‘Os ventos estão mudando de direção na América Latina’, diz Ilan Goldfajn


Para diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, inflação é o grande problema do mundo hoje e deve demorar para cair; no longo prazo, porém, índices da região não estão muitos distantes das metas

Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

Após o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevar a projeção de crescimento da América Latina para este ano de 2,5% para 3%, o diretor do órgão para o Hemisfério Ocidental, Ilan Goldfajn, afirmou que a tendência é de desaceleração a partir deste segundo semestre. “A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte.”

O ex-presidente do Banco Central do Brasil disse que a inflação – o “grande problema” do mundo hoje – deve demorar para cair, mas destaca que as expectativas de longo prazo na região não estão desancoradas (muito distantes das metas). Questionado sobre o aumento dos gastos públicos no País nos últimos meses, que podem pressionar a inflação ainda mais, Goldfajn afirmou apenas que “a questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo” e destacou que o Banco Central está trabalhando para que o Brasil enfrente os “ventos contrários”.

O economista, que está à frente do grupo que acompanha a crise e o cumprimento do plano de ajuste fiscal da Argentina, disse também que, sempre que ocorre uma depreciação cambial como a verificada nas últimas semanas na Argentina, cresce o receio com a possibilidade de haver hiperinflação. “Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.”

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Ilan Goldfajn, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental  Foto: Marcelo Pereira/Fotoka/Credit Suisse

Confira, a seguir, trechos da entrevista.

Apesar da deterioração financeira global, o FMI está com uma projeção melhor de crescimento econômico para a região agora, de 3%, do que em janeiro, quando era de 2,4%. O que está por trás dessa mudança?

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Observamos que a recuperação econômica de 2021, que foi forte na região, continuou no primeiro semestre de 2022. Temos países em que o turismo voltou. Temos países que dependem das forças globais, e os EUA e outros países continuaram crescendo. Tivemos um período, no primeiro semestre, em que as commodities estavam mais altas. Isso também contribuiu. Agora, temos de separar a tendência do começo do ano e o que a gente percebe daqui para frente. A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte. Temos uma revisão de crescimento para os EUA para 1% em 2023 (antes, a projeção era de 1,7%). Esse crescimento dos EUA menor, a China e a Europa também crescendo menos, significa que a região deve, daqui para frente, ter uma desaceleração. Por isso, houve uma revisão da projeção de crescimento para o ano que vem (de 2,5%) para 2%.

A inflação é um problema antigo na América Latina e está pressionada. Quão difícil será para a região controlá-la? Devemos esperar instabilidade política e social na região como consequência da inflação?

Inflação é o grande problema global, não só do Brasil ou da região. Você vê as altas taxas de inflação nos EUA e na Europa. Até mesmo o Japão, que tinha sempre o problema de pouca inflação, está começando a ter mais inflação. O aperto das condições monetárias deve levar à desaceleração. Nesse contexto, a região, até por sua história, teve uma atuação relativamente mais rápida do que a dos países avançados. O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) está subindo a taxa de juros neste ano, quando a maioria dos BCs da região, inclusive o do Brasil, subiu antes. Isso não significa que a inflação esteja resolvida. Significa que, em termos de credibilidade, a reação ocorreu. Os BCs estão tentando reagir e há uma percepção de que, ao menos em termos de perspectivas de longo prazo, eles têm sido relativamente bem sucedidos. Não estamos vendo as expectativas completamente desancoradas. Vemos expectativas mais altas agora e nos próximos dois ou três anos. É o efeito do choque. Vai demorar para voltar, mas os BCs estão reagindo. Acho que a institucionalidade nos últimos anos, os BCs autônomos, os regimes de meta de inflação e a ideia de que inflação é um bem público que tem de ser cuidado ajudaram - aí houve essa reação. Agora, a política monetária e a do governo têm de continuar. Tem de estar muito atento, porque a inflação ainda continua alta e é incerta. Tem de continuar olhando para ver se a política monetária está adequada daqui para frente. Mas o risco de uma inflação mais persistente é uma questão dos EUA e da Europa também.

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Historicamente, vemos que, nos momentos em que o Fed eleva os juros, crises graves ocorrem em países da região. Vocês veem esse risco?

Toda vez que há aperto de condições monetárias, há uma consequência. A consequência clássica é a reversão dos fluxos de capitais (em direção aos países avançados), o que já está ocorrendo. Segundo, o dólar fica mais forte. Isso leva a um custo interno maior. As taxas de juros domésticas sobem, e as moedas se depreciam, o que pressiona a inflação. Essa combinação leva a mais aperto monetário dentro dos países. Aí a desaceleração mundial acaba se transformando também numa desaceleração local. Estamos reduzindo a previsão de crescimento para a região exatamente porque vemos esse desenrolar.

Mas há risco de alguma crise grave em algum país? Crise de inadimplência ou calote, por exemplo?

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Acho que, nesses momentos, é sempre bom ficar atento. Os mercados podem ter maior volatilidade. É o momento de olhar as consequências econômicas e sociais da desaceleração. Tem de olhar com cuidado para frente.

Como fica o Brasil nesse cenário? Há uma desaceleração global ao mesmo tempo em que os gastos públicos estão crescendo e em que se aproxima a eleição, outro fator que gera instabilidade financeira.

O Brasil se encaixa como outros países da região. Quando elevamos a projeção para este ano, o Brasil se encaixa nisso. Mas o País também vai enfrentar um cenário global mais difícil: taxas de juros globais mais altas e dólar mais forte, o que significa pressão maior sobre a taxa de câmbio, em um ambiente em que provavelmente vai ter uma desaceleração de crescimento. As commodities, que foram um fator mitigador no choque anterior, podem não ter esse efeito agora. Isso gera desafios para o Brasil e para a região.

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Como essa flexibilização fiscal que o País teve nos últimos meses por causa das eleições pode afetar 2023?

A questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo. Não é o momento de analisar a questão mais interna. Mas as políticas domésticas têm de contribuir. Vejo que estão fazendo isso. Mencionei a política monetária. Acho que ela está contribuindo para tentar enfrentar esses ventos contrários.

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Qual será o maior desafio para o próximo ano no Brasil?

É o mesmo desafio global. Vamos ter um 2023 com crescimento dos EUA e do resto do mundo bem menor do que em 2022. Em compensação, a região podia se colocar - e acho que está fazendo isso - como parte da solução. Se o mundo está precisando de mais alimento e de energia verde, a região pode se colocar como uma grande vendedora. Então diria que, ao mesmo tempo em que temos um desafio conjuntural, que é o desafio desse aperto das condições monetárias e da desaceleração da economia global, temos oportunidades.

Como vê a situação da Argentina hoje? Qual seria a saída para o país?

O que a gente viu no mundo foi um choque inflacionário sobre um choque inflacionário, só que a Argentina começa com uma inflação mais alta per se. Sob o nosso ponto de vista, a Argentina tem um programa que tem de ser implementado, tem de ser tomadas as decisões de forma tempestiva para tornar a Argentina estável economicamente e socialmente. Isso vai beneficiar a população argentina. O momento chama a implementação de um programa que reduz o déficit, que tenta tornar as condições mais estáveis no país. Não é um programa que resolve todos os problemas, mas que tenta levar a Argentina para um caminho correto, de estabilidade. O momento é de implementar o programa, fazer o que precisa ser feito.

Vocês veem risco de hiperinflação no país?

Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.

Após o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevar a projeção de crescimento da América Latina para este ano de 2,5% para 3%, o diretor do órgão para o Hemisfério Ocidental, Ilan Goldfajn, afirmou que a tendência é de desaceleração a partir deste segundo semestre. “A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte.”

O ex-presidente do Banco Central do Brasil disse que a inflação – o “grande problema” do mundo hoje – deve demorar para cair, mas destaca que as expectativas de longo prazo na região não estão desancoradas (muito distantes das metas). Questionado sobre o aumento dos gastos públicos no País nos últimos meses, que podem pressionar a inflação ainda mais, Goldfajn afirmou apenas que “a questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo” e destacou que o Banco Central está trabalhando para que o Brasil enfrente os “ventos contrários”.

O economista, que está à frente do grupo que acompanha a crise e o cumprimento do plano de ajuste fiscal da Argentina, disse também que, sempre que ocorre uma depreciação cambial como a verificada nas últimas semanas na Argentina, cresce o receio com a possibilidade de haver hiperinflação. “Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.”

Ilan Goldfajn, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental  Foto: Marcelo Pereira/Fotoka/Credit Suisse

Confira, a seguir, trechos da entrevista.

Apesar da deterioração financeira global, o FMI está com uma projeção melhor de crescimento econômico para a região agora, de 3%, do que em janeiro, quando era de 2,4%. O que está por trás dessa mudança?

Observamos que a recuperação econômica de 2021, que foi forte na região, continuou no primeiro semestre de 2022. Temos países em que o turismo voltou. Temos países que dependem das forças globais, e os EUA e outros países continuaram crescendo. Tivemos um período, no primeiro semestre, em que as commodities estavam mais altas. Isso também contribuiu. Agora, temos de separar a tendência do começo do ano e o que a gente percebe daqui para frente. A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte. Temos uma revisão de crescimento para os EUA para 1% em 2023 (antes, a projeção era de 1,7%). Esse crescimento dos EUA menor, a China e a Europa também crescendo menos, significa que a região deve, daqui para frente, ter uma desaceleração. Por isso, houve uma revisão da projeção de crescimento para o ano que vem (de 2,5%) para 2%.

A inflação é um problema antigo na América Latina e está pressionada. Quão difícil será para a região controlá-la? Devemos esperar instabilidade política e social na região como consequência da inflação?

Inflação é o grande problema global, não só do Brasil ou da região. Você vê as altas taxas de inflação nos EUA e na Europa. Até mesmo o Japão, que tinha sempre o problema de pouca inflação, está começando a ter mais inflação. O aperto das condições monetárias deve levar à desaceleração. Nesse contexto, a região, até por sua história, teve uma atuação relativamente mais rápida do que a dos países avançados. O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) está subindo a taxa de juros neste ano, quando a maioria dos BCs da região, inclusive o do Brasil, subiu antes. Isso não significa que a inflação esteja resolvida. Significa que, em termos de credibilidade, a reação ocorreu. Os BCs estão tentando reagir e há uma percepção de que, ao menos em termos de perspectivas de longo prazo, eles têm sido relativamente bem sucedidos. Não estamos vendo as expectativas completamente desancoradas. Vemos expectativas mais altas agora e nos próximos dois ou três anos. É o efeito do choque. Vai demorar para voltar, mas os BCs estão reagindo. Acho que a institucionalidade nos últimos anos, os BCs autônomos, os regimes de meta de inflação e a ideia de que inflação é um bem público que tem de ser cuidado ajudaram - aí houve essa reação. Agora, a política monetária e a do governo têm de continuar. Tem de estar muito atento, porque a inflação ainda continua alta e é incerta. Tem de continuar olhando para ver se a política monetária está adequada daqui para frente. Mas o risco de uma inflação mais persistente é uma questão dos EUA e da Europa também.

Historicamente, vemos que, nos momentos em que o Fed eleva os juros, crises graves ocorrem em países da região. Vocês veem esse risco?

Toda vez que há aperto de condições monetárias, há uma consequência. A consequência clássica é a reversão dos fluxos de capitais (em direção aos países avançados), o que já está ocorrendo. Segundo, o dólar fica mais forte. Isso leva a um custo interno maior. As taxas de juros domésticas sobem, e as moedas se depreciam, o que pressiona a inflação. Essa combinação leva a mais aperto monetário dentro dos países. Aí a desaceleração mundial acaba se transformando também numa desaceleração local. Estamos reduzindo a previsão de crescimento para a região exatamente porque vemos esse desenrolar.

Mas há risco de alguma crise grave em algum país? Crise de inadimplência ou calote, por exemplo?

Acho que, nesses momentos, é sempre bom ficar atento. Os mercados podem ter maior volatilidade. É o momento de olhar as consequências econômicas e sociais da desaceleração. Tem de olhar com cuidado para frente.

Como fica o Brasil nesse cenário? Há uma desaceleração global ao mesmo tempo em que os gastos públicos estão crescendo e em que se aproxima a eleição, outro fator que gera instabilidade financeira.

O Brasil se encaixa como outros países da região. Quando elevamos a projeção para este ano, o Brasil se encaixa nisso. Mas o País também vai enfrentar um cenário global mais difícil: taxas de juros globais mais altas e dólar mais forte, o que significa pressão maior sobre a taxa de câmbio, em um ambiente em que provavelmente vai ter uma desaceleração de crescimento. As commodities, que foram um fator mitigador no choque anterior, podem não ter esse efeito agora. Isso gera desafios para o Brasil e para a região.

Como essa flexibilização fiscal que o País teve nos últimos meses por causa das eleições pode afetar 2023?

A questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo. Não é o momento de analisar a questão mais interna. Mas as políticas domésticas têm de contribuir. Vejo que estão fazendo isso. Mencionei a política monetária. Acho que ela está contribuindo para tentar enfrentar esses ventos contrários.

Qual será o maior desafio para o próximo ano no Brasil?

É o mesmo desafio global. Vamos ter um 2023 com crescimento dos EUA e do resto do mundo bem menor do que em 2022. Em compensação, a região podia se colocar - e acho que está fazendo isso - como parte da solução. Se o mundo está precisando de mais alimento e de energia verde, a região pode se colocar como uma grande vendedora. Então diria que, ao mesmo tempo em que temos um desafio conjuntural, que é o desafio desse aperto das condições monetárias e da desaceleração da economia global, temos oportunidades.

Como vê a situação da Argentina hoje? Qual seria a saída para o país?

O que a gente viu no mundo foi um choque inflacionário sobre um choque inflacionário, só que a Argentina começa com uma inflação mais alta per se. Sob o nosso ponto de vista, a Argentina tem um programa que tem de ser implementado, tem de ser tomadas as decisões de forma tempestiva para tornar a Argentina estável economicamente e socialmente. Isso vai beneficiar a população argentina. O momento chama a implementação de um programa que reduz o déficit, que tenta tornar as condições mais estáveis no país. Não é um programa que resolve todos os problemas, mas que tenta levar a Argentina para um caminho correto, de estabilidade. O momento é de implementar o programa, fazer o que precisa ser feito.

Vocês veem risco de hiperinflação no país?

Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.

Após o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevar a projeção de crescimento da América Latina para este ano de 2,5% para 3%, o diretor do órgão para o Hemisfério Ocidental, Ilan Goldfajn, afirmou que a tendência é de desaceleração a partir deste segundo semestre. “A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte.”

O ex-presidente do Banco Central do Brasil disse que a inflação – o “grande problema” do mundo hoje – deve demorar para cair, mas destaca que as expectativas de longo prazo na região não estão desancoradas (muito distantes das metas). Questionado sobre o aumento dos gastos públicos no País nos últimos meses, que podem pressionar a inflação ainda mais, Goldfajn afirmou apenas que “a questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo” e destacou que o Banco Central está trabalhando para que o Brasil enfrente os “ventos contrários”.

O economista, que está à frente do grupo que acompanha a crise e o cumprimento do plano de ajuste fiscal da Argentina, disse também que, sempre que ocorre uma depreciação cambial como a verificada nas últimas semanas na Argentina, cresce o receio com a possibilidade de haver hiperinflação. “Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.”

Ilan Goldfajn, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental  Foto: Marcelo Pereira/Fotoka/Credit Suisse

Confira, a seguir, trechos da entrevista.

Apesar da deterioração financeira global, o FMI está com uma projeção melhor de crescimento econômico para a região agora, de 3%, do que em janeiro, quando era de 2,4%. O que está por trás dessa mudança?

Observamos que a recuperação econômica de 2021, que foi forte na região, continuou no primeiro semestre de 2022. Temos países em que o turismo voltou. Temos países que dependem das forças globais, e os EUA e outros países continuaram crescendo. Tivemos um período, no primeiro semestre, em que as commodities estavam mais altas. Isso também contribuiu. Agora, temos de separar a tendência do começo do ano e o que a gente percebe daqui para frente. A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte. Temos uma revisão de crescimento para os EUA para 1% em 2023 (antes, a projeção era de 1,7%). Esse crescimento dos EUA menor, a China e a Europa também crescendo menos, significa que a região deve, daqui para frente, ter uma desaceleração. Por isso, houve uma revisão da projeção de crescimento para o ano que vem (de 2,5%) para 2%.

A inflação é um problema antigo na América Latina e está pressionada. Quão difícil será para a região controlá-la? Devemos esperar instabilidade política e social na região como consequência da inflação?

Inflação é o grande problema global, não só do Brasil ou da região. Você vê as altas taxas de inflação nos EUA e na Europa. Até mesmo o Japão, que tinha sempre o problema de pouca inflação, está começando a ter mais inflação. O aperto das condições monetárias deve levar à desaceleração. Nesse contexto, a região, até por sua história, teve uma atuação relativamente mais rápida do que a dos países avançados. O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) está subindo a taxa de juros neste ano, quando a maioria dos BCs da região, inclusive o do Brasil, subiu antes. Isso não significa que a inflação esteja resolvida. Significa que, em termos de credibilidade, a reação ocorreu. Os BCs estão tentando reagir e há uma percepção de que, ao menos em termos de perspectivas de longo prazo, eles têm sido relativamente bem sucedidos. Não estamos vendo as expectativas completamente desancoradas. Vemos expectativas mais altas agora e nos próximos dois ou três anos. É o efeito do choque. Vai demorar para voltar, mas os BCs estão reagindo. Acho que a institucionalidade nos últimos anos, os BCs autônomos, os regimes de meta de inflação e a ideia de que inflação é um bem público que tem de ser cuidado ajudaram - aí houve essa reação. Agora, a política monetária e a do governo têm de continuar. Tem de estar muito atento, porque a inflação ainda continua alta e é incerta. Tem de continuar olhando para ver se a política monetária está adequada daqui para frente. Mas o risco de uma inflação mais persistente é uma questão dos EUA e da Europa também.

Historicamente, vemos que, nos momentos em que o Fed eleva os juros, crises graves ocorrem em países da região. Vocês veem esse risco?

Toda vez que há aperto de condições monetárias, há uma consequência. A consequência clássica é a reversão dos fluxos de capitais (em direção aos países avançados), o que já está ocorrendo. Segundo, o dólar fica mais forte. Isso leva a um custo interno maior. As taxas de juros domésticas sobem, e as moedas se depreciam, o que pressiona a inflação. Essa combinação leva a mais aperto monetário dentro dos países. Aí a desaceleração mundial acaba se transformando também numa desaceleração local. Estamos reduzindo a previsão de crescimento para a região exatamente porque vemos esse desenrolar.

Mas há risco de alguma crise grave em algum país? Crise de inadimplência ou calote, por exemplo?

Acho que, nesses momentos, é sempre bom ficar atento. Os mercados podem ter maior volatilidade. É o momento de olhar as consequências econômicas e sociais da desaceleração. Tem de olhar com cuidado para frente.

Como fica o Brasil nesse cenário? Há uma desaceleração global ao mesmo tempo em que os gastos públicos estão crescendo e em que se aproxima a eleição, outro fator que gera instabilidade financeira.

O Brasil se encaixa como outros países da região. Quando elevamos a projeção para este ano, o Brasil se encaixa nisso. Mas o País também vai enfrentar um cenário global mais difícil: taxas de juros globais mais altas e dólar mais forte, o que significa pressão maior sobre a taxa de câmbio, em um ambiente em que provavelmente vai ter uma desaceleração de crescimento. As commodities, que foram um fator mitigador no choque anterior, podem não ter esse efeito agora. Isso gera desafios para o Brasil e para a região.

Como essa flexibilização fiscal que o País teve nos últimos meses por causa das eleições pode afetar 2023?

A questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo. Não é o momento de analisar a questão mais interna. Mas as políticas domésticas têm de contribuir. Vejo que estão fazendo isso. Mencionei a política monetária. Acho que ela está contribuindo para tentar enfrentar esses ventos contrários.

Qual será o maior desafio para o próximo ano no Brasil?

É o mesmo desafio global. Vamos ter um 2023 com crescimento dos EUA e do resto do mundo bem menor do que em 2022. Em compensação, a região podia se colocar - e acho que está fazendo isso - como parte da solução. Se o mundo está precisando de mais alimento e de energia verde, a região pode se colocar como uma grande vendedora. Então diria que, ao mesmo tempo em que temos um desafio conjuntural, que é o desafio desse aperto das condições monetárias e da desaceleração da economia global, temos oportunidades.

Como vê a situação da Argentina hoje? Qual seria a saída para o país?

O que a gente viu no mundo foi um choque inflacionário sobre um choque inflacionário, só que a Argentina começa com uma inflação mais alta per se. Sob o nosso ponto de vista, a Argentina tem um programa que tem de ser implementado, tem de ser tomadas as decisões de forma tempestiva para tornar a Argentina estável economicamente e socialmente. Isso vai beneficiar a população argentina. O momento chama a implementação de um programa que reduz o déficit, que tenta tornar as condições mais estáveis no país. Não é um programa que resolve todos os problemas, mas que tenta levar a Argentina para um caminho correto, de estabilidade. O momento é de implementar o programa, fazer o que precisa ser feito.

Vocês veem risco de hiperinflação no país?

Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.

Após o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevar a projeção de crescimento da América Latina para este ano de 2,5% para 3%, o diretor do órgão para o Hemisfério Ocidental, Ilan Goldfajn, afirmou que a tendência é de desaceleração a partir deste segundo semestre. “A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte.”

O ex-presidente do Banco Central do Brasil disse que a inflação – o “grande problema” do mundo hoje – deve demorar para cair, mas destaca que as expectativas de longo prazo na região não estão desancoradas (muito distantes das metas). Questionado sobre o aumento dos gastos públicos no País nos últimos meses, que podem pressionar a inflação ainda mais, Goldfajn afirmou apenas que “a questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo” e destacou que o Banco Central está trabalhando para que o Brasil enfrente os “ventos contrários”.

O economista, que está à frente do grupo que acompanha a crise e o cumprimento do plano de ajuste fiscal da Argentina, disse também que, sempre que ocorre uma depreciação cambial como a verificada nas últimas semanas na Argentina, cresce o receio com a possibilidade de haver hiperinflação. “Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.”

Ilan Goldfajn, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental  Foto: Marcelo Pereira/Fotoka/Credit Suisse

Confira, a seguir, trechos da entrevista.

Apesar da deterioração financeira global, o FMI está com uma projeção melhor de crescimento econômico para a região agora, de 3%, do que em janeiro, quando era de 2,4%. O que está por trás dessa mudança?

Observamos que a recuperação econômica de 2021, que foi forte na região, continuou no primeiro semestre de 2022. Temos países em que o turismo voltou. Temos países que dependem das forças globais, e os EUA e outros países continuaram crescendo. Tivemos um período, no primeiro semestre, em que as commodities estavam mais altas. Isso também contribuiu. Agora, temos de separar a tendência do começo do ano e o que a gente percebe daqui para frente. A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte. Temos uma revisão de crescimento para os EUA para 1% em 2023 (antes, a projeção era de 1,7%). Esse crescimento dos EUA menor, a China e a Europa também crescendo menos, significa que a região deve, daqui para frente, ter uma desaceleração. Por isso, houve uma revisão da projeção de crescimento para o ano que vem (de 2,5%) para 2%.

A inflação é um problema antigo na América Latina e está pressionada. Quão difícil será para a região controlá-la? Devemos esperar instabilidade política e social na região como consequência da inflação?

Inflação é o grande problema global, não só do Brasil ou da região. Você vê as altas taxas de inflação nos EUA e na Europa. Até mesmo o Japão, que tinha sempre o problema de pouca inflação, está começando a ter mais inflação. O aperto das condições monetárias deve levar à desaceleração. Nesse contexto, a região, até por sua história, teve uma atuação relativamente mais rápida do que a dos países avançados. O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) está subindo a taxa de juros neste ano, quando a maioria dos BCs da região, inclusive o do Brasil, subiu antes. Isso não significa que a inflação esteja resolvida. Significa que, em termos de credibilidade, a reação ocorreu. Os BCs estão tentando reagir e há uma percepção de que, ao menos em termos de perspectivas de longo prazo, eles têm sido relativamente bem sucedidos. Não estamos vendo as expectativas completamente desancoradas. Vemos expectativas mais altas agora e nos próximos dois ou três anos. É o efeito do choque. Vai demorar para voltar, mas os BCs estão reagindo. Acho que a institucionalidade nos últimos anos, os BCs autônomos, os regimes de meta de inflação e a ideia de que inflação é um bem público que tem de ser cuidado ajudaram - aí houve essa reação. Agora, a política monetária e a do governo têm de continuar. Tem de estar muito atento, porque a inflação ainda continua alta e é incerta. Tem de continuar olhando para ver se a política monetária está adequada daqui para frente. Mas o risco de uma inflação mais persistente é uma questão dos EUA e da Europa também.

Historicamente, vemos que, nos momentos em que o Fed eleva os juros, crises graves ocorrem em países da região. Vocês veem esse risco?

Toda vez que há aperto de condições monetárias, há uma consequência. A consequência clássica é a reversão dos fluxos de capitais (em direção aos países avançados), o que já está ocorrendo. Segundo, o dólar fica mais forte. Isso leva a um custo interno maior. As taxas de juros domésticas sobem, e as moedas se depreciam, o que pressiona a inflação. Essa combinação leva a mais aperto monetário dentro dos países. Aí a desaceleração mundial acaba se transformando também numa desaceleração local. Estamos reduzindo a previsão de crescimento para a região exatamente porque vemos esse desenrolar.

Mas há risco de alguma crise grave em algum país? Crise de inadimplência ou calote, por exemplo?

Acho que, nesses momentos, é sempre bom ficar atento. Os mercados podem ter maior volatilidade. É o momento de olhar as consequências econômicas e sociais da desaceleração. Tem de olhar com cuidado para frente.

Como fica o Brasil nesse cenário? Há uma desaceleração global ao mesmo tempo em que os gastos públicos estão crescendo e em que se aproxima a eleição, outro fator que gera instabilidade financeira.

O Brasil se encaixa como outros países da região. Quando elevamos a projeção para este ano, o Brasil se encaixa nisso. Mas o País também vai enfrentar um cenário global mais difícil: taxas de juros globais mais altas e dólar mais forte, o que significa pressão maior sobre a taxa de câmbio, em um ambiente em que provavelmente vai ter uma desaceleração de crescimento. As commodities, que foram um fator mitigador no choque anterior, podem não ter esse efeito agora. Isso gera desafios para o Brasil e para a região.

Como essa flexibilização fiscal que o País teve nos últimos meses por causa das eleições pode afetar 2023?

A questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo. Não é o momento de analisar a questão mais interna. Mas as políticas domésticas têm de contribuir. Vejo que estão fazendo isso. Mencionei a política monetária. Acho que ela está contribuindo para tentar enfrentar esses ventos contrários.

Qual será o maior desafio para o próximo ano no Brasil?

É o mesmo desafio global. Vamos ter um 2023 com crescimento dos EUA e do resto do mundo bem menor do que em 2022. Em compensação, a região podia se colocar - e acho que está fazendo isso - como parte da solução. Se o mundo está precisando de mais alimento e de energia verde, a região pode se colocar como uma grande vendedora. Então diria que, ao mesmo tempo em que temos um desafio conjuntural, que é o desafio desse aperto das condições monetárias e da desaceleração da economia global, temos oportunidades.

Como vê a situação da Argentina hoje? Qual seria a saída para o país?

O que a gente viu no mundo foi um choque inflacionário sobre um choque inflacionário, só que a Argentina começa com uma inflação mais alta per se. Sob o nosso ponto de vista, a Argentina tem um programa que tem de ser implementado, tem de ser tomadas as decisões de forma tempestiva para tornar a Argentina estável economicamente e socialmente. Isso vai beneficiar a população argentina. O momento chama a implementação de um programa que reduz o déficit, que tenta tornar as condições mais estáveis no país. Não é um programa que resolve todos os problemas, mas que tenta levar a Argentina para um caminho correto, de estabilidade. O momento é de implementar o programa, fazer o que precisa ser feito.

Vocês veem risco de hiperinflação no país?

Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.

Após o Fundo Monetário Internacional (FMI) elevar a projeção de crescimento da América Latina para este ano de 2,5% para 3%, o diretor do órgão para o Hemisfério Ocidental, Ilan Goldfajn, afirmou que a tendência é de desaceleração a partir deste segundo semestre. “A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte.”

O ex-presidente do Banco Central do Brasil disse que a inflação – o “grande problema” do mundo hoje – deve demorar para cair, mas destaca que as expectativas de longo prazo na região não estão desancoradas (muito distantes das metas). Questionado sobre o aumento dos gastos públicos no País nos últimos meses, que podem pressionar a inflação ainda mais, Goldfajn afirmou apenas que “a questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo” e destacou que o Banco Central está trabalhando para que o Brasil enfrente os “ventos contrários”.

O economista, que está à frente do grupo que acompanha a crise e o cumprimento do plano de ajuste fiscal da Argentina, disse também que, sempre que ocorre uma depreciação cambial como a verificada nas últimas semanas na Argentina, cresce o receio com a possibilidade de haver hiperinflação. “Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.”

Ilan Goldfajn, diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental  Foto: Marcelo Pereira/Fotoka/Credit Suisse

Confira, a seguir, trechos da entrevista.

Apesar da deterioração financeira global, o FMI está com uma projeção melhor de crescimento econômico para a região agora, de 3%, do que em janeiro, quando era de 2,4%. O que está por trás dessa mudança?

Observamos que a recuperação econômica de 2021, que foi forte na região, continuou no primeiro semestre de 2022. Temos países em que o turismo voltou. Temos países que dependem das forças globais, e os EUA e outros países continuaram crescendo. Tivemos um período, no primeiro semestre, em que as commodities estavam mais altas. Isso também contribuiu. Agora, temos de separar a tendência do começo do ano e o que a gente percebe daqui para frente. A percepção é de que os ventos estão mudando de direção. Vamos ter aperto das condições internacionais, com os Estados Unidos subindo a taxa de juros. Isso significa que o fluxo de capital diminui para a região e que o dólar fica mais forte. Temos uma revisão de crescimento para os EUA para 1% em 2023 (antes, a projeção era de 1,7%). Esse crescimento dos EUA menor, a China e a Europa também crescendo menos, significa que a região deve, daqui para frente, ter uma desaceleração. Por isso, houve uma revisão da projeção de crescimento para o ano que vem (de 2,5%) para 2%.

A inflação é um problema antigo na América Latina e está pressionada. Quão difícil será para a região controlá-la? Devemos esperar instabilidade política e social na região como consequência da inflação?

Inflação é o grande problema global, não só do Brasil ou da região. Você vê as altas taxas de inflação nos EUA e na Europa. Até mesmo o Japão, que tinha sempre o problema de pouca inflação, está começando a ter mais inflação. O aperto das condições monetárias deve levar à desaceleração. Nesse contexto, a região, até por sua história, teve uma atuação relativamente mais rápida do que a dos países avançados. O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) está subindo a taxa de juros neste ano, quando a maioria dos BCs da região, inclusive o do Brasil, subiu antes. Isso não significa que a inflação esteja resolvida. Significa que, em termos de credibilidade, a reação ocorreu. Os BCs estão tentando reagir e há uma percepção de que, ao menos em termos de perspectivas de longo prazo, eles têm sido relativamente bem sucedidos. Não estamos vendo as expectativas completamente desancoradas. Vemos expectativas mais altas agora e nos próximos dois ou três anos. É o efeito do choque. Vai demorar para voltar, mas os BCs estão reagindo. Acho que a institucionalidade nos últimos anos, os BCs autônomos, os regimes de meta de inflação e a ideia de que inflação é um bem público que tem de ser cuidado ajudaram - aí houve essa reação. Agora, a política monetária e a do governo têm de continuar. Tem de estar muito atento, porque a inflação ainda continua alta e é incerta. Tem de continuar olhando para ver se a política monetária está adequada daqui para frente. Mas o risco de uma inflação mais persistente é uma questão dos EUA e da Europa também.

Historicamente, vemos que, nos momentos em que o Fed eleva os juros, crises graves ocorrem em países da região. Vocês veem esse risco?

Toda vez que há aperto de condições monetárias, há uma consequência. A consequência clássica é a reversão dos fluxos de capitais (em direção aos países avançados), o que já está ocorrendo. Segundo, o dólar fica mais forte. Isso leva a um custo interno maior. As taxas de juros domésticas sobem, e as moedas se depreciam, o que pressiona a inflação. Essa combinação leva a mais aperto monetário dentro dos países. Aí a desaceleração mundial acaba se transformando também numa desaceleração local. Estamos reduzindo a previsão de crescimento para a região exatamente porque vemos esse desenrolar.

Mas há risco de alguma crise grave em algum país? Crise de inadimplência ou calote, por exemplo?

Acho que, nesses momentos, é sempre bom ficar atento. Os mercados podem ter maior volatilidade. É o momento de olhar as consequências econômicas e sociais da desaceleração. Tem de olhar com cuidado para frente.

Como fica o Brasil nesse cenário? Há uma desaceleração global ao mesmo tempo em que os gastos públicos estão crescendo e em que se aproxima a eleição, outro fator que gera instabilidade financeira.

O Brasil se encaixa como outros países da região. Quando elevamos a projeção para este ano, o Brasil se encaixa nisso. Mas o País também vai enfrentar um cenário global mais difícil: taxas de juros globais mais altas e dólar mais forte, o que significa pressão maior sobre a taxa de câmbio, em um ambiente em que provavelmente vai ter uma desaceleração de crescimento. As commodities, que foram um fator mitigador no choque anterior, podem não ter esse efeito agora. Isso gera desafios para o Brasil e para a região.

Como essa flexibilização fiscal que o País teve nos últimos meses por causa das eleições pode afetar 2023?

A questão fiscal tem de contribuir para este momento que estamos vivendo. Não é o momento de analisar a questão mais interna. Mas as políticas domésticas têm de contribuir. Vejo que estão fazendo isso. Mencionei a política monetária. Acho que ela está contribuindo para tentar enfrentar esses ventos contrários.

Qual será o maior desafio para o próximo ano no Brasil?

É o mesmo desafio global. Vamos ter um 2023 com crescimento dos EUA e do resto do mundo bem menor do que em 2022. Em compensação, a região podia se colocar - e acho que está fazendo isso - como parte da solução. Se o mundo está precisando de mais alimento e de energia verde, a região pode se colocar como uma grande vendedora. Então diria que, ao mesmo tempo em que temos um desafio conjuntural, que é o desafio desse aperto das condições monetárias e da desaceleração da economia global, temos oportunidades.

Como vê a situação da Argentina hoje? Qual seria a saída para o país?

O que a gente viu no mundo foi um choque inflacionário sobre um choque inflacionário, só que a Argentina começa com uma inflação mais alta per se. Sob o nosso ponto de vista, a Argentina tem um programa que tem de ser implementado, tem de ser tomadas as decisões de forma tempestiva para tornar a Argentina estável economicamente e socialmente. Isso vai beneficiar a população argentina. O momento chama a implementação de um programa que reduz o déficit, que tenta tornar as condições mais estáveis no país. Não é um programa que resolve todos os problemas, mas que tenta levar a Argentina para um caminho correto, de estabilidade. O momento é de implementar o programa, fazer o que precisa ser feito.

Vocês veem risco de hiperinflação no país?

Houve uma combinação de choques externos e internos. Isso gera depreciação cambial. Sempre que há uma depreciação, surgem essas preocupações.

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