BRASÍLIA - O Banco Central indicou que o ciclo de alta de juros no País pode ser mais longo do que se imaginava, caso as expectativas de inflação continuem piorando semana a semana. O recado foi dado na Ata do Copom divulgada na manhã desta terça-feira, 12, que apontou diversos riscos não só internos, como mercado de trabalho aquecido e política fiscal sob risco, mas também externos, com a eleição do novo presidente americano, Donald Trump.
Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu os juros em 0,5 ponto porcentual, para 11,25%, no segundo aumento consecutivo, e indicou novos aumentos à frente.
Em relação ao Brasil, uma das novidades foi a inclusão da frase apontando que “uma deterioração adicional das expectativas pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto de política monetária”. Ou seja, o BC poderia manter os juros mais altos, por mais tempo.
Na visão do economista Leonardo Costa, do ASA, a indicação é de que o ritmo de 0,5 ponto de alta será mantido na próxima reunião, mas o mercado não desconsidera a possibilidade de aceleração para 0,75 ponto. Luis Otávio Leal, do G5 Partners, tem visão semelhante, apontando que a curva de juros já precifica o aumento do ritmo para 0,75 ponto no encontro do Copom no mês que vem.
Sobre o cenário de inflação, o Banco Central aponta problemas para todos os lados. A inflação de serviços está pressionada pelo mercado de trabalho mais aquecido do que se previa. Já a inflação de bens de consumo é impactada pelo dólar mais caro, que aumenta o preço dos produtos importados. Mais uma vez o BC falou em “interrupção do processo desinflacionário”.
A política fiscal foi apontada como um desafio em diversos momentos da Ata, com a necessidade de o governo Lula conseguir estabilizar a dívida pública por meio de medidas “estruturais”:
“Durante a reunião, foi enfatizado o desafio de estabilizar a dívida pública em virtude de aspectos mais estruturais do orçamento público. Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos”, disse o Banco Central.
Sobre o cenário externo, o BC indicou que a possibilidade de mudança na política econômica dos EUA é um elemento a mais de incerteza. Sem citar o presidente eleito Donald Trump, o BC apontou como riscos “possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação”.
A preocupação, não só do BC brasileiro, mas de economistas em geral, é de que as políticas de Trump vão pressionar a inflação nos EUA, o que irá obrigar o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) a manter os juros mais altos por lá. A consequência será um dólar mais forte, com efeito indireto sobre a moeda de países emergentes, como o Brasil.