Americanas: mudança em carta sobre operação de crédito ‘azedou’ conversas com Itaú


Segundo investigação da Polícia Federal, redação de documento foi alterada por bancos, o que permitiu à empresa fraudar balanço; Itaú e Santander negam participação em esquema

Por Talita Nascimento

Conversas de WhatsApp em um grupo da ex-diretoria da Americanas obtidas pela Polícia Federal mostram como a mudança em cartas do Itaú e do Santander encaminhadas à auditoria da KPMG em 2017 foram discutidas internamente pela companhia. As duas instituições financeiras disseram, nas cartas em questão, que tinham operações de risco sacado com a Americanas, mas, depois, mudaram a redação do documento. A troca teria acontecido de forma mais fácil do Santander. Já no Itaú, o assunto teria “azedado”, e o banco teria buscado tratar do tema numa reunião do Comitê Executivo.

Em nota ao Estadão, o Itaú e o Santander negam participação ou conhecimento das fraudes contábeis na Americanas e dizem que a responsabilidade pelas “inconsistências” nas contas da empresa é exclusiva de sua antiga diretoria.

Nas operações de risco sacado, a empresa contrai dívidas com o banco para o pagamento de fornecedores. A dívida, porém, não era informada corretamente pela companhia em seu balanço. A varejista usava isso como uma maneira artificial de gerar caixa para a operação deficitária da empresa, segundo as investigações. A discussão entre os ex-diretores da Americanas aconteceu em 2017, mas se referia à auditoria de 2016.

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As informações foram obtidas pela Polícia Federal, que investiga as fraudes contábeis reveladas pela companhia no início do ano passado. A Americanas, em recuperação judicial, informou um rombo superior a R$ 25 bilhões.

Na última quinta-feira, 26, a operação Disclosure, deflagrada pela PF, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores da companhia.

Americanas usava operações de risco sacado para fraudar balanço da empresa Foto: Pedro Kirilos/Estadão
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No relato sobre a delação de Marcelo Nunes, ex-diretor da Americanas, a Polícia Federal afirma, no pedido de medida cautelar enviado à Justiça para cumprir as diligências, ao qual o Estadão teve acesso, que o ex-executivo não soube dizer o porquê de os bancos aprovarem os empréstimos na modalidade de risco sacado “em valores superiores ao definido como limite pelo estatuto sem aprovação do Conselho de Administração”.

É possível entender a dimensão da troca de redação das cartas pelo nível de tensão narrado com o Itaú. Os funcionários do banco responsáveis pela carta teriam decidido não mandar o novo texto diretamente à auditoria da KPMG. Responderiam, então, a um e-mail da Americanas e enviariam em anexo a carta antiga.

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Na conversa de WhatsApp do grupo da diretoria com nome “Auditoria 2016″, Fabio Abrate, ex-diretor da empresa, afirma que essa solução, com o corpo do e-mail enviado pela varejista “não ajuda” a diretoria, mas que eles “brigariam até o fim”. “Vamos ter de olhar para todo esse português e palavras e montar o melhor discurso”, afirma.

O Itaú teria aceitado enviar a alteração como “detalhamento das operações solicitadas pela companhia”. Abrate diz ainda sobre a conversa com o banco: “O assunto azedou muito. Podemos ter efeitos colaterais”.

Na mesma conversa, Abrate diz que os “heads” (responsáveis) de produtos e do jurídico do banco Itaú não estavam confortáveis e não queriam aprovar a mudança na carta sozinhos: “Hedge (sic) de produtos e do jurídico estão desconfortáveis e não querem aprovar sozinhos. Resultado de um call agora de manhã entre eles. Rudge está solicitando agenda do Comitê Executivo do Banco para segunda-feira de manhã (vai me passar a hora).” O ex-executivo relata que o banco estaria com uma “postura péssima”.

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Em vários momentos, os ex-diretores fazem menção na conversa à “sala blindada”. Segundo a PF, tratava-se de uma sala onde eram discutidos temas sensíveis, “muitas vezes de cunho criminoso relacionado às fraudes contábeis”, afirma o relatório da PF.

As conversas seguem sem indicar exatamente como o assunto com o Itaú foi resolvido, e os então diretores comemoram o parecer da auditoria da KPMG aprovado. No entanto, o relatório da PF segue e anexa um e-mail de Fabio Abrate para os demais diretores com “sugestões de frases para a circularização do Itaú”.

Para a PF, nessa troca de e-mails “é possível constatar o envolvimento de funcionários do Itaú, que segundo o então diretor financeiro das Americanas, Fábio Abrate, haviam solicitado sugestões de texto para alteração das cartas de circularização que seriam enviadas às auditorias”, diz o relatório.

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Tema na CPI

Ainda no depoimento de Leonardo Coelho, atual CEO da Americanas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o caso da Câmara dos Deputados, no ano passado, a mudança nas cartas de Itaú e Santander foi mencionada. Desde aquela época, o Itaú reforça que anexou a carta antiga ao detalhamento solicitado pela varejista.

Em nota, o Itaú Unibanco “nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu”. “O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado”, afirma o banco.

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Segundo o Itaú, “os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas”. “O banco nunca concordou com esse pedido e inclusive interrompeu, por mais de seis meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações”, afirma.

Também em nota, o Santander afirma que “repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas, eventualmente feita por pessoas responsáveis pelas irregularidades ocorridas em sua administração e das quais o banco também é vítima”.

“A instituição sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central, que constitui uma entre as possíveis fontes de auditagem, além das cartas de circularização. Fato relevante publicado pela própria empresa em 13 de junho de 2023 relata que ‘as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas’. Ou seja, o documento comprova que a responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é exclusiva da empresa, por intermédio de sua antiga diretoria”, diz o banco.

Em nota, a Americanas afirma que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”. A empresa diz ainda acreditar na Justiça e que “aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.

O Estadão procurou o ex-diretor da Americanas Fabio Abrate, mas até o fechamento desta reportagem não teve resposta. O espaço está aberto para manifestação dos investigados.

Conversas de WhatsApp em um grupo da ex-diretoria da Americanas obtidas pela Polícia Federal mostram como a mudança em cartas do Itaú e do Santander encaminhadas à auditoria da KPMG em 2017 foram discutidas internamente pela companhia. As duas instituições financeiras disseram, nas cartas em questão, que tinham operações de risco sacado com a Americanas, mas, depois, mudaram a redação do documento. A troca teria acontecido de forma mais fácil do Santander. Já no Itaú, o assunto teria “azedado”, e o banco teria buscado tratar do tema numa reunião do Comitê Executivo.

Em nota ao Estadão, o Itaú e o Santander negam participação ou conhecimento das fraudes contábeis na Americanas e dizem que a responsabilidade pelas “inconsistências” nas contas da empresa é exclusiva de sua antiga diretoria.

Nas operações de risco sacado, a empresa contrai dívidas com o banco para o pagamento de fornecedores. A dívida, porém, não era informada corretamente pela companhia em seu balanço. A varejista usava isso como uma maneira artificial de gerar caixa para a operação deficitária da empresa, segundo as investigações. A discussão entre os ex-diretores da Americanas aconteceu em 2017, mas se referia à auditoria de 2016.

As informações foram obtidas pela Polícia Federal, que investiga as fraudes contábeis reveladas pela companhia no início do ano passado. A Americanas, em recuperação judicial, informou um rombo superior a R$ 25 bilhões.

Na última quinta-feira, 26, a operação Disclosure, deflagrada pela PF, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores da companhia.

Americanas usava operações de risco sacado para fraudar balanço da empresa Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No relato sobre a delação de Marcelo Nunes, ex-diretor da Americanas, a Polícia Federal afirma, no pedido de medida cautelar enviado à Justiça para cumprir as diligências, ao qual o Estadão teve acesso, que o ex-executivo não soube dizer o porquê de os bancos aprovarem os empréstimos na modalidade de risco sacado “em valores superiores ao definido como limite pelo estatuto sem aprovação do Conselho de Administração”.

É possível entender a dimensão da troca de redação das cartas pelo nível de tensão narrado com o Itaú. Os funcionários do banco responsáveis pela carta teriam decidido não mandar o novo texto diretamente à auditoria da KPMG. Responderiam, então, a um e-mail da Americanas e enviariam em anexo a carta antiga.

Na conversa de WhatsApp do grupo da diretoria com nome “Auditoria 2016″, Fabio Abrate, ex-diretor da empresa, afirma que essa solução, com o corpo do e-mail enviado pela varejista “não ajuda” a diretoria, mas que eles “brigariam até o fim”. “Vamos ter de olhar para todo esse português e palavras e montar o melhor discurso”, afirma.

O Itaú teria aceitado enviar a alteração como “detalhamento das operações solicitadas pela companhia”. Abrate diz ainda sobre a conversa com o banco: “O assunto azedou muito. Podemos ter efeitos colaterais”.

Na mesma conversa, Abrate diz que os “heads” (responsáveis) de produtos e do jurídico do banco Itaú não estavam confortáveis e não queriam aprovar a mudança na carta sozinhos: “Hedge (sic) de produtos e do jurídico estão desconfortáveis e não querem aprovar sozinhos. Resultado de um call agora de manhã entre eles. Rudge está solicitando agenda do Comitê Executivo do Banco para segunda-feira de manhã (vai me passar a hora).” O ex-executivo relata que o banco estaria com uma “postura péssima”.

Em vários momentos, os ex-diretores fazem menção na conversa à “sala blindada”. Segundo a PF, tratava-se de uma sala onde eram discutidos temas sensíveis, “muitas vezes de cunho criminoso relacionado às fraudes contábeis”, afirma o relatório da PF.

As conversas seguem sem indicar exatamente como o assunto com o Itaú foi resolvido, e os então diretores comemoram o parecer da auditoria da KPMG aprovado. No entanto, o relatório da PF segue e anexa um e-mail de Fabio Abrate para os demais diretores com “sugestões de frases para a circularização do Itaú”.

Para a PF, nessa troca de e-mails “é possível constatar o envolvimento de funcionários do Itaú, que segundo o então diretor financeiro das Americanas, Fábio Abrate, haviam solicitado sugestões de texto para alteração das cartas de circularização que seriam enviadas às auditorias”, diz o relatório.

Tema na CPI

Ainda no depoimento de Leonardo Coelho, atual CEO da Americanas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o caso da Câmara dos Deputados, no ano passado, a mudança nas cartas de Itaú e Santander foi mencionada. Desde aquela época, o Itaú reforça que anexou a carta antiga ao detalhamento solicitado pela varejista.

Em nota, o Itaú Unibanco “nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu”. “O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado”, afirma o banco.

Segundo o Itaú, “os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas”. “O banco nunca concordou com esse pedido e inclusive interrompeu, por mais de seis meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações”, afirma.

Também em nota, o Santander afirma que “repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas, eventualmente feita por pessoas responsáveis pelas irregularidades ocorridas em sua administração e das quais o banco também é vítima”.

“A instituição sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central, que constitui uma entre as possíveis fontes de auditagem, além das cartas de circularização. Fato relevante publicado pela própria empresa em 13 de junho de 2023 relata que ‘as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas’. Ou seja, o documento comprova que a responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é exclusiva da empresa, por intermédio de sua antiga diretoria”, diz o banco.

Em nota, a Americanas afirma que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”. A empresa diz ainda acreditar na Justiça e que “aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.

O Estadão procurou o ex-diretor da Americanas Fabio Abrate, mas até o fechamento desta reportagem não teve resposta. O espaço está aberto para manifestação dos investigados.

Conversas de WhatsApp em um grupo da ex-diretoria da Americanas obtidas pela Polícia Federal mostram como a mudança em cartas do Itaú e do Santander encaminhadas à auditoria da KPMG em 2017 foram discutidas internamente pela companhia. As duas instituições financeiras disseram, nas cartas em questão, que tinham operações de risco sacado com a Americanas, mas, depois, mudaram a redação do documento. A troca teria acontecido de forma mais fácil do Santander. Já no Itaú, o assunto teria “azedado”, e o banco teria buscado tratar do tema numa reunião do Comitê Executivo.

Em nota ao Estadão, o Itaú e o Santander negam participação ou conhecimento das fraudes contábeis na Americanas e dizem que a responsabilidade pelas “inconsistências” nas contas da empresa é exclusiva de sua antiga diretoria.

Nas operações de risco sacado, a empresa contrai dívidas com o banco para o pagamento de fornecedores. A dívida, porém, não era informada corretamente pela companhia em seu balanço. A varejista usava isso como uma maneira artificial de gerar caixa para a operação deficitária da empresa, segundo as investigações. A discussão entre os ex-diretores da Americanas aconteceu em 2017, mas se referia à auditoria de 2016.

As informações foram obtidas pela Polícia Federal, que investiga as fraudes contábeis reveladas pela companhia no início do ano passado. A Americanas, em recuperação judicial, informou um rombo superior a R$ 25 bilhões.

Na última quinta-feira, 26, a operação Disclosure, deflagrada pela PF, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores da companhia.

Americanas usava operações de risco sacado para fraudar balanço da empresa Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No relato sobre a delação de Marcelo Nunes, ex-diretor da Americanas, a Polícia Federal afirma, no pedido de medida cautelar enviado à Justiça para cumprir as diligências, ao qual o Estadão teve acesso, que o ex-executivo não soube dizer o porquê de os bancos aprovarem os empréstimos na modalidade de risco sacado “em valores superiores ao definido como limite pelo estatuto sem aprovação do Conselho de Administração”.

É possível entender a dimensão da troca de redação das cartas pelo nível de tensão narrado com o Itaú. Os funcionários do banco responsáveis pela carta teriam decidido não mandar o novo texto diretamente à auditoria da KPMG. Responderiam, então, a um e-mail da Americanas e enviariam em anexo a carta antiga.

Na conversa de WhatsApp do grupo da diretoria com nome “Auditoria 2016″, Fabio Abrate, ex-diretor da empresa, afirma que essa solução, com o corpo do e-mail enviado pela varejista “não ajuda” a diretoria, mas que eles “brigariam até o fim”. “Vamos ter de olhar para todo esse português e palavras e montar o melhor discurso”, afirma.

O Itaú teria aceitado enviar a alteração como “detalhamento das operações solicitadas pela companhia”. Abrate diz ainda sobre a conversa com o banco: “O assunto azedou muito. Podemos ter efeitos colaterais”.

Na mesma conversa, Abrate diz que os “heads” (responsáveis) de produtos e do jurídico do banco Itaú não estavam confortáveis e não queriam aprovar a mudança na carta sozinhos: “Hedge (sic) de produtos e do jurídico estão desconfortáveis e não querem aprovar sozinhos. Resultado de um call agora de manhã entre eles. Rudge está solicitando agenda do Comitê Executivo do Banco para segunda-feira de manhã (vai me passar a hora).” O ex-executivo relata que o banco estaria com uma “postura péssima”.

Em vários momentos, os ex-diretores fazem menção na conversa à “sala blindada”. Segundo a PF, tratava-se de uma sala onde eram discutidos temas sensíveis, “muitas vezes de cunho criminoso relacionado às fraudes contábeis”, afirma o relatório da PF.

As conversas seguem sem indicar exatamente como o assunto com o Itaú foi resolvido, e os então diretores comemoram o parecer da auditoria da KPMG aprovado. No entanto, o relatório da PF segue e anexa um e-mail de Fabio Abrate para os demais diretores com “sugestões de frases para a circularização do Itaú”.

Para a PF, nessa troca de e-mails “é possível constatar o envolvimento de funcionários do Itaú, que segundo o então diretor financeiro das Americanas, Fábio Abrate, haviam solicitado sugestões de texto para alteração das cartas de circularização que seriam enviadas às auditorias”, diz o relatório.

Tema na CPI

Ainda no depoimento de Leonardo Coelho, atual CEO da Americanas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o caso da Câmara dos Deputados, no ano passado, a mudança nas cartas de Itaú e Santander foi mencionada. Desde aquela época, o Itaú reforça que anexou a carta antiga ao detalhamento solicitado pela varejista.

Em nota, o Itaú Unibanco “nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu”. “O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado”, afirma o banco.

Segundo o Itaú, “os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas”. “O banco nunca concordou com esse pedido e inclusive interrompeu, por mais de seis meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações”, afirma.

Também em nota, o Santander afirma que “repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas, eventualmente feita por pessoas responsáveis pelas irregularidades ocorridas em sua administração e das quais o banco também é vítima”.

“A instituição sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central, que constitui uma entre as possíveis fontes de auditagem, além das cartas de circularização. Fato relevante publicado pela própria empresa em 13 de junho de 2023 relata que ‘as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas’. Ou seja, o documento comprova que a responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é exclusiva da empresa, por intermédio de sua antiga diretoria”, diz o banco.

Em nota, a Americanas afirma que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”. A empresa diz ainda acreditar na Justiça e que “aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.

O Estadão procurou o ex-diretor da Americanas Fabio Abrate, mas até o fechamento desta reportagem não teve resposta. O espaço está aberto para manifestação dos investigados.

Conversas de WhatsApp em um grupo da ex-diretoria da Americanas obtidas pela Polícia Federal mostram como a mudança em cartas do Itaú e do Santander encaminhadas à auditoria da KPMG em 2017 foram discutidas internamente pela companhia. As duas instituições financeiras disseram, nas cartas em questão, que tinham operações de risco sacado com a Americanas, mas, depois, mudaram a redação do documento. A troca teria acontecido de forma mais fácil do Santander. Já no Itaú, o assunto teria “azedado”, e o banco teria buscado tratar do tema numa reunião do Comitê Executivo.

Em nota ao Estadão, o Itaú e o Santander negam participação ou conhecimento das fraudes contábeis na Americanas e dizem que a responsabilidade pelas “inconsistências” nas contas da empresa é exclusiva de sua antiga diretoria.

Nas operações de risco sacado, a empresa contrai dívidas com o banco para o pagamento de fornecedores. A dívida, porém, não era informada corretamente pela companhia em seu balanço. A varejista usava isso como uma maneira artificial de gerar caixa para a operação deficitária da empresa, segundo as investigações. A discussão entre os ex-diretores da Americanas aconteceu em 2017, mas se referia à auditoria de 2016.

As informações foram obtidas pela Polícia Federal, que investiga as fraudes contábeis reveladas pela companhia no início do ano passado. A Americanas, em recuperação judicial, informou um rombo superior a R$ 25 bilhões.

Na última quinta-feira, 26, a operação Disclosure, deflagrada pela PF, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores da companhia.

Americanas usava operações de risco sacado para fraudar balanço da empresa Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No relato sobre a delação de Marcelo Nunes, ex-diretor da Americanas, a Polícia Federal afirma, no pedido de medida cautelar enviado à Justiça para cumprir as diligências, ao qual o Estadão teve acesso, que o ex-executivo não soube dizer o porquê de os bancos aprovarem os empréstimos na modalidade de risco sacado “em valores superiores ao definido como limite pelo estatuto sem aprovação do Conselho de Administração”.

É possível entender a dimensão da troca de redação das cartas pelo nível de tensão narrado com o Itaú. Os funcionários do banco responsáveis pela carta teriam decidido não mandar o novo texto diretamente à auditoria da KPMG. Responderiam, então, a um e-mail da Americanas e enviariam em anexo a carta antiga.

Na conversa de WhatsApp do grupo da diretoria com nome “Auditoria 2016″, Fabio Abrate, ex-diretor da empresa, afirma que essa solução, com o corpo do e-mail enviado pela varejista “não ajuda” a diretoria, mas que eles “brigariam até o fim”. “Vamos ter de olhar para todo esse português e palavras e montar o melhor discurso”, afirma.

O Itaú teria aceitado enviar a alteração como “detalhamento das operações solicitadas pela companhia”. Abrate diz ainda sobre a conversa com o banco: “O assunto azedou muito. Podemos ter efeitos colaterais”.

Na mesma conversa, Abrate diz que os “heads” (responsáveis) de produtos e do jurídico do banco Itaú não estavam confortáveis e não queriam aprovar a mudança na carta sozinhos: “Hedge (sic) de produtos e do jurídico estão desconfortáveis e não querem aprovar sozinhos. Resultado de um call agora de manhã entre eles. Rudge está solicitando agenda do Comitê Executivo do Banco para segunda-feira de manhã (vai me passar a hora).” O ex-executivo relata que o banco estaria com uma “postura péssima”.

Em vários momentos, os ex-diretores fazem menção na conversa à “sala blindada”. Segundo a PF, tratava-se de uma sala onde eram discutidos temas sensíveis, “muitas vezes de cunho criminoso relacionado às fraudes contábeis”, afirma o relatório da PF.

As conversas seguem sem indicar exatamente como o assunto com o Itaú foi resolvido, e os então diretores comemoram o parecer da auditoria da KPMG aprovado. No entanto, o relatório da PF segue e anexa um e-mail de Fabio Abrate para os demais diretores com “sugestões de frases para a circularização do Itaú”.

Para a PF, nessa troca de e-mails “é possível constatar o envolvimento de funcionários do Itaú, que segundo o então diretor financeiro das Americanas, Fábio Abrate, haviam solicitado sugestões de texto para alteração das cartas de circularização que seriam enviadas às auditorias”, diz o relatório.

Tema na CPI

Ainda no depoimento de Leonardo Coelho, atual CEO da Americanas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o caso da Câmara dos Deputados, no ano passado, a mudança nas cartas de Itaú e Santander foi mencionada. Desde aquela época, o Itaú reforça que anexou a carta antiga ao detalhamento solicitado pela varejista.

Em nota, o Itaú Unibanco “nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu”. “O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado”, afirma o banco.

Segundo o Itaú, “os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas”. “O banco nunca concordou com esse pedido e inclusive interrompeu, por mais de seis meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações”, afirma.

Também em nota, o Santander afirma que “repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas, eventualmente feita por pessoas responsáveis pelas irregularidades ocorridas em sua administração e das quais o banco também é vítima”.

“A instituição sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central, que constitui uma entre as possíveis fontes de auditagem, além das cartas de circularização. Fato relevante publicado pela própria empresa em 13 de junho de 2023 relata que ‘as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas’. Ou seja, o documento comprova que a responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é exclusiva da empresa, por intermédio de sua antiga diretoria”, diz o banco.

Em nota, a Americanas afirma que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”. A empresa diz ainda acreditar na Justiça e que “aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.

O Estadão procurou o ex-diretor da Americanas Fabio Abrate, mas até o fechamento desta reportagem não teve resposta. O espaço está aberto para manifestação dos investigados.

Conversas de WhatsApp em um grupo da ex-diretoria da Americanas obtidas pela Polícia Federal mostram como a mudança em cartas do Itaú e do Santander encaminhadas à auditoria da KPMG em 2017 foram discutidas internamente pela companhia. As duas instituições financeiras disseram, nas cartas em questão, que tinham operações de risco sacado com a Americanas, mas, depois, mudaram a redação do documento. A troca teria acontecido de forma mais fácil do Santander. Já no Itaú, o assunto teria “azedado”, e o banco teria buscado tratar do tema numa reunião do Comitê Executivo.

Em nota ao Estadão, o Itaú e o Santander negam participação ou conhecimento das fraudes contábeis na Americanas e dizem que a responsabilidade pelas “inconsistências” nas contas da empresa é exclusiva de sua antiga diretoria.

Nas operações de risco sacado, a empresa contrai dívidas com o banco para o pagamento de fornecedores. A dívida, porém, não era informada corretamente pela companhia em seu balanço. A varejista usava isso como uma maneira artificial de gerar caixa para a operação deficitária da empresa, segundo as investigações. A discussão entre os ex-diretores da Americanas aconteceu em 2017, mas se referia à auditoria de 2016.

As informações foram obtidas pela Polícia Federal, que investiga as fraudes contábeis reveladas pela companhia no início do ano passado. A Americanas, em recuperação judicial, informou um rombo superior a R$ 25 bilhões.

Na última quinta-feira, 26, a operação Disclosure, deflagrada pela PF, cumpriu 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-diretores da companhia.

Americanas usava operações de risco sacado para fraudar balanço da empresa Foto: Pedro Kirilos/Estadão

No relato sobre a delação de Marcelo Nunes, ex-diretor da Americanas, a Polícia Federal afirma, no pedido de medida cautelar enviado à Justiça para cumprir as diligências, ao qual o Estadão teve acesso, que o ex-executivo não soube dizer o porquê de os bancos aprovarem os empréstimos na modalidade de risco sacado “em valores superiores ao definido como limite pelo estatuto sem aprovação do Conselho de Administração”.

É possível entender a dimensão da troca de redação das cartas pelo nível de tensão narrado com o Itaú. Os funcionários do banco responsáveis pela carta teriam decidido não mandar o novo texto diretamente à auditoria da KPMG. Responderiam, então, a um e-mail da Americanas e enviariam em anexo a carta antiga.

Na conversa de WhatsApp do grupo da diretoria com nome “Auditoria 2016″, Fabio Abrate, ex-diretor da empresa, afirma que essa solução, com o corpo do e-mail enviado pela varejista “não ajuda” a diretoria, mas que eles “brigariam até o fim”. “Vamos ter de olhar para todo esse português e palavras e montar o melhor discurso”, afirma.

O Itaú teria aceitado enviar a alteração como “detalhamento das operações solicitadas pela companhia”. Abrate diz ainda sobre a conversa com o banco: “O assunto azedou muito. Podemos ter efeitos colaterais”.

Na mesma conversa, Abrate diz que os “heads” (responsáveis) de produtos e do jurídico do banco Itaú não estavam confortáveis e não queriam aprovar a mudança na carta sozinhos: “Hedge (sic) de produtos e do jurídico estão desconfortáveis e não querem aprovar sozinhos. Resultado de um call agora de manhã entre eles. Rudge está solicitando agenda do Comitê Executivo do Banco para segunda-feira de manhã (vai me passar a hora).” O ex-executivo relata que o banco estaria com uma “postura péssima”.

Em vários momentos, os ex-diretores fazem menção na conversa à “sala blindada”. Segundo a PF, tratava-se de uma sala onde eram discutidos temas sensíveis, “muitas vezes de cunho criminoso relacionado às fraudes contábeis”, afirma o relatório da PF.

As conversas seguem sem indicar exatamente como o assunto com o Itaú foi resolvido, e os então diretores comemoram o parecer da auditoria da KPMG aprovado. No entanto, o relatório da PF segue e anexa um e-mail de Fabio Abrate para os demais diretores com “sugestões de frases para a circularização do Itaú”.

Para a PF, nessa troca de e-mails “é possível constatar o envolvimento de funcionários do Itaú, que segundo o então diretor financeiro das Americanas, Fábio Abrate, haviam solicitado sugestões de texto para alteração das cartas de circularização que seriam enviadas às auditorias”, diz o relatório.

Tema na CPI

Ainda no depoimento de Leonardo Coelho, atual CEO da Americanas, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o caso da Câmara dos Deputados, no ano passado, a mudança nas cartas de Itaú e Santander foi mencionada. Desde aquela época, o Itaú reforça que anexou a carta antiga ao detalhamento solicitado pela varejista.

Em nota, o Itaú Unibanco “nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu”. “O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado”, afirma o banco.

Segundo o Itaú, “os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas”. “O banco nunca concordou com esse pedido e inclusive interrompeu, por mais de seis meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações”, afirma.

Também em nota, o Santander afirma que “repudia veementemente qualquer insinuação contrária à lisura de sua relação com a Americanas, eventualmente feita por pessoas responsáveis pelas irregularidades ocorridas em sua administração e das quais o banco também é vítima”.

“A instituição sempre informou integralmente os saldos das operações da Americanas no Sistema Central de Risco do Banco Central, que constitui uma entre as possíveis fontes de auditagem, além das cartas de circularização. Fato relevante publicado pela própria empresa em 13 de junho de 2023 relata que ‘as demonstrações financeiras da companhia vinham sendo fraudadas pela diretoria anterior da Americanas’. Ou seja, o documento comprova que a responsabilidade pelas ‘inconsistências contábeis’ é exclusiva da empresa, por intermédio de sua antiga diretoria”, diz o banco.

Em nota, a Americanas afirma que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”. A empresa diz ainda acreditar na Justiça e que “aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”.

O Estadão procurou o ex-diretor da Americanas Fabio Abrate, mas até o fechamento desta reportagem não teve resposta. O espaço está aberto para manifestação dos investigados.

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