Banco Central Europeu eleva taxa de juros pela primeira vez desde 2011


BCE aumentou sua taxa de depósitos de -0,50% para 0% como medida para conter a inflação

Por Sergio Caldas, André Marinho, Gabriel Caldeira e Carlos Dias
Atualização:

O Banco Central Europeu (BCE) elevou seus juros básicos em 0,5 ponto percentual, no primeiro aumento desde 2011, em uma tentativa de conter a disparada da inflação na zona do euro, após concluir reunião de política monetária nesta quinta-feira, 21.

O BCE aumentou sua taxa de depósitos de -0,50% para 0%, a de refinanciamento de 0% para 0,50%, e a de empréstimos de 0,25% a 0,75%. A maior parte dos analistas previa ajuste de 0,25 ponto percentual, mas não descartava possibilidade de uma elevação mais agressiva.

A autoridade monetária havia sinalizado que aumentaria as taxas em 0,25 ponto percentual neste encontro, mas a instituição disse ter optado por uma elevação mais agressiva por conta dos riscos inflacionários e do estabelecimento do Instrumento de Proteção de Transmissão (TPI, na sigla em inglês), para conter a divergência nos custos de empréstimos do bloco.

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Em junho, a taxa anual de inflação ao consumidor da zona do euro atingiu o nível recorde de 8,6%, ainda impulsionada pelos efeitos da guerra da Rússia na Ucrânia.

No comunicado sobre a decisão, o BCE indicou que novos aumentos ocorrerão nas próximas reuniões, com objetivo de acelerar o retorno da inflação na zona do euro à meta de 2%.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, Alemanha; Essa é a primeira vez desde 2011 que o Banco Central Europeu eleva a taxa de juros  Foto: Reuters
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Na avaliação da Capital Economics, consultoria de pesquisa econômica de Londres, o BCE deve subir a taxa de depósito, atualmente em 0%, para cerca de 2,0% no próximo ano. A consultoria acredita, ainda, “que o Banco terá que usar seu novo programa de compra de ativos para evitar outra crise na zona do euro”.

O banco americano Wells Fargo prevê que a taxa de depósito será elevada a 1,00% até o fim deste ano. A instituição acredita que o BCE voltará a subir os juros básicos em meio ponto porcentual na sua próxima reunião monetária, marcada para setembro.

Com a inflação persistentemente alta na zona do euro, o crescimento econômico terá de desacelerar muito mais para que o BCE pause o aperto monetário, argumenta o Wells Fargo.

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“Nesse contexto, também projetamos aumentos de 25 pontos-base nas reuniões de outubro e dezembro, o que levaria a taxa de depósito para 1,00% até o final de 2022″, resume. Este nível deve ser o pico do atual ciclo de aperto, já que a inflação deve desacelerar em 2023, bem como o crescimento. Desta forma, o BCE deve manter os juros na maior parte de 2023, ou mesmo em todo o ano que vem, completa o Wells Fargo.

Sinal amarelo sobre inflação

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Segundo avaliação do banco Morgan Stanley, o aumento de juros sinaliza as preocupações da autoridade monetária europeia sobre a rápida subida da inflação e a falta de ancoragem das expectativas de alta dos preços no continente.

“A decisão de hoje foi provavelmente motivada pela percepção de um risco crescente de um overshoot de médio prazo na inflação, e potencialmente também influenciada pelas significativas surpresas de alta da inflação observadas nos últimos meses”, analisa o Morgan Stanley.

Christine Lagarde, presidente do BCE, afirmou que a inflação na zona do euro está “indesejavelmente alta” e deve permanecer acima da meta de 2% por “algum tempo”. Lagarde explicou que a maior parte dos componentes do núcleo inflacionário subiu.

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Segundo ela, os preços globais de energia devem permanecer elevados no curto prazo, o que agrava o quadro geral. Persistentes gargalos na cadeia produtiva e o enfraquecimento do euro também foram citados como responsáveis pela tendência.

“Mas olhando mais à frente, na ausência de novas rupturas, os custos de energia devem se estabilizar e os gargalos de oferta devem diminuir, o que, juntamente com a normalização da política em curso, deve apoiar o retorno da inflação à nossa meta”, assegurou.

A dirigente acrescentou que o mercado de trabalho permanece forte e que, apesar de um aceleração gradual nos últimos meses, o crescimento dos salários segue “contido”. “A maioria das medidas das expectativas de inflação a mais longo prazo situa-se atualmente em cerca de 2%, embora as recentes revisões acima da meta de alguns indicadores justifiquem um monitoramento contínuo”, disse.

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Economia em desaceleração

Christine Lagarde afirmou, ainda, que a economia da zona do euro está em desaceleração, diante da contínua pressão exercida pela guerra russa na Ucrânia.

Em coletiva de imprensa, Lagarde disse que um prolongamento do conflito é um “risco significativo” à atividade econômica na região, sobretudo se houver racionamento de energia em meio à redução do fornecimento de gás da Rússia.

“A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado”, disse ela, que chamou atenção para a possibilidade de enfraquecimento do crescimento global.

Reunião a reunião

Segundo o BCE, o ajuste mais contundente logo no início do ciclo de aperto permitirá que o banco central faça uma transição posterior a um modelo de decisão por cada reunião. “No contexto da normalização da sua política, o Conselho do BCE avaliará as opções para remunerar os excessos de liquidez”, disse.

Para a Capital Economics, a abordagem “reunião por reunião” para decisões sobre taxas de juros foi adotada presumivelmente para evitar falhas de comunicação no futuro.

O banco Morgan Stanley também nota que a linguagem introduzida na reunião de junho foi alterada para reforçar a noção de dependência de dados de aumentos futuros: “A antecipação hoje da saída das taxas de juros negativas permite que o Conselho do BCE faça uma transição para uma abordagem reunião a reunião das decisões sobre as taxas de juro”, avalia.

O banco ressalta que a futura trajetória da taxa de política do Conselho do BCE continuará a depender dos dados, o que ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo.

Credibilidade prejudicada do BCE

Segundo o ING Group, instituição financeira holandesa, a decisão do BCE de elevar os juros tem o objetivo de reduzir as expectativas de inflação e restaurar a prejudicada reputação e credibilidade da autoridade monetária no combate à inflação recorde da zona do euro.

“Todos sabemos que o aumento de juros de hoje não vai reduzir a inflação no curto prazo, nem mesmo no lado da demanda da economia, que irá reagir muito mais à recessão no horizonte do que a qualquer ação do BCE”, diz o banco holandês em nota a clientes.

Para o ING, o anúncio de hoje mostra que o BCE “está mais preocupado com sua credibilidade do que em ser previsível”.

O Banco Central Europeu (BCE) elevou seus juros básicos em 0,5 ponto percentual, no primeiro aumento desde 2011, em uma tentativa de conter a disparada da inflação na zona do euro, após concluir reunião de política monetária nesta quinta-feira, 21.

O BCE aumentou sua taxa de depósitos de -0,50% para 0%, a de refinanciamento de 0% para 0,50%, e a de empréstimos de 0,25% a 0,75%. A maior parte dos analistas previa ajuste de 0,25 ponto percentual, mas não descartava possibilidade de uma elevação mais agressiva.

A autoridade monetária havia sinalizado que aumentaria as taxas em 0,25 ponto percentual neste encontro, mas a instituição disse ter optado por uma elevação mais agressiva por conta dos riscos inflacionários e do estabelecimento do Instrumento de Proteção de Transmissão (TPI, na sigla em inglês), para conter a divergência nos custos de empréstimos do bloco.

Em junho, a taxa anual de inflação ao consumidor da zona do euro atingiu o nível recorde de 8,6%, ainda impulsionada pelos efeitos da guerra da Rússia na Ucrânia.

No comunicado sobre a decisão, o BCE indicou que novos aumentos ocorrerão nas próximas reuniões, com objetivo de acelerar o retorno da inflação na zona do euro à meta de 2%.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, Alemanha; Essa é a primeira vez desde 2011 que o Banco Central Europeu eleva a taxa de juros  Foto: Reuters

Na avaliação da Capital Economics, consultoria de pesquisa econômica de Londres, o BCE deve subir a taxa de depósito, atualmente em 0%, para cerca de 2,0% no próximo ano. A consultoria acredita, ainda, “que o Banco terá que usar seu novo programa de compra de ativos para evitar outra crise na zona do euro”.

O banco americano Wells Fargo prevê que a taxa de depósito será elevada a 1,00% até o fim deste ano. A instituição acredita que o BCE voltará a subir os juros básicos em meio ponto porcentual na sua próxima reunião monetária, marcada para setembro.

Com a inflação persistentemente alta na zona do euro, o crescimento econômico terá de desacelerar muito mais para que o BCE pause o aperto monetário, argumenta o Wells Fargo.

“Nesse contexto, também projetamos aumentos de 25 pontos-base nas reuniões de outubro e dezembro, o que levaria a taxa de depósito para 1,00% até o final de 2022″, resume. Este nível deve ser o pico do atual ciclo de aperto, já que a inflação deve desacelerar em 2023, bem como o crescimento. Desta forma, o BCE deve manter os juros na maior parte de 2023, ou mesmo em todo o ano que vem, completa o Wells Fargo.

Sinal amarelo sobre inflação

Segundo avaliação do banco Morgan Stanley, o aumento de juros sinaliza as preocupações da autoridade monetária europeia sobre a rápida subida da inflação e a falta de ancoragem das expectativas de alta dos preços no continente.

“A decisão de hoje foi provavelmente motivada pela percepção de um risco crescente de um overshoot de médio prazo na inflação, e potencialmente também influenciada pelas significativas surpresas de alta da inflação observadas nos últimos meses”, analisa o Morgan Stanley.

Christine Lagarde, presidente do BCE, afirmou que a inflação na zona do euro está “indesejavelmente alta” e deve permanecer acima da meta de 2% por “algum tempo”. Lagarde explicou que a maior parte dos componentes do núcleo inflacionário subiu.

Segundo ela, os preços globais de energia devem permanecer elevados no curto prazo, o que agrava o quadro geral. Persistentes gargalos na cadeia produtiva e o enfraquecimento do euro também foram citados como responsáveis pela tendência.

“Mas olhando mais à frente, na ausência de novas rupturas, os custos de energia devem se estabilizar e os gargalos de oferta devem diminuir, o que, juntamente com a normalização da política em curso, deve apoiar o retorno da inflação à nossa meta”, assegurou.

A dirigente acrescentou que o mercado de trabalho permanece forte e que, apesar de um aceleração gradual nos últimos meses, o crescimento dos salários segue “contido”. “A maioria das medidas das expectativas de inflação a mais longo prazo situa-se atualmente em cerca de 2%, embora as recentes revisões acima da meta de alguns indicadores justifiquem um monitoramento contínuo”, disse.

Economia em desaceleração

Christine Lagarde afirmou, ainda, que a economia da zona do euro está em desaceleração, diante da contínua pressão exercida pela guerra russa na Ucrânia.

Em coletiva de imprensa, Lagarde disse que um prolongamento do conflito é um “risco significativo” à atividade econômica na região, sobretudo se houver racionamento de energia em meio à redução do fornecimento de gás da Rússia.

“A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado”, disse ela, que chamou atenção para a possibilidade de enfraquecimento do crescimento global.

Reunião a reunião

Segundo o BCE, o ajuste mais contundente logo no início do ciclo de aperto permitirá que o banco central faça uma transição posterior a um modelo de decisão por cada reunião. “No contexto da normalização da sua política, o Conselho do BCE avaliará as opções para remunerar os excessos de liquidez”, disse.

Para a Capital Economics, a abordagem “reunião por reunião” para decisões sobre taxas de juros foi adotada presumivelmente para evitar falhas de comunicação no futuro.

O banco Morgan Stanley também nota que a linguagem introduzida na reunião de junho foi alterada para reforçar a noção de dependência de dados de aumentos futuros: “A antecipação hoje da saída das taxas de juros negativas permite que o Conselho do BCE faça uma transição para uma abordagem reunião a reunião das decisões sobre as taxas de juro”, avalia.

O banco ressalta que a futura trajetória da taxa de política do Conselho do BCE continuará a depender dos dados, o que ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo.

Credibilidade prejudicada do BCE

Segundo o ING Group, instituição financeira holandesa, a decisão do BCE de elevar os juros tem o objetivo de reduzir as expectativas de inflação e restaurar a prejudicada reputação e credibilidade da autoridade monetária no combate à inflação recorde da zona do euro.

“Todos sabemos que o aumento de juros de hoje não vai reduzir a inflação no curto prazo, nem mesmo no lado da demanda da economia, que irá reagir muito mais à recessão no horizonte do que a qualquer ação do BCE”, diz o banco holandês em nota a clientes.

Para o ING, o anúncio de hoje mostra que o BCE “está mais preocupado com sua credibilidade do que em ser previsível”.

O Banco Central Europeu (BCE) elevou seus juros básicos em 0,5 ponto percentual, no primeiro aumento desde 2011, em uma tentativa de conter a disparada da inflação na zona do euro, após concluir reunião de política monetária nesta quinta-feira, 21.

O BCE aumentou sua taxa de depósitos de -0,50% para 0%, a de refinanciamento de 0% para 0,50%, e a de empréstimos de 0,25% a 0,75%. A maior parte dos analistas previa ajuste de 0,25 ponto percentual, mas não descartava possibilidade de uma elevação mais agressiva.

A autoridade monetária havia sinalizado que aumentaria as taxas em 0,25 ponto percentual neste encontro, mas a instituição disse ter optado por uma elevação mais agressiva por conta dos riscos inflacionários e do estabelecimento do Instrumento de Proteção de Transmissão (TPI, na sigla em inglês), para conter a divergência nos custos de empréstimos do bloco.

Em junho, a taxa anual de inflação ao consumidor da zona do euro atingiu o nível recorde de 8,6%, ainda impulsionada pelos efeitos da guerra da Rússia na Ucrânia.

No comunicado sobre a decisão, o BCE indicou que novos aumentos ocorrerão nas próximas reuniões, com objetivo de acelerar o retorno da inflação na zona do euro à meta de 2%.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, Alemanha; Essa é a primeira vez desde 2011 que o Banco Central Europeu eleva a taxa de juros  Foto: Reuters

Na avaliação da Capital Economics, consultoria de pesquisa econômica de Londres, o BCE deve subir a taxa de depósito, atualmente em 0%, para cerca de 2,0% no próximo ano. A consultoria acredita, ainda, “que o Banco terá que usar seu novo programa de compra de ativos para evitar outra crise na zona do euro”.

O banco americano Wells Fargo prevê que a taxa de depósito será elevada a 1,00% até o fim deste ano. A instituição acredita que o BCE voltará a subir os juros básicos em meio ponto porcentual na sua próxima reunião monetária, marcada para setembro.

Com a inflação persistentemente alta na zona do euro, o crescimento econômico terá de desacelerar muito mais para que o BCE pause o aperto monetário, argumenta o Wells Fargo.

“Nesse contexto, também projetamos aumentos de 25 pontos-base nas reuniões de outubro e dezembro, o que levaria a taxa de depósito para 1,00% até o final de 2022″, resume. Este nível deve ser o pico do atual ciclo de aperto, já que a inflação deve desacelerar em 2023, bem como o crescimento. Desta forma, o BCE deve manter os juros na maior parte de 2023, ou mesmo em todo o ano que vem, completa o Wells Fargo.

Sinal amarelo sobre inflação

Segundo avaliação do banco Morgan Stanley, o aumento de juros sinaliza as preocupações da autoridade monetária europeia sobre a rápida subida da inflação e a falta de ancoragem das expectativas de alta dos preços no continente.

“A decisão de hoje foi provavelmente motivada pela percepção de um risco crescente de um overshoot de médio prazo na inflação, e potencialmente também influenciada pelas significativas surpresas de alta da inflação observadas nos últimos meses”, analisa o Morgan Stanley.

Christine Lagarde, presidente do BCE, afirmou que a inflação na zona do euro está “indesejavelmente alta” e deve permanecer acima da meta de 2% por “algum tempo”. Lagarde explicou que a maior parte dos componentes do núcleo inflacionário subiu.

Segundo ela, os preços globais de energia devem permanecer elevados no curto prazo, o que agrava o quadro geral. Persistentes gargalos na cadeia produtiva e o enfraquecimento do euro também foram citados como responsáveis pela tendência.

“Mas olhando mais à frente, na ausência de novas rupturas, os custos de energia devem se estabilizar e os gargalos de oferta devem diminuir, o que, juntamente com a normalização da política em curso, deve apoiar o retorno da inflação à nossa meta”, assegurou.

A dirigente acrescentou que o mercado de trabalho permanece forte e que, apesar de um aceleração gradual nos últimos meses, o crescimento dos salários segue “contido”. “A maioria das medidas das expectativas de inflação a mais longo prazo situa-se atualmente em cerca de 2%, embora as recentes revisões acima da meta de alguns indicadores justifiquem um monitoramento contínuo”, disse.

Economia em desaceleração

Christine Lagarde afirmou, ainda, que a economia da zona do euro está em desaceleração, diante da contínua pressão exercida pela guerra russa na Ucrânia.

Em coletiva de imprensa, Lagarde disse que um prolongamento do conflito é um “risco significativo” à atividade econômica na região, sobretudo se houver racionamento de energia em meio à redução do fornecimento de gás da Rússia.

“A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado”, disse ela, que chamou atenção para a possibilidade de enfraquecimento do crescimento global.

Reunião a reunião

Segundo o BCE, o ajuste mais contundente logo no início do ciclo de aperto permitirá que o banco central faça uma transição posterior a um modelo de decisão por cada reunião. “No contexto da normalização da sua política, o Conselho do BCE avaliará as opções para remunerar os excessos de liquidez”, disse.

Para a Capital Economics, a abordagem “reunião por reunião” para decisões sobre taxas de juros foi adotada presumivelmente para evitar falhas de comunicação no futuro.

O banco Morgan Stanley também nota que a linguagem introduzida na reunião de junho foi alterada para reforçar a noção de dependência de dados de aumentos futuros: “A antecipação hoje da saída das taxas de juros negativas permite que o Conselho do BCE faça uma transição para uma abordagem reunião a reunião das decisões sobre as taxas de juro”, avalia.

O banco ressalta que a futura trajetória da taxa de política do Conselho do BCE continuará a depender dos dados, o que ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo.

Credibilidade prejudicada do BCE

Segundo o ING Group, instituição financeira holandesa, a decisão do BCE de elevar os juros tem o objetivo de reduzir as expectativas de inflação e restaurar a prejudicada reputação e credibilidade da autoridade monetária no combate à inflação recorde da zona do euro.

“Todos sabemos que o aumento de juros de hoje não vai reduzir a inflação no curto prazo, nem mesmo no lado da demanda da economia, que irá reagir muito mais à recessão no horizonte do que a qualquer ação do BCE”, diz o banco holandês em nota a clientes.

Para o ING, o anúncio de hoje mostra que o BCE “está mais preocupado com sua credibilidade do que em ser previsível”.

O Banco Central Europeu (BCE) elevou seus juros básicos em 0,5 ponto percentual, no primeiro aumento desde 2011, em uma tentativa de conter a disparada da inflação na zona do euro, após concluir reunião de política monetária nesta quinta-feira, 21.

O BCE aumentou sua taxa de depósitos de -0,50% para 0%, a de refinanciamento de 0% para 0,50%, e a de empréstimos de 0,25% a 0,75%. A maior parte dos analistas previa ajuste de 0,25 ponto percentual, mas não descartava possibilidade de uma elevação mais agressiva.

A autoridade monetária havia sinalizado que aumentaria as taxas em 0,25 ponto percentual neste encontro, mas a instituição disse ter optado por uma elevação mais agressiva por conta dos riscos inflacionários e do estabelecimento do Instrumento de Proteção de Transmissão (TPI, na sigla em inglês), para conter a divergência nos custos de empréstimos do bloco.

Em junho, a taxa anual de inflação ao consumidor da zona do euro atingiu o nível recorde de 8,6%, ainda impulsionada pelos efeitos da guerra da Rússia na Ucrânia.

No comunicado sobre a decisão, o BCE indicou que novos aumentos ocorrerão nas próximas reuniões, com objetivo de acelerar o retorno da inflação na zona do euro à meta de 2%.

Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt, Alemanha; Essa é a primeira vez desde 2011 que o Banco Central Europeu eleva a taxa de juros  Foto: Reuters

Na avaliação da Capital Economics, consultoria de pesquisa econômica de Londres, o BCE deve subir a taxa de depósito, atualmente em 0%, para cerca de 2,0% no próximo ano. A consultoria acredita, ainda, “que o Banco terá que usar seu novo programa de compra de ativos para evitar outra crise na zona do euro”.

O banco americano Wells Fargo prevê que a taxa de depósito será elevada a 1,00% até o fim deste ano. A instituição acredita que o BCE voltará a subir os juros básicos em meio ponto porcentual na sua próxima reunião monetária, marcada para setembro.

Com a inflação persistentemente alta na zona do euro, o crescimento econômico terá de desacelerar muito mais para que o BCE pause o aperto monetário, argumenta o Wells Fargo.

“Nesse contexto, também projetamos aumentos de 25 pontos-base nas reuniões de outubro e dezembro, o que levaria a taxa de depósito para 1,00% até o final de 2022″, resume. Este nível deve ser o pico do atual ciclo de aperto, já que a inflação deve desacelerar em 2023, bem como o crescimento. Desta forma, o BCE deve manter os juros na maior parte de 2023, ou mesmo em todo o ano que vem, completa o Wells Fargo.

Sinal amarelo sobre inflação

Segundo avaliação do banco Morgan Stanley, o aumento de juros sinaliza as preocupações da autoridade monetária europeia sobre a rápida subida da inflação e a falta de ancoragem das expectativas de alta dos preços no continente.

“A decisão de hoje foi provavelmente motivada pela percepção de um risco crescente de um overshoot de médio prazo na inflação, e potencialmente também influenciada pelas significativas surpresas de alta da inflação observadas nos últimos meses”, analisa o Morgan Stanley.

Christine Lagarde, presidente do BCE, afirmou que a inflação na zona do euro está “indesejavelmente alta” e deve permanecer acima da meta de 2% por “algum tempo”. Lagarde explicou que a maior parte dos componentes do núcleo inflacionário subiu.

Segundo ela, os preços globais de energia devem permanecer elevados no curto prazo, o que agrava o quadro geral. Persistentes gargalos na cadeia produtiva e o enfraquecimento do euro também foram citados como responsáveis pela tendência.

“Mas olhando mais à frente, na ausência de novas rupturas, os custos de energia devem se estabilizar e os gargalos de oferta devem diminuir, o que, juntamente com a normalização da política em curso, deve apoiar o retorno da inflação à nossa meta”, assegurou.

A dirigente acrescentou que o mercado de trabalho permanece forte e que, apesar de um aceleração gradual nos últimos meses, o crescimento dos salários segue “contido”. “A maioria das medidas das expectativas de inflação a mais longo prazo situa-se atualmente em cerca de 2%, embora as recentes revisões acima da meta de alguns indicadores justifiquem um monitoramento contínuo”, disse.

Economia em desaceleração

Christine Lagarde afirmou, ainda, que a economia da zona do euro está em desaceleração, diante da contínua pressão exercida pela guerra russa na Ucrânia.

Em coletiva de imprensa, Lagarde disse que um prolongamento do conflito é um “risco significativo” à atividade econômica na região, sobretudo se houver racionamento de energia em meio à redução do fornecimento de gás da Rússia.

“A guerra também pode pressionar a confiança e agravar gargalos de oferta, ao mesmo tempo em que os custos de energia e alimentos podem ficar persistentemente mais altos do que o esperado”, disse ela, que chamou atenção para a possibilidade de enfraquecimento do crescimento global.

Reunião a reunião

Segundo o BCE, o ajuste mais contundente logo no início do ciclo de aperto permitirá que o banco central faça uma transição posterior a um modelo de decisão por cada reunião. “No contexto da normalização da sua política, o Conselho do BCE avaliará as opções para remunerar os excessos de liquidez”, disse.

Para a Capital Economics, a abordagem “reunião por reunião” para decisões sobre taxas de juros foi adotada presumivelmente para evitar falhas de comunicação no futuro.

O banco Morgan Stanley também nota que a linguagem introduzida na reunião de junho foi alterada para reforçar a noção de dependência de dados de aumentos futuros: “A antecipação hoje da saída das taxas de juros negativas permite que o Conselho do BCE faça uma transição para uma abordagem reunião a reunião das decisões sobre as taxas de juro”, avalia.

O banco ressalta que a futura trajetória da taxa de política do Conselho do BCE continuará a depender dos dados, o que ajudará a cumprir o objetivo de inflação de 2% a médio prazo.

Credibilidade prejudicada do BCE

Segundo o ING Group, instituição financeira holandesa, a decisão do BCE de elevar os juros tem o objetivo de reduzir as expectativas de inflação e restaurar a prejudicada reputação e credibilidade da autoridade monetária no combate à inflação recorde da zona do euro.

“Todos sabemos que o aumento de juros de hoje não vai reduzir a inflação no curto prazo, nem mesmo no lado da demanda da economia, que irá reagir muito mais à recessão no horizonte do que a qualquer ação do BCE”, diz o banco holandês em nota a clientes.

Para o ING, o anúncio de hoje mostra que o BCE “está mais preocupado com sua credibilidade do que em ser previsível”.

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