Análise|Ata do Copom desfaz receio de leniência com a inflação e abre debate sobre a comunicação do BC


Juros futuros e dólar caem após divulgação do documento mostrar que diretores indicados por Lula concordaram com a piora do quadro para inflação, o que exige política monetária mais contracionista

Por Alvaro Gribel
Atualização:

A Ata do Copom pôs fim ao mistério sobre o racha que aconteceu na última reunião do Banco Central, quando a Selic caiu de 10,75% para 10,5%. A divergência foi na “forma” e não no “conteúdo”. Os quatro diretores indicados por Lula e que votaram por um corte de 0,5 ponto entenderam que era preciso reforçar a comunicação institucional do Banco Central, em uma crítica velada à forma como o presidente Roberto Campos Neto alterou o forward guidance, ou indicação, da política monetária, durante evento para o mercado financeiro em Nova York.

Após a divulgação da Ata, os juros com vencimento em 2027, que já incorporam o cenário de uma diretoria formada por diretores indicados por Lula, em sua maioria, chegaram a cair 0,2 ponto percentual, para depois amenizar a queda para 0,06 ponto. O dólar, por volta das 11h30, recuava 0,25%, e o índice Ibovespa subia 0,43%.

A fala do ministro da Fazenda Fernando Haddad, na última semana, na porta do Ministério da Fazenda, já havia dado o tom de que a discordância entre os diretores era menor do que o mercado imaginava. Isso também ficou claro na entrevista exclusiva que ele concedeu ao Estadão/Broadcast.

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De resto, o texto da Ata é bastante duro, indicando convergência entre os nove membros de que o cenário ficou pior. Nos EUA, ninguém sabe quando os juros vão cair, e por aqui há desancoragem das expectativas de inflação e piora das metas fiscais. O parágrafo 22 da Ata é bastante claro de que a leitura é unânime sobre o quadro atual.

“O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”

Sede do Banco Central, em Brasília Foto: Wilton Junior/Estadão
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Como apontou o economista-chefe de um grande banco, os mais pessimistas do mercado financeiro não reclamaram da Ata, e isso já é um bom sinal, já que existe de fato uma má vontade de grande parte dos investidores com a política econômica do governo Lula. Como o presidente da República vem errando sistematicamente em seus comentários sobre a economia, reclamando do Banco Central e exaltando aumento de gastos, transfere-se para os seus indicados esse mesmo mau humor.

E há também, é claro, a memória ainda fresca do que foi a gestão de Alexandre Tombini no BC, sob Dilma Rousseff, que baixou os juros na marra e fez o País colher inflação mais alta logo mais à frente. Essa foi uma das causas da brutal recessão que o Brasil enfrentou a partir de 2015.

A grande pergunta que fica é se o ruído valeu a pena e se não houve perda de reputação para os quatro indicados por Lula. Aparentemente, não há critérios objetivos para essa desconfiança. E como o País está vivenciando pela primeira vez a independência formal do Banco Central, o processo é novo, e haverá turbulências.

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O debate sobre a forma de o BC se comunicar, contudo, é bastante válido. Se uma empresa de capital aberto precisa emitir um fato relevante para informar o mercado, buscando sempre a isonomia na informação, por que um Banco Central deve alterar a sua política monetária em uma declaração informal, durante evento promovido por investidores no exterior?

Há o argumento de que no mundo inteiro funciona assim. Mas não é ruim a visão dos diretores indicados por Lula de que é preciso fortalecer a comunicação institucional. Certamente, há formas mais organizadas de mudar o guidance, e isso pode dar mais segurança para a política de juros do País.

De resto, se a convergência vai continuar nas próximas reuniões, ninguém sabe, e as discordâncias de votos também fazem parte do processo. A independência do BC deu mais poder a cada diretor do Banco - que agora tem mandato e não pode ser retirado do cargo.

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A Ata conseguiu desfazer o mal-estar do comunicado da última reunião. O ritmo de cortes, daqui para frente, dependerá dos dados da inflação que serão divulgados no Brasil e nos EUA, e principalmente das projeções que serão coletadas pelo BC no Boletim Focus. A “ancoragem” das expectativas será determinante para se saber até onde cairá a taxa Selic.

A Ata do Copom pôs fim ao mistério sobre o racha que aconteceu na última reunião do Banco Central, quando a Selic caiu de 10,75% para 10,5%. A divergência foi na “forma” e não no “conteúdo”. Os quatro diretores indicados por Lula e que votaram por um corte de 0,5 ponto entenderam que era preciso reforçar a comunicação institucional do Banco Central, em uma crítica velada à forma como o presidente Roberto Campos Neto alterou o forward guidance, ou indicação, da política monetária, durante evento para o mercado financeiro em Nova York.

Após a divulgação da Ata, os juros com vencimento em 2027, que já incorporam o cenário de uma diretoria formada por diretores indicados por Lula, em sua maioria, chegaram a cair 0,2 ponto percentual, para depois amenizar a queda para 0,06 ponto. O dólar, por volta das 11h30, recuava 0,25%, e o índice Ibovespa subia 0,43%.

A fala do ministro da Fazenda Fernando Haddad, na última semana, na porta do Ministério da Fazenda, já havia dado o tom de que a discordância entre os diretores era menor do que o mercado imaginava. Isso também ficou claro na entrevista exclusiva que ele concedeu ao Estadão/Broadcast.

De resto, o texto da Ata é bastante duro, indicando convergência entre os nove membros de que o cenário ficou pior. Nos EUA, ninguém sabe quando os juros vão cair, e por aqui há desancoragem das expectativas de inflação e piora das metas fiscais. O parágrafo 22 da Ata é bastante claro de que a leitura é unânime sobre o quadro atual.

“O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”

Sede do Banco Central, em Brasília Foto: Wilton Junior/Estadão

Como apontou o economista-chefe de um grande banco, os mais pessimistas do mercado financeiro não reclamaram da Ata, e isso já é um bom sinal, já que existe de fato uma má vontade de grande parte dos investidores com a política econômica do governo Lula. Como o presidente da República vem errando sistematicamente em seus comentários sobre a economia, reclamando do Banco Central e exaltando aumento de gastos, transfere-se para os seus indicados esse mesmo mau humor.

E há também, é claro, a memória ainda fresca do que foi a gestão de Alexandre Tombini no BC, sob Dilma Rousseff, que baixou os juros na marra e fez o País colher inflação mais alta logo mais à frente. Essa foi uma das causas da brutal recessão que o Brasil enfrentou a partir de 2015.

A grande pergunta que fica é se o ruído valeu a pena e se não houve perda de reputação para os quatro indicados por Lula. Aparentemente, não há critérios objetivos para essa desconfiança. E como o País está vivenciando pela primeira vez a independência formal do Banco Central, o processo é novo, e haverá turbulências.

O debate sobre a forma de o BC se comunicar, contudo, é bastante válido. Se uma empresa de capital aberto precisa emitir um fato relevante para informar o mercado, buscando sempre a isonomia na informação, por que um Banco Central deve alterar a sua política monetária em uma declaração informal, durante evento promovido por investidores no exterior?

Há o argumento de que no mundo inteiro funciona assim. Mas não é ruim a visão dos diretores indicados por Lula de que é preciso fortalecer a comunicação institucional. Certamente, há formas mais organizadas de mudar o guidance, e isso pode dar mais segurança para a política de juros do País.

De resto, se a convergência vai continuar nas próximas reuniões, ninguém sabe, e as discordâncias de votos também fazem parte do processo. A independência do BC deu mais poder a cada diretor do Banco - que agora tem mandato e não pode ser retirado do cargo.

A Ata conseguiu desfazer o mal-estar do comunicado da última reunião. O ritmo de cortes, daqui para frente, dependerá dos dados da inflação que serão divulgados no Brasil e nos EUA, e principalmente das projeções que serão coletadas pelo BC no Boletim Focus. A “ancoragem” das expectativas será determinante para se saber até onde cairá a taxa Selic.

A Ata do Copom pôs fim ao mistério sobre o racha que aconteceu na última reunião do Banco Central, quando a Selic caiu de 10,75% para 10,5%. A divergência foi na “forma” e não no “conteúdo”. Os quatro diretores indicados por Lula e que votaram por um corte de 0,5 ponto entenderam que era preciso reforçar a comunicação institucional do Banco Central, em uma crítica velada à forma como o presidente Roberto Campos Neto alterou o forward guidance, ou indicação, da política monetária, durante evento para o mercado financeiro em Nova York.

Após a divulgação da Ata, os juros com vencimento em 2027, que já incorporam o cenário de uma diretoria formada por diretores indicados por Lula, em sua maioria, chegaram a cair 0,2 ponto percentual, para depois amenizar a queda para 0,06 ponto. O dólar, por volta das 11h30, recuava 0,25%, e o índice Ibovespa subia 0,43%.

A fala do ministro da Fazenda Fernando Haddad, na última semana, na porta do Ministério da Fazenda, já havia dado o tom de que a discordância entre os diretores era menor do que o mercado imaginava. Isso também ficou claro na entrevista exclusiva que ele concedeu ao Estadão/Broadcast.

De resto, o texto da Ata é bastante duro, indicando convergência entre os nove membros de que o cenário ficou pior. Nos EUA, ninguém sabe quando os juros vão cair, e por aqui há desancoragem das expectativas de inflação e piora das metas fiscais. O parágrafo 22 da Ata é bastante claro de que a leitura é unânime sobre o quadro atual.

“O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”

Sede do Banco Central, em Brasília Foto: Wilton Junior/Estadão

Como apontou o economista-chefe de um grande banco, os mais pessimistas do mercado financeiro não reclamaram da Ata, e isso já é um bom sinal, já que existe de fato uma má vontade de grande parte dos investidores com a política econômica do governo Lula. Como o presidente da República vem errando sistematicamente em seus comentários sobre a economia, reclamando do Banco Central e exaltando aumento de gastos, transfere-se para os seus indicados esse mesmo mau humor.

E há também, é claro, a memória ainda fresca do que foi a gestão de Alexandre Tombini no BC, sob Dilma Rousseff, que baixou os juros na marra e fez o País colher inflação mais alta logo mais à frente. Essa foi uma das causas da brutal recessão que o Brasil enfrentou a partir de 2015.

A grande pergunta que fica é se o ruído valeu a pena e se não houve perda de reputação para os quatro indicados por Lula. Aparentemente, não há critérios objetivos para essa desconfiança. E como o País está vivenciando pela primeira vez a independência formal do Banco Central, o processo é novo, e haverá turbulências.

O debate sobre a forma de o BC se comunicar, contudo, é bastante válido. Se uma empresa de capital aberto precisa emitir um fato relevante para informar o mercado, buscando sempre a isonomia na informação, por que um Banco Central deve alterar a sua política monetária em uma declaração informal, durante evento promovido por investidores no exterior?

Há o argumento de que no mundo inteiro funciona assim. Mas não é ruim a visão dos diretores indicados por Lula de que é preciso fortalecer a comunicação institucional. Certamente, há formas mais organizadas de mudar o guidance, e isso pode dar mais segurança para a política de juros do País.

De resto, se a convergência vai continuar nas próximas reuniões, ninguém sabe, e as discordâncias de votos também fazem parte do processo. A independência do BC deu mais poder a cada diretor do Banco - que agora tem mandato e não pode ser retirado do cargo.

A Ata conseguiu desfazer o mal-estar do comunicado da última reunião. O ritmo de cortes, daqui para frente, dependerá dos dados da inflação que serão divulgados no Brasil e nos EUA, e principalmente das projeções que serão coletadas pelo BC no Boletim Focus. A “ancoragem” das expectativas será determinante para se saber até onde cairá a taxa Selic.

A Ata do Copom pôs fim ao mistério sobre o racha que aconteceu na última reunião do Banco Central, quando a Selic caiu de 10,75% para 10,5%. A divergência foi na “forma” e não no “conteúdo”. Os quatro diretores indicados por Lula e que votaram por um corte de 0,5 ponto entenderam que era preciso reforçar a comunicação institucional do Banco Central, em uma crítica velada à forma como o presidente Roberto Campos Neto alterou o forward guidance, ou indicação, da política monetária, durante evento para o mercado financeiro em Nova York.

Após a divulgação da Ata, os juros com vencimento em 2027, que já incorporam o cenário de uma diretoria formada por diretores indicados por Lula, em sua maioria, chegaram a cair 0,2 ponto percentual, para depois amenizar a queda para 0,06 ponto. O dólar, por volta das 11h30, recuava 0,25%, e o índice Ibovespa subia 0,43%.

A fala do ministro da Fazenda Fernando Haddad, na última semana, na porta do Ministério da Fazenda, já havia dado o tom de que a discordância entre os diretores era menor do que o mercado imaginava. Isso também ficou claro na entrevista exclusiva que ele concedeu ao Estadão/Broadcast.

De resto, o texto da Ata é bastante duro, indicando convergência entre os nove membros de que o cenário ficou pior. Nos EUA, ninguém sabe quando os juros vão cair, e por aqui há desancoragem das expectativas de inflação e piora das metas fiscais. O parágrafo 22 da Ata é bastante claro de que a leitura é unânime sobre o quadro atual.

“O Comitê, unanimemente, avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê também reforça, com especial ênfase, que a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”

Sede do Banco Central, em Brasília Foto: Wilton Junior/Estadão

Como apontou o economista-chefe de um grande banco, os mais pessimistas do mercado financeiro não reclamaram da Ata, e isso já é um bom sinal, já que existe de fato uma má vontade de grande parte dos investidores com a política econômica do governo Lula. Como o presidente da República vem errando sistematicamente em seus comentários sobre a economia, reclamando do Banco Central e exaltando aumento de gastos, transfere-se para os seus indicados esse mesmo mau humor.

E há também, é claro, a memória ainda fresca do que foi a gestão de Alexandre Tombini no BC, sob Dilma Rousseff, que baixou os juros na marra e fez o País colher inflação mais alta logo mais à frente. Essa foi uma das causas da brutal recessão que o Brasil enfrentou a partir de 2015.

A grande pergunta que fica é se o ruído valeu a pena e se não houve perda de reputação para os quatro indicados por Lula. Aparentemente, não há critérios objetivos para essa desconfiança. E como o País está vivenciando pela primeira vez a independência formal do Banco Central, o processo é novo, e haverá turbulências.

O debate sobre a forma de o BC se comunicar, contudo, é bastante válido. Se uma empresa de capital aberto precisa emitir um fato relevante para informar o mercado, buscando sempre a isonomia na informação, por que um Banco Central deve alterar a sua política monetária em uma declaração informal, durante evento promovido por investidores no exterior?

Há o argumento de que no mundo inteiro funciona assim. Mas não é ruim a visão dos diretores indicados por Lula de que é preciso fortalecer a comunicação institucional. Certamente, há formas mais organizadas de mudar o guidance, e isso pode dar mais segurança para a política de juros do País.

De resto, se a convergência vai continuar nas próximas reuniões, ninguém sabe, e as discordâncias de votos também fazem parte do processo. A independência do BC deu mais poder a cada diretor do Banco - que agora tem mandato e não pode ser retirado do cargo.

A Ata conseguiu desfazer o mal-estar do comunicado da última reunião. O ritmo de cortes, daqui para frente, dependerá dos dados da inflação que serão divulgados no Brasil e nos EUA, e principalmente das projeções que serão coletadas pelo BC no Boletim Focus. A “ancoragem” das expectativas será determinante para se saber até onde cairá a taxa Selic.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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