Selic: Ata do Copom ‘fecha a porta’ para queda do juro acima de 0,5 ponto nas próximas reuniões


Para colegiado, para acelerar os cortes, seria necessário ‘surpresas positivas substanciais’ que elevassem ainda mais a confiança na queda da inflação

Por Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues
Atualização:

Brasília - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou, na Ata da reunião realizada na última semana, que é “pouco provável” uma intensificação do ritmo de cortes da taxa Selic, considerando o atual passo de queda de 0,50 ponto porcentual. Além disso, reforçou a necessidade de manter a política monetária ainda contracionista pelo “horizonte relevante”, até que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem de expectativas. Na semana passada, o Copom reduziu a Selic pela segunda vez consecutiva, de 13,25% para 12,75% ao ano.

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o Copom, na ata divulgada nesta terça-feira, 26. “O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, disse o BC, repetindo o que já havia sido dito na ata de agosto.

Nesse contexto, o colegiado reafirmou as condições que indicariam uma maior confiança nesse processo, como “uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto (o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda) ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”.

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Segundo o comitê, o ritmo de 0,50 ponto porcentual “conjuga o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”.

Antes da reunião do Copom da semana passada, uma parte do mercado - 12 de 69 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast - acreditava que poderia haver pelo menos um corte de 0,75 ponto na Selic em uma das próximas reuniões do Copom deste ano. Serão mais duas até dezembro.

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Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, após a divulgação da ata, está descartada uma aceleração no ritmo de cortes da taxa de juro, ao menos do curto prazo. O Inter alterou recentemente seu cenário para a trajetória da Selic e, após o comunicado do Copom da última semana, passou a prever manutenção do ritmo de redução do juro em 0,50 ponto porcentual. ”Sem ancoragem sólida das expectativas, o Banco Central não vai alterar esse ritmo de redução na Selic”, afirma Vitória.

Para ela, a ata divulgada nesta terça-feira adotou um tom mais duro, com destaque para a preocupação da autoridade monetária sobre o cenário externo. No segundo parágrafo do documento, o colegiado voltou a reforçar a preocupação com a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos. “Os juros mais fortes lá fora pressionam o câmbio. Tivemos surpresas pra cima na cotação de algumas commodities que ainda não bateram nos preços ao consumidor”, disse a economista.

A avaliação do economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, também é que a ata corrobora a percepção de que o BC não terá espaço para acelerar o ritmo de cortes da Selic este ano. “Na verdade, considerando que o final de ano vai ser bom em termos de crescimento, eu acho mais fácil o Copom reduzir o ritmo para cortes de 0,25 ponto porcentual do que acelerar para 0,75 ponto”, disse.

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Leal classifica a ata como “mais preocupada” do que a anterior, por conta da maior elaboração dos riscos observados pelo Copom. Entre os destaques, ele cita a avaliação da autoridade monetária sobre as fontes do aumento dos juros longos nos Estados Unidos, com impacto para o Brasil.

Tamanho do ciclo de queda

O Copom ainda considerou que o cenário econômico inspira cautela. “Não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado.”

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Em relação à extensão do ciclo de afrouxamento monetário, o Copom também reforçou a necessidade de manter uma política monetária “ainda” contracionista pelo horizonte relevante. O colegiado repetiu que o tamanho do ciclo ao longo do tempo vai depender da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

“O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central.”

Expectativa de inflação maior

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De acordo com o Copom, o aumento de suas projeções oficiais de inflação na reunião deste mês teve como causas principais um hiato do produto mais apertado e a alteração de condições como preço do petróleo, depreciação cambial e redução da trajetória da taxa Selic no Boletim Focus.

Para os diretores do BC, cenário econômica ainda inspira cautela Foto: Dida Sampaio/Estadão

As projeções oficiais do BC subiram em todos os anos considerados. No horizonte relevante (ou seja, o período levado mais em conta na hora de decidir o rumo dos juros), houve alta de 3,4% para 3,5% para 2024, principal foco da política monetária, e de 3% para 3,1% para 2025, que tem peso minoritário nas decisões. O centro da meta para os dois anos é de 3%.

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Na ata, o BC também mostrou que houve divergências entre os membros do Copom na evolução do cenário. O documento destacou que as expectativas de inflação seguem acima da meta e se mantiveram relativamente estáveis recentemente - para 2025 e 2026, o boletim Focus mostra a mediana parada em 3,5% há semanas. Segundo a ata, alguns membros do Copom “se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de metas desancoradas por um período longo”.

Em relação ao processo desinflacionário, o documento destacou que segue em curso, com a inflação de serviços desacelerando na margem. Nesse ponto, parte dos membros teve uma visão mais positiva e o restante ainda se mostrou cauteloso. “Alguns membros enfatizaram em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente.”

Quanto ao hiato do produto, conforme antecipado pela diretora de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado, em evento recente, o Copom considerou que houve um aperto na margem, em função da “maior resiliência da atividade econômica”. O colegiado ainda informou que foram avaliadas as implicações de formas alternativas de mensuração do hiato do produto e seus respectivos impactos nas projeções. / Colaboraram Daniel Tozzi Mendes e Cícero Cotrim

Brasília - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou, na Ata da reunião realizada na última semana, que é “pouco provável” uma intensificação do ritmo de cortes da taxa Selic, considerando o atual passo de queda de 0,50 ponto porcentual. Além disso, reforçou a necessidade de manter a política monetária ainda contracionista pelo “horizonte relevante”, até que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem de expectativas. Na semana passada, o Copom reduziu a Selic pela segunda vez consecutiva, de 13,25% para 12,75% ao ano.

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o Copom, na ata divulgada nesta terça-feira, 26. “O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, disse o BC, repetindo o que já havia sido dito na ata de agosto.

Nesse contexto, o colegiado reafirmou as condições que indicariam uma maior confiança nesse processo, como “uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto (o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda) ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”.

Segundo o comitê, o ritmo de 0,50 ponto porcentual “conjuga o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”.

Antes da reunião do Copom da semana passada, uma parte do mercado - 12 de 69 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast - acreditava que poderia haver pelo menos um corte de 0,75 ponto na Selic em uma das próximas reuniões do Copom deste ano. Serão mais duas até dezembro.

Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, após a divulgação da ata, está descartada uma aceleração no ritmo de cortes da taxa de juro, ao menos do curto prazo. O Inter alterou recentemente seu cenário para a trajetória da Selic e, após o comunicado do Copom da última semana, passou a prever manutenção do ritmo de redução do juro em 0,50 ponto porcentual. ”Sem ancoragem sólida das expectativas, o Banco Central não vai alterar esse ritmo de redução na Selic”, afirma Vitória.

Para ela, a ata divulgada nesta terça-feira adotou um tom mais duro, com destaque para a preocupação da autoridade monetária sobre o cenário externo. No segundo parágrafo do documento, o colegiado voltou a reforçar a preocupação com a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos. “Os juros mais fortes lá fora pressionam o câmbio. Tivemos surpresas pra cima na cotação de algumas commodities que ainda não bateram nos preços ao consumidor”, disse a economista.

A avaliação do economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, também é que a ata corrobora a percepção de que o BC não terá espaço para acelerar o ritmo de cortes da Selic este ano. “Na verdade, considerando que o final de ano vai ser bom em termos de crescimento, eu acho mais fácil o Copom reduzir o ritmo para cortes de 0,25 ponto porcentual do que acelerar para 0,75 ponto”, disse.

Leal classifica a ata como “mais preocupada” do que a anterior, por conta da maior elaboração dos riscos observados pelo Copom. Entre os destaques, ele cita a avaliação da autoridade monetária sobre as fontes do aumento dos juros longos nos Estados Unidos, com impacto para o Brasil.

Tamanho do ciclo de queda

O Copom ainda considerou que o cenário econômico inspira cautela. “Não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado.”

Em relação à extensão do ciclo de afrouxamento monetário, o Copom também reforçou a necessidade de manter uma política monetária “ainda” contracionista pelo horizonte relevante. O colegiado repetiu que o tamanho do ciclo ao longo do tempo vai depender da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

“O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central.”

Expectativa de inflação maior

De acordo com o Copom, o aumento de suas projeções oficiais de inflação na reunião deste mês teve como causas principais um hiato do produto mais apertado e a alteração de condições como preço do petróleo, depreciação cambial e redução da trajetória da taxa Selic no Boletim Focus.

Para os diretores do BC, cenário econômica ainda inspira cautela Foto: Dida Sampaio/Estadão

As projeções oficiais do BC subiram em todos os anos considerados. No horizonte relevante (ou seja, o período levado mais em conta na hora de decidir o rumo dos juros), houve alta de 3,4% para 3,5% para 2024, principal foco da política monetária, e de 3% para 3,1% para 2025, que tem peso minoritário nas decisões. O centro da meta para os dois anos é de 3%.

Na ata, o BC também mostrou que houve divergências entre os membros do Copom na evolução do cenário. O documento destacou que as expectativas de inflação seguem acima da meta e se mantiveram relativamente estáveis recentemente - para 2025 e 2026, o boletim Focus mostra a mediana parada em 3,5% há semanas. Segundo a ata, alguns membros do Copom “se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de metas desancoradas por um período longo”.

Em relação ao processo desinflacionário, o documento destacou que segue em curso, com a inflação de serviços desacelerando na margem. Nesse ponto, parte dos membros teve uma visão mais positiva e o restante ainda se mostrou cauteloso. “Alguns membros enfatizaram em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente.”

Quanto ao hiato do produto, conforme antecipado pela diretora de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado, em evento recente, o Copom considerou que houve um aperto na margem, em função da “maior resiliência da atividade econômica”. O colegiado ainda informou que foram avaliadas as implicações de formas alternativas de mensuração do hiato do produto e seus respectivos impactos nas projeções. / Colaboraram Daniel Tozzi Mendes e Cícero Cotrim

Brasília - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou, na Ata da reunião realizada na última semana, que é “pouco provável” uma intensificação do ritmo de cortes da taxa Selic, considerando o atual passo de queda de 0,50 ponto porcentual. Além disso, reforçou a necessidade de manter a política monetária ainda contracionista pelo “horizonte relevante”, até que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem de expectativas. Na semana passada, o Copom reduziu a Selic pela segunda vez consecutiva, de 13,25% para 12,75% ao ano.

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o Copom, na ata divulgada nesta terça-feira, 26. “O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, disse o BC, repetindo o que já havia sido dito na ata de agosto.

Nesse contexto, o colegiado reafirmou as condições que indicariam uma maior confiança nesse processo, como “uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto (o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda) ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”.

Segundo o comitê, o ritmo de 0,50 ponto porcentual “conjuga o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”.

Antes da reunião do Copom da semana passada, uma parte do mercado - 12 de 69 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast - acreditava que poderia haver pelo menos um corte de 0,75 ponto na Selic em uma das próximas reuniões do Copom deste ano. Serão mais duas até dezembro.

Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, após a divulgação da ata, está descartada uma aceleração no ritmo de cortes da taxa de juro, ao menos do curto prazo. O Inter alterou recentemente seu cenário para a trajetória da Selic e, após o comunicado do Copom da última semana, passou a prever manutenção do ritmo de redução do juro em 0,50 ponto porcentual. ”Sem ancoragem sólida das expectativas, o Banco Central não vai alterar esse ritmo de redução na Selic”, afirma Vitória.

Para ela, a ata divulgada nesta terça-feira adotou um tom mais duro, com destaque para a preocupação da autoridade monetária sobre o cenário externo. No segundo parágrafo do documento, o colegiado voltou a reforçar a preocupação com a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos. “Os juros mais fortes lá fora pressionam o câmbio. Tivemos surpresas pra cima na cotação de algumas commodities que ainda não bateram nos preços ao consumidor”, disse a economista.

A avaliação do economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, também é que a ata corrobora a percepção de que o BC não terá espaço para acelerar o ritmo de cortes da Selic este ano. “Na verdade, considerando que o final de ano vai ser bom em termos de crescimento, eu acho mais fácil o Copom reduzir o ritmo para cortes de 0,25 ponto porcentual do que acelerar para 0,75 ponto”, disse.

Leal classifica a ata como “mais preocupada” do que a anterior, por conta da maior elaboração dos riscos observados pelo Copom. Entre os destaques, ele cita a avaliação da autoridade monetária sobre as fontes do aumento dos juros longos nos Estados Unidos, com impacto para o Brasil.

Tamanho do ciclo de queda

O Copom ainda considerou que o cenário econômico inspira cautela. “Não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado.”

Em relação à extensão do ciclo de afrouxamento monetário, o Copom também reforçou a necessidade de manter uma política monetária “ainda” contracionista pelo horizonte relevante. O colegiado repetiu que o tamanho do ciclo ao longo do tempo vai depender da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

“O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central.”

Expectativa de inflação maior

De acordo com o Copom, o aumento de suas projeções oficiais de inflação na reunião deste mês teve como causas principais um hiato do produto mais apertado e a alteração de condições como preço do petróleo, depreciação cambial e redução da trajetória da taxa Selic no Boletim Focus.

Para os diretores do BC, cenário econômica ainda inspira cautela Foto: Dida Sampaio/Estadão

As projeções oficiais do BC subiram em todos os anos considerados. No horizonte relevante (ou seja, o período levado mais em conta na hora de decidir o rumo dos juros), houve alta de 3,4% para 3,5% para 2024, principal foco da política monetária, e de 3% para 3,1% para 2025, que tem peso minoritário nas decisões. O centro da meta para os dois anos é de 3%.

Na ata, o BC também mostrou que houve divergências entre os membros do Copom na evolução do cenário. O documento destacou que as expectativas de inflação seguem acima da meta e se mantiveram relativamente estáveis recentemente - para 2025 e 2026, o boletim Focus mostra a mediana parada em 3,5% há semanas. Segundo a ata, alguns membros do Copom “se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de metas desancoradas por um período longo”.

Em relação ao processo desinflacionário, o documento destacou que segue em curso, com a inflação de serviços desacelerando na margem. Nesse ponto, parte dos membros teve uma visão mais positiva e o restante ainda se mostrou cauteloso. “Alguns membros enfatizaram em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente.”

Quanto ao hiato do produto, conforme antecipado pela diretora de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado, em evento recente, o Copom considerou que houve um aperto na margem, em função da “maior resiliência da atividade econômica”. O colegiado ainda informou que foram avaliadas as implicações de formas alternativas de mensuração do hiato do produto e seus respectivos impactos nas projeções. / Colaboraram Daniel Tozzi Mendes e Cícero Cotrim

Brasília - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central afirmou, na Ata da reunião realizada na última semana, que é “pouco provável” uma intensificação do ritmo de cortes da taxa Selic, considerando o atual passo de queda de 0,50 ponto porcentual. Além disso, reforçou a necessidade de manter a política monetária ainda contracionista pelo “horizonte relevante”, até que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem de expectativas. Na semana passada, o Copom reduziu a Selic pela segunda vez consecutiva, de 13,25% para 12,75% ao ano.

“Com relação aos próximos passos, os membros do Comitê concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o Copom, na ata divulgada nesta terça-feira, 26. “O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, disse o BC, repetindo o que já havia sido dito na ata de agosto.

Nesse contexto, o colegiado reafirmou as condições que indicariam uma maior confiança nesse processo, como “uma reancoragem bem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto (o espaço que o PIB tem para se expandir sem que estimule uma inflação de demanda) ou uma dinâmica substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”.

Segundo o comitê, o ritmo de 0,50 ponto porcentual “conjuga o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”.

Antes da reunião do Copom da semana passada, uma parte do mercado - 12 de 69 instituições ouvidas pelo Projeções Broadcast - acreditava que poderia haver pelo menos um corte de 0,75 ponto na Selic em uma das próximas reuniões do Copom deste ano. Serão mais duas até dezembro.

Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, após a divulgação da ata, está descartada uma aceleração no ritmo de cortes da taxa de juro, ao menos do curto prazo. O Inter alterou recentemente seu cenário para a trajetória da Selic e, após o comunicado do Copom da última semana, passou a prever manutenção do ritmo de redução do juro em 0,50 ponto porcentual. ”Sem ancoragem sólida das expectativas, o Banco Central não vai alterar esse ritmo de redução na Selic”, afirma Vitória.

Para ela, a ata divulgada nesta terça-feira adotou um tom mais duro, com destaque para a preocupação da autoridade monetária sobre o cenário externo. No segundo parágrafo do documento, o colegiado voltou a reforçar a preocupação com a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos. “Os juros mais fortes lá fora pressionam o câmbio. Tivemos surpresas pra cima na cotação de algumas commodities que ainda não bateram nos preços ao consumidor”, disse a economista.

A avaliação do economista-chefe da G5 Partners, Luís Otávio de Souza Leal, também é que a ata corrobora a percepção de que o BC não terá espaço para acelerar o ritmo de cortes da Selic este ano. “Na verdade, considerando que o final de ano vai ser bom em termos de crescimento, eu acho mais fácil o Copom reduzir o ritmo para cortes de 0,25 ponto porcentual do que acelerar para 0,75 ponto”, disse.

Leal classifica a ata como “mais preocupada” do que a anterior, por conta da maior elaboração dos riscos observados pelo Copom. Entre os destaques, ele cita a avaliação da autoridade monetária sobre as fontes do aumento dos juros longos nos Estados Unidos, com impacto para o Brasil.

Tamanho do ciclo de queda

O Copom ainda considerou que o cenário econômico inspira cautela. “Não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado.”

Em relação à extensão do ciclo de afrouxamento monetário, o Copom também reforçou a necessidade de manter uma política monetária “ainda” contracionista pelo horizonte relevante. O colegiado repetiu que o tamanho do ciclo ao longo do tempo vai depender da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

“O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central.”

Expectativa de inflação maior

De acordo com o Copom, o aumento de suas projeções oficiais de inflação na reunião deste mês teve como causas principais um hiato do produto mais apertado e a alteração de condições como preço do petróleo, depreciação cambial e redução da trajetória da taxa Selic no Boletim Focus.

Para os diretores do BC, cenário econômica ainda inspira cautela Foto: Dida Sampaio/Estadão

As projeções oficiais do BC subiram em todos os anos considerados. No horizonte relevante (ou seja, o período levado mais em conta na hora de decidir o rumo dos juros), houve alta de 3,4% para 3,5% para 2024, principal foco da política monetária, e de 3% para 3,1% para 2025, que tem peso minoritário nas decisões. O centro da meta para os dois anos é de 3%.

Na ata, o BC também mostrou que houve divergências entre os membros do Copom na evolução do cenário. O documento destacou que as expectativas de inflação seguem acima da meta e se mantiveram relativamente estáveis recentemente - para 2025 e 2026, o boletim Focus mostra a mediana parada em 3,5% há semanas. Segundo a ata, alguns membros do Copom “se mostraram particularmente preocupados com a possibilidade de metas desancoradas por um período longo”.

Em relação ao processo desinflacionário, o documento destacou que segue em curso, com a inflação de serviços desacelerando na margem. Nesse ponto, parte dos membros teve uma visão mais positiva e o restante ainda se mostrou cauteloso. “Alguns membros enfatizaram em particular a composição benigna recente da inflação e a queda na inflação de serviços, enquanto outros enfatizaram que os fundamentos subjacentes para a dinâmica da inflação de serviços, em particular a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, ainda não permitem extrapolar com convicção o comportamento benigno recente.”

Quanto ao hiato do produto, conforme antecipado pela diretora de Assuntos Internacionais, Fernanda Guardado, em evento recente, o Copom considerou que houve um aperto na margem, em função da “maior resiliência da atividade econômica”. O colegiado ainda informou que foram avaliadas as implicações de formas alternativas de mensuração do hiato do produto e seus respectivos impactos nas projeções. / Colaboraram Daniel Tozzi Mendes e Cícero Cotrim

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