alta da bolsa americana representa apenas uma visão de curto prazo dos investidores. Como ele promete reduzir impostos e desregulamentar a economia, empresas de setores como financeiro e de energia (petróleo) se valorizam, e elas têm grande peso na composição dos índices. É um erro entender essa alta como endosso à política econômica do republicana, em um sentido mais amplo.

Na manhã desta quarta-feira, ao chegar ao Ministério da Fazenda, o ministro Fernando Haddad disse que Trump fez um discurso mais moderado após a vitória e que é preciso separar o que é retórica de campanha e o que serão suas ações de governo. A lógica faz sentido, mas o tamanho da vitória de Trump não dá nenhum incentivo para que esse atenue suas promessas.

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O pacote de Haddad terá que ser mais duro, porque agora o Brasil viverá em um mundo mais adverso. Na Faria Lima, gestores apontavam que seria melhor que as medidas fossem anunciadas depois das eleições, porque esse cenário mais difícil poderia ser levado em conta pelo governo. Na manhã desta quarta, o dólar já abriu em forte alta, superando novamente a casa dos R$ 5,80.

A boa notícia é que Haddad reconhece o problema. A ruim é que Lula ainda não dá mostras de que foi convencido.

O pior cenário para a economia mundial aconteceu: uma vitória de Donald Trump com alta probabilidade de maioria republicana na Câmara e no Senado. Isso aumenta o risco de que ele consiga aprovar medidas que vão gerar inflação nos EUA e também diminuir os fluxos de comércio internacional. Para o Brasil, o recado é claro de que é preciso acelerar o pacote de ajuste fiscal, que agora terá que ser mais duro para conter a valorização do dólar e um consequente aumento dos juros pelo Banco Central.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que volta à Casa Branca em 2025 com pacote de medidas anti-imigração  Foto: Evan Vucci/AP

Em junho, o Estadão conversou com o economista-chefe para os EUA do banco UBS, Jonathan Pingle, e ele já alertava que uma vitória completa republicana elevaria os riscos para o mundo. A visão é a mesma do consultor para os EUA da Eurasia, Jon Lieber, que também falou ao jornal.

Trump agora terá mais força para passar medidas anti-imigração que irão atingir em cheio a inflação de serviços. Haverá menos mão de obra disponível para trabalhar sem os imigrantes, ainda que muitos deles sejam ilegais. O aumento de barreiras comerciais que ele promete também vai diminuir a oferta de produtos, com novo impacto sobre os preços, fora o impacto no nível de atividade mundial. E a promessa de redução de impostos tende a agravar o déficit fiscal nos EUA, aumentando a volatilidade nos mercados.

Há um combo de problemas nas promessas econômicas de Trump, e a alta da bolsa americana representa apenas uma visão de curto prazo dos investidores. Como ele promete reduzir impostos e desregulamentar a economia, empresas de setores como financeiro e de energia (petróleo) se valorizam, e elas têm grande peso na composição dos índices. É um erro entender essa alta como endosso à política econômica do republicana, em um sentido mais amplo.

Na manhã desta quarta-feira, ao chegar ao Ministério da Fazenda, o ministro Fernando Haddad disse que Trump fez um discurso mais moderado após a vitória e que é preciso separar o que é retórica de campanha e o que serão suas ações de governo. A lógica faz sentido, mas o tamanho da vitória de Trump não dá nenhum incentivo para que esse atenue suas promessas.

O pacote de Haddad terá que ser mais duro, porque agora o Brasil viverá em um mundo mais adverso. Na Faria Lima, gestores apontavam que seria melhor que as medidas fossem anunciadas depois das eleições, porque esse cenário mais difícil poderia ser levado em conta pelo governo. Na manhã desta quarta, o dólar já abriu em forte alta, superando novamente a casa dos R$ 5,80.

A boa notícia é que Haddad reconhece o problema. A ruim é que Lula ainda não dá mostras de que foi convencido.

O pior cenário para a economia mundial aconteceu: uma vitória de Donald Trump com alta probabilidade de maioria republicana na Câmara e no Senado. Isso aumenta o risco de que ele consiga aprovar medidas que vão gerar inflação nos EUA e também diminuir os fluxos de comércio internacional. Para o Brasil, o recado é claro de que é preciso acelerar o pacote de ajuste fiscal, que agora terá que ser mais duro para conter a valorização do dólar e um consequente aumento dos juros pelo Banco Central.

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que volta à Casa Branca em 2025 com pacote de medidas anti-imigração  Foto: Evan Vucci/AP

Em junho, o Estadão conversou com o economista-chefe para os EUA do banco UBS, Jonathan Pingle, e ele já alertava que uma vitória completa republicana elevaria os riscos para o mundo. A visão é a mesma do consultor para os EUA da Eurasia, Jon Lieber, que também falou ao jornal.

Trump agora terá mais força para passar medidas anti-imigração que irão atingir em cheio a inflação de serviços. Haverá menos mão de obra disponível para trabalhar sem os imigrantes, ainda que muitos deles sejam ilegais. O aumento de barreiras comerciais que ele promete também vai diminuir a oferta de produtos, com novo impacto sobre os preços, fora o impacto no nível de atividade mundial. E a promessa de redução de impostos tende a agravar o déficit fiscal nos EUA, aumentando a volatilidade nos mercados.

Há um combo de problemas nas promessas econômicas de Trump, e a alta da bolsa americana representa apenas uma visão de curto prazo dos investidores. Como ele promete reduzir impostos e desregulamentar a economia, empresas de setores como financeiro e de energia (petróleo) se valorizam, e elas têm grande peso na composição dos índices. É um erro entender essa alta como endosso à política econômica do republicana, em um sentido mais amplo.

Na manhã desta quarta-feira, ao chegar ao Ministério da Fazenda, o ministro Fernando Haddad disse que Trump fez um discurso mais moderado após a vitória e que é preciso separar o que é retórica de campanha e o que serão suas ações de governo. A lógica faz sentido, mas o tamanho da vitória de Trump não dá nenhum incentivo para que esse atenue suas promessas.

O pacote de Haddad terá que ser mais duro, porque agora o Brasil viverá em um mundo mais adverso. Na Faria Lima, gestores apontavam que seria melhor que as medidas fossem anunciadas depois das eleições, porque esse cenário mais difícil poderia ser levado em conta pelo governo. Na manhã desta quarta, o dólar já abriu em forte alta, superando novamente a casa dos R$ 5,80.

A boa notícia é que Haddad reconhece o problema. A ruim é que Lula ainda não dá mostras de que foi convencido.

Opinião por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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