A ata da reunião de julho do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 6, veio mais dura que o comunicado divulgado logo após o encontro, na semana passada. Na avaliação de analistas do mercado financeiro, os diretores do Banco Central estão vendo, agora, que as duas principais condicionantes de inflação - o câmbio e as expectativas do próprio mercado -, estão piores. Por isso, o comitê deixou claro que “não hesitará” em subir os juros se isso se tornar necessário.
O Bradesco avaliou que o comitê foi significativamente mais duro na ata do que no comunicado na última semana. O banco manteve a projeção de Selic em 10,50% até o fim do ano, mas reconhece que, com o cenário mudando rapidamente, o Copom deixou a porta aberta para uma possível alta no juro, caso julgue necessário.
A equipe de pesquisa macroeconômica do Itaú, por sua vez, disse que, caso não haja melhora no câmbio, um ciclo de alta na taxa Selic a partir de setembro “será inevitável”. Para eles, a ata mostrou que o colegiado “está pronto” para aumentar o juro básico caso a cotação do real permaneça no nível atual. Ontem, o dólar à vista terminou o pregão em alta de 0,56%, a R$ 5,7414 no mercado à vista, e hoje, por volta das 10h40, recuava 1,16%, a R$ 5,6746.
Veja abaixo a avaliação de economistas sobre a ata:
Silvio Campos Neto, Tendências Consultoria
Para o economista-sênior e sócio da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, a ata da reunião de julho do Copom colocou, agora por parte do próprio Banco Central, a possibilidade de elevação na taxa Selic “na mesa”. Ele cita, especialmente, o parágrafo 25 do documento, em que o colegiado escreveu que seus membros “unanimemente” reforçaram que não hesitarão em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta.
Este, contudo, não é o cenário-base da Tendências hoje, que prevê a manutenção da Selic no atual nível, 10,5%, até 2025.
O economista cita que, além das preocupações com o nível do câmbio e a desancoragem das expectativas de inflação, o Copom apontou na ata que o nível da atividade econômica doméstica está mais aquecido do que o previsto. “É um complicador a mais”, diz o economista.
Em relação ao cenário internacional, Silvio Campos Neto avalia que alguns dados recentes consolidaram a expectativa de desaceleração na economia de países avançados, sobretudo os Estados Unidos. Isso, “em condições normais”, tende a levar ao afrouxamento monetário pelo Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano) o que, por sua vez, tende a contribuir para um ciclo de quedas na Selic, detalha o economista.
“Mas para que isso se materialize, é preciso que a variável principal hoje seja afetada, que é o câmbio. Mas a cotação segue muito volátil”, afirma.
Ele aponta que há um ambiente de incerteza muito grande e de aversão ao risco no mundo, ao mesmo tempo que o real enfrenta “questões próprias”, que tem contribuído para sua desvalorização. “Algumas moedas não vão conseguir se beneficiar disso (ciclo de quedas no Fed)”. A projeção da Tendências hoje é de câmbio a R$ 5,50 ao final de 2024.
Laiz Carvalho, BNP Paribas
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da reunião de julho veio bem mais dura do que o comunicado da semana anterior, que teve um tom mais suave, avalia a economista do BNP Paribas Laiz Carvalho, em comentário. De acordo com a economista, o parágrafo mais importante do comunicado é o 25, em que o BC aponta para dois possíveis cenários dos próximos passos que serão tomados na política monetária.
“Por um lado, essa estratégia pode ser de manter a taxa de juros parada por mais tempo, para fazer com que a inflação no horizonte de tempo relevante convirja para os 3% (da meta)”, indica Laiz. “Ou, por outro lado, o comitê unanimemente reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para segurar a convergência da inflação à meta.”
Outro fator da ata ressaltado pela economista do BNP Paribas é a observação de que existem discussões dentro do BC sobre o balanço de riscos assimétrico. O mercado já tinha expectativas da alteração do balanço de riscos para assimétrico (com mais fatores de alta para a inflação), no entanto, essa mudança não foi feita ainda. De acordo com a economista, o documento indica que caso os movimentos vistos agora continuem de forma persistente, isso exigirá alguma ação do Banco Central.
Leonardo Costa, ASA Investments
A menção à possibilidade de alta de juros presente no parágrafo 25 da ata da reunião de julho do Copom deixou o documento com um tom mais duro do que o comunicado de semana passada, na avaliação do economista do ASA Leonardo Costa. “O Copom vê no modelo dele que as duas principais condicionantes de inflação, o câmbio e as expectativas, estão piores”, cita Costa. Para ele, caso não haja melhora desses vetores, o Copom deverá elevar a Selic.
“O Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, escreveu o colegiado na ata. O uso do termo “unanimemente”, acrescenta Costa, ainda serviu para “sanar” um ruído gerado na reunião de maio do comitê, quando a decisão dividida nos votos desagradou o mercado financeiro.
Na avaliação de Costa, o texto da ata, de maneira geral, mostrou o Copom tentando “ganhar tempo”, antes de tomar qualquer decisão. O ASA prevê Selic estável em 10,5% até o final de 2025, mas o viés é de alta.
Entre os pontos da ata divulgada nesta terça-feira, o economista do ASA ainda destaca que o colegiado “tentou endereçar” algumas questões, como a grande volatilidade dos mercados globais. “Não acho que a ata esteja velha (por conta dos últimos dados mais fracos de atividade nos Estados Unidos). O mercado já melhorou um pouco hoje e segue bastante dinâmico. A volatilidade está muito grande e o Copom tenta endereçar isso”, frisa Costa.
Leia também
Étore Sanchez, Ativa Investimentos
O tom da ata do Copom de julho foi mais firme e bem diferente do que foi exposto pelo Banco Central no comunicado da reunião, avalia o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. “Os indicadores que foram colocados na mesa pareciam bem menos graves do que foram colocados na ata”, afirma.
Sanchez chama atenção para um trecho da ata em que são apontadas possibilidades de estratégias para a trajetória da Selic. No documento, o Copom falou sobre a possibilidade de aumento da taxa de juros: “o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.
“Os indicadores falam sobre a necessidade de elevação no juro, mas o BC deve optar por manter a Selic estável em vez de elevá-la e derrubar mais cedo. Parece que essa será a estratégia a ser adotada, mas todos os indicadores já sinalizam para uma alta de juros”, frisa.
A Ativa Investimentos manteve a projeção de Selic em 10,50% até o fim deste ano e em 9,25% em 2025.
Stephen Kautz, EQI Asset
O trecho da ata do último encontro do Copom que discorre sobre as estratégias para a trajetória da taxa de juros - entre elas, uma possível elevação na Selic - mostra uma sinalização mais duro, mas, ao mesmo tempo, em linha com o comunicado apresentado pelo Comitê na última semana. A avaliação é do economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz.
“O Banco Central mostra que está preocupado com a taxa de câmbio, mas ainda não se sabe o impacto final na inflação. Há uma dúvida sobre a persistência desse choque e qual seu efeito líquido. Ele preferiu ganhar tempo”, diz. “Se o efeito for de alta, sinaliza que terá de reagir e a reação é a elevação dos juros.”
A divulgação da ata após momentos de tensão global com possível enfraquecimento da economia norte-americana faz o documento ficar “parcialmente defasado, mas não muito”, na avaliação de Kautz. “O principal canal de transmissão desse imbróglio internacional é a taxa de câmbio, que é que foi ressaltado na ata como principal preocupação”, salienta.
O economista ainda destaca que a ata foi bem escrita e mostrou bastante consistência interna em termos de cenário e sinalização. A EQI Asset elevou recentemente a projeção para o IPCA de 2024, de 4,4% para 4,6%, por fumo, e manteve a estimativa de Selic em 10,50% até o final deste ano. Para 2025, a projeção é de Selic em 9,50% e IPCA em 4,1%.