Aumento permanente de gastos e incerteza a partir de 2023 elevam expectativas de inflação, diz BC


Ata do Copom expressou preocupação com o futuro das contas públicas do Brasil e seu impacto inflacionário

Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA – Mesmo após as críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou, por meio da ata da reunião da semana passada, divulgada nesta terça, 27, a preocupação com o futuro das contas públicas do Brasil e seu impacto inflacionário. O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano na semana passada, decretando o fim de seu mais longo ciclo de alta de juros.

O colegiado destacou que o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do País e as expectativas de inflação. Isso porque tendem a pressionar a demanda agregada e a piorar as expectativas sobre a trajetória fiscal.

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Os dois candidatos mais bem posicionados na disputa pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), por exemplo, já prometeram manter o Auxílio Brasil em R$ 600 mensais, mas ainda não explicaram como financiar a medida, nem como vão lidar com o impacto da despesa no teto de gastos.

“O Comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação”, alertou.

Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano na semana passada  Foto: Dida Sampaio/Estadão
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Em um evento recente, Guedes disse que o “BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal”, quando o País caminhava para o superávit primário. “O BC estava preocupado com o fiscal e eu, com o juro negativo”, afirmou o ministro.

Serviços como fiel da balança

Em um documento extenso, o Banco Central procurou reforçar a postura de cautela com a sua estratégia para colocar a inflação “ao redor da meta”. Ao longo dos 24 parágrafos, o comitê mostra que ainda aposta na força do choque de juros de 11,75 pontos porcentuais e na desaceleração global para controlar os preços. Só que não economizou em ponderações.

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Em nenhum momento, o BC indicou algum horizonte para cortes da taxa Selic, mantida em 13,75% ao ano, mas deixou claro que o fiel da balança para determinar a efetividade da manutenção por período prolongado são os preços de serviços. A boa notícia é que, no IPCA-15, os serviços deram, finalmente, sinais concretos de desaceleração.

A primeira ponderação já vem na abertura dos argumentos sobre a primeira divergência na decisão do comitê em mais de seis anos. Os dois dissidentes, que votaram pela alta residual de 0,25 ponto porcentual, para 14,00%, pediram cautela adicional diante das incertezas sobre o hiato do mercado de trabalho, mas a maioria apostou nos efeitos acumulados da mais longo ciclo de aumento da Selic da história, com a maior alta em 23 anos.

O argumento dos dissidentes encontra razão ao observar o “exercício alternativo” realizado pelo Copom com o hiato do produto zerado. Nela, as projeções de inflação do BC ficam acima do cenário de referência. Para 2023, o colegiado passa a prever o terceiro estouro consecutivo da meta, com estimativa de 4,9%, contra 4,6% no cenário de referência. Para 2024, a previsão também aumenta, de 2,8% para 3,0%, em linha com o alvo central para esse horizonte.

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Outro ponto de atenção é que, diante da manutenção das desonerações sobre combustíveis que já foram inclusive orçadas na proposta orçamentária, o BC avisou que deve abandonar a projeção de 12 meses encerrados no 1º trimestre de 2024, já que os efeitos tributários não seriam mais um “ruído” na modelagem. O BC então poderia retomar a ênfase no ano fechado de 2023, distante da meta, mas o BC já considerou baixo efeito sobre a condução de política monetária.

Apesar da divergência, porém, todos reforçaram em uníssono que o colegiado perseverar até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas. No mercado, as projeções são de 5,0% para 2023 e 3,50% para 2024. Ainda repetiu que “não hesitará” em voltar a aumentar a Selic caso a desinflação não ocorra como o esperado.

Um primeiro sinal favorável, contudo, veio do IPCA-15 de setembro, divulgado hoje – o que converge com a expectativa do BC de que o impacto do ciclo “intenso e tempestivo” deve ficar mais claro no segundo semestre. Finalmente, os serviços mostraram um retrato um pouco melhor, com um alívio mais amplo em seus componentes, embora o nível permaneça alto. A desaceleração dos núcleos de inflação também foi mais generalizada.

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Na ata, o BC destacou que os itens do IPCA mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico – principalmente, serviços - ainda estavam acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta. E avaliou que a redução da inflação corrente pode ajudar o cenário para esses preços, mas o vigor da atividade pode atrapalhar.

“A contínua mensuração desses fatores é necessária para avaliar se a manutenção da taxa de juros por um período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, disse, dando a chave para guiar as apostas do mercado nos próximos passos de política monetária.

BRASÍLIA – Mesmo após as críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou, por meio da ata da reunião da semana passada, divulgada nesta terça, 27, a preocupação com o futuro das contas públicas do Brasil e seu impacto inflacionário. O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano na semana passada, decretando o fim de seu mais longo ciclo de alta de juros.

O colegiado destacou que o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do País e as expectativas de inflação. Isso porque tendem a pressionar a demanda agregada e a piorar as expectativas sobre a trajetória fiscal.

Os dois candidatos mais bem posicionados na disputa pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), por exemplo, já prometeram manter o Auxílio Brasil em R$ 600 mensais, mas ainda não explicaram como financiar a medida, nem como vão lidar com o impacto da despesa no teto de gastos.

“O Comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação”, alertou.

Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano na semana passada  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em um evento recente, Guedes disse que o “BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal”, quando o País caminhava para o superávit primário. “O BC estava preocupado com o fiscal e eu, com o juro negativo”, afirmou o ministro.

Serviços como fiel da balança

Em um documento extenso, o Banco Central procurou reforçar a postura de cautela com a sua estratégia para colocar a inflação “ao redor da meta”. Ao longo dos 24 parágrafos, o comitê mostra que ainda aposta na força do choque de juros de 11,75 pontos porcentuais e na desaceleração global para controlar os preços. Só que não economizou em ponderações.

Em nenhum momento, o BC indicou algum horizonte para cortes da taxa Selic, mantida em 13,75% ao ano, mas deixou claro que o fiel da balança para determinar a efetividade da manutenção por período prolongado são os preços de serviços. A boa notícia é que, no IPCA-15, os serviços deram, finalmente, sinais concretos de desaceleração.

A primeira ponderação já vem na abertura dos argumentos sobre a primeira divergência na decisão do comitê em mais de seis anos. Os dois dissidentes, que votaram pela alta residual de 0,25 ponto porcentual, para 14,00%, pediram cautela adicional diante das incertezas sobre o hiato do mercado de trabalho, mas a maioria apostou nos efeitos acumulados da mais longo ciclo de aumento da Selic da história, com a maior alta em 23 anos.

O argumento dos dissidentes encontra razão ao observar o “exercício alternativo” realizado pelo Copom com o hiato do produto zerado. Nela, as projeções de inflação do BC ficam acima do cenário de referência. Para 2023, o colegiado passa a prever o terceiro estouro consecutivo da meta, com estimativa de 4,9%, contra 4,6% no cenário de referência. Para 2024, a previsão também aumenta, de 2,8% para 3,0%, em linha com o alvo central para esse horizonte.

Outro ponto de atenção é que, diante da manutenção das desonerações sobre combustíveis que já foram inclusive orçadas na proposta orçamentária, o BC avisou que deve abandonar a projeção de 12 meses encerrados no 1º trimestre de 2024, já que os efeitos tributários não seriam mais um “ruído” na modelagem. O BC então poderia retomar a ênfase no ano fechado de 2023, distante da meta, mas o BC já considerou baixo efeito sobre a condução de política monetária.

Apesar da divergência, porém, todos reforçaram em uníssono que o colegiado perseverar até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas. No mercado, as projeções são de 5,0% para 2023 e 3,50% para 2024. Ainda repetiu que “não hesitará” em voltar a aumentar a Selic caso a desinflação não ocorra como o esperado.

Um primeiro sinal favorável, contudo, veio do IPCA-15 de setembro, divulgado hoje – o que converge com a expectativa do BC de que o impacto do ciclo “intenso e tempestivo” deve ficar mais claro no segundo semestre. Finalmente, os serviços mostraram um retrato um pouco melhor, com um alívio mais amplo em seus componentes, embora o nível permaneça alto. A desaceleração dos núcleos de inflação também foi mais generalizada.

Na ata, o BC destacou que os itens do IPCA mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico – principalmente, serviços - ainda estavam acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta. E avaliou que a redução da inflação corrente pode ajudar o cenário para esses preços, mas o vigor da atividade pode atrapalhar.

“A contínua mensuração desses fatores é necessária para avaliar se a manutenção da taxa de juros por um período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, disse, dando a chave para guiar as apostas do mercado nos próximos passos de política monetária.

BRASÍLIA – Mesmo após as críticas do ministro da Economia, Paulo Guedes, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou, por meio da ata da reunião da semana passada, divulgada nesta terça, 27, a preocupação com o futuro das contas públicas do Brasil e seu impacto inflacionário. O Copom manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano na semana passada, decretando o fim de seu mais longo ciclo de alta de juros.

O colegiado destacou que o aumento de gastos de forma permanente e a incerteza sobre sua trajetória a partir do próximo ano podem elevar os prêmios de risco do País e as expectativas de inflação. Isso porque tendem a pressionar a demanda agregada e a piorar as expectativas sobre a trajetória fiscal.

Os dois candidatos mais bem posicionados na disputa pelo Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT), por exemplo, já prometeram manter o Auxílio Brasil em R$ 600 mensais, mas ainda não explicaram como financiar a medida, nem como vão lidar com o impacto da despesa no teto de gastos.

“O Comitê reitera que há vários canais pelos quais a política fiscal pode afetar a inflação, incluindo seu efeito sobre a atividade, preços de ativos, grau de incerteza na economia e expectativas de inflação”, alertou.

Comitê de Política Monetária do Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano na semana passada  Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em um evento recente, Guedes disse que o “BC errou ao falar o tempo todo em risco fiscal”, quando o País caminhava para o superávit primário. “O BC estava preocupado com o fiscal e eu, com o juro negativo”, afirmou o ministro.

Serviços como fiel da balança

Em um documento extenso, o Banco Central procurou reforçar a postura de cautela com a sua estratégia para colocar a inflação “ao redor da meta”. Ao longo dos 24 parágrafos, o comitê mostra que ainda aposta na força do choque de juros de 11,75 pontos porcentuais e na desaceleração global para controlar os preços. Só que não economizou em ponderações.

Em nenhum momento, o BC indicou algum horizonte para cortes da taxa Selic, mantida em 13,75% ao ano, mas deixou claro que o fiel da balança para determinar a efetividade da manutenção por período prolongado são os preços de serviços. A boa notícia é que, no IPCA-15, os serviços deram, finalmente, sinais concretos de desaceleração.

A primeira ponderação já vem na abertura dos argumentos sobre a primeira divergência na decisão do comitê em mais de seis anos. Os dois dissidentes, que votaram pela alta residual de 0,25 ponto porcentual, para 14,00%, pediram cautela adicional diante das incertezas sobre o hiato do mercado de trabalho, mas a maioria apostou nos efeitos acumulados da mais longo ciclo de aumento da Selic da história, com a maior alta em 23 anos.

O argumento dos dissidentes encontra razão ao observar o “exercício alternativo” realizado pelo Copom com o hiato do produto zerado. Nela, as projeções de inflação do BC ficam acima do cenário de referência. Para 2023, o colegiado passa a prever o terceiro estouro consecutivo da meta, com estimativa de 4,9%, contra 4,6% no cenário de referência. Para 2024, a previsão também aumenta, de 2,8% para 3,0%, em linha com o alvo central para esse horizonte.

Outro ponto de atenção é que, diante da manutenção das desonerações sobre combustíveis que já foram inclusive orçadas na proposta orçamentária, o BC avisou que deve abandonar a projeção de 12 meses encerrados no 1º trimestre de 2024, já que os efeitos tributários não seriam mais um “ruído” na modelagem. O BC então poderia retomar a ênfase no ano fechado de 2023, distante da meta, mas o BC já considerou baixo efeito sobre a condução de política monetária.

Apesar da divergência, porém, todos reforçaram em uníssono que o colegiado perseverar até que se consolide o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas. No mercado, as projeções são de 5,0% para 2023 e 3,50% para 2024. Ainda repetiu que “não hesitará” em voltar a aumentar a Selic caso a desinflação não ocorra como o esperado.

Um primeiro sinal favorável, contudo, veio do IPCA-15 de setembro, divulgado hoje – o que converge com a expectativa do BC de que o impacto do ciclo “intenso e tempestivo” deve ficar mais claro no segundo semestre. Finalmente, os serviços mostraram um retrato um pouco melhor, com um alívio mais amplo em seus componentes, embora o nível permaneça alto. A desaceleração dos núcleos de inflação também foi mais generalizada.

Na ata, o BC destacou que os itens do IPCA mais sensíveis à política monetária e ao ciclo econômico – principalmente, serviços - ainda estavam acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta. E avaliou que a redução da inflação corrente pode ajudar o cenário para esses preços, mas o vigor da atividade pode atrapalhar.

“A contínua mensuração desses fatores é necessária para avaliar se a manutenção da taxa de juros por um período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, disse, dando a chave para guiar as apostas do mercado nos próximos passos de política monetária.

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