Se uma crise internacional é suficiente para afetar o preço dos seguros, imagine várias. Seguro é estatística aplicada a um fundo com o qual a seguradora faz frente às suas despesas. Na medida que as probabilidades mudam, a seguradora também altera seus preços, uma vez que pode estar caro ou barato, afetando o negócio, quer porque o preço é insuficiente para manter a liquidez, quer porque está alto e tira a competitividade da companhia.
A seguradora deve controlar as entradas e saídas para saber se está com o preço ideal e tomar as medidas necessárias para readequá-lo cada vez que identifica uma variação que afete seus resultados. Este controle não se aplica apenas às crises, mas aos elementos que afetam o negócio, pelas mais variadas causas. É uma operação de rotina, que, evidentemente, não a leva a alterar seus preços diariamente, mas que aponta as tendências e assim a alerta para adotar as medidas necessárias a manter o equilíbrio operacional.
Leia Também:
Uma crise internacional pode ou não afetar o resultado de uma determinada companhia. Por exemplo, uma seguradora que opera com seguros de vida, apenas no país onde está instalada, longe dos riscos de uma guerra atingir seus segurados, não precisa alterar o preço de suas apólices porque não há agravação de risco no seu negócio. Já uma seguradora que atua pesadamente em seguro de transporte internacional, com forte presença de seus segurados nas áreas de conflito, precisa rever seus preços todas as vezes que identificar uma maior exposição aos riscos da região.
Mas há uma terceira variável que pode afetar os preços dos seguros, independentemente da exposição direta da seguradora a um cenário diferente do que havia antes do surgimento da crise. O mercado internacional de seguros é altamente pulverizado entre milhares de seguradoras e resseguradoras que operam ao redor do globo, aceitando os mais variados riscos.
Quando surge uma crise de proporções capazes de afetar o resultado deste sistema ou de parte dele, as resseguradoras envolvidas acabam fazendo um movimento mais amplo do que reajustar apenas os preços dos seguros diretamente atingidos por ela. Este movimento abarca praticamente todas as carteiras para as quais ela dá cobertura, até porque ela não pode elevar além de um determinado patamar os preços dos seguros diretamente afetados. Então ela aumenta o preço de todos os seus contratos e isto acaba afetando o preço de seguros que, teoricamente, não têm qualquer relação, nem são diretamente afetados pela crise.
O quadro fica mais complexo quando, em vez de uma única crise, o mudo se vê diante de duas de grandes proporções e outras menos graves. É o quadro atual. Nós temos a guerra da Ucrânia que, apesar de já estar momentaneamente precificada, pode causar prejuízos futuros acima do esperado. Mais grave do que ela, temos o Oriente Médio chacoalhado por tensões extremas, que passam pelo problema palestino e se estendem para além, podendo envolver diretamente, além de Israel e Irã, nações até agora mais ou menos à margem da crise. Neste cenário, o aumento do preço do seguro seria um movimento natural.