BRASÍLIA - O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, criticou a privatização da Eletrobras na entrevista coletiva convocada para explicar o apagão que interrompeu o fornecimento de energia em 25 Estados e no Distrito Federal. Um dos locais identificados como a origem da pane, no Ceará, é servido por uma linha de transmissão da Chesf, subsidiária da companhia.
Questionado sobre a responsabilidade da Eletrobras no episódio, Silveira disse que seria leviano falar o nome da empresa responsável antes da conclusão da apuração conduzida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que levará 48 horas.
“Eu seria leviano em apontar que há causa direta com a privatização da Eletrobras, o que eu não posso faltar é com a coerência. Um setor estratégico como esse (energético) deve ter a mão firme do Estado brasileiro, como saúde e segurança”, afirmou. “O Brasil está nesse auditório conversando com o Poder Público, ninguém bateu na porta da Eletrobras para saber o que houve.”
Ainda assim, não faltaram insinuações do ministro sobre a empresa. Silveira disse que a concessionária privada que opera a linha de transmissão, sem dizer o nome, não prestou informações ao governo sobre o motivo da pane. Ele também se queixou, ao longo da entrevista, de a Eletrobras não ter prestado “solidariedade” sobre o ocorrido.
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“Nós não tivemos ainda sequer a solidariedade da Eletrobras nesse sentido. Mas nós vamos levar a cabo todas as apurações do ponto de vista técnico quanto outras possibilidades para que tenhamos o melhor diagnóstico e tomar as melhores providências sobre o ocorrido no dia de hoje”, afirmou.
Silveira disse ainda que a privatização da empresa fez mal ao País. “Na minha visão, não deveria ser privatizado (o setor elétrico), deveria ser uma função estatal. Minha posição é que a privatização da Eletrobras fez muito mal, em especial no modelo em que ela ocorreu, ela fez sim mal ao sistema. A Eletrobras era o braço operacional do setor elétrico brasileiro, responsável por mais de 40% da transmissão nacional e por mais de 36% da geração do País”, afirmou.
Mais cedo, a primeira-dama, Janja da Silva, postou um comentário em uma rede social afirmando que a Eletrobras foi privatizada no ano passado, o que levou internautas a especularem se ela teria informações sobre a origem do apagão.
Questionado, Silveira disse que a postagem da primeira-dama foi apenas uma afirmação do que ocorreu. “Não vi como uma crítica, eu vi como uma constatação. Ela apontou para um fato específico de que a Eletrobras, que era o braço do poder público no setor energético, foi privatizada em 2022. E eu dou um passo à frente: foi privatizada a três meses de eleição e de forma extremamente danosa ao setor elétrico brasileiro”, afirmou.
As falas do ministro indicam que o governo não pretende baixar a fervura sobre a Eletrobras. A participação do governo na empresa é de cerca de 40%, mas a administração petista afirma que não tem voz na companhia, nem membros indicados ao conselho. A Advocacia-Geral da União recorreu ao STF questionando o direito do governo como acionista, baseando-se na participação estatal no capital da empresa vis a vis a de sócios privados.
Troca na Eletrobras
Nesta terça-feira, 15, Silveira confidenciou aos jornalistas que soube da renúncia do então presidente Wilson Ferreira Jr. pela imprensa e também da posse do novo presidente, anunciado logo em seguida, o então conselheiro Ivan Monteiro.
Silveira criticou a escolha do novo presidente, sugerindo que este tema também será alvo de questionamentos do governo.
“Ter tido a notícia ontem pela imprensa de que o presidente Wilson tinha renunciado e que imediatamente… Me permita uma manifestação de indignação, às pressas, se escolhe um novo presidente executivo da empresa poucos minutos depois da renúncia. E o governo brasileiro vai tomar conhecimento através da imprensa? Na minha visão, qualquer um que se aprofundar nesse tema vai achar essa correlação inadequada”.
Um dos planos da direção privada da companhia já recebeu a negativa do ministro. Com a sobreoferta de energia no País, a empresa cogitava exportar energia elétrica gerada por hidrelétricas para países vizinhos como Uruguai e Argentina, que passam por uma seca.
“Mais fácil nascer galinha em dente, só vamos exportar energia de uma gota de água no Brasil quando estivermos vertendo água”, disse Silveira.
A geração hidrelétrica consome também água de reservatórios e Silveira é um político (era senador) eleito por Minas Gerais, onde os lagos de Furnas são considerados estratégicos para o turismo de muitas cidades. “Está completamente vedada vendermos energia elétrica hidráulica, a não ser que estejamos vertendo água”, disse.