Americanas afasta diretores para evitar que ‘contaminem’ apuração de rombo bilionário


O período em que os executivos ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado à apuração das investigações; veja quem são os afastados

Por Murilo Rodrigues Alves e Lucas Agrela
Atualização:

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Americanas decidiu afastar seis executivos e diretores da área financeira e contábil da companhia e de suas controladas nesta sexta-feira, 3, para evitar que eles “contaminem” as investigações sobre o rombo bilionário que levou a varejista a pedir recuperação judicial.

O Estadão apurou que todos foram convocados para uma reunião às 17 horas em que foram comunicados da dispensa. O período em que ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado à apuração das investigações.

“O Conselho de Administração da Companhia deliberou, nesta data, afastar os diretores estatutários de todas as suas funções e atividades na Companhia e suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do Fato Relevante publicado em 11 de janeiro de 2023 (o rombo bilionário), sem que o afastamento represente qualquer antecipação de juízo”, diz trecho do comunicado divulgado ao mercado.

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Carlos Alberto Sicupira e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo, integram o conselho de administração da Americanas. No total, são sete membros, incluindo Eduardo Garcia, Claudio Garcia, Mauro Not (independente), Sidney da Costa (independente) e Vanessa Claro Lopes (independente).

A reportagem apurou que não haveria dúvidas sobre o envolvimento deles no processo que desembocou na descoberta da fraude. Até pelo tempo em que permaneceram à frente da rede varejista. Eles pertencem à gestão de Miguel Gutierrez, que ficou na varejista por 30 anos (sendo 20 anos como CEO) e até agora não deu nenhuma explicação - apesar do rombo se referir aos últimos anos.

Esses diretores já não têm mais acesso à contabilidade da empresa e nem mesmo aos e-mails corporativos desde o dia 11 de janeiro, quando a empresa publicou um fato relevante dizendo que foram identificadas “inconsistências contábeis” no balanço que somavam R$ 20 bilhões nas primeiras estimativas. Como consequência, Sérgio Rial, ex-Santander, renunciou ao cargo, após nove dias como presidente da empresa. Junto com Rial, o diretor-financeiro Andre Covre, ex-Ultrapar e ex-Extrafarma, eleito pelo conselho em dezembro para a função, também deixou a empresa.

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Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, sócios do 3G Capital, são os acionistas de referência da Americanas Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]

No dia 19 de janeiro, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da Americanas, que comunicou ter uma dívida de R$ 43 bilhões, a quarta maior da história. A companhia pagava fornecedores por meio de uma triangulação com bancos, mas os pagamentos não foram devidamente dimensionados e realizados, gerando o rombo.

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Ao pedir a recuperação judicial, a empresa já tinha anunciado ter instalado um Comitê Independente, liderado pelo jurista e ex-diretor da CVM, Otávio Yazbek, e a contratação da Rothschild. Ainda mencionou a nomeação da executiva Camille Loyo Faria para o cargo de nova diretora financeira (CFO). Porém, especialistas ouvidos pela reportagem criticaram a decisão de deixar a executivos que davam as cartas na empresa nos últimos anos a tarefa apurar as “inconsistências contábeis” que levaram o negócio ao imbróglio.

Agora, de acordo com o comunicado, a Americanas terá uma nova estrutura com o afastamento dos diretores Anna Saicali, Timotheo Barros, Marcio Cruz, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes. A empresa apontará novas lideranças, internas e externas. Para o gerenciamento da recuperação judicial, a varejista contratou a Alvarez&Marsal e a consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu para assessoria contábil. Outras mudanças não estão descartadas para garantir a operação da companhia. João Guerra, vindo do RH da Americanas, segue como CEO até nova eleição em 2024.

Quando se manifestaram, o trio de acionistas bilionários da Americanas - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles - atribuiu publicamente parcela da culpa aos bancos credores da empresa, o que agravou ainda mais a guerra de versões dos bancos com a varejista. O trio afirmou desconhecer as “dissimulações contábeis” da varejista. Lemann, Telles e Sicupira disseram ainda lamentar as perdas sofridas por acionistas e credores e que acreditavam “firmemente que tudo estava absolutamente correto” na empresa. Os três também disseram terem sido “alcançados por prejuízos”.

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Em conversas reservadas com o Estadão, representantes de bancos credores afirmaram não acreditar na versão de que o comando da Americanas não soubesse das fraudes na contabilidade da companhia. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.

Procurada, a Americanas informou o seguinte:

“Com o objetivo de contribuir plenamente com as apurações em curso pelo comitê independente e autoridades envolvidas e sem qualquer antecipação de juízo, a Americanas informa que seu Conselho de Administração decidiu na data de hoje pelo afastamento dos diretores estatutários Anna Christina Ramos Saicali, José Timotheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes de suas funções na companhia e de suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do fato relevante publicado em 11 de janeiro de 2023. Entre outras medidas implementadas e já informadas em comunicado ao mercado estão a contratação do IBPTECH, instituto de perícias forenses, e da FTI Consulting, empresa de consultoria internacional de preservação de dados, assim como da ICTS Security, empresa de consultoria especializada em segurança da informação, da consultoria global Alvarez & Marsal como PMO do processo de recuperação judicial e da Delloite Touche Tohmatsu para assessoria contábil, assim como a eleição da nova diretora financeira”.

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Quem é quem

Anna Saicali - Anna Saicali não só é CEO da AME Digital, a carteira digital da Americanas, como também mantinha contato frequente com os sócios e acionistas da varejista. Na empresa desde 1997, Saicali é formada em artes plásticas e em finanças corporativas. Durante a sua trajetória na empresa, a executiva atuou em recursos humanos e tecnologia. Foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, posteriormente assumindo a presidência do conselho administrativo da empresa até 2021.

Timotheo Barros - Timotheo Barros é vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia. Ingressou na empresa em 1996, como trainee.. Sua atuação envolve a relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.

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Marcio Cruz - Marcio Cruz foi o presidente da B2W de 2018 até 2021, ano em que a empresa fez a fusão com a Americanas. Atua desde então como CEO de digital da Americanas. Cruz dava mais as caras em conversas com a imprensa, na maioria dos casos, falando sobre os avanços do comércio eletrônico da empresa.

Fábio Abrate - Na empresa desde 2003, Abrate chegou ao posto de diretor financeiro em nove anos e esteve á frente da contabilidade da companhia nos últimos anos.

Flávia Carneiro - Vinda da B2W, que se uniu à Americanas em 2021, Flávia Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia.

Marcelo da Silva Nunes - Nunes era diretor financeiro da Americanas, vindo da B2W, na fusão de 2021.

Atualização: Diferentemente do previamente informado, Fábio Amorim, presidente do Natural da Terra, não foi afastado junto aos demais diretores.

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Americanas decidiu afastar seis executivos e diretores da área financeira e contábil da companhia e de suas controladas nesta sexta-feira, 3, para evitar que eles “contaminem” as investigações sobre o rombo bilionário que levou a varejista a pedir recuperação judicial.

O Estadão apurou que todos foram convocados para uma reunião às 17 horas em que foram comunicados da dispensa. O período em que ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado à apuração das investigações.

“O Conselho de Administração da Companhia deliberou, nesta data, afastar os diretores estatutários de todas as suas funções e atividades na Companhia e suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do Fato Relevante publicado em 11 de janeiro de 2023 (o rombo bilionário), sem que o afastamento represente qualquer antecipação de juízo”, diz trecho do comunicado divulgado ao mercado.

Carlos Alberto Sicupira e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo, integram o conselho de administração da Americanas. No total, são sete membros, incluindo Eduardo Garcia, Claudio Garcia, Mauro Not (independente), Sidney da Costa (independente) e Vanessa Claro Lopes (independente).

A reportagem apurou que não haveria dúvidas sobre o envolvimento deles no processo que desembocou na descoberta da fraude. Até pelo tempo em que permaneceram à frente da rede varejista. Eles pertencem à gestão de Miguel Gutierrez, que ficou na varejista por 30 anos (sendo 20 anos como CEO) e até agora não deu nenhuma explicação - apesar do rombo se referir aos últimos anos.

Esses diretores já não têm mais acesso à contabilidade da empresa e nem mesmo aos e-mails corporativos desde o dia 11 de janeiro, quando a empresa publicou um fato relevante dizendo que foram identificadas “inconsistências contábeis” no balanço que somavam R$ 20 bilhões nas primeiras estimativas. Como consequência, Sérgio Rial, ex-Santander, renunciou ao cargo, após nove dias como presidente da empresa. Junto com Rial, o diretor-financeiro Andre Covre, ex-Ultrapar e ex-Extrafarma, eleito pelo conselho em dezembro para a função, também deixou a empresa.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, sócios do 3G Capital, são os acionistas de referência da Americanas Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]

No dia 19 de janeiro, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da Americanas, que comunicou ter uma dívida de R$ 43 bilhões, a quarta maior da história. A companhia pagava fornecedores por meio de uma triangulação com bancos, mas os pagamentos não foram devidamente dimensionados e realizados, gerando o rombo.

Ao pedir a recuperação judicial, a empresa já tinha anunciado ter instalado um Comitê Independente, liderado pelo jurista e ex-diretor da CVM, Otávio Yazbek, e a contratação da Rothschild. Ainda mencionou a nomeação da executiva Camille Loyo Faria para o cargo de nova diretora financeira (CFO). Porém, especialistas ouvidos pela reportagem criticaram a decisão de deixar a executivos que davam as cartas na empresa nos últimos anos a tarefa apurar as “inconsistências contábeis” que levaram o negócio ao imbróglio.

Agora, de acordo com o comunicado, a Americanas terá uma nova estrutura com o afastamento dos diretores Anna Saicali, Timotheo Barros, Marcio Cruz, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes. A empresa apontará novas lideranças, internas e externas. Para o gerenciamento da recuperação judicial, a varejista contratou a Alvarez&Marsal e a consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu para assessoria contábil. Outras mudanças não estão descartadas para garantir a operação da companhia. João Guerra, vindo do RH da Americanas, segue como CEO até nova eleição em 2024.

Quando se manifestaram, o trio de acionistas bilionários da Americanas - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles - atribuiu publicamente parcela da culpa aos bancos credores da empresa, o que agravou ainda mais a guerra de versões dos bancos com a varejista. O trio afirmou desconhecer as “dissimulações contábeis” da varejista. Lemann, Telles e Sicupira disseram ainda lamentar as perdas sofridas por acionistas e credores e que acreditavam “firmemente que tudo estava absolutamente correto” na empresa. Os três também disseram terem sido “alcançados por prejuízos”.

Em conversas reservadas com o Estadão, representantes de bancos credores afirmaram não acreditar na versão de que o comando da Americanas não soubesse das fraudes na contabilidade da companhia. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.

Procurada, a Americanas informou o seguinte:

“Com o objetivo de contribuir plenamente com as apurações em curso pelo comitê independente e autoridades envolvidas e sem qualquer antecipação de juízo, a Americanas informa que seu Conselho de Administração decidiu na data de hoje pelo afastamento dos diretores estatutários Anna Christina Ramos Saicali, José Timotheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes de suas funções na companhia e de suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do fato relevante publicado em 11 de janeiro de 2023. Entre outras medidas implementadas e já informadas em comunicado ao mercado estão a contratação do IBPTECH, instituto de perícias forenses, e da FTI Consulting, empresa de consultoria internacional de preservação de dados, assim como da ICTS Security, empresa de consultoria especializada em segurança da informação, da consultoria global Alvarez & Marsal como PMO do processo de recuperação judicial e da Delloite Touche Tohmatsu para assessoria contábil, assim como a eleição da nova diretora financeira”.

Quem é quem

Anna Saicali - Anna Saicali não só é CEO da AME Digital, a carteira digital da Americanas, como também mantinha contato frequente com os sócios e acionistas da varejista. Na empresa desde 1997, Saicali é formada em artes plásticas e em finanças corporativas. Durante a sua trajetória na empresa, a executiva atuou em recursos humanos e tecnologia. Foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, posteriormente assumindo a presidência do conselho administrativo da empresa até 2021.

Timotheo Barros - Timotheo Barros é vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia. Ingressou na empresa em 1996, como trainee.. Sua atuação envolve a relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.

Marcio Cruz - Marcio Cruz foi o presidente da B2W de 2018 até 2021, ano em que a empresa fez a fusão com a Americanas. Atua desde então como CEO de digital da Americanas. Cruz dava mais as caras em conversas com a imprensa, na maioria dos casos, falando sobre os avanços do comércio eletrônico da empresa.

Fábio Abrate - Na empresa desde 2003, Abrate chegou ao posto de diretor financeiro em nove anos e esteve á frente da contabilidade da companhia nos últimos anos.

Flávia Carneiro - Vinda da B2W, que se uniu à Americanas em 2021, Flávia Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia.

Marcelo da Silva Nunes - Nunes era diretor financeiro da Americanas, vindo da B2W, na fusão de 2021.

Atualização: Diferentemente do previamente informado, Fábio Amorim, presidente do Natural da Terra, não foi afastado junto aos demais diretores.

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Americanas decidiu afastar seis executivos e diretores da área financeira e contábil da companhia e de suas controladas nesta sexta-feira, 3, para evitar que eles “contaminem” as investigações sobre o rombo bilionário que levou a varejista a pedir recuperação judicial.

O Estadão apurou que todos foram convocados para uma reunião às 17 horas em que foram comunicados da dispensa. O período em que ficarão fora da companhia ou mesmo o retorno deles está condicionado à apuração das investigações.

“O Conselho de Administração da Companhia deliberou, nesta data, afastar os diretores estatutários de todas as suas funções e atividades na Companhia e suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do Fato Relevante publicado em 11 de janeiro de 2023 (o rombo bilionário), sem que o afastamento represente qualquer antecipação de juízo”, diz trecho do comunicado divulgado ao mercado.

Carlos Alberto Sicupira e Paulo Alberto Lemann, filho de Jorge Paulo, integram o conselho de administração da Americanas. No total, são sete membros, incluindo Eduardo Garcia, Claudio Garcia, Mauro Not (independente), Sidney da Costa (independente) e Vanessa Claro Lopes (independente).

A reportagem apurou que não haveria dúvidas sobre o envolvimento deles no processo que desembocou na descoberta da fraude. Até pelo tempo em que permaneceram à frente da rede varejista. Eles pertencem à gestão de Miguel Gutierrez, que ficou na varejista por 30 anos (sendo 20 anos como CEO) e até agora não deu nenhuma explicação - apesar do rombo se referir aos últimos anos.

Esses diretores já não têm mais acesso à contabilidade da empresa e nem mesmo aos e-mails corporativos desde o dia 11 de janeiro, quando a empresa publicou um fato relevante dizendo que foram identificadas “inconsistências contábeis” no balanço que somavam R$ 20 bilhões nas primeiras estimativas. Como consequência, Sérgio Rial, ex-Santander, renunciou ao cargo, após nove dias como presidente da empresa. Junto com Rial, o diretor-financeiro Andre Covre, ex-Ultrapar e ex-Extrafarma, eleito pelo conselho em dezembro para a função, também deixou a empresa.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, sócios do 3G Capital, são os acionistas de referência da Americanas Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]

No dia 19 de janeiro, a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da Americanas, que comunicou ter uma dívida de R$ 43 bilhões, a quarta maior da história. A companhia pagava fornecedores por meio de uma triangulação com bancos, mas os pagamentos não foram devidamente dimensionados e realizados, gerando o rombo.

Ao pedir a recuperação judicial, a empresa já tinha anunciado ter instalado um Comitê Independente, liderado pelo jurista e ex-diretor da CVM, Otávio Yazbek, e a contratação da Rothschild. Ainda mencionou a nomeação da executiva Camille Loyo Faria para o cargo de nova diretora financeira (CFO). Porém, especialistas ouvidos pela reportagem criticaram a decisão de deixar a executivos que davam as cartas na empresa nos últimos anos a tarefa apurar as “inconsistências contábeis” que levaram o negócio ao imbróglio.

Agora, de acordo com o comunicado, a Americanas terá uma nova estrutura com o afastamento dos diretores Anna Saicali, Timotheo Barros, Marcio Cruz, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes. A empresa apontará novas lideranças, internas e externas. Para o gerenciamento da recuperação judicial, a varejista contratou a Alvarez&Marsal e a consultoria da Deloitte Touche Tohmatsu para assessoria contábil. Outras mudanças não estão descartadas para garantir a operação da companhia. João Guerra, vindo do RH da Americanas, segue como CEO até nova eleição em 2024.

Quando se manifestaram, o trio de acionistas bilionários da Americanas - Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles - atribuiu publicamente parcela da culpa aos bancos credores da empresa, o que agravou ainda mais a guerra de versões dos bancos com a varejista. O trio afirmou desconhecer as “dissimulações contábeis” da varejista. Lemann, Telles e Sicupira disseram ainda lamentar as perdas sofridas por acionistas e credores e que acreditavam “firmemente que tudo estava absolutamente correto” na empresa. Os três também disseram terem sido “alcançados por prejuízos”.

Em conversas reservadas com o Estadão, representantes de bancos credores afirmaram não acreditar na versão de que o comando da Americanas não soubesse das fraudes na contabilidade da companhia. Eles apontam uma sequência de fatos recentes que, vistos de trás para frente, deixam as instituições financeiras com desconfianças em relação à versão dada pelos maiores acionistas.

Procurada, a Americanas informou o seguinte:

“Com o objetivo de contribuir plenamente com as apurações em curso pelo comitê independente e autoridades envolvidas e sem qualquer antecipação de juízo, a Americanas informa que seu Conselho de Administração decidiu na data de hoje pelo afastamento dos diretores estatutários Anna Christina Ramos Saicali, José Timotheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes de suas funções na companhia e de suas controladas, durante o curso das apurações decorrentes do fato relevante publicado em 11 de janeiro de 2023. Entre outras medidas implementadas e já informadas em comunicado ao mercado estão a contratação do IBPTECH, instituto de perícias forenses, e da FTI Consulting, empresa de consultoria internacional de preservação de dados, assim como da ICTS Security, empresa de consultoria especializada em segurança da informação, da consultoria global Alvarez & Marsal como PMO do processo de recuperação judicial e da Delloite Touche Tohmatsu para assessoria contábil, assim como a eleição da nova diretora financeira”.

Quem é quem

Anna Saicali - Anna Saicali não só é CEO da AME Digital, a carteira digital da Americanas, como também mantinha contato frequente com os sócios e acionistas da varejista. Na empresa desde 1997, Saicali é formada em artes plásticas e em finanças corporativas. Durante a sua trajetória na empresa, a executiva atuou em recursos humanos e tecnologia. Foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, posteriormente assumindo a presidência do conselho administrativo da empresa até 2021.

Timotheo Barros - Timotheo Barros é vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia. Ingressou na empresa em 1996, como trainee.. Sua atuação envolve a relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.

Marcio Cruz - Marcio Cruz foi o presidente da B2W de 2018 até 2021, ano em que a empresa fez a fusão com a Americanas. Atua desde então como CEO de digital da Americanas. Cruz dava mais as caras em conversas com a imprensa, na maioria dos casos, falando sobre os avanços do comércio eletrônico da empresa.

Fábio Abrate - Na empresa desde 2003, Abrate chegou ao posto de diretor financeiro em nove anos e esteve á frente da contabilidade da companhia nos últimos anos.

Flávia Carneiro - Vinda da B2W, que se uniu à Americanas em 2021, Flávia Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia.

Marcelo da Silva Nunes - Nunes era diretor financeiro da Americanas, vindo da B2W, na fusão de 2021.

Atualização: Diferentemente do previamente informado, Fábio Amorim, presidente do Natural da Terra, não foi afastado junto aos demais diretores.

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