Brasil deve fechar o ano com recordes no comércio externo, beneficiado pelas commodities


Saldo positivo na balança comercial neste ano pode chegar ao patamar de US$ 90 bilhões, projetam bancos e consultorias; País tem tirado proveito da alta de preços das commodities nos últimos anos

Por Luiz Guilherme Gerbelli

A combinação entre o aumento do volume exportado e os preços de commodities elevados vai fazer com que o Brasil colha mais um resultado recorde na balança comercial neste ano. Nas contas de bancos e consultorias, o superávit deste ano deve superar U$S 80 bilhões e pode chegar ao patamar de US$ 90 bilhões.

A força da balança comercial se transformou na grande notícia positiva da economia neste ano. As projeções para o superávit têm sido revisadas com frequência e revelaram uma conjuntura bem mais positiva do que a esperada. No meio deste ano, a expectativa era de US$ 70 bilhões.

Na virada de 2022 para 2023, a leitura dos economistas era a de que o mundo deveria enfrentar uma importante desaceleração da atividade econômica, o que poderia afetar a demanda dos países por produtos. Uma recessão nas principais economias sempre esteve no radar, mas esse cenário não se confirmou. “O melhor ano da história da balança comercial será em 2023. O resultado está vindo muito forte”, diz Julia Passabom, economista do Itaú.

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O Brasil é um grande exportador de produtos básicos e tem sido ajudado pelos bons preços de soja, petróleo, minério de ferro e milho no mercado internacional. “E houve uma feliz coincidência com a supersafra de grãos. O País se beneficiou de preços em patamares elevado e de uma safra enorme”, afirma Myriã Bast, economista do Bradesco. De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), a safra brasileira deve somar 313,3 milhões de toneladas, um resultado 19% maior do que o observado em 2022. Neste ano, o Bradesco prevê um superávit de US$ 90 bilhões e US$ 350 bilhões em exportações, o que, se confirmado, também será um nível recorde.

Nas vendas para o exterior, o País ainda se vale de fatores pontuais, o que tem contribuído diretamente para o aumento da quantidade exportada. A seca na Argentina, por exemplo, permitiu que os produtores brasileiros exportassem mais para o país vizinho.

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“A seca argentina foi muito forte, e a soja acabou se tornando um dos principais produtos exportados pelo Brasil. A guerra entre Rússia e Ucrânia continua afetando dois grandes exportadores de grãos”, diz Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Brasil tem se beneficiado da alta de preços de produtos básicos nos últimos anos Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

As exportações explicam apenas parte do resultado da balança deste ano. O saldo comercial robusto também tem a ver com a queda na importação, diante de preços mais baixos de produtos comprados pelo País e pela perda de dinamismo econômico da economia local neste ano, sobretudo no segundo semestre, quando se espera uma desaceleração por causa dos efeitos da taxa básica de juros (Selic) elevada. “Em geral, uma atividade mais fraca resulta numa importação menor”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, que projeta um superávit de US$ 90 bilhões em 2023.

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Recordes sucessivos

Os números de 2023 da balança reforçam um cenário já conhecido da economia brasileira nos últimos anos. Desde a reabertura da economia global, depois de superada a pior fase da pandemia de covid, o Brasil tem se beneficiado da alta de preços das commodities.

Com os incentivos fiscais concedidos por inúmeros governos, a retomada da economia global foi mais rápida do que o esperado, contribuindo para o forte aumento das cotações de produtos exportados pelo Brasil. No ano passado, quando os preços atingiram um nível recorde, a economia brasileira registrou o maior superávit reportado até então. O saldo foi de US$ 61,5 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços.

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“Em 2022, as commodities alcançaram o seu pico. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril de petróleo passou de US$ 100 dólares, a parte de grãos também fechou mais alta impactada pelo conflito”, diz Julia, do Itaú.

Em 2023, os preços dos produtos estão mais baixos, mas ainda bem superiores ao observado antes da pandemia. De 2019 a setembro deste ano, o preço do barril de petróleo do tipo brent saltou de US$ 64 para US$ 91, um aumento de 42%, de acordo com um monitoramento realizado pelo Itaú. A tonelada do ferro subiu 31%, e a cotação da soja e do milho avançaram 46% e 25%, respectivamente, no período.

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A manutenção de preços em patamares elevados vai ser fundamental para continuar a garantir ao Brasil um bom desempenho nas vendas internacionais. Em 2024, a expectativa de parte dos analistas é a de que o superávit será menor do que o de 2023, mas seguirá bastante robusto quando se olha para o histórico da balança comercial do País.

“Ainda será um resultado bom perto do que foi de 2021 e 2022. O nível médio de preços das comodities, ainda que mais baixo, acaba ajudando”, diz Julia Nas contas do Itaú, o saldo comercial deve chegar a US$ 80 bilhões este ano e vai recuar a US$ 60 bilhões em 2024.

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No ano que vem, a expectativa é de que a desaceleração global, enfim, possa chegar, o que afetaria as exportações brasileiras. Nas últimas semanas, houve uma piora nos Estados Unidos, com o cenário fiscal bastante conturbado e a indicação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode promover aumentos adicionais nas taxas de juros e deixá-las num patamar elevado por mais tempo.

“Esse cenário nos EUA volta a colocar no radar uma recessão mais forte no próximo ano, e isso pode impactar preços de comodities”, afirma Vitória, do Inter.

E do lado das importações, a volta do crescimento brasileiro também deve contribuir para um saldo comercial menor. “O nosso crescimento para o PIB doméstico no ano que vem é de 2%”, afirma Myriã. “A gente sai deste ano sem carrego. Isso quer dizer que vamos acelerar o crescimento no ano que vem e, por isso, devemos aumentar a importação e ter um saldo um pouco menor.”

Em 2024, o Bradesco estima um superávit de US$ 70 bilhões.

A combinação entre o aumento do volume exportado e os preços de commodities elevados vai fazer com que o Brasil colha mais um resultado recorde na balança comercial neste ano. Nas contas de bancos e consultorias, o superávit deste ano deve superar U$S 80 bilhões e pode chegar ao patamar de US$ 90 bilhões.

A força da balança comercial se transformou na grande notícia positiva da economia neste ano. As projeções para o superávit têm sido revisadas com frequência e revelaram uma conjuntura bem mais positiva do que a esperada. No meio deste ano, a expectativa era de US$ 70 bilhões.

Na virada de 2022 para 2023, a leitura dos economistas era a de que o mundo deveria enfrentar uma importante desaceleração da atividade econômica, o que poderia afetar a demanda dos países por produtos. Uma recessão nas principais economias sempre esteve no radar, mas esse cenário não se confirmou. “O melhor ano da história da balança comercial será em 2023. O resultado está vindo muito forte”, diz Julia Passabom, economista do Itaú.

O Brasil é um grande exportador de produtos básicos e tem sido ajudado pelos bons preços de soja, petróleo, minério de ferro e milho no mercado internacional. “E houve uma feliz coincidência com a supersafra de grãos. O País se beneficiou de preços em patamares elevado e de uma safra enorme”, afirma Myriã Bast, economista do Bradesco. De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), a safra brasileira deve somar 313,3 milhões de toneladas, um resultado 19% maior do que o observado em 2022. Neste ano, o Bradesco prevê um superávit de US$ 90 bilhões e US$ 350 bilhões em exportações, o que, se confirmado, também será um nível recorde.

Nas vendas para o exterior, o País ainda se vale de fatores pontuais, o que tem contribuído diretamente para o aumento da quantidade exportada. A seca na Argentina, por exemplo, permitiu que os produtores brasileiros exportassem mais para o país vizinho.

“A seca argentina foi muito forte, e a soja acabou se tornando um dos principais produtos exportados pelo Brasil. A guerra entre Rússia e Ucrânia continua afetando dois grandes exportadores de grãos”, diz Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Brasil tem se beneficiado da alta de preços de produtos básicos nos últimos anos Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

As exportações explicam apenas parte do resultado da balança deste ano. O saldo comercial robusto também tem a ver com a queda na importação, diante de preços mais baixos de produtos comprados pelo País e pela perda de dinamismo econômico da economia local neste ano, sobretudo no segundo semestre, quando se espera uma desaceleração por causa dos efeitos da taxa básica de juros (Selic) elevada. “Em geral, uma atividade mais fraca resulta numa importação menor”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, que projeta um superávit de US$ 90 bilhões em 2023.

Recordes sucessivos

Os números de 2023 da balança reforçam um cenário já conhecido da economia brasileira nos últimos anos. Desde a reabertura da economia global, depois de superada a pior fase da pandemia de covid, o Brasil tem se beneficiado da alta de preços das commodities.

Com os incentivos fiscais concedidos por inúmeros governos, a retomada da economia global foi mais rápida do que o esperado, contribuindo para o forte aumento das cotações de produtos exportados pelo Brasil. No ano passado, quando os preços atingiram um nível recorde, a economia brasileira registrou o maior superávit reportado até então. O saldo foi de US$ 61,5 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços.

“Em 2022, as commodities alcançaram o seu pico. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril de petróleo passou de US$ 100 dólares, a parte de grãos também fechou mais alta impactada pelo conflito”, diz Julia, do Itaú.

Em 2023, os preços dos produtos estão mais baixos, mas ainda bem superiores ao observado antes da pandemia. De 2019 a setembro deste ano, o preço do barril de petróleo do tipo brent saltou de US$ 64 para US$ 91, um aumento de 42%, de acordo com um monitoramento realizado pelo Itaú. A tonelada do ferro subiu 31%, e a cotação da soja e do milho avançaram 46% e 25%, respectivamente, no período.

A manutenção de preços em patamares elevados vai ser fundamental para continuar a garantir ao Brasil um bom desempenho nas vendas internacionais. Em 2024, a expectativa de parte dos analistas é a de que o superávit será menor do que o de 2023, mas seguirá bastante robusto quando se olha para o histórico da balança comercial do País.

“Ainda será um resultado bom perto do que foi de 2021 e 2022. O nível médio de preços das comodities, ainda que mais baixo, acaba ajudando”, diz Julia Nas contas do Itaú, o saldo comercial deve chegar a US$ 80 bilhões este ano e vai recuar a US$ 60 bilhões em 2024.

No ano que vem, a expectativa é de que a desaceleração global, enfim, possa chegar, o que afetaria as exportações brasileiras. Nas últimas semanas, houve uma piora nos Estados Unidos, com o cenário fiscal bastante conturbado e a indicação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode promover aumentos adicionais nas taxas de juros e deixá-las num patamar elevado por mais tempo.

“Esse cenário nos EUA volta a colocar no radar uma recessão mais forte no próximo ano, e isso pode impactar preços de comodities”, afirma Vitória, do Inter.

E do lado das importações, a volta do crescimento brasileiro também deve contribuir para um saldo comercial menor. “O nosso crescimento para o PIB doméstico no ano que vem é de 2%”, afirma Myriã. “A gente sai deste ano sem carrego. Isso quer dizer que vamos acelerar o crescimento no ano que vem e, por isso, devemos aumentar a importação e ter um saldo um pouco menor.”

Em 2024, o Bradesco estima um superávit de US$ 70 bilhões.

A combinação entre o aumento do volume exportado e os preços de commodities elevados vai fazer com que o Brasil colha mais um resultado recorde na balança comercial neste ano. Nas contas de bancos e consultorias, o superávit deste ano deve superar U$S 80 bilhões e pode chegar ao patamar de US$ 90 bilhões.

A força da balança comercial se transformou na grande notícia positiva da economia neste ano. As projeções para o superávit têm sido revisadas com frequência e revelaram uma conjuntura bem mais positiva do que a esperada. No meio deste ano, a expectativa era de US$ 70 bilhões.

Na virada de 2022 para 2023, a leitura dos economistas era a de que o mundo deveria enfrentar uma importante desaceleração da atividade econômica, o que poderia afetar a demanda dos países por produtos. Uma recessão nas principais economias sempre esteve no radar, mas esse cenário não se confirmou. “O melhor ano da história da balança comercial será em 2023. O resultado está vindo muito forte”, diz Julia Passabom, economista do Itaú.

O Brasil é um grande exportador de produtos básicos e tem sido ajudado pelos bons preços de soja, petróleo, minério de ferro e milho no mercado internacional. “E houve uma feliz coincidência com a supersafra de grãos. O País se beneficiou de preços em patamares elevado e de uma safra enorme”, afirma Myriã Bast, economista do Bradesco. De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), a safra brasileira deve somar 313,3 milhões de toneladas, um resultado 19% maior do que o observado em 2022. Neste ano, o Bradesco prevê um superávit de US$ 90 bilhões e US$ 350 bilhões em exportações, o que, se confirmado, também será um nível recorde.

Nas vendas para o exterior, o País ainda se vale de fatores pontuais, o que tem contribuído diretamente para o aumento da quantidade exportada. A seca na Argentina, por exemplo, permitiu que os produtores brasileiros exportassem mais para o país vizinho.

“A seca argentina foi muito forte, e a soja acabou se tornando um dos principais produtos exportados pelo Brasil. A guerra entre Rússia e Ucrânia continua afetando dois grandes exportadores de grãos”, diz Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Brasil tem se beneficiado da alta de preços de produtos básicos nos últimos anos Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

As exportações explicam apenas parte do resultado da balança deste ano. O saldo comercial robusto também tem a ver com a queda na importação, diante de preços mais baixos de produtos comprados pelo País e pela perda de dinamismo econômico da economia local neste ano, sobretudo no segundo semestre, quando se espera uma desaceleração por causa dos efeitos da taxa básica de juros (Selic) elevada. “Em geral, uma atividade mais fraca resulta numa importação menor”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, que projeta um superávit de US$ 90 bilhões em 2023.

Recordes sucessivos

Os números de 2023 da balança reforçam um cenário já conhecido da economia brasileira nos últimos anos. Desde a reabertura da economia global, depois de superada a pior fase da pandemia de covid, o Brasil tem se beneficiado da alta de preços das commodities.

Com os incentivos fiscais concedidos por inúmeros governos, a retomada da economia global foi mais rápida do que o esperado, contribuindo para o forte aumento das cotações de produtos exportados pelo Brasil. No ano passado, quando os preços atingiram um nível recorde, a economia brasileira registrou o maior superávit reportado até então. O saldo foi de US$ 61,5 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços.

“Em 2022, as commodities alcançaram o seu pico. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril de petróleo passou de US$ 100 dólares, a parte de grãos também fechou mais alta impactada pelo conflito”, diz Julia, do Itaú.

Em 2023, os preços dos produtos estão mais baixos, mas ainda bem superiores ao observado antes da pandemia. De 2019 a setembro deste ano, o preço do barril de petróleo do tipo brent saltou de US$ 64 para US$ 91, um aumento de 42%, de acordo com um monitoramento realizado pelo Itaú. A tonelada do ferro subiu 31%, e a cotação da soja e do milho avançaram 46% e 25%, respectivamente, no período.

A manutenção de preços em patamares elevados vai ser fundamental para continuar a garantir ao Brasil um bom desempenho nas vendas internacionais. Em 2024, a expectativa de parte dos analistas é a de que o superávit será menor do que o de 2023, mas seguirá bastante robusto quando se olha para o histórico da balança comercial do País.

“Ainda será um resultado bom perto do que foi de 2021 e 2022. O nível médio de preços das comodities, ainda que mais baixo, acaba ajudando”, diz Julia Nas contas do Itaú, o saldo comercial deve chegar a US$ 80 bilhões este ano e vai recuar a US$ 60 bilhões em 2024.

No ano que vem, a expectativa é de que a desaceleração global, enfim, possa chegar, o que afetaria as exportações brasileiras. Nas últimas semanas, houve uma piora nos Estados Unidos, com o cenário fiscal bastante conturbado e a indicação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode promover aumentos adicionais nas taxas de juros e deixá-las num patamar elevado por mais tempo.

“Esse cenário nos EUA volta a colocar no radar uma recessão mais forte no próximo ano, e isso pode impactar preços de comodities”, afirma Vitória, do Inter.

E do lado das importações, a volta do crescimento brasileiro também deve contribuir para um saldo comercial menor. “O nosso crescimento para o PIB doméstico no ano que vem é de 2%”, afirma Myriã. “A gente sai deste ano sem carrego. Isso quer dizer que vamos acelerar o crescimento no ano que vem e, por isso, devemos aumentar a importação e ter um saldo um pouco menor.”

Em 2024, o Bradesco estima um superávit de US$ 70 bilhões.

A combinação entre o aumento do volume exportado e os preços de commodities elevados vai fazer com que o Brasil colha mais um resultado recorde na balança comercial neste ano. Nas contas de bancos e consultorias, o superávit deste ano deve superar U$S 80 bilhões e pode chegar ao patamar de US$ 90 bilhões.

A força da balança comercial se transformou na grande notícia positiva da economia neste ano. As projeções para o superávit têm sido revisadas com frequência e revelaram uma conjuntura bem mais positiva do que a esperada. No meio deste ano, a expectativa era de US$ 70 bilhões.

Na virada de 2022 para 2023, a leitura dos economistas era a de que o mundo deveria enfrentar uma importante desaceleração da atividade econômica, o que poderia afetar a demanda dos países por produtos. Uma recessão nas principais economias sempre esteve no radar, mas esse cenário não se confirmou. “O melhor ano da história da balança comercial será em 2023. O resultado está vindo muito forte”, diz Julia Passabom, economista do Itaú.

O Brasil é um grande exportador de produtos básicos e tem sido ajudado pelos bons preços de soja, petróleo, minério de ferro e milho no mercado internacional. “E houve uma feliz coincidência com a supersafra de grãos. O País se beneficiou de preços em patamares elevado e de uma safra enorme”, afirma Myriã Bast, economista do Bradesco. De acordo com dados mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística (IBGE), a safra brasileira deve somar 313,3 milhões de toneladas, um resultado 19% maior do que o observado em 2022. Neste ano, o Bradesco prevê um superávit de US$ 90 bilhões e US$ 350 bilhões em exportações, o que, se confirmado, também será um nível recorde.

Nas vendas para o exterior, o País ainda se vale de fatores pontuais, o que tem contribuído diretamente para o aumento da quantidade exportada. A seca na Argentina, por exemplo, permitiu que os produtores brasileiros exportassem mais para o país vizinho.

“A seca argentina foi muito forte, e a soja acabou se tornando um dos principais produtos exportados pelo Brasil. A guerra entre Rússia e Ucrânia continua afetando dois grandes exportadores de grãos”, diz Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Brasil tem se beneficiado da alta de preços de produtos básicos nos últimos anos Foto: Tiago Queiroz / ESTADÃO CONTEÚDO

As exportações explicam apenas parte do resultado da balança deste ano. O saldo comercial robusto também tem a ver com a queda na importação, diante de preços mais baixos de produtos comprados pelo País e pela perda de dinamismo econômico da economia local neste ano, sobretudo no segundo semestre, quando se espera uma desaceleração por causa dos efeitos da taxa básica de juros (Selic) elevada. “Em geral, uma atividade mais fraca resulta numa importação menor”, afirma Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, que projeta um superávit de US$ 90 bilhões em 2023.

Recordes sucessivos

Os números de 2023 da balança reforçam um cenário já conhecido da economia brasileira nos últimos anos. Desde a reabertura da economia global, depois de superada a pior fase da pandemia de covid, o Brasil tem se beneficiado da alta de preços das commodities.

Com os incentivos fiscais concedidos por inúmeros governos, a retomada da economia global foi mais rápida do que o esperado, contribuindo para o forte aumento das cotações de produtos exportados pelo Brasil. No ano passado, quando os preços atingiram um nível recorde, a economia brasileira registrou o maior superávit reportado até então. O saldo foi de US$ 61,5 bilhões, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços.

“Em 2022, as commodities alcançaram o seu pico. Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o preço do barril de petróleo passou de US$ 100 dólares, a parte de grãos também fechou mais alta impactada pelo conflito”, diz Julia, do Itaú.

Em 2023, os preços dos produtos estão mais baixos, mas ainda bem superiores ao observado antes da pandemia. De 2019 a setembro deste ano, o preço do barril de petróleo do tipo brent saltou de US$ 64 para US$ 91, um aumento de 42%, de acordo com um monitoramento realizado pelo Itaú. A tonelada do ferro subiu 31%, e a cotação da soja e do milho avançaram 46% e 25%, respectivamente, no período.

A manutenção de preços em patamares elevados vai ser fundamental para continuar a garantir ao Brasil um bom desempenho nas vendas internacionais. Em 2024, a expectativa de parte dos analistas é a de que o superávit será menor do que o de 2023, mas seguirá bastante robusto quando se olha para o histórico da balança comercial do País.

“Ainda será um resultado bom perto do que foi de 2021 e 2022. O nível médio de preços das comodities, ainda que mais baixo, acaba ajudando”, diz Julia Nas contas do Itaú, o saldo comercial deve chegar a US$ 80 bilhões este ano e vai recuar a US$ 60 bilhões em 2024.

No ano que vem, a expectativa é de que a desaceleração global, enfim, possa chegar, o que afetaria as exportações brasileiras. Nas últimas semanas, houve uma piora nos Estados Unidos, com o cenário fiscal bastante conturbado e a indicação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) pode promover aumentos adicionais nas taxas de juros e deixá-las num patamar elevado por mais tempo.

“Esse cenário nos EUA volta a colocar no radar uma recessão mais forte no próximo ano, e isso pode impactar preços de comodities”, afirma Vitória, do Inter.

E do lado das importações, a volta do crescimento brasileiro também deve contribuir para um saldo comercial menor. “O nosso crescimento para o PIB doméstico no ano que vem é de 2%”, afirma Myriã. “A gente sai deste ano sem carrego. Isso quer dizer que vamos acelerar o crescimento no ano que vem e, por isso, devemos aumentar a importação e ter um saldo um pouco menor.”

Em 2024, o Bradesco estima um superávit de US$ 70 bilhões.

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