Concorrentes da Americanas correm para explicar que problema não é do setor


Fala de ex-CEO sobre problema também impactar outras empresas causou ruído no setor varejista

Por Talita Nascimento
Atualização:

SÃO PAULO - Depois do anúncio da Americanas na noite de ontem, com a informação de que a companhia tinha inconsistências da ordem de R$ 20 bilhões, as ações das varejistas do setor abriram em forte queda. Uma fala do agora ex-CEO da Americanas, Sergio Rial - em teleconferência fechada para clientes do BTG - causou ruído no setor. Ele afirmou que incongruências na maneira de reportar o financiamento de compras com fornecedores, onde se concentra o problema da Americanas, não são um problema apenas da Americanas, mas se arrastam desde os anos 90 no setor. A fala foi considerada injusta no segmento.

“É um tema das Americanas, mas não é só das Americanas, é um tema que permanece no mercado brasileiro desde a década de 90″, afirmou Rial sobre a prática de não reportar o que se chama de “risco sacado” (financiamentos de curto prazo) como dívida bancária. Fontes de empresas listadas do setor explicam, porém, que as chamadas operações de “risco sacado” são, sim, comuns. No entanto, reportá-las de maneira equivocada, como fez a Americanas, não é a prática de outras empresas da Bolsa.

Foto da fachada da loja Americanas na Av. Paulista. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: Felipe Rau/Estadão
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“Ele foi inconsequente em falar isso”, diz a analista de renda variável, Daniela Bretthauer. Para ela, toda a comunicação das inconsistências contábeis da companhia foi atabalhoada. Nesse ponto específico, ela acredita que a fala de Rial não fez jus às boas práticas de empresas sérias do segmento.

Além da fala de Rial, a falta de entendimento de investidores estrangeiros sobre o ocorrido também afetou o desempenho das concorrentes da varejista na bolsa. A Americanas seguiu em leilão até perto de 14h20, enquanto as pares de e-commerce sentiram o baque logo cedo. A Via chegou a recuar 10% e entrar em leilão por oscilação máxima permitida. No início da tarde, o setor mostrou melhora. O Magalu conseguiu sustentar essa tendência e no fim da tarde liderava as maiores altas do Ibovespa, com avanço de 5%. Na outra ponta, Via cedia 5%, entre as maiores baixas do índice. A Americanas fechou em queda de 77% e perdeu R$ 8,3 bilhões em valor de mercado.

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O dia dessas companhias não foi fácil e houve um esforço da gestão e dos departamentos de Relações com Investidores para demonstrar ao mercado como estavam reportadas suas operações de “risco sacado”. As informações prestadas aos investidores, ajudaram a reverter o mau humor com seus papéis.

Explicações

No caso do Magazine Luiza, a empresa reporta o adiantamento que instituições financeiras fazem aos seus fornecedores no campo “conta fornecedores”. O Magazine Luiza não adquire crédito junto às instituições para pagar esses fornecedores, em vez disso, negocia o prazo diretamente com as empresas que, na sequência, adiantam esses valores com as financeiras.

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“A Companhia mantém convênios firmados com bancos parceiros para estruturar com os seus principais fornecedores a operação de antecipação de seus recebíveis. Nessa operação, os fornecedores transferem o direito de recebimento dos títulos para o banco em troca do recebimento antecipado. O banco, por sua vez, passa a ser credor da operação, sendo que a Companhia efetua a liquidação do título na mesma data originalmente acordada com seu fornecedor e recebe, subsequentemente, uma comissão do banco por essa intermediação e confirmação dos títulos a pagar. Essa comissão é registrada como receita financeira. A operação acima realizada pela Companhia não altera os prazos, preços e condições anteriormente estabelecidos com os fornecedores e, portanto, a Companhia a classifica na rubrica de Fornecedores”, diz a companhia no último relatório de informações financeiras (ITR) publicado.

A Via, por sua vez, faz a operação de “risco sacado”, mas contabiliza em seu balanço a taxa de juros média que incide sobre a operação. Essa informação também pode ser encontrada nas informações financeiras da empresa do terceiro trimestre de 2022 na linha: “Fornecedores Convênio”.

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Em nota explicativa nesse documento, a empresa afirma: “Os convênios firmados atendem aos interesses mútuos no que tange à liquidez e capital de giro de cada parte, e são firmados em decorrência de eventuais variações conjunturais no nível da demanda e oferta de produtos e serviços. Devido as características de negociação comercial de prazos entre fornecedores e a Companhia, estes passivos financeiros foram incluídos em programas de captação de recursos através de linhas de crédito da Companhia junto a instituições financeiras, com o custo financeiro de 18,89% a.a. em 30 de setembro de 2022 (11,04% a.a. em 31 de dezembro de 2021)”.

Faltou isonomia

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Para Daniela Bretthauer, além da fala que teve repercussão sobre o setor, a Americanas errou em fazer uma comunicação sem isonomia de informações para com o mercado. Após publicação do Broadcast sobre fala do ex-CEO na teleconferência fechada a acionistas, a CVM solicitou explicações à empresa, que somente depois, em resposta ao órgão regulador, disponibilizou aos investidores uma gravação da reunião. Ainda assim, a gravação não estava completa.

“Ontem mesmo teriam de ter chamado uma teleconferência pública. Chamaram evento fechado, sem isonomia de informações”, afirma a analista que estava à frente da diretoria de Relações com Investidores da Via quando a empresa comunicou ao mercado que teria de separar mais R$ 1,2 bilhão para possíveis perdas em processos trabalhistas. À época a companhia somou ao fato relevante um vídeo explicativo, além de anunciar teleconferência para o dia seguinte.

“Em toda a minha carreira nunca vi nada parecido. Outras empresas também tiveram problemas e inconsistências, mas nada nessa magnitude”, afirma. *Colaborou Elisa Calmon

SÃO PAULO - Depois do anúncio da Americanas na noite de ontem, com a informação de que a companhia tinha inconsistências da ordem de R$ 20 bilhões, as ações das varejistas do setor abriram em forte queda. Uma fala do agora ex-CEO da Americanas, Sergio Rial - em teleconferência fechada para clientes do BTG - causou ruído no setor. Ele afirmou que incongruências na maneira de reportar o financiamento de compras com fornecedores, onde se concentra o problema da Americanas, não são um problema apenas da Americanas, mas se arrastam desde os anos 90 no setor. A fala foi considerada injusta no segmento.

“É um tema das Americanas, mas não é só das Americanas, é um tema que permanece no mercado brasileiro desde a década de 90″, afirmou Rial sobre a prática de não reportar o que se chama de “risco sacado” (financiamentos de curto prazo) como dívida bancária. Fontes de empresas listadas do setor explicam, porém, que as chamadas operações de “risco sacado” são, sim, comuns. No entanto, reportá-las de maneira equivocada, como fez a Americanas, não é a prática de outras empresas da Bolsa.

Foto da fachada da loja Americanas na Av. Paulista. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: Felipe Rau/Estadão

“Ele foi inconsequente em falar isso”, diz a analista de renda variável, Daniela Bretthauer. Para ela, toda a comunicação das inconsistências contábeis da companhia foi atabalhoada. Nesse ponto específico, ela acredita que a fala de Rial não fez jus às boas práticas de empresas sérias do segmento.

Além da fala de Rial, a falta de entendimento de investidores estrangeiros sobre o ocorrido também afetou o desempenho das concorrentes da varejista na bolsa. A Americanas seguiu em leilão até perto de 14h20, enquanto as pares de e-commerce sentiram o baque logo cedo. A Via chegou a recuar 10% e entrar em leilão por oscilação máxima permitida. No início da tarde, o setor mostrou melhora. O Magalu conseguiu sustentar essa tendência e no fim da tarde liderava as maiores altas do Ibovespa, com avanço de 5%. Na outra ponta, Via cedia 5%, entre as maiores baixas do índice. A Americanas fechou em queda de 77% e perdeu R$ 8,3 bilhões em valor de mercado.

O dia dessas companhias não foi fácil e houve um esforço da gestão e dos departamentos de Relações com Investidores para demonstrar ao mercado como estavam reportadas suas operações de “risco sacado”. As informações prestadas aos investidores, ajudaram a reverter o mau humor com seus papéis.

Explicações

No caso do Magazine Luiza, a empresa reporta o adiantamento que instituições financeiras fazem aos seus fornecedores no campo “conta fornecedores”. O Magazine Luiza não adquire crédito junto às instituições para pagar esses fornecedores, em vez disso, negocia o prazo diretamente com as empresas que, na sequência, adiantam esses valores com as financeiras.

“A Companhia mantém convênios firmados com bancos parceiros para estruturar com os seus principais fornecedores a operação de antecipação de seus recebíveis. Nessa operação, os fornecedores transferem o direito de recebimento dos títulos para o banco em troca do recebimento antecipado. O banco, por sua vez, passa a ser credor da operação, sendo que a Companhia efetua a liquidação do título na mesma data originalmente acordada com seu fornecedor e recebe, subsequentemente, uma comissão do banco por essa intermediação e confirmação dos títulos a pagar. Essa comissão é registrada como receita financeira. A operação acima realizada pela Companhia não altera os prazos, preços e condições anteriormente estabelecidos com os fornecedores e, portanto, a Companhia a classifica na rubrica de Fornecedores”, diz a companhia no último relatório de informações financeiras (ITR) publicado.

A Via, por sua vez, faz a operação de “risco sacado”, mas contabiliza em seu balanço a taxa de juros média que incide sobre a operação. Essa informação também pode ser encontrada nas informações financeiras da empresa do terceiro trimestre de 2022 na linha: “Fornecedores Convênio”.

Em nota explicativa nesse documento, a empresa afirma: “Os convênios firmados atendem aos interesses mútuos no que tange à liquidez e capital de giro de cada parte, e são firmados em decorrência de eventuais variações conjunturais no nível da demanda e oferta de produtos e serviços. Devido as características de negociação comercial de prazos entre fornecedores e a Companhia, estes passivos financeiros foram incluídos em programas de captação de recursos através de linhas de crédito da Companhia junto a instituições financeiras, com o custo financeiro de 18,89% a.a. em 30 de setembro de 2022 (11,04% a.a. em 31 de dezembro de 2021)”.

Faltou isonomia

Para Daniela Bretthauer, além da fala que teve repercussão sobre o setor, a Americanas errou em fazer uma comunicação sem isonomia de informações para com o mercado. Após publicação do Broadcast sobre fala do ex-CEO na teleconferência fechada a acionistas, a CVM solicitou explicações à empresa, que somente depois, em resposta ao órgão regulador, disponibilizou aos investidores uma gravação da reunião. Ainda assim, a gravação não estava completa.

“Ontem mesmo teriam de ter chamado uma teleconferência pública. Chamaram evento fechado, sem isonomia de informações”, afirma a analista que estava à frente da diretoria de Relações com Investidores da Via quando a empresa comunicou ao mercado que teria de separar mais R$ 1,2 bilhão para possíveis perdas em processos trabalhistas. À época a companhia somou ao fato relevante um vídeo explicativo, além de anunciar teleconferência para o dia seguinte.

“Em toda a minha carreira nunca vi nada parecido. Outras empresas também tiveram problemas e inconsistências, mas nada nessa magnitude”, afirma. *Colaborou Elisa Calmon

SÃO PAULO - Depois do anúncio da Americanas na noite de ontem, com a informação de que a companhia tinha inconsistências da ordem de R$ 20 bilhões, as ações das varejistas do setor abriram em forte queda. Uma fala do agora ex-CEO da Americanas, Sergio Rial - em teleconferência fechada para clientes do BTG - causou ruído no setor. Ele afirmou que incongruências na maneira de reportar o financiamento de compras com fornecedores, onde se concentra o problema da Americanas, não são um problema apenas da Americanas, mas se arrastam desde os anos 90 no setor. A fala foi considerada injusta no segmento.

“É um tema das Americanas, mas não é só das Americanas, é um tema que permanece no mercado brasileiro desde a década de 90″, afirmou Rial sobre a prática de não reportar o que se chama de “risco sacado” (financiamentos de curto prazo) como dívida bancária. Fontes de empresas listadas do setor explicam, porém, que as chamadas operações de “risco sacado” são, sim, comuns. No entanto, reportá-las de maneira equivocada, como fez a Americanas, não é a prática de outras empresas da Bolsa.

Foto da fachada da loja Americanas na Av. Paulista. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: Felipe Rau/Estadão

“Ele foi inconsequente em falar isso”, diz a analista de renda variável, Daniela Bretthauer. Para ela, toda a comunicação das inconsistências contábeis da companhia foi atabalhoada. Nesse ponto específico, ela acredita que a fala de Rial não fez jus às boas práticas de empresas sérias do segmento.

Além da fala de Rial, a falta de entendimento de investidores estrangeiros sobre o ocorrido também afetou o desempenho das concorrentes da varejista na bolsa. A Americanas seguiu em leilão até perto de 14h20, enquanto as pares de e-commerce sentiram o baque logo cedo. A Via chegou a recuar 10% e entrar em leilão por oscilação máxima permitida. No início da tarde, o setor mostrou melhora. O Magalu conseguiu sustentar essa tendência e no fim da tarde liderava as maiores altas do Ibovespa, com avanço de 5%. Na outra ponta, Via cedia 5%, entre as maiores baixas do índice. A Americanas fechou em queda de 77% e perdeu R$ 8,3 bilhões em valor de mercado.

O dia dessas companhias não foi fácil e houve um esforço da gestão e dos departamentos de Relações com Investidores para demonstrar ao mercado como estavam reportadas suas operações de “risco sacado”. As informações prestadas aos investidores, ajudaram a reverter o mau humor com seus papéis.

Explicações

No caso do Magazine Luiza, a empresa reporta o adiantamento que instituições financeiras fazem aos seus fornecedores no campo “conta fornecedores”. O Magazine Luiza não adquire crédito junto às instituições para pagar esses fornecedores, em vez disso, negocia o prazo diretamente com as empresas que, na sequência, adiantam esses valores com as financeiras.

“A Companhia mantém convênios firmados com bancos parceiros para estruturar com os seus principais fornecedores a operação de antecipação de seus recebíveis. Nessa operação, os fornecedores transferem o direito de recebimento dos títulos para o banco em troca do recebimento antecipado. O banco, por sua vez, passa a ser credor da operação, sendo que a Companhia efetua a liquidação do título na mesma data originalmente acordada com seu fornecedor e recebe, subsequentemente, uma comissão do banco por essa intermediação e confirmação dos títulos a pagar. Essa comissão é registrada como receita financeira. A operação acima realizada pela Companhia não altera os prazos, preços e condições anteriormente estabelecidos com os fornecedores e, portanto, a Companhia a classifica na rubrica de Fornecedores”, diz a companhia no último relatório de informações financeiras (ITR) publicado.

A Via, por sua vez, faz a operação de “risco sacado”, mas contabiliza em seu balanço a taxa de juros média que incide sobre a operação. Essa informação também pode ser encontrada nas informações financeiras da empresa do terceiro trimestre de 2022 na linha: “Fornecedores Convênio”.

Em nota explicativa nesse documento, a empresa afirma: “Os convênios firmados atendem aos interesses mútuos no que tange à liquidez e capital de giro de cada parte, e são firmados em decorrência de eventuais variações conjunturais no nível da demanda e oferta de produtos e serviços. Devido as características de negociação comercial de prazos entre fornecedores e a Companhia, estes passivos financeiros foram incluídos em programas de captação de recursos através de linhas de crédito da Companhia junto a instituições financeiras, com o custo financeiro de 18,89% a.a. em 30 de setembro de 2022 (11,04% a.a. em 31 de dezembro de 2021)”.

Faltou isonomia

Para Daniela Bretthauer, além da fala que teve repercussão sobre o setor, a Americanas errou em fazer uma comunicação sem isonomia de informações para com o mercado. Após publicação do Broadcast sobre fala do ex-CEO na teleconferência fechada a acionistas, a CVM solicitou explicações à empresa, que somente depois, em resposta ao órgão regulador, disponibilizou aos investidores uma gravação da reunião. Ainda assim, a gravação não estava completa.

“Ontem mesmo teriam de ter chamado uma teleconferência pública. Chamaram evento fechado, sem isonomia de informações”, afirma a analista que estava à frente da diretoria de Relações com Investidores da Via quando a empresa comunicou ao mercado que teria de separar mais R$ 1,2 bilhão para possíveis perdas em processos trabalhistas. À época a companhia somou ao fato relevante um vídeo explicativo, além de anunciar teleconferência para o dia seguinte.

“Em toda a minha carreira nunca vi nada parecido. Outras empresas também tiveram problemas e inconsistências, mas nada nessa magnitude”, afirma. *Colaborou Elisa Calmon

SÃO PAULO - Depois do anúncio da Americanas na noite de ontem, com a informação de que a companhia tinha inconsistências da ordem de R$ 20 bilhões, as ações das varejistas do setor abriram em forte queda. Uma fala do agora ex-CEO da Americanas, Sergio Rial - em teleconferência fechada para clientes do BTG - causou ruído no setor. Ele afirmou que incongruências na maneira de reportar o financiamento de compras com fornecedores, onde se concentra o problema da Americanas, não são um problema apenas da Americanas, mas se arrastam desde os anos 90 no setor. A fala foi considerada injusta no segmento.

“É um tema das Americanas, mas não é só das Americanas, é um tema que permanece no mercado brasileiro desde a década de 90″, afirmou Rial sobre a prática de não reportar o que se chama de “risco sacado” (financiamentos de curto prazo) como dívida bancária. Fontes de empresas listadas do setor explicam, porém, que as chamadas operações de “risco sacado” são, sim, comuns. No entanto, reportá-las de maneira equivocada, como fez a Americanas, não é a prática de outras empresas da Bolsa.

Foto da fachada da loja Americanas na Av. Paulista. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: Felipe Rau/Estadão

“Ele foi inconsequente em falar isso”, diz a analista de renda variável, Daniela Bretthauer. Para ela, toda a comunicação das inconsistências contábeis da companhia foi atabalhoada. Nesse ponto específico, ela acredita que a fala de Rial não fez jus às boas práticas de empresas sérias do segmento.

Além da fala de Rial, a falta de entendimento de investidores estrangeiros sobre o ocorrido também afetou o desempenho das concorrentes da varejista na bolsa. A Americanas seguiu em leilão até perto de 14h20, enquanto as pares de e-commerce sentiram o baque logo cedo. A Via chegou a recuar 10% e entrar em leilão por oscilação máxima permitida. No início da tarde, o setor mostrou melhora. O Magalu conseguiu sustentar essa tendência e no fim da tarde liderava as maiores altas do Ibovespa, com avanço de 5%. Na outra ponta, Via cedia 5%, entre as maiores baixas do índice. A Americanas fechou em queda de 77% e perdeu R$ 8,3 bilhões em valor de mercado.

O dia dessas companhias não foi fácil e houve um esforço da gestão e dos departamentos de Relações com Investidores para demonstrar ao mercado como estavam reportadas suas operações de “risco sacado”. As informações prestadas aos investidores, ajudaram a reverter o mau humor com seus papéis.

Explicações

No caso do Magazine Luiza, a empresa reporta o adiantamento que instituições financeiras fazem aos seus fornecedores no campo “conta fornecedores”. O Magazine Luiza não adquire crédito junto às instituições para pagar esses fornecedores, em vez disso, negocia o prazo diretamente com as empresas que, na sequência, adiantam esses valores com as financeiras.

“A Companhia mantém convênios firmados com bancos parceiros para estruturar com os seus principais fornecedores a operação de antecipação de seus recebíveis. Nessa operação, os fornecedores transferem o direito de recebimento dos títulos para o banco em troca do recebimento antecipado. O banco, por sua vez, passa a ser credor da operação, sendo que a Companhia efetua a liquidação do título na mesma data originalmente acordada com seu fornecedor e recebe, subsequentemente, uma comissão do banco por essa intermediação e confirmação dos títulos a pagar. Essa comissão é registrada como receita financeira. A operação acima realizada pela Companhia não altera os prazos, preços e condições anteriormente estabelecidos com os fornecedores e, portanto, a Companhia a classifica na rubrica de Fornecedores”, diz a companhia no último relatório de informações financeiras (ITR) publicado.

A Via, por sua vez, faz a operação de “risco sacado”, mas contabiliza em seu balanço a taxa de juros média que incide sobre a operação. Essa informação também pode ser encontrada nas informações financeiras da empresa do terceiro trimestre de 2022 na linha: “Fornecedores Convênio”.

Em nota explicativa nesse documento, a empresa afirma: “Os convênios firmados atendem aos interesses mútuos no que tange à liquidez e capital de giro de cada parte, e são firmados em decorrência de eventuais variações conjunturais no nível da demanda e oferta de produtos e serviços. Devido as características de negociação comercial de prazos entre fornecedores e a Companhia, estes passivos financeiros foram incluídos em programas de captação de recursos através de linhas de crédito da Companhia junto a instituições financeiras, com o custo financeiro de 18,89% a.a. em 30 de setembro de 2022 (11,04% a.a. em 31 de dezembro de 2021)”.

Faltou isonomia

Para Daniela Bretthauer, além da fala que teve repercussão sobre o setor, a Americanas errou em fazer uma comunicação sem isonomia de informações para com o mercado. Após publicação do Broadcast sobre fala do ex-CEO na teleconferência fechada a acionistas, a CVM solicitou explicações à empresa, que somente depois, em resposta ao órgão regulador, disponibilizou aos investidores uma gravação da reunião. Ainda assim, a gravação não estava completa.

“Ontem mesmo teriam de ter chamado uma teleconferência pública. Chamaram evento fechado, sem isonomia de informações”, afirma a analista que estava à frente da diretoria de Relações com Investidores da Via quando a empresa comunicou ao mercado que teria de separar mais R$ 1,2 bilhão para possíveis perdas em processos trabalhistas. À época a companhia somou ao fato relevante um vídeo explicativo, além de anunciar teleconferência para o dia seguinte.

“Em toda a minha carreira nunca vi nada parecido. Outras empresas também tiveram problemas e inconsistências, mas nada nessa magnitude”, afirma. *Colaborou Elisa Calmon

SÃO PAULO - Depois do anúncio da Americanas na noite de ontem, com a informação de que a companhia tinha inconsistências da ordem de R$ 20 bilhões, as ações das varejistas do setor abriram em forte queda. Uma fala do agora ex-CEO da Americanas, Sergio Rial - em teleconferência fechada para clientes do BTG - causou ruído no setor. Ele afirmou que incongruências na maneira de reportar o financiamento de compras com fornecedores, onde se concentra o problema da Americanas, não são um problema apenas da Americanas, mas se arrastam desde os anos 90 no setor. A fala foi considerada injusta no segmento.

“É um tema das Americanas, mas não é só das Americanas, é um tema que permanece no mercado brasileiro desde a década de 90″, afirmou Rial sobre a prática de não reportar o que se chama de “risco sacado” (financiamentos de curto prazo) como dívida bancária. Fontes de empresas listadas do setor explicam, porém, que as chamadas operações de “risco sacado” são, sim, comuns. No entanto, reportá-las de maneira equivocada, como fez a Americanas, não é a prática de outras empresas da Bolsa.

Foto da fachada da loja Americanas na Av. Paulista. FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO  Foto: Felipe Rau/Estadão

“Ele foi inconsequente em falar isso”, diz a analista de renda variável, Daniela Bretthauer. Para ela, toda a comunicação das inconsistências contábeis da companhia foi atabalhoada. Nesse ponto específico, ela acredita que a fala de Rial não fez jus às boas práticas de empresas sérias do segmento.

Além da fala de Rial, a falta de entendimento de investidores estrangeiros sobre o ocorrido também afetou o desempenho das concorrentes da varejista na bolsa. A Americanas seguiu em leilão até perto de 14h20, enquanto as pares de e-commerce sentiram o baque logo cedo. A Via chegou a recuar 10% e entrar em leilão por oscilação máxima permitida. No início da tarde, o setor mostrou melhora. O Magalu conseguiu sustentar essa tendência e no fim da tarde liderava as maiores altas do Ibovespa, com avanço de 5%. Na outra ponta, Via cedia 5%, entre as maiores baixas do índice. A Americanas fechou em queda de 77% e perdeu R$ 8,3 bilhões em valor de mercado.

O dia dessas companhias não foi fácil e houve um esforço da gestão e dos departamentos de Relações com Investidores para demonstrar ao mercado como estavam reportadas suas operações de “risco sacado”. As informações prestadas aos investidores, ajudaram a reverter o mau humor com seus papéis.

Explicações

No caso do Magazine Luiza, a empresa reporta o adiantamento que instituições financeiras fazem aos seus fornecedores no campo “conta fornecedores”. O Magazine Luiza não adquire crédito junto às instituições para pagar esses fornecedores, em vez disso, negocia o prazo diretamente com as empresas que, na sequência, adiantam esses valores com as financeiras.

“A Companhia mantém convênios firmados com bancos parceiros para estruturar com os seus principais fornecedores a operação de antecipação de seus recebíveis. Nessa operação, os fornecedores transferem o direito de recebimento dos títulos para o banco em troca do recebimento antecipado. O banco, por sua vez, passa a ser credor da operação, sendo que a Companhia efetua a liquidação do título na mesma data originalmente acordada com seu fornecedor e recebe, subsequentemente, uma comissão do banco por essa intermediação e confirmação dos títulos a pagar. Essa comissão é registrada como receita financeira. A operação acima realizada pela Companhia não altera os prazos, preços e condições anteriormente estabelecidos com os fornecedores e, portanto, a Companhia a classifica na rubrica de Fornecedores”, diz a companhia no último relatório de informações financeiras (ITR) publicado.

A Via, por sua vez, faz a operação de “risco sacado”, mas contabiliza em seu balanço a taxa de juros média que incide sobre a operação. Essa informação também pode ser encontrada nas informações financeiras da empresa do terceiro trimestre de 2022 na linha: “Fornecedores Convênio”.

Em nota explicativa nesse documento, a empresa afirma: “Os convênios firmados atendem aos interesses mútuos no que tange à liquidez e capital de giro de cada parte, e são firmados em decorrência de eventuais variações conjunturais no nível da demanda e oferta de produtos e serviços. Devido as características de negociação comercial de prazos entre fornecedores e a Companhia, estes passivos financeiros foram incluídos em programas de captação de recursos através de linhas de crédito da Companhia junto a instituições financeiras, com o custo financeiro de 18,89% a.a. em 30 de setembro de 2022 (11,04% a.a. em 31 de dezembro de 2021)”.

Faltou isonomia

Para Daniela Bretthauer, além da fala que teve repercussão sobre o setor, a Americanas errou em fazer uma comunicação sem isonomia de informações para com o mercado. Após publicação do Broadcast sobre fala do ex-CEO na teleconferência fechada a acionistas, a CVM solicitou explicações à empresa, que somente depois, em resposta ao órgão regulador, disponibilizou aos investidores uma gravação da reunião. Ainda assim, a gravação não estava completa.

“Ontem mesmo teriam de ter chamado uma teleconferência pública. Chamaram evento fechado, sem isonomia de informações”, afirma a analista que estava à frente da diretoria de Relações com Investidores da Via quando a empresa comunicou ao mercado que teria de separar mais R$ 1,2 bilhão para possíveis perdas em processos trabalhistas. À época a companhia somou ao fato relevante um vídeo explicativo, além de anunciar teleconferência para o dia seguinte.

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