A decisão da agência de classificação de risco Moody’s de elevar para Ba1 a nota do Brasil na avaliação de crédito, deixando o País a um degrau de retomar o grau de investimento, surpreendeu analistas do mercado financeiro, nesta terça-feira, 1º.
Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, a decisão é “surpreendente em duas dimensões”: timing e racional. Para ele, o mercado, pego de surpresa, deve agora começar a antecipar a melhora das notas de outras agências de risco.
A surpresa no timing da Moody’s, segundo Borsoi, ocorre porque a elevação da nota soberana foi feita “em um momento de alta dos custos de financiamento do Tesouro, devido à elevação da Selic, a taxa básica de juros da economia, e de crescentes questionamentos sobre a credibilidade do arcabouço fiscal e das medidas fora do orçamento que o governo vem adotando”.
Já a surpresa no âmbito racional ocorre porque “a Moody’s fala sobre a melhora na perspectiva de crescimento e, com isso, sinaliza que está confiante com um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) potencial mais alto”, afirma o economista-chefe da Nova Futura.
Borsoi avalia que “em um mundo de corte de juros nos países desenvolvidos e estímulos na China, que irão apoiar os preços de commodities e ajudar na arrecadação aqui, o cenário da Moody’s parece fazer sentido”.
O economista-chefe da Nova Futura destaca ainda que, com a elevação no rating, o Brasil agora está a apenas um degrau de virar investment grade (grau de investimento) pela Moody’s. “O mercado deve reduzir um pedaço dos prêmios de risco nos ativos locais”, estima.
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‘Peso maior no crescimento’
Na avaliação do estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a Moody’s parece ter colocado um peso maior nos dados de crescimento econômico ao elevar a nota do Brasil. “O Brasil está caminhando para o terceiro ano seguido com crescimento perto dos 3%, sem dúvida isso deve ter pesado”, afirmou.
Chama a atenção, segundo Cruz, o fato de a ação de rating da Moody’s vir em um momento em que se estava vendo uma diminuição da credibilidade da política fiscal brasileira. “Não deixa de ser diferente do que o que a Fitch falou na semana passada”, disse. “Mesmo assim, é uma notícia muito positiva.”
Para o estrategista, em tese, é esperado um aumento do fluxo de capitais ao Brasil, com sinais de novos cortes do Federal Reserve nos juros e estímulos econômicos na China. De todo modo, ponderou, o que estava sendo visto até agora era um aumento da atratividade da renda fixa doméstica para o investidor estrangeiro, com o aumento do diferencial de juros.
Uma reversão de fluxo para a Bolsa dependeria, avaliou Cruz, de uma melhora no perfil de crédito das empresas componentes do Ibovespa, uma vez que, geralmente, há revisões para cima nos ratings das companhias quando há elevação da nota soberana de um país.
‘Expectativas mais positivas’
Para Gean Lima, estrategista & trader de juros e moeda da Connex Capital, a Moody’s, no relatório em que eleva o rating do Brasil para Ba1, “enfatizou pontos positivos em relação às melhorias materiais no crédito, reformas, crescimento mais robusto e expectativas mais positivas em relação à trajetória da dívida pública do Brasil”.
“Esse aqui foi o ponto mais relevante: ‘Essa atualização reflete melhorias materiais no crédito, que se espera que continuem, incluindo um desempenho de crescimento mais robusto do que o avaliado anteriormente, e um histórico crescente de reformas econômicas e fiscais que aumentam a resiliência do perfil de crédito’”, segundo Lima.
Ainda assim, o estrategista destaca que a Moody’s avalia que a credibilidade do arcabouço fiscal do Brasil ainda é moderada. “Eles afirmam que ‘a dívida do Brasil deve se estabilizar no médio prazo, mas em nível relativamente alto’”, aponta.
‘Não é inconsistente’
Para o ex-secretário do Tesouro Jeferson Bittencourt, head de macroeconomia do ASA, a decisão da Moody’s surpreende à primeira vista, mas não é inconsistente com decisões anteriores, em relação tanto ao Brasil quanto a outros países, que, diante de números fortes de crescimento econômico, colocaram muitas vezes em segundo plano as fragilidades fiscais.
Ele considera que a decisão é, no “curto prazo”, uma surpresa porque, pouco mais de dois meses atrás, a agência de rating considerava não ser produtivo falar em investment grade. Agora, com o Brasil a um upgrade de retomar o selo conferido a economias com menor risco de crédito, e com a perspectiva positiva, esta classificação, pontua Bittencourt, pode ser conferida pela Moody’s em menos de um ano.
Segundo o economista, a estabilização da dívida pública no médio prazo em 82% do PIB, como previsto pela Moody´s, depende de um cenário “consideravelmente otimista” em relação ao crescimento econômico e taxa de juros, que voltou a subir.
“Diante disso, devem ser necessários sinais mais robustos de factibilidade deste cenário otimista para que esta revisão da nota de risco enseje um impacto positivo mais duradouro no preço dos ativos brasileiros”, comenta o ex-secretário do Tesouro.