Neoindustrialização: uma análise da proposta Lula/Alckmin


Plano para a indústria é positivo, mas não toca em pontos importantes como produtividade, pesquisa e desenvolvimento, qualificação de mão de obra, digitalização e descarbonização

Por Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski *

No Dia da Indústria, 25 de maio, o presidente e o vice-presidente da República publicaram neste jornal um artigo conjunto sob o título Neoindustrializacão para o Brasil que queremos. É de fato alvissareiro vermos os principais mandatários do País se dedicarem a escrever sobre a indústria e sobre os seus planos para ela; indica relevância e prioridade, ambos requisitos em falta para a combalida indústria brasileira.

Há ótimas ideias no artigo e o entendimento implícito que, para distribuir riqueza, é preciso em primeiro lugar criá-la, e a atividade industrial é uma ótima forma de fazê-lo. É a indústria que tem o maior efeito multiplicador entre todos os setores da economia. É também positivo ver que a mudança climática e a reforma tributária comparecem como condicionantes para o crescimento da atividade industrial.

Mas, há também omissões importantes. Não se vê, por exemplo, o uso da palavra produtividade, conceito central para que a indústria seja competitiva. Mal há menção a relevância da atividade de pesquisa e desenvolvimento e da qualificação de recursos humanos; há apenas uma tímida referência (correta) à educação básica.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin participam de evento em comemoração ao Dia da Indústria, na Fiesp, em São Paulo Foto: Nelson Almeida/AFP

Nada se vê sobre o ensino profissional e sobre a desestruturação da maior parte do ensino superior público no Brasil, fruto de décadas de subinvestimento. Não há referências à necessidade urgente da integração da indústria brasileira ao mundo, com a remoção paulatina de barreiras e entraves que dificultam a sua modernização e que poderá gerar uma nova corrente de exportações.

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O artigo passa ao largo da necessária digitalização da indústria brasileira e dos passos que terá que dar no sentido de sua descarbonização. Não se fala de um insumo essencial, a energia; temos a capacidade de transformar custo baixo em preço alto, como no gás natural (um monopólio) e na energia elétrica (em função de um enorme número de penduricalhos). Há ideias antigas, como um amor incontido pelo que se chamou no passado de terceiro mundo; os grandes mercados estão concentrados nos países centrais, aí já incluída a China.

Isto posto, há também um irrealismo em admitir que o governo brasileiro pode tudo: pode muito como demonstra o caminho acertado ora trilhado pelo BNDES, mas está longe de poder dispor do volume de recursos que os Estados Unidos e a Comunidade Europeia dedicam às suas políticas industriais. Falta também reforçar que políticas industriais modernas são horizontais ou organizadas por missões, traduzindo a visão de um novo modelo de desenvolvimento distante dos paradigmas do passado.

Em resumo, um bom começo, mas ainda um longo caminho a percorrer./Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski são empresários

No Dia da Indústria, 25 de maio, o presidente e o vice-presidente da República publicaram neste jornal um artigo conjunto sob o título Neoindustrializacão para o Brasil que queremos. É de fato alvissareiro vermos os principais mandatários do País se dedicarem a escrever sobre a indústria e sobre os seus planos para ela; indica relevância e prioridade, ambos requisitos em falta para a combalida indústria brasileira.

Há ótimas ideias no artigo e o entendimento implícito que, para distribuir riqueza, é preciso em primeiro lugar criá-la, e a atividade industrial é uma ótima forma de fazê-lo. É a indústria que tem o maior efeito multiplicador entre todos os setores da economia. É também positivo ver que a mudança climática e a reforma tributária comparecem como condicionantes para o crescimento da atividade industrial.

Mas, há também omissões importantes. Não se vê, por exemplo, o uso da palavra produtividade, conceito central para que a indústria seja competitiva. Mal há menção a relevância da atividade de pesquisa e desenvolvimento e da qualificação de recursos humanos; há apenas uma tímida referência (correta) à educação básica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin participam de evento em comemoração ao Dia da Indústria, na Fiesp, em São Paulo Foto: Nelson Almeida/AFP

Nada se vê sobre o ensino profissional e sobre a desestruturação da maior parte do ensino superior público no Brasil, fruto de décadas de subinvestimento. Não há referências à necessidade urgente da integração da indústria brasileira ao mundo, com a remoção paulatina de barreiras e entraves que dificultam a sua modernização e que poderá gerar uma nova corrente de exportações.

O artigo passa ao largo da necessária digitalização da indústria brasileira e dos passos que terá que dar no sentido de sua descarbonização. Não se fala de um insumo essencial, a energia; temos a capacidade de transformar custo baixo em preço alto, como no gás natural (um monopólio) e na energia elétrica (em função de um enorme número de penduricalhos). Há ideias antigas, como um amor incontido pelo que se chamou no passado de terceiro mundo; os grandes mercados estão concentrados nos países centrais, aí já incluída a China.

Isto posto, há também um irrealismo em admitir que o governo brasileiro pode tudo: pode muito como demonstra o caminho acertado ora trilhado pelo BNDES, mas está longe de poder dispor do volume de recursos que os Estados Unidos e a Comunidade Europeia dedicam às suas políticas industriais. Falta também reforçar que políticas industriais modernas são horizontais ou organizadas por missões, traduzindo a visão de um novo modelo de desenvolvimento distante dos paradigmas do passado.

Em resumo, um bom começo, mas ainda um longo caminho a percorrer./Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski são empresários

No Dia da Indústria, 25 de maio, o presidente e o vice-presidente da República publicaram neste jornal um artigo conjunto sob o título Neoindustrializacão para o Brasil que queremos. É de fato alvissareiro vermos os principais mandatários do País se dedicarem a escrever sobre a indústria e sobre os seus planos para ela; indica relevância e prioridade, ambos requisitos em falta para a combalida indústria brasileira.

Há ótimas ideias no artigo e o entendimento implícito que, para distribuir riqueza, é preciso em primeiro lugar criá-la, e a atividade industrial é uma ótima forma de fazê-lo. É a indústria que tem o maior efeito multiplicador entre todos os setores da economia. É também positivo ver que a mudança climática e a reforma tributária comparecem como condicionantes para o crescimento da atividade industrial.

Mas, há também omissões importantes. Não se vê, por exemplo, o uso da palavra produtividade, conceito central para que a indústria seja competitiva. Mal há menção a relevância da atividade de pesquisa e desenvolvimento e da qualificação de recursos humanos; há apenas uma tímida referência (correta) à educação básica.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin participam de evento em comemoração ao Dia da Indústria, na Fiesp, em São Paulo Foto: Nelson Almeida/AFP

Nada se vê sobre o ensino profissional e sobre a desestruturação da maior parte do ensino superior público no Brasil, fruto de décadas de subinvestimento. Não há referências à necessidade urgente da integração da indústria brasileira ao mundo, com a remoção paulatina de barreiras e entraves que dificultam a sua modernização e que poderá gerar uma nova corrente de exportações.

O artigo passa ao largo da necessária digitalização da indústria brasileira e dos passos que terá que dar no sentido de sua descarbonização. Não se fala de um insumo essencial, a energia; temos a capacidade de transformar custo baixo em preço alto, como no gás natural (um monopólio) e na energia elétrica (em função de um enorme número de penduricalhos). Há ideias antigas, como um amor incontido pelo que se chamou no passado de terceiro mundo; os grandes mercados estão concentrados nos países centrais, aí já incluída a China.

Isto posto, há também um irrealismo em admitir que o governo brasileiro pode tudo: pode muito como demonstra o caminho acertado ora trilhado pelo BNDES, mas está longe de poder dispor do volume de recursos que os Estados Unidos e a Comunidade Europeia dedicam às suas políticas industriais. Falta também reforçar que políticas industriais modernas são horizontais ou organizadas por missões, traduzindo a visão de um novo modelo de desenvolvimento distante dos paradigmas do passado.

Em resumo, um bom começo, mas ainda um longo caminho a percorrer./Horácio Lafer Piva, Pedro Passos e Pedro Wongtschowski são empresários

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