O próspero mercado de créditos de carbono vai se deparar, a curto prazo, ante um impasse histórico. Em breve, enfrentaremos o desafio de superar o gargalo da certificação – é a etapa inicial para transformar o ativo natural em financeiro e, assim, ser valorado e negociado. Tal obstáculo surgirá porque é cada vez maior a demanda mundial, com consideráveis taxas anuais de crescimento.
Há ainda outros dois fatores. Um deles é o processo de certificação, relativamente lento, quase artesanal. Sabemos que é exigida acuracidade técnica e científica, com metodologias criteriosas e auditorias presenciais. Mas a ida de profissionais a campo para certificar que determinada área possui bioma capaz de gerar uma quantidade de créditos de carbono demanda longos prazos.
É preciso superar esse desafio e ganhar em rapidez, sem abrir mão das rigorosas metodologias. Não à toa, discute-se a necessidade de utilizar modernas tecnologias para mapear o solo e identificar o tipo de bioma. O objetivo é conseguir medições mais ágeis, sem comprometer a segurança e a integridade dos créditos de carbono, evitando a atual polêmica envolvendo uma grande certificadora e veículos de comunicação europeus sobre métodos científicos.
Outro fator é o número de certificadoras em operação. Hoje, apenas quatro dominam o mercado e a maior delas detém 62% das certificações, gerando “fila de espera” para que os créditos de carbono sejam certificados e, em seguida, transacionados. Cabe abrir discussão para a entrada de novos “players”.
A nacionalização das certificações já começa a ser debatida. Possuímos o conhecimento dos biomas abaixo da linha do Equador e podemos desenvolver metodologias próprias. Até mesmo uma grande instituição financeira do Brasil se prepara para atuar nesse processo de legitimação e validação.
Desenvolver uma certificação nacional pode ser decisivo para a consolidação do mercado interno. Temos as tecnologias de mensuração e, se necessárias, podemos aperfeiçoar outras. Possuir autoridade local para medição, verificação e validação será iniciativa bem-vinda e garantirá agilidade nas futuras negociações.
Precisamos de metodologias bem definidas. E que sejam respaldadas cientificamente para o correto monitoramento e auditáveis por especialistas de notória e reconhecida reputação. Para tanto, será necessário engajar as esferas governamental, acadêmica e empresarial. Ou seja, estamos diante de um grande desafio para garantir a integridade, lisura e agilidade na certificação dos ativos ambientais./Nelson Rocha é secretário de Estado de Planejamento e Gestão do Rio de Janeiro e coordenador do projeto Economia Verde – Nova Fronteira