RIO - O economista Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, disse nesta segunda-feira, 17, que as perspectivas americana e global ante o início do governo Donald Trump têm uma “cara bem ruim”.
Ele diz ver as medidas protecionistas de Trump com preocupação e que esse movimento não faz sentido em uma economia global já fragilizada e um mundo cheio de problemas geopolíticos.
“Antes mesmo de Trump, a gente já estava encarando o fim de um mundo benigno. Havia aquela ideia do fim da história, em que os países todos competiriam no mercado de forma democrática, isso acabou. Agora temos a volta do Estado com pretensões hegemônicas”, disse, colocando Trump como mais um elemento desse contexto.

“Existe uma nova guerra fria entre Estados Unidos e China, a situação do Oriente Médio, que sempre foi difícil, agora está ultracomplicada, tem a invasão da Ucrânia. Era um quadro já ruim. E, de repente, aparece o Trump, que é um gerador de muita incerteza e adotou uma estratégia de isolamento americano sob o pretexto de que isso vai atrair investimentos. Isso tudo está com uma cara bem ruim”, continuou.
Em outro momento da palestra, Armínio criticou o desmantelamento do Estado por Trump e disse que isso não pode ser um exemplo para o Brasil, onde devemos procurar aperfeiçoar o Estado “de tamanho médio” que temos.
Questionado por jornalistas sobre o cenário inflacionário e a desaceleração da economia, Arminio repetiu que o principal problema do País segue sendo fiscal e que, portanto, “não dá para fazer milagre”.
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“O BC está fazendo o que pode, mas há muito tempo eu acredito que ele precisa de ajuda. Para cumprir as metas, o BC trabalha com taxas de juros extremamente elevadas quando se olha para comparações internacionais. E uma razão importante é o descompasso com o lado fiscal”, disse.
Segundo Arminio é muito claro que o mix da política macroeconômica, com o fiscal de um lado e o monetário do outro, está errado.
“Mas a questão vai além disso, porque, se olharmos as taxas de juros de longuíssimo prazo, também estão muito elevadas. Então, não é uma questão só desse ciclo econômico. Vai além”, completou.