BRASÍLIA E SÃO PAULO - A Caixa Econômica Federal lançou oficialmente nesta terça-feira, 11, a operação do crédito consignado a beneficiários do Auxílio Brasil. A Caixa vai cobrar juros de 3,45% ao mês – valor que beira o limite determinado pelo Ministério da Cidadania para a modalidade, de 3,50% ao mês. Só neste primeiro dia, segundo informou a Caixa, foram firmados cerca de 43 mil contratos, que totalizaram R$ 111,8 milhões em empréstimos aos beneficiários do programa social.
A presidente da Caixa, Danielle Calazans afirmou que a operação vai focar no crédito consciente, em meio a críticas sobre a vulnerabilidade do público-alvo. “Em lógica de crédito consciente, lançamos campanha de renegociação de dívidas, o Você no Azul, na semana passada. Somos um banco social e por isso não poderíamos refutar de trabalhar com consignado. Entendemos que troca de crédito mais caro, como cartão, por linha mais barata cumpre um papel social”, destacou, argumentando que a medida é mais uma do governo federal na direção de fomentar a economia.
O desconto sobre o valor do benefício é de até 40%, e a parcela mínima mensal é de R$ 15. O pagamento será descontado mensalmente, direto no benefício da família, e pode ser realizado em até 24 parcelas mensais.
O teto de 3,50% ao ano estipulado para a modalidade é maior do que o imposto pelos bancos ao consignado do INSS: 2,14%. Além disso, segundo os dados do Banco Central, está acima do que é cobrado, em média, nos vários tipos de consignado: para trabalhadores do setor privado (2,61%), para trabalhadores do setor público (1,70%), para aposentados e pensionistas do INSS (1,97%) e consignado pessoal total (1,85%).
A presidente da Caixa está nos Estados Unidos para participar das reuniões do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI). A Caixa foi um dos 12 bancos credenciados pelo Ministério da Cidadania para operar a linha de crédito, e o único entre os cinco maiores do País. Como antecipou o Estadão, grandes bancos resolveram ficar de fora da oferta do consignado. A modalidade é vista por analistas como eleitoreira e com grande potencial de ampliação do endividamento das famílias.
De acordo com o banco público, o Auxílio tem hoje 21,1 milhões de famílias beneficiárias, mas há condições para que o empréstimo seja autorizado. Pode contratar o crédito o responsável familiar pelo benefício, desde que o receba há mais de 90 dias.
Além disso, o beneficiário não pode ter deixado de comparecer à convocação do Ministério da Cidadania, caso tenha sido chamado. A vice-presidente de negócios de Varejo da Caixa, Thays Cintra, disse que o banco vai ofertar o consignado com iniciativas de educação financeira para estimular um uso racional dos recursos. “A nossa recomendação é de que faça empréstimo quem tem uma dívida com taxa maior”, disse ela, em coletiva de imprensa para detalhar o novo programa.
Na semana passada, Marques disse que a Caixa vai utilizar o consignado para conscientizar clientes endividados em linhas mais caras sobre a possibilidade de trocar uma dívida pela outra. O banco permitirá, por exemplo, que os recursos da linha sejam utilizados para pagar dívidas no programa Você no Azul, de renegociação de débitos, anunciado na semana passada, e que concederá descontos de até 90%, a depender do cliente e do perfil da dívida.
Pano de fundo eleitoral
Danielle Calazans refutou que o lançamento do consignado do Auxílio Brasil, a menos de três semanas do segundo turno, tenha motivação eleitoral, assim como nas novidades anunciadas pelo banco na semana passada, sobre a antecipação do benefício social e a campanha de renegociação de dívidas.
“O consignado do Auxílio Brasil foi amplamente debatido no Congresso. As datas não foram definidas por nós”, disse Calazans, ao responder uma pergunta sobre o “timing” do lançamento da medida. “Não vemos nenhuma questão de fundo eleitoral”, completou.
Originalmente, o repasse do Auxílio Brasil seria finalizado no dia 31, mas agora vai acabar dia 25, cinco dias antes do segundo turno das eleições. Essas medidas são parte das apostas do presidente Jair Bolsonaro (PL) para conquistar apoio junto às camadas de menor renda da população, em que tem intenção de voto menor que a do oponente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).