Americanas aposta na volta ao mundo físico para crescer no pós-crise


Lojas da rede, conhecidas pela variedade um tanto caótica e pelos preços baixos, serão a joia da coroa; foco será em produtos mais baratos e de menor preço que fazem o cliente voltar

Por Matheus Piovesana, Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt

Ao longo dos anos 2010, Lojas Americanas e B2W Digital venderam ao mercado que o futuro da companhia era no online, com o varejo físico dando suporte à expansão do novo meio. Uma fraude contábil de R$ 25,2 bilhões e um plano de recuperação judicial depois, a Americanas, que reúne as duas antigas empresas, vai inverter o jogo.

O digital será, sim, a extensão do mundo físico. Entretanto, as lojas da rede, conhecidas pela variedade um tanto caótica e pelos preços baixos, serão a joia da coroa.

Ao apresentar o balanço de 2022 e reapresentar o de 2021, a administração da companhia também detalhou pontos da estratégia que vai seguir para que, mais que superar a crise, a Americanas volte a crescer.

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Essa estratégia terá os tijolos como âncora. Neles, a companhia vai focar em produtos mais baratos e de menor preço, que fazem o cliente voltar à loja mais vezes. Haverá uma organização da rede de 1,6 mil pontos em grupos, com sortimento de produtos diferenciado em cada uma delas, de acordo com a demanda da região.

Lojas Americanas estão em crise desde revelação de rombo bilionário nas contas da empresa, em janeiro Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Na teleconferência com analistas e investidores, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, disse que é “impressionante” a recorrência com que os clientes entram nas lojas da varejista para comprar guloseimas, por exemplo. Esse é o tipo de compra que o consumidor associa à empresa, de acordo com ele. “É uma volta às origens sim”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

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“O digital de Americanas não vai ser do tamanho de um Mercado Livre no curto prazo, mas um braço importante para complementar o físico”, afirmou na teleconferência.

A Americanas divulgou projeções para o ano de 2025 que apontam um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da ordem de R$ 2,2 bilhões, contra a perda de R$ 2,9 bilhões ano passado. Uma das premissas por trás da estimativa é justamente a de focar no crescimento das vendas na loja física, e a busca por equilíbrio financeiro no digital.

Para chegar a esse equilíbrio, a operação digital será reconfigurada, e o estoque próprio vai espelhar as categorias que são vendidas nas lojas físicas. Isto significa que produtos como eletrodomésticos, linha branca e de tecnologia serão migrados para as vendas através dos parceiros, que operam no chamado marketplace.

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Dessa forma, a Americanas ganha uma comissão sobre as vendas, mas não tem os custos de manter esses estoques. Coelho afirmou que essa migração já começou. “Já está em andamento essa estratégia e temos vários fornecedores que já migraram para essa estratégia”, disse ele.

A mudança de rota se relaciona ao novo contexto do varejo. Coelho afirma que, na última década, a companhia concorreu no digital com nomes como Mercado Livre e Amazon, o que levou a gastos altos em marketing e incentivos.

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“Quando se somava tudo isso, o resultado era que nós gastávamos dinheiro para perder dinheiro. É isso que estamos revertendo hoje, essa campanha para ser uma vencedora desse mercado em que o vencedor leva tudo”, afirmou.

Do topo à crise

No auge, em agosto de 2020, a então B2W chegou a valer o equivalente a R$ 113,1 bilhões na Bolsa brasileira. Hoje, vale cerca de R$ 776,2 milhões, menos de 1% da máxima, que aconteceu em meio à euforia dos investidores com o varejo online durante a pandemia da covid-19, em um mundo de consumidores em casa e juros a 2% ao ano.

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A crise deflagrada no início do ano com a descoberta de fraudes contábeis explica boa parte da queda, mas não a maior porção. Desde 2021, o mercado vinha pressionando as cotações do varejo diante da alta da inflação, que reduziu a renda disponível para comprar itens não essenciais, e dos juros, que encareceu o endividamento e as amplas operações que essas empresas montaram nos dois anos anteriores.

Na Americanas, havia ainda a baixa visibilidade do mercado sobre a fusão entre as empresas do mundo físico e digital, em 2021. Inicialmente, o trio de acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, manteve o controle da companhia por meio de uma estrutura considerada confusa. Depois, abriu mão do controle, levando ao formato atual da operação.

No ano passado, a empresa ensaiou uma recuperação ao anunciar a chegada de Sérgio Rial, ex-CEO do Santander Brasil, ao comando. A expectativa era de que Rial comandasse uma virada rumo a uma rentabilidade maior similar à que fez no banco.

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Rial renunciou poucos dias após efetivamente assumir e revelou o rombo que depois se descobriria ser fruto da fraude. Enquanto esteve na empresa, fez uma ampla revisão dos dados e chegou à conclusão de que a queima de caixa do digital era excessiva, a mesma que agora foi incorporada ao plano estratégico.

Lucro histórico virou prejuízo bilionário

Uma das maiores fraudes contábeis do mundo corporativo brasileiro fez a Americanas transformar o lucro líquido de R$ 721 milhões em 2021, comemorado à época com o maior resultado de sua história, em um prejuízo bilionário, que chegou R$ 6,2 bilhões naquele ano e que dobrou em 2022, para quase R$ 13 bilhões.

Depois de uma longa espera, e 11 meses após a revelação da fraude, os números foram revelados nesta quinta-feira, em documentos que acusam diretamente a antiga gestão pelos problemas.

“O que aconteceu é manipulação dolosa dos controles internos da companhia pela antiga gestão. E isso não tem a ver com métricas de desempenho, mas com caráter daqueles que deveriam ser os maiores defensores de Americanas”, afirmou o CEO Leonardo Coelho, na teleconferência com analistas e investidores que durou quase 2 horas. Foi a primeira conversa da administração da companhia com o mercado desde o anúncio da fraude, em 11 de janeiro.

Naquele dia, revelou-se que o rombo fora de R$ 20 bilhões. Agora, com os dados de 2022 e 2021 revisados, a estimativa mais precisa é de R$ 25,2 bilhões, número próximo do estimado em junho, quando o grupo parou de chamar o episódio de “inconsistência contábil” e a passou a usar o termo fraude. “As demonstrações financeiras de hoje (quinta, 16) representam de forma fidedigna tudo aquilo que a gente encontrou na operação relacionada a fraudes”, garante Coelho.

Com o reconhecimento da fraude, o endividamento da Americanas aumentou em bilhões. A dívida líquida encerrou 2022 em R$ 26,287 bilhões. Até então, até setembro do ano passado, havia informado um passivo mais de cinco vezes menor, de R$ 5 bilhões. Já a dívida bruta de curto prazo ficou em R$ 37 bilhões, aumento de 35,4% em um ano.

Para capitalizar a empresa, o trio de acionistas colocará R$ 12 bilhões. Mais R$ 12 bilhões virão da conversão de dívidas em ações. “Ninguém coloca R$ 24 bilhões em uma empresa que vai falir”, disse Coelho ao Estadão/Broadcast.

Além do rombo, os números revelaram um patrimônio líquido negativo em R$ 26 bilhões, ou seja, a rede de varejo não tem hoje ativos o suficiente para honrar todas as obrigações. Com o plano de recuperação judicial aprovado e a reestruturação, a expectativa é que o número volte a ficar positivo em 2025. “A virada no patrimônio líquido depende exclusivamente da aprovação do plano de RJ”, disse a diretora financeira da Americanas, Camille Faria, na teleconferência.

Sem opinião

O esperado balanço veio sem a opinião da empresa de auditoria contratada pela Americanas para fazer a avaliação independente de seu balanço, a BDO. Os auditores questionaram ainda a viabilidade operacional da rede de varejo.

“Não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria sobre essas demonstrações contábeis individuais e consolidadas”, afirma a BDO em relatório que acompanha as demonstrações financeiras.

A diretora financeira da Americanas afirma que os números de 2022 e 2021 foram todos auditados. “Vocês vão ver que houve uma abstenção de opinião, que está essencialmente ligada ao fato de a companhia estar em recuperação judicial”, disse na teleconferência, em meio a perguntas sobre a auditoria do balanço.

Sem ter um plano de RJ aprovado, o que o comando da rede de varejo espera que ocorra ainda este ano, Faria disse que a companhia, claro, tem dúvidas em relação a sua continuidade. “Por conta disso, não resta outra opção aos auditores que uma abstenção de opinião enquanto a companhia não aprovar seu plano”, completou.

Ao longo dos anos 2010, Lojas Americanas e B2W Digital venderam ao mercado que o futuro da companhia era no online, com o varejo físico dando suporte à expansão do novo meio. Uma fraude contábil de R$ 25,2 bilhões e um plano de recuperação judicial depois, a Americanas, que reúne as duas antigas empresas, vai inverter o jogo.

O digital será, sim, a extensão do mundo físico. Entretanto, as lojas da rede, conhecidas pela variedade um tanto caótica e pelos preços baixos, serão a joia da coroa.

Ao apresentar o balanço de 2022 e reapresentar o de 2021, a administração da companhia também detalhou pontos da estratégia que vai seguir para que, mais que superar a crise, a Americanas volte a crescer.

Essa estratégia terá os tijolos como âncora. Neles, a companhia vai focar em produtos mais baratos e de menor preço, que fazem o cliente voltar à loja mais vezes. Haverá uma organização da rede de 1,6 mil pontos em grupos, com sortimento de produtos diferenciado em cada uma delas, de acordo com a demanda da região.

Lojas Americanas estão em crise desde revelação de rombo bilionário nas contas da empresa, em janeiro Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Na teleconferência com analistas e investidores, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, disse que é “impressionante” a recorrência com que os clientes entram nas lojas da varejista para comprar guloseimas, por exemplo. Esse é o tipo de compra que o consumidor associa à empresa, de acordo com ele. “É uma volta às origens sim”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

“O digital de Americanas não vai ser do tamanho de um Mercado Livre no curto prazo, mas um braço importante para complementar o físico”, afirmou na teleconferência.

A Americanas divulgou projeções para o ano de 2025 que apontam um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da ordem de R$ 2,2 bilhões, contra a perda de R$ 2,9 bilhões ano passado. Uma das premissas por trás da estimativa é justamente a de focar no crescimento das vendas na loja física, e a busca por equilíbrio financeiro no digital.

Para chegar a esse equilíbrio, a operação digital será reconfigurada, e o estoque próprio vai espelhar as categorias que são vendidas nas lojas físicas. Isto significa que produtos como eletrodomésticos, linha branca e de tecnologia serão migrados para as vendas através dos parceiros, que operam no chamado marketplace.

Dessa forma, a Americanas ganha uma comissão sobre as vendas, mas não tem os custos de manter esses estoques. Coelho afirmou que essa migração já começou. “Já está em andamento essa estratégia e temos vários fornecedores que já migraram para essa estratégia”, disse ele.

A mudança de rota se relaciona ao novo contexto do varejo. Coelho afirma que, na última década, a companhia concorreu no digital com nomes como Mercado Livre e Amazon, o que levou a gastos altos em marketing e incentivos.

“Quando se somava tudo isso, o resultado era que nós gastávamos dinheiro para perder dinheiro. É isso que estamos revertendo hoje, essa campanha para ser uma vencedora desse mercado em que o vencedor leva tudo”, afirmou.

Do topo à crise

No auge, em agosto de 2020, a então B2W chegou a valer o equivalente a R$ 113,1 bilhões na Bolsa brasileira. Hoje, vale cerca de R$ 776,2 milhões, menos de 1% da máxima, que aconteceu em meio à euforia dos investidores com o varejo online durante a pandemia da covid-19, em um mundo de consumidores em casa e juros a 2% ao ano.

A crise deflagrada no início do ano com a descoberta de fraudes contábeis explica boa parte da queda, mas não a maior porção. Desde 2021, o mercado vinha pressionando as cotações do varejo diante da alta da inflação, que reduziu a renda disponível para comprar itens não essenciais, e dos juros, que encareceu o endividamento e as amplas operações que essas empresas montaram nos dois anos anteriores.

Na Americanas, havia ainda a baixa visibilidade do mercado sobre a fusão entre as empresas do mundo físico e digital, em 2021. Inicialmente, o trio de acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, manteve o controle da companhia por meio de uma estrutura considerada confusa. Depois, abriu mão do controle, levando ao formato atual da operação.

No ano passado, a empresa ensaiou uma recuperação ao anunciar a chegada de Sérgio Rial, ex-CEO do Santander Brasil, ao comando. A expectativa era de que Rial comandasse uma virada rumo a uma rentabilidade maior similar à que fez no banco.

Rial renunciou poucos dias após efetivamente assumir e revelou o rombo que depois se descobriria ser fruto da fraude. Enquanto esteve na empresa, fez uma ampla revisão dos dados e chegou à conclusão de que a queima de caixa do digital era excessiva, a mesma que agora foi incorporada ao plano estratégico.

Lucro histórico virou prejuízo bilionário

Uma das maiores fraudes contábeis do mundo corporativo brasileiro fez a Americanas transformar o lucro líquido de R$ 721 milhões em 2021, comemorado à época com o maior resultado de sua história, em um prejuízo bilionário, que chegou R$ 6,2 bilhões naquele ano e que dobrou em 2022, para quase R$ 13 bilhões.

Depois de uma longa espera, e 11 meses após a revelação da fraude, os números foram revelados nesta quinta-feira, em documentos que acusam diretamente a antiga gestão pelos problemas.

“O que aconteceu é manipulação dolosa dos controles internos da companhia pela antiga gestão. E isso não tem a ver com métricas de desempenho, mas com caráter daqueles que deveriam ser os maiores defensores de Americanas”, afirmou o CEO Leonardo Coelho, na teleconferência com analistas e investidores que durou quase 2 horas. Foi a primeira conversa da administração da companhia com o mercado desde o anúncio da fraude, em 11 de janeiro.

Naquele dia, revelou-se que o rombo fora de R$ 20 bilhões. Agora, com os dados de 2022 e 2021 revisados, a estimativa mais precisa é de R$ 25,2 bilhões, número próximo do estimado em junho, quando o grupo parou de chamar o episódio de “inconsistência contábil” e a passou a usar o termo fraude. “As demonstrações financeiras de hoje (quinta, 16) representam de forma fidedigna tudo aquilo que a gente encontrou na operação relacionada a fraudes”, garante Coelho.

Com o reconhecimento da fraude, o endividamento da Americanas aumentou em bilhões. A dívida líquida encerrou 2022 em R$ 26,287 bilhões. Até então, até setembro do ano passado, havia informado um passivo mais de cinco vezes menor, de R$ 5 bilhões. Já a dívida bruta de curto prazo ficou em R$ 37 bilhões, aumento de 35,4% em um ano.

Para capitalizar a empresa, o trio de acionistas colocará R$ 12 bilhões. Mais R$ 12 bilhões virão da conversão de dívidas em ações. “Ninguém coloca R$ 24 bilhões em uma empresa que vai falir”, disse Coelho ao Estadão/Broadcast.

Além do rombo, os números revelaram um patrimônio líquido negativo em R$ 26 bilhões, ou seja, a rede de varejo não tem hoje ativos o suficiente para honrar todas as obrigações. Com o plano de recuperação judicial aprovado e a reestruturação, a expectativa é que o número volte a ficar positivo em 2025. “A virada no patrimônio líquido depende exclusivamente da aprovação do plano de RJ”, disse a diretora financeira da Americanas, Camille Faria, na teleconferência.

Sem opinião

O esperado balanço veio sem a opinião da empresa de auditoria contratada pela Americanas para fazer a avaliação independente de seu balanço, a BDO. Os auditores questionaram ainda a viabilidade operacional da rede de varejo.

“Não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria sobre essas demonstrações contábeis individuais e consolidadas”, afirma a BDO em relatório que acompanha as demonstrações financeiras.

A diretora financeira da Americanas afirma que os números de 2022 e 2021 foram todos auditados. “Vocês vão ver que houve uma abstenção de opinião, que está essencialmente ligada ao fato de a companhia estar em recuperação judicial”, disse na teleconferência, em meio a perguntas sobre a auditoria do balanço.

Sem ter um plano de RJ aprovado, o que o comando da rede de varejo espera que ocorra ainda este ano, Faria disse que a companhia, claro, tem dúvidas em relação a sua continuidade. “Por conta disso, não resta outra opção aos auditores que uma abstenção de opinião enquanto a companhia não aprovar seu plano”, completou.

Ao longo dos anos 2010, Lojas Americanas e B2W Digital venderam ao mercado que o futuro da companhia era no online, com o varejo físico dando suporte à expansão do novo meio. Uma fraude contábil de R$ 25,2 bilhões e um plano de recuperação judicial depois, a Americanas, que reúne as duas antigas empresas, vai inverter o jogo.

O digital será, sim, a extensão do mundo físico. Entretanto, as lojas da rede, conhecidas pela variedade um tanto caótica e pelos preços baixos, serão a joia da coroa.

Ao apresentar o balanço de 2022 e reapresentar o de 2021, a administração da companhia também detalhou pontos da estratégia que vai seguir para que, mais que superar a crise, a Americanas volte a crescer.

Essa estratégia terá os tijolos como âncora. Neles, a companhia vai focar em produtos mais baratos e de menor preço, que fazem o cliente voltar à loja mais vezes. Haverá uma organização da rede de 1,6 mil pontos em grupos, com sortimento de produtos diferenciado em cada uma delas, de acordo com a demanda da região.

Lojas Americanas estão em crise desde revelação de rombo bilionário nas contas da empresa, em janeiro Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Na teleconferência com analistas e investidores, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, disse que é “impressionante” a recorrência com que os clientes entram nas lojas da varejista para comprar guloseimas, por exemplo. Esse é o tipo de compra que o consumidor associa à empresa, de acordo com ele. “É uma volta às origens sim”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

“O digital de Americanas não vai ser do tamanho de um Mercado Livre no curto prazo, mas um braço importante para complementar o físico”, afirmou na teleconferência.

A Americanas divulgou projeções para o ano de 2025 que apontam um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da ordem de R$ 2,2 bilhões, contra a perda de R$ 2,9 bilhões ano passado. Uma das premissas por trás da estimativa é justamente a de focar no crescimento das vendas na loja física, e a busca por equilíbrio financeiro no digital.

Para chegar a esse equilíbrio, a operação digital será reconfigurada, e o estoque próprio vai espelhar as categorias que são vendidas nas lojas físicas. Isto significa que produtos como eletrodomésticos, linha branca e de tecnologia serão migrados para as vendas através dos parceiros, que operam no chamado marketplace.

Dessa forma, a Americanas ganha uma comissão sobre as vendas, mas não tem os custos de manter esses estoques. Coelho afirmou que essa migração já começou. “Já está em andamento essa estratégia e temos vários fornecedores que já migraram para essa estratégia”, disse ele.

A mudança de rota se relaciona ao novo contexto do varejo. Coelho afirma que, na última década, a companhia concorreu no digital com nomes como Mercado Livre e Amazon, o que levou a gastos altos em marketing e incentivos.

“Quando se somava tudo isso, o resultado era que nós gastávamos dinheiro para perder dinheiro. É isso que estamos revertendo hoje, essa campanha para ser uma vencedora desse mercado em que o vencedor leva tudo”, afirmou.

Do topo à crise

No auge, em agosto de 2020, a então B2W chegou a valer o equivalente a R$ 113,1 bilhões na Bolsa brasileira. Hoje, vale cerca de R$ 776,2 milhões, menos de 1% da máxima, que aconteceu em meio à euforia dos investidores com o varejo online durante a pandemia da covid-19, em um mundo de consumidores em casa e juros a 2% ao ano.

A crise deflagrada no início do ano com a descoberta de fraudes contábeis explica boa parte da queda, mas não a maior porção. Desde 2021, o mercado vinha pressionando as cotações do varejo diante da alta da inflação, que reduziu a renda disponível para comprar itens não essenciais, e dos juros, que encareceu o endividamento e as amplas operações que essas empresas montaram nos dois anos anteriores.

Na Americanas, havia ainda a baixa visibilidade do mercado sobre a fusão entre as empresas do mundo físico e digital, em 2021. Inicialmente, o trio de acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, manteve o controle da companhia por meio de uma estrutura considerada confusa. Depois, abriu mão do controle, levando ao formato atual da operação.

No ano passado, a empresa ensaiou uma recuperação ao anunciar a chegada de Sérgio Rial, ex-CEO do Santander Brasil, ao comando. A expectativa era de que Rial comandasse uma virada rumo a uma rentabilidade maior similar à que fez no banco.

Rial renunciou poucos dias após efetivamente assumir e revelou o rombo que depois se descobriria ser fruto da fraude. Enquanto esteve na empresa, fez uma ampla revisão dos dados e chegou à conclusão de que a queima de caixa do digital era excessiva, a mesma que agora foi incorporada ao plano estratégico.

Lucro histórico virou prejuízo bilionário

Uma das maiores fraudes contábeis do mundo corporativo brasileiro fez a Americanas transformar o lucro líquido de R$ 721 milhões em 2021, comemorado à época com o maior resultado de sua história, em um prejuízo bilionário, que chegou R$ 6,2 bilhões naquele ano e que dobrou em 2022, para quase R$ 13 bilhões.

Depois de uma longa espera, e 11 meses após a revelação da fraude, os números foram revelados nesta quinta-feira, em documentos que acusam diretamente a antiga gestão pelos problemas.

“O que aconteceu é manipulação dolosa dos controles internos da companhia pela antiga gestão. E isso não tem a ver com métricas de desempenho, mas com caráter daqueles que deveriam ser os maiores defensores de Americanas”, afirmou o CEO Leonardo Coelho, na teleconferência com analistas e investidores que durou quase 2 horas. Foi a primeira conversa da administração da companhia com o mercado desde o anúncio da fraude, em 11 de janeiro.

Naquele dia, revelou-se que o rombo fora de R$ 20 bilhões. Agora, com os dados de 2022 e 2021 revisados, a estimativa mais precisa é de R$ 25,2 bilhões, número próximo do estimado em junho, quando o grupo parou de chamar o episódio de “inconsistência contábil” e a passou a usar o termo fraude. “As demonstrações financeiras de hoje (quinta, 16) representam de forma fidedigna tudo aquilo que a gente encontrou na operação relacionada a fraudes”, garante Coelho.

Com o reconhecimento da fraude, o endividamento da Americanas aumentou em bilhões. A dívida líquida encerrou 2022 em R$ 26,287 bilhões. Até então, até setembro do ano passado, havia informado um passivo mais de cinco vezes menor, de R$ 5 bilhões. Já a dívida bruta de curto prazo ficou em R$ 37 bilhões, aumento de 35,4% em um ano.

Para capitalizar a empresa, o trio de acionistas colocará R$ 12 bilhões. Mais R$ 12 bilhões virão da conversão de dívidas em ações. “Ninguém coloca R$ 24 bilhões em uma empresa que vai falir”, disse Coelho ao Estadão/Broadcast.

Além do rombo, os números revelaram um patrimônio líquido negativo em R$ 26 bilhões, ou seja, a rede de varejo não tem hoje ativos o suficiente para honrar todas as obrigações. Com o plano de recuperação judicial aprovado e a reestruturação, a expectativa é que o número volte a ficar positivo em 2025. “A virada no patrimônio líquido depende exclusivamente da aprovação do plano de RJ”, disse a diretora financeira da Americanas, Camille Faria, na teleconferência.

Sem opinião

O esperado balanço veio sem a opinião da empresa de auditoria contratada pela Americanas para fazer a avaliação independente de seu balanço, a BDO. Os auditores questionaram ainda a viabilidade operacional da rede de varejo.

“Não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria sobre essas demonstrações contábeis individuais e consolidadas”, afirma a BDO em relatório que acompanha as demonstrações financeiras.

A diretora financeira da Americanas afirma que os números de 2022 e 2021 foram todos auditados. “Vocês vão ver que houve uma abstenção de opinião, que está essencialmente ligada ao fato de a companhia estar em recuperação judicial”, disse na teleconferência, em meio a perguntas sobre a auditoria do balanço.

Sem ter um plano de RJ aprovado, o que o comando da rede de varejo espera que ocorra ainda este ano, Faria disse que a companhia, claro, tem dúvidas em relação a sua continuidade. “Por conta disso, não resta outra opção aos auditores que uma abstenção de opinião enquanto a companhia não aprovar seu plano”, completou.

Ao longo dos anos 2010, Lojas Americanas e B2W Digital venderam ao mercado que o futuro da companhia era no online, com o varejo físico dando suporte à expansão do novo meio. Uma fraude contábil de R$ 25,2 bilhões e um plano de recuperação judicial depois, a Americanas, que reúne as duas antigas empresas, vai inverter o jogo.

O digital será, sim, a extensão do mundo físico. Entretanto, as lojas da rede, conhecidas pela variedade um tanto caótica e pelos preços baixos, serão a joia da coroa.

Ao apresentar o balanço de 2022 e reapresentar o de 2021, a administração da companhia também detalhou pontos da estratégia que vai seguir para que, mais que superar a crise, a Americanas volte a crescer.

Essa estratégia terá os tijolos como âncora. Neles, a companhia vai focar em produtos mais baratos e de menor preço, que fazem o cliente voltar à loja mais vezes. Haverá uma organização da rede de 1,6 mil pontos em grupos, com sortimento de produtos diferenciado em cada uma delas, de acordo com a demanda da região.

Lojas Americanas estão em crise desde revelação de rombo bilionário nas contas da empresa, em janeiro Foto: TABA BENEDICTO / ESTADÃO

Na teleconferência com analistas e investidores, o CEO da Americanas, Leonardo Coelho, disse que é “impressionante” a recorrência com que os clientes entram nas lojas da varejista para comprar guloseimas, por exemplo. Esse é o tipo de compra que o consumidor associa à empresa, de acordo com ele. “É uma volta às origens sim”, disse o executivo ao Estadão/Broadcast.

“O digital de Americanas não vai ser do tamanho de um Mercado Livre no curto prazo, mas um braço importante para complementar o físico”, afirmou na teleconferência.

A Americanas divulgou projeções para o ano de 2025 que apontam um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da ordem de R$ 2,2 bilhões, contra a perda de R$ 2,9 bilhões ano passado. Uma das premissas por trás da estimativa é justamente a de focar no crescimento das vendas na loja física, e a busca por equilíbrio financeiro no digital.

Para chegar a esse equilíbrio, a operação digital será reconfigurada, e o estoque próprio vai espelhar as categorias que são vendidas nas lojas físicas. Isto significa que produtos como eletrodomésticos, linha branca e de tecnologia serão migrados para as vendas através dos parceiros, que operam no chamado marketplace.

Dessa forma, a Americanas ganha uma comissão sobre as vendas, mas não tem os custos de manter esses estoques. Coelho afirmou que essa migração já começou. “Já está em andamento essa estratégia e temos vários fornecedores que já migraram para essa estratégia”, disse ele.

A mudança de rota se relaciona ao novo contexto do varejo. Coelho afirma que, na última década, a companhia concorreu no digital com nomes como Mercado Livre e Amazon, o que levou a gastos altos em marketing e incentivos.

“Quando se somava tudo isso, o resultado era que nós gastávamos dinheiro para perder dinheiro. É isso que estamos revertendo hoje, essa campanha para ser uma vencedora desse mercado em que o vencedor leva tudo”, afirmou.

Do topo à crise

No auge, em agosto de 2020, a então B2W chegou a valer o equivalente a R$ 113,1 bilhões na Bolsa brasileira. Hoje, vale cerca de R$ 776,2 milhões, menos de 1% da máxima, que aconteceu em meio à euforia dos investidores com o varejo online durante a pandemia da covid-19, em um mundo de consumidores em casa e juros a 2% ao ano.

A crise deflagrada no início do ano com a descoberta de fraudes contábeis explica boa parte da queda, mas não a maior porção. Desde 2021, o mercado vinha pressionando as cotações do varejo diante da alta da inflação, que reduziu a renda disponível para comprar itens não essenciais, e dos juros, que encareceu o endividamento e as amplas operações que essas empresas montaram nos dois anos anteriores.

Na Americanas, havia ainda a baixa visibilidade do mercado sobre a fusão entre as empresas do mundo físico e digital, em 2021. Inicialmente, o trio de acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, manteve o controle da companhia por meio de uma estrutura considerada confusa. Depois, abriu mão do controle, levando ao formato atual da operação.

No ano passado, a empresa ensaiou uma recuperação ao anunciar a chegada de Sérgio Rial, ex-CEO do Santander Brasil, ao comando. A expectativa era de que Rial comandasse uma virada rumo a uma rentabilidade maior similar à que fez no banco.

Rial renunciou poucos dias após efetivamente assumir e revelou o rombo que depois se descobriria ser fruto da fraude. Enquanto esteve na empresa, fez uma ampla revisão dos dados e chegou à conclusão de que a queima de caixa do digital era excessiva, a mesma que agora foi incorporada ao plano estratégico.

Lucro histórico virou prejuízo bilionário

Uma das maiores fraudes contábeis do mundo corporativo brasileiro fez a Americanas transformar o lucro líquido de R$ 721 milhões em 2021, comemorado à época com o maior resultado de sua história, em um prejuízo bilionário, que chegou R$ 6,2 bilhões naquele ano e que dobrou em 2022, para quase R$ 13 bilhões.

Depois de uma longa espera, e 11 meses após a revelação da fraude, os números foram revelados nesta quinta-feira, em documentos que acusam diretamente a antiga gestão pelos problemas.

“O que aconteceu é manipulação dolosa dos controles internos da companhia pela antiga gestão. E isso não tem a ver com métricas de desempenho, mas com caráter daqueles que deveriam ser os maiores defensores de Americanas”, afirmou o CEO Leonardo Coelho, na teleconferência com analistas e investidores que durou quase 2 horas. Foi a primeira conversa da administração da companhia com o mercado desde o anúncio da fraude, em 11 de janeiro.

Naquele dia, revelou-se que o rombo fora de R$ 20 bilhões. Agora, com os dados de 2022 e 2021 revisados, a estimativa mais precisa é de R$ 25,2 bilhões, número próximo do estimado em junho, quando o grupo parou de chamar o episódio de “inconsistência contábil” e a passou a usar o termo fraude. “As demonstrações financeiras de hoje (quinta, 16) representam de forma fidedigna tudo aquilo que a gente encontrou na operação relacionada a fraudes”, garante Coelho.

Com o reconhecimento da fraude, o endividamento da Americanas aumentou em bilhões. A dívida líquida encerrou 2022 em R$ 26,287 bilhões. Até então, até setembro do ano passado, havia informado um passivo mais de cinco vezes menor, de R$ 5 bilhões. Já a dívida bruta de curto prazo ficou em R$ 37 bilhões, aumento de 35,4% em um ano.

Para capitalizar a empresa, o trio de acionistas colocará R$ 12 bilhões. Mais R$ 12 bilhões virão da conversão de dívidas em ações. “Ninguém coloca R$ 24 bilhões em uma empresa que vai falir”, disse Coelho ao Estadão/Broadcast.

Além do rombo, os números revelaram um patrimônio líquido negativo em R$ 26 bilhões, ou seja, a rede de varejo não tem hoje ativos o suficiente para honrar todas as obrigações. Com o plano de recuperação judicial aprovado e a reestruturação, a expectativa é que o número volte a ficar positivo em 2025. “A virada no patrimônio líquido depende exclusivamente da aprovação do plano de RJ”, disse a diretora financeira da Americanas, Camille Faria, na teleconferência.

Sem opinião

O esperado balanço veio sem a opinião da empresa de auditoria contratada pela Americanas para fazer a avaliação independente de seu balanço, a BDO. Os auditores questionaram ainda a viabilidade operacional da rede de varejo.

“Não nos foi possível obter evidência de auditoria apropriada e suficiente para fundamentar nossa opinião de auditoria sobre essas demonstrações contábeis individuais e consolidadas”, afirma a BDO em relatório que acompanha as demonstrações financeiras.

A diretora financeira da Americanas afirma que os números de 2022 e 2021 foram todos auditados. “Vocês vão ver que houve uma abstenção de opinião, que está essencialmente ligada ao fato de a companhia estar em recuperação judicial”, disse na teleconferência, em meio a perguntas sobre a auditoria do balanço.

Sem ter um plano de RJ aprovado, o que o comando da rede de varejo espera que ocorra ainda este ano, Faria disse que a companhia, claro, tem dúvidas em relação a sua continuidade. “Por conta disso, não resta outra opção aos auditores que uma abstenção de opinião enquanto a companhia não aprovar seu plano”, completou.

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