Bradesco e Itaú Unibanco foram à Justiça contra a Americanas para pedir que sejam ouvidos executivos e membros do conselho da companhia incluindo os maiores acionistas, e que a varejista forneça informações contábeis sobre o rombo que levou ao pedido de recuperação judicial.
Assim como o Santander fez ontem, o Bradesco pediu que a Justiça ouça em depoimentos membros do conselho de administração da Americanas, incluindo o ex-CEO da varejista Miguel Gutierrez. Carlos Alberto Sicupira, um dos três acionistas de referência da companhia e que tinha participação ativa no comando da rede de lojas, e Paulo Alberto Lemann, representante de Jorge Paulo Lemann no conselho, também são citados, segundo fontes.
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A crise nas Americanas se tornou pública depois que o ex-CEO Sergio Rial – que estava no cargo havia pouco menos de 10 dias no cargo – divulgou que foram identificadas “inconsistências” nos balanços dos últimos anos. A Americanas tem uma dívida declarada de R$ 43 bilhões.
O ponto central que deflagrou a crise foi o chamado “risco sacado”, uma linha de crédito que faz uma triangulação entre a empresa, seus fornecedores e bancos. Ao contratar o risco sacado, a companhia pede ao seu banco que ele realize o pagamento de uma compra com o fornecedor. Assim, o banco quita o contrato em nome da companhia, que passa a dever para o banco com a cobrança de juros. Pelo que se sabe até o momento, a Americanas fez contratação de risco sacado, mas as operações não foram registradas devidamente nos balanços contábeis.
A argumentação dos bancos é de que os documentos e pessoas fundamentais para o esclarecimento dos fatos que levaram ao rombo contábil de R$ 20 bilhões estão com a varejista ou já estiveram com ela. Por isso, é necessário que as provas sejam produzidas antecipadamente. Também pedem que se tenha acesso a e-mails e a mensagens de WhatsApp e Telegram trocadas pelos executivos nos últimos dez anos, bem como mensagens trocadas com os acionistas de referência.
O Bradesco, com R$ 4,8 bilhões a receber da Americanas, é seu maior credor. O Santander Brasil tem R$ 3,6 bilhões, e o Itaú, R$ 2,9 bilhões.
Informações contábeis
O Itaú, por sua vez, foi à Justiça para requerer que a Americanas apresente informações contábeis, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Nesta quarta-feira, 25, em decisão referente ao pedido do banco, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou prazo de cinco dias para que a Americanas apresente uma série de documentos sobre sua situação financeira nos últimos cinco anos. O Itaú Unibanco havia solicitado um prazo de apenas 48 horas para que a companhia fornecesse os documentos e informações, mas o pedido de urgência foi negado.
A companhia terá de fornecer demonstrações financeiras das empresas do grupo, balanços, balancetes, livros fiscais, e relatórios de auditoria dos últimos cinco anos. A Americanas também terá de enviar à Justiça cópias de todos os e-mails trocados por Miguel Gutierrez, ex-CEO, e Fábio Abrate, ex-CFO, nos últimos cinco anos, e que tratem do endividamento da companhia ou de suas demonstrações contábeis.
O TJ-SP negou o pedido do Itaú para que “controladores e outros executivos ligados à gestão da Americanas” fossem ouvidos. Por outro lado, considerou correto o ajuizamento do processo em São Paulo, e não no Rio de Janeiro, onde tramita a recuperação judicial da varejista, porque os contratos entre banco e companhia têm São Paulo como foro de eventuais ações.
Após a Americanas informar um rombo contábil de R$ 20 bilhões, pedir proteção contra credores e, finalmente, uma recuperação judicial, os bancos credores têm argumentado não saber ao certo qual é o tamanho da dívida.
Nos bastidores, considera-se que a Americanas é hoje uma empresa sem balanço, ou seja, operar com ela é operar no escuro. A apresentação da lista de credores, inclusive, foi alvo de manifestações de dois bancos, o Deutsche Bank e o BV, que por motivos diferentes apresentaram correções aos números apresentados ou à classificação dos mesmos.