Armínio Fraga: Não me arrependo de ter votado em Lula, mas esperava mais


Em entrevista à jornalista Sonia Racy, ex-presidente do BC disse que o Brasil é um caso peculiar de país que não aprende nem com seus acertos

Por Marianna Gualter
Atualização:

O ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Armínio Fraga, afirmou há pouco, em entrevista à jornalista Sonia Racy, na live Cenários, no Estadão, que não se arrepende do voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, mas que tinha expectativas maiores.

“Estávamos indo para um caminho pior. O Brasil era um pária, acho que o risco de golpe foi real, felizmente não aconteceu. Ali eu não via futuro. Mas eu esperava mais”, disse Armínio. “O presidente, no campo fiscal, rapidamente adotou um discurso raivoso, como se fosse uma grande maldade, quando a gente sabe que em um mundo fiscal bagunçado quem se ‘ferra’ sempre são os pobres.”

Ao comentar sobre a preocupação de colegas com a evolução do cenário brasileiro, porém, Armínio ponderou que, embora o País não vá entrar em uma trajetória espetacular de crescimento, há certo pragmatismo. “O próprio Centrão - que é muito criticado e existem razões para críticas -, ele é muito pragmático também. Quando a coisa vai piorando, eles (dizem): ‘Opa, isso aqui não está bom’. Eles aprovaram várias reformas desde o Temer”, acrescentou. “Nosso desempenho infelizmente é modesto, mas (digo) vai trabalhar, não fica se preocupando muito com isso não.”

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Para o ex-presidente do BC, o caso brasileiro é peculiar, de uma economia que não aprende também com seus acertos. “O governo Lula 1 foi um tremendo acerto, mas ele próprio saiu um pouco dos trilhos pelos idos de 2006″, disse. “Houve uma mudança de rumo e a coisa começou a ir na direção errada. Quando o vento de fora virou, e virou mesmo - a Dilma (Roussef, ex-presidente), além de incompetente, foi azarada, é preciso reconhecer -, complicou totalmente e nós saímos dos trilhos.”

Falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão, diz Armínio Foto: Fábio Motta/Estadão

Armínio afirmou que ao longo da última campanha eleitoral o próprio presidente Lula disse para não haver preocupação com o fiscal, por causa dos superávits que havia registrado nos primeiros mandatos. O economista, porém, destacou que, após Lula assumir o cargo, o que está ocorrendo é um embargo dele e do PT ao controle do gasto. “Só estão trabalhando o lado da receita.”

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O ex-presidente do BC pontuou que as pressões são grandes sobre o Brasil, porque o País é carente e está crescendo pouco nos últimos 40 anos. Ele destacou que houve bons momentos com boas reformas, mas que “estamos deixando o tempo passar” e que as oportunidades “vão desaparecendo”.

Para Armínio, falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão. Questionado sobre o tamanho de Estado ideal, Arminio disse que a história mostra que países se desenvolveram seguindo caminhos diferentes: enquanto os Estados Unidos têm um Estado relativamente pequeno, a França e os países escandinavos têm um Estado muito grande.

“Acho que o Brasil tende a ter um caminho um pouco mais europeu. Para um país de renda média, nosso Estado é relativamente grande. Um país desigual como o nosso, faltam oportunidades para as pessoas, e oportunidade requer educação básica de qualidade, saúde pública, infraestrutura de transportes e segurança”, disse. “Não vejo o Brasil em um caminho de um Estado nem mínimo e nem sequer médio. Vamos ficar por aí mesmo, é só uma questão de prioridades.”

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O economista salientou que nos últimos 30 anos o gasto do Estado brasileiro cresceu de 25% para 33% do Produto Interno Bruto (PIB). O investimento público, porém, caiu de cerca de 5% para 1% do PIB no período, ponderou. “Quase 80% do gasto vai para a Previdência e a folha de pagamento do setor público, está aí a fonte de dinheiro. Não é para acontecer da noite para o dia, mas não há saída se não for abordado”, afirmou. “E para onde iria o dinheiro? Para esses itens que acabamos de listar. Esse é o grande movimento.”

Mudança no Banco Central

O economista disse também na entrevista que não está tranquilo com o processo de troca de presidência do BC. Ele salientou que a autarquia tem sido atacada inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o BC está precisando de ajuda do lado das contas públicas. “Durante esse período todo, o juro no Brasil tem sido alto, mas a inflação não ficou abaixo da meta. O BC está claramente precisando de ajuda, não foi um ato de sadismo”, disse. “O BC precisa de uma ajuda fiscal para a coisa se equilibrar a um custo menor.”

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Arminio frisou que a mudança no comando da autarquia será um momento importante e que uma atitude aventureira na escolha do novo presidente estaria fadada ao fracasso. Roberto Campos Neto deixa a Presidência do BC no fim do ano. “Se o BC entrar frouxo e a inflação subir, o custo político do governo será absolutamente destrutivo. E depois tem o próprio mercado. No Brasil, o mercado é completo, pujante, grande. Se o Banco Central inventar, o próprio mercado vai dar sinais fortes.”

Questionado sobre uma eventual continuidade de Campos Neto, o economista afirmou que não vê como provável esse cenário. “Ou porque ele não vai querer, deve estar cansado, ou porque o PT vai querer um nome seu - tem sido essa a atitude, colocar gente da casa.”

Nesse sentido, Arminio disse que vê muito ruído vindo de dentro do PT. “O que estão fazendo com a Vale, que é uma empresa privada, e com a Petrobras. Os sinais não são bons.”

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Sobre a tentativa de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência ou no conselho de administração da Vale, classificou a situação como um absurdo. “O Mantega não é um executivo, não tem experiência e não dá para dizer também que foi um grande ministro. Não tem razão para querer ter o capricho de colocar o Mantega lá.”

O economista ponderou que a avaliação sobre o ex-ministro não é pessoal. “Qualquer um que ele (Lula) quisesse enfiar goela abaixo do conselho da empresa já seria um absurdo, mesmo se fosse um candidato mais adequado.”

O ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Armínio Fraga, afirmou há pouco, em entrevista à jornalista Sonia Racy, na live Cenários, no Estadão, que não se arrepende do voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, mas que tinha expectativas maiores.

“Estávamos indo para um caminho pior. O Brasil era um pária, acho que o risco de golpe foi real, felizmente não aconteceu. Ali eu não via futuro. Mas eu esperava mais”, disse Armínio. “O presidente, no campo fiscal, rapidamente adotou um discurso raivoso, como se fosse uma grande maldade, quando a gente sabe que em um mundo fiscal bagunçado quem se ‘ferra’ sempre são os pobres.”

Ao comentar sobre a preocupação de colegas com a evolução do cenário brasileiro, porém, Armínio ponderou que, embora o País não vá entrar em uma trajetória espetacular de crescimento, há certo pragmatismo. “O próprio Centrão - que é muito criticado e existem razões para críticas -, ele é muito pragmático também. Quando a coisa vai piorando, eles (dizem): ‘Opa, isso aqui não está bom’. Eles aprovaram várias reformas desde o Temer”, acrescentou. “Nosso desempenho infelizmente é modesto, mas (digo) vai trabalhar, não fica se preocupando muito com isso não.”

Para o ex-presidente do BC, o caso brasileiro é peculiar, de uma economia que não aprende também com seus acertos. “O governo Lula 1 foi um tremendo acerto, mas ele próprio saiu um pouco dos trilhos pelos idos de 2006″, disse. “Houve uma mudança de rumo e a coisa começou a ir na direção errada. Quando o vento de fora virou, e virou mesmo - a Dilma (Roussef, ex-presidente), além de incompetente, foi azarada, é preciso reconhecer -, complicou totalmente e nós saímos dos trilhos.”

Falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão, diz Armínio Foto: Fábio Motta/Estadão

Armínio afirmou que ao longo da última campanha eleitoral o próprio presidente Lula disse para não haver preocupação com o fiscal, por causa dos superávits que havia registrado nos primeiros mandatos. O economista, porém, destacou que, após Lula assumir o cargo, o que está ocorrendo é um embargo dele e do PT ao controle do gasto. “Só estão trabalhando o lado da receita.”

O ex-presidente do BC pontuou que as pressões são grandes sobre o Brasil, porque o País é carente e está crescendo pouco nos últimos 40 anos. Ele destacou que houve bons momentos com boas reformas, mas que “estamos deixando o tempo passar” e que as oportunidades “vão desaparecendo”.

Para Armínio, falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão. Questionado sobre o tamanho de Estado ideal, Arminio disse que a história mostra que países se desenvolveram seguindo caminhos diferentes: enquanto os Estados Unidos têm um Estado relativamente pequeno, a França e os países escandinavos têm um Estado muito grande.

“Acho que o Brasil tende a ter um caminho um pouco mais europeu. Para um país de renda média, nosso Estado é relativamente grande. Um país desigual como o nosso, faltam oportunidades para as pessoas, e oportunidade requer educação básica de qualidade, saúde pública, infraestrutura de transportes e segurança”, disse. “Não vejo o Brasil em um caminho de um Estado nem mínimo e nem sequer médio. Vamos ficar por aí mesmo, é só uma questão de prioridades.”

O economista salientou que nos últimos 30 anos o gasto do Estado brasileiro cresceu de 25% para 33% do Produto Interno Bruto (PIB). O investimento público, porém, caiu de cerca de 5% para 1% do PIB no período, ponderou. “Quase 80% do gasto vai para a Previdência e a folha de pagamento do setor público, está aí a fonte de dinheiro. Não é para acontecer da noite para o dia, mas não há saída se não for abordado”, afirmou. “E para onde iria o dinheiro? Para esses itens que acabamos de listar. Esse é o grande movimento.”

Mudança no Banco Central

O economista disse também na entrevista que não está tranquilo com o processo de troca de presidência do BC. Ele salientou que a autarquia tem sido atacada inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o BC está precisando de ajuda do lado das contas públicas. “Durante esse período todo, o juro no Brasil tem sido alto, mas a inflação não ficou abaixo da meta. O BC está claramente precisando de ajuda, não foi um ato de sadismo”, disse. “O BC precisa de uma ajuda fiscal para a coisa se equilibrar a um custo menor.”

Arminio frisou que a mudança no comando da autarquia será um momento importante e que uma atitude aventureira na escolha do novo presidente estaria fadada ao fracasso. Roberto Campos Neto deixa a Presidência do BC no fim do ano. “Se o BC entrar frouxo e a inflação subir, o custo político do governo será absolutamente destrutivo. E depois tem o próprio mercado. No Brasil, o mercado é completo, pujante, grande. Se o Banco Central inventar, o próprio mercado vai dar sinais fortes.”

Questionado sobre uma eventual continuidade de Campos Neto, o economista afirmou que não vê como provável esse cenário. “Ou porque ele não vai querer, deve estar cansado, ou porque o PT vai querer um nome seu - tem sido essa a atitude, colocar gente da casa.”

Nesse sentido, Arminio disse que vê muito ruído vindo de dentro do PT. “O que estão fazendo com a Vale, que é uma empresa privada, e com a Petrobras. Os sinais não são bons.”

Sobre a tentativa de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência ou no conselho de administração da Vale, classificou a situação como um absurdo. “O Mantega não é um executivo, não tem experiência e não dá para dizer também que foi um grande ministro. Não tem razão para querer ter o capricho de colocar o Mantega lá.”

O economista ponderou que a avaliação sobre o ex-ministro não é pessoal. “Qualquer um que ele (Lula) quisesse enfiar goela abaixo do conselho da empresa já seria um absurdo, mesmo se fosse um candidato mais adequado.”

O ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Armínio Fraga, afirmou há pouco, em entrevista à jornalista Sonia Racy, na live Cenários, no Estadão, que não se arrepende do voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, mas que tinha expectativas maiores.

“Estávamos indo para um caminho pior. O Brasil era um pária, acho que o risco de golpe foi real, felizmente não aconteceu. Ali eu não via futuro. Mas eu esperava mais”, disse Armínio. “O presidente, no campo fiscal, rapidamente adotou um discurso raivoso, como se fosse uma grande maldade, quando a gente sabe que em um mundo fiscal bagunçado quem se ‘ferra’ sempre são os pobres.”

Ao comentar sobre a preocupação de colegas com a evolução do cenário brasileiro, porém, Armínio ponderou que, embora o País não vá entrar em uma trajetória espetacular de crescimento, há certo pragmatismo. “O próprio Centrão - que é muito criticado e existem razões para críticas -, ele é muito pragmático também. Quando a coisa vai piorando, eles (dizem): ‘Opa, isso aqui não está bom’. Eles aprovaram várias reformas desde o Temer”, acrescentou. “Nosso desempenho infelizmente é modesto, mas (digo) vai trabalhar, não fica se preocupando muito com isso não.”

Para o ex-presidente do BC, o caso brasileiro é peculiar, de uma economia que não aprende também com seus acertos. “O governo Lula 1 foi um tremendo acerto, mas ele próprio saiu um pouco dos trilhos pelos idos de 2006″, disse. “Houve uma mudança de rumo e a coisa começou a ir na direção errada. Quando o vento de fora virou, e virou mesmo - a Dilma (Roussef, ex-presidente), além de incompetente, foi azarada, é preciso reconhecer -, complicou totalmente e nós saímos dos trilhos.”

Falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão, diz Armínio Foto: Fábio Motta/Estadão

Armínio afirmou que ao longo da última campanha eleitoral o próprio presidente Lula disse para não haver preocupação com o fiscal, por causa dos superávits que havia registrado nos primeiros mandatos. O economista, porém, destacou que, após Lula assumir o cargo, o que está ocorrendo é um embargo dele e do PT ao controle do gasto. “Só estão trabalhando o lado da receita.”

O ex-presidente do BC pontuou que as pressões são grandes sobre o Brasil, porque o País é carente e está crescendo pouco nos últimos 40 anos. Ele destacou que houve bons momentos com boas reformas, mas que “estamos deixando o tempo passar” e que as oportunidades “vão desaparecendo”.

Para Armínio, falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão. Questionado sobre o tamanho de Estado ideal, Arminio disse que a história mostra que países se desenvolveram seguindo caminhos diferentes: enquanto os Estados Unidos têm um Estado relativamente pequeno, a França e os países escandinavos têm um Estado muito grande.

“Acho que o Brasil tende a ter um caminho um pouco mais europeu. Para um país de renda média, nosso Estado é relativamente grande. Um país desigual como o nosso, faltam oportunidades para as pessoas, e oportunidade requer educação básica de qualidade, saúde pública, infraestrutura de transportes e segurança”, disse. “Não vejo o Brasil em um caminho de um Estado nem mínimo e nem sequer médio. Vamos ficar por aí mesmo, é só uma questão de prioridades.”

O economista salientou que nos últimos 30 anos o gasto do Estado brasileiro cresceu de 25% para 33% do Produto Interno Bruto (PIB). O investimento público, porém, caiu de cerca de 5% para 1% do PIB no período, ponderou. “Quase 80% do gasto vai para a Previdência e a folha de pagamento do setor público, está aí a fonte de dinheiro. Não é para acontecer da noite para o dia, mas não há saída se não for abordado”, afirmou. “E para onde iria o dinheiro? Para esses itens que acabamos de listar. Esse é o grande movimento.”

Mudança no Banco Central

O economista disse também na entrevista que não está tranquilo com o processo de troca de presidência do BC. Ele salientou que a autarquia tem sido atacada inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o BC está precisando de ajuda do lado das contas públicas. “Durante esse período todo, o juro no Brasil tem sido alto, mas a inflação não ficou abaixo da meta. O BC está claramente precisando de ajuda, não foi um ato de sadismo”, disse. “O BC precisa de uma ajuda fiscal para a coisa se equilibrar a um custo menor.”

Arminio frisou que a mudança no comando da autarquia será um momento importante e que uma atitude aventureira na escolha do novo presidente estaria fadada ao fracasso. Roberto Campos Neto deixa a Presidência do BC no fim do ano. “Se o BC entrar frouxo e a inflação subir, o custo político do governo será absolutamente destrutivo. E depois tem o próprio mercado. No Brasil, o mercado é completo, pujante, grande. Se o Banco Central inventar, o próprio mercado vai dar sinais fortes.”

Questionado sobre uma eventual continuidade de Campos Neto, o economista afirmou que não vê como provável esse cenário. “Ou porque ele não vai querer, deve estar cansado, ou porque o PT vai querer um nome seu - tem sido essa a atitude, colocar gente da casa.”

Nesse sentido, Arminio disse que vê muito ruído vindo de dentro do PT. “O que estão fazendo com a Vale, que é uma empresa privada, e com a Petrobras. Os sinais não são bons.”

Sobre a tentativa de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência ou no conselho de administração da Vale, classificou a situação como um absurdo. “O Mantega não é um executivo, não tem experiência e não dá para dizer também que foi um grande ministro. Não tem razão para querer ter o capricho de colocar o Mantega lá.”

O economista ponderou que a avaliação sobre o ex-ministro não é pessoal. “Qualquer um que ele (Lula) quisesse enfiar goela abaixo do conselho da empresa já seria um absurdo, mesmo se fosse um candidato mais adequado.”

O ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Armínio Fraga, afirmou há pouco, em entrevista à jornalista Sonia Racy, na live Cenários, no Estadão, que não se arrepende do voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, mas que tinha expectativas maiores.

“Estávamos indo para um caminho pior. O Brasil era um pária, acho que o risco de golpe foi real, felizmente não aconteceu. Ali eu não via futuro. Mas eu esperava mais”, disse Armínio. “O presidente, no campo fiscal, rapidamente adotou um discurso raivoso, como se fosse uma grande maldade, quando a gente sabe que em um mundo fiscal bagunçado quem se ‘ferra’ sempre são os pobres.”

Ao comentar sobre a preocupação de colegas com a evolução do cenário brasileiro, porém, Armínio ponderou que, embora o País não vá entrar em uma trajetória espetacular de crescimento, há certo pragmatismo. “O próprio Centrão - que é muito criticado e existem razões para críticas -, ele é muito pragmático também. Quando a coisa vai piorando, eles (dizem): ‘Opa, isso aqui não está bom’. Eles aprovaram várias reformas desde o Temer”, acrescentou. “Nosso desempenho infelizmente é modesto, mas (digo) vai trabalhar, não fica se preocupando muito com isso não.”

Para o ex-presidente do BC, o caso brasileiro é peculiar, de uma economia que não aprende também com seus acertos. “O governo Lula 1 foi um tremendo acerto, mas ele próprio saiu um pouco dos trilhos pelos idos de 2006″, disse. “Houve uma mudança de rumo e a coisa começou a ir na direção errada. Quando o vento de fora virou, e virou mesmo - a Dilma (Roussef, ex-presidente), além de incompetente, foi azarada, é preciso reconhecer -, complicou totalmente e nós saímos dos trilhos.”

Falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão, diz Armínio Foto: Fábio Motta/Estadão

Armínio afirmou que ao longo da última campanha eleitoral o próprio presidente Lula disse para não haver preocupação com o fiscal, por causa dos superávits que havia registrado nos primeiros mandatos. O economista, porém, destacou que, após Lula assumir o cargo, o que está ocorrendo é um embargo dele e do PT ao controle do gasto. “Só estão trabalhando o lado da receita.”

O ex-presidente do BC pontuou que as pressões são grandes sobre o Brasil, porque o País é carente e está crescendo pouco nos últimos 40 anos. Ele destacou que houve bons momentos com boas reformas, mas que “estamos deixando o tempo passar” e que as oportunidades “vão desaparecendo”.

Para Armínio, falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão. Questionado sobre o tamanho de Estado ideal, Arminio disse que a história mostra que países se desenvolveram seguindo caminhos diferentes: enquanto os Estados Unidos têm um Estado relativamente pequeno, a França e os países escandinavos têm um Estado muito grande.

“Acho que o Brasil tende a ter um caminho um pouco mais europeu. Para um país de renda média, nosso Estado é relativamente grande. Um país desigual como o nosso, faltam oportunidades para as pessoas, e oportunidade requer educação básica de qualidade, saúde pública, infraestrutura de transportes e segurança”, disse. “Não vejo o Brasil em um caminho de um Estado nem mínimo e nem sequer médio. Vamos ficar por aí mesmo, é só uma questão de prioridades.”

O economista salientou que nos últimos 30 anos o gasto do Estado brasileiro cresceu de 25% para 33% do Produto Interno Bruto (PIB). O investimento público, porém, caiu de cerca de 5% para 1% do PIB no período, ponderou. “Quase 80% do gasto vai para a Previdência e a folha de pagamento do setor público, está aí a fonte de dinheiro. Não é para acontecer da noite para o dia, mas não há saída se não for abordado”, afirmou. “E para onde iria o dinheiro? Para esses itens que acabamos de listar. Esse é o grande movimento.”

Mudança no Banco Central

O economista disse também na entrevista que não está tranquilo com o processo de troca de presidência do BC. Ele salientou que a autarquia tem sido atacada inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o BC está precisando de ajuda do lado das contas públicas. “Durante esse período todo, o juro no Brasil tem sido alto, mas a inflação não ficou abaixo da meta. O BC está claramente precisando de ajuda, não foi um ato de sadismo”, disse. “O BC precisa de uma ajuda fiscal para a coisa se equilibrar a um custo menor.”

Arminio frisou que a mudança no comando da autarquia será um momento importante e que uma atitude aventureira na escolha do novo presidente estaria fadada ao fracasso. Roberto Campos Neto deixa a Presidência do BC no fim do ano. “Se o BC entrar frouxo e a inflação subir, o custo político do governo será absolutamente destrutivo. E depois tem o próprio mercado. No Brasil, o mercado é completo, pujante, grande. Se o Banco Central inventar, o próprio mercado vai dar sinais fortes.”

Questionado sobre uma eventual continuidade de Campos Neto, o economista afirmou que não vê como provável esse cenário. “Ou porque ele não vai querer, deve estar cansado, ou porque o PT vai querer um nome seu - tem sido essa a atitude, colocar gente da casa.”

Nesse sentido, Arminio disse que vê muito ruído vindo de dentro do PT. “O que estão fazendo com a Vale, que é uma empresa privada, e com a Petrobras. Os sinais não são bons.”

Sobre a tentativa de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência ou no conselho de administração da Vale, classificou a situação como um absurdo. “O Mantega não é um executivo, não tem experiência e não dá para dizer também que foi um grande ministro. Não tem razão para querer ter o capricho de colocar o Mantega lá.”

O economista ponderou que a avaliação sobre o ex-ministro não é pessoal. “Qualquer um que ele (Lula) quisesse enfiar goela abaixo do conselho da empresa já seria um absurdo, mesmo se fosse um candidato mais adequado.”

O ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Armínio Fraga, afirmou há pouco, em entrevista à jornalista Sonia Racy, na live Cenários, no Estadão, que não se arrepende do voto no presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última eleição, mas que tinha expectativas maiores.

“Estávamos indo para um caminho pior. O Brasil era um pária, acho que o risco de golpe foi real, felizmente não aconteceu. Ali eu não via futuro. Mas eu esperava mais”, disse Armínio. “O presidente, no campo fiscal, rapidamente adotou um discurso raivoso, como se fosse uma grande maldade, quando a gente sabe que em um mundo fiscal bagunçado quem se ‘ferra’ sempre são os pobres.”

Ao comentar sobre a preocupação de colegas com a evolução do cenário brasileiro, porém, Armínio ponderou que, embora o País não vá entrar em uma trajetória espetacular de crescimento, há certo pragmatismo. “O próprio Centrão - que é muito criticado e existem razões para críticas -, ele é muito pragmático também. Quando a coisa vai piorando, eles (dizem): ‘Opa, isso aqui não está bom’. Eles aprovaram várias reformas desde o Temer”, acrescentou. “Nosso desempenho infelizmente é modesto, mas (digo) vai trabalhar, não fica se preocupando muito com isso não.”

Para o ex-presidente do BC, o caso brasileiro é peculiar, de uma economia que não aprende também com seus acertos. “O governo Lula 1 foi um tremendo acerto, mas ele próprio saiu um pouco dos trilhos pelos idos de 2006″, disse. “Houve uma mudança de rumo e a coisa começou a ir na direção errada. Quando o vento de fora virou, e virou mesmo - a Dilma (Roussef, ex-presidente), além de incompetente, foi azarada, é preciso reconhecer -, complicou totalmente e nós saímos dos trilhos.”

Falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão, diz Armínio Foto: Fábio Motta/Estadão

Armínio afirmou que ao longo da última campanha eleitoral o próprio presidente Lula disse para não haver preocupação com o fiscal, por causa dos superávits que havia registrado nos primeiros mandatos. O economista, porém, destacou que, após Lula assumir o cargo, o que está ocorrendo é um embargo dele e do PT ao controle do gasto. “Só estão trabalhando o lado da receita.”

O ex-presidente do BC pontuou que as pressões são grandes sobre o Brasil, porque o País é carente e está crescendo pouco nos últimos 40 anos. Ele destacou que houve bons momentos com boas reformas, mas que “estamos deixando o tempo passar” e que as oportunidades “vão desaparecendo”.

Para Armínio, falta ao Estado brasileiro uma combinação de prioridades e um pouco mais de eficiência do lado da gestão. Questionado sobre o tamanho de Estado ideal, Arminio disse que a história mostra que países se desenvolveram seguindo caminhos diferentes: enquanto os Estados Unidos têm um Estado relativamente pequeno, a França e os países escandinavos têm um Estado muito grande.

“Acho que o Brasil tende a ter um caminho um pouco mais europeu. Para um país de renda média, nosso Estado é relativamente grande. Um país desigual como o nosso, faltam oportunidades para as pessoas, e oportunidade requer educação básica de qualidade, saúde pública, infraestrutura de transportes e segurança”, disse. “Não vejo o Brasil em um caminho de um Estado nem mínimo e nem sequer médio. Vamos ficar por aí mesmo, é só uma questão de prioridades.”

O economista salientou que nos últimos 30 anos o gasto do Estado brasileiro cresceu de 25% para 33% do Produto Interno Bruto (PIB). O investimento público, porém, caiu de cerca de 5% para 1% do PIB no período, ponderou. “Quase 80% do gasto vai para a Previdência e a folha de pagamento do setor público, está aí a fonte de dinheiro. Não é para acontecer da noite para o dia, mas não há saída se não for abordado”, afirmou. “E para onde iria o dinheiro? Para esses itens que acabamos de listar. Esse é o grande movimento.”

Mudança no Banco Central

O economista disse também na entrevista que não está tranquilo com o processo de troca de presidência do BC. Ele salientou que a autarquia tem sido atacada inclusive pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que o BC está precisando de ajuda do lado das contas públicas. “Durante esse período todo, o juro no Brasil tem sido alto, mas a inflação não ficou abaixo da meta. O BC está claramente precisando de ajuda, não foi um ato de sadismo”, disse. “O BC precisa de uma ajuda fiscal para a coisa se equilibrar a um custo menor.”

Arminio frisou que a mudança no comando da autarquia será um momento importante e que uma atitude aventureira na escolha do novo presidente estaria fadada ao fracasso. Roberto Campos Neto deixa a Presidência do BC no fim do ano. “Se o BC entrar frouxo e a inflação subir, o custo político do governo será absolutamente destrutivo. E depois tem o próprio mercado. No Brasil, o mercado é completo, pujante, grande. Se o Banco Central inventar, o próprio mercado vai dar sinais fortes.”

Questionado sobre uma eventual continuidade de Campos Neto, o economista afirmou que não vê como provável esse cenário. “Ou porque ele não vai querer, deve estar cansado, ou porque o PT vai querer um nome seu - tem sido essa a atitude, colocar gente da casa.”

Nesse sentido, Arminio disse que vê muito ruído vindo de dentro do PT. “O que estão fazendo com a Vale, que é uma empresa privada, e com a Petrobras. Os sinais não são bons.”

Sobre a tentativa de colocar o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega na presidência ou no conselho de administração da Vale, classificou a situação como um absurdo. “O Mantega não é um executivo, não tem experiência e não dá para dizer também que foi um grande ministro. Não tem razão para querer ter o capricho de colocar o Mantega lá.”

O economista ponderou que a avaliação sobre o ex-ministro não é pessoal. “Qualquer um que ele (Lula) quisesse enfiar goela abaixo do conselho da empresa já seria um absurdo, mesmo se fosse um candidato mais adequado.”

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