Conta de luz mais cara coloca em risco meta de inflação. Como isso vai afetar os rumos da Selic?


Com a cobrança da bandeira tarifária vermelha 2, parte dos analistas projeta que o IPCA deve encerrar o ano muito próximo do teto da meta, que é de 4,5%, ou até mesmo acima desse limite

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A cobrança da bandeira tarifária vermelha 2 na conta de energia elétrica se transformou em mais um ingrediente de dificuldade para o Banco Central conseguir colocar a inflação no centro da meta. Hoje, parte dos analistas projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) encerre o ano muito próximo do teto da meta perseguida pelo BC, que é de 4,5%, ou até mesmo acima desse limite.

Na sexta-feira, 30, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de setembro por causa da previsão de chuvas abaixo da média. Isso não ocorria desde meados de 2021, quando o País enfrentou uma crise hídrica. A mudança resulta num acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

A conta de luz mais cara reforçou um cenário que já vinha ganhando força nas últimas semanas, de que o Banco Central pode ter de voltar a aumentar a taxa básica de juros para domar as expectativas de inflação. Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 17 e 18 de setembro.

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“A bandeira vermelha deve trazer um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA de setembro”, diz Sergio Vale, economista chefe da MB Associados. “Mesmo que volte à bandeira amarela no final do ano, o risco é de o IPCA bater no teto este ano. Estamos com (uma previsão de inflação de) 4,5% agora.” A consultoria avalia que o BC deve promover dois aumentos de juros de 0,5 ponto ainda neste ano, levando a Selic para 11,5% ao ano.

Parte do mercado avalia que Banco Central terá de subir os juros  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em 2024, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. No caso do estouro do teto dessa meta, o Banco Central precisará escrever uma carta para explicar os motivos do descumprimento. Seria a terceira vez em que o teto estouraria nos últimos anos - já ficou acima do limite máximo em 2021 e 2022.

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No cenário da Warren Investimentos, o IPCA deve terminar 2024 em 4,55%, portanto ligeiramente acima do teto da meta. Por ora, a expectativa da gestora é a de que a bandeira vermelha 2 siga nos meses de setembro e outubro, mas em novembro e dezembro, no período das chuvas, a amarela vigore. “Se a bandeira for vermelha (em dezembro), a inflação irá para 4,87%”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren.

A cobrança de uma tarifa extra na conta de luz é mais um componente num cenário inflacionário que se revelou mais difícil do que o esperado. No primeiro relatório Focus deste ano, por exemplo, os analistas consultados pela pesquisa semanal do BC projetavam uma inflação de 3,90% em 2024. A previsão para 2025, por sua vez, subiu de 3,50% em janeiro para 3,92% agora.

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A conjuntura ficou mais delicada diante das incertezas com a política fiscal local e o cenário externo, que levaram o câmbio para um novo patamar, de R$ 5,60. O real mais depreciado afetou os preços de bens industriais, como os eletroeletrônicos. Além disso, a economia brasileira está num ritmo mais forte do que o previsto, com um crescimento robusto e um mercado de trabalho apertado, o que afeta os preços dos serviços.

E essa força ficou evidente no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% na comparação com os três primeiros meses de 2024. Novamente, o resultado veio melhor do que o esperado pelos economistas e colocou a projeção para o crescimento deste ano perto de 3%.

“Eu acho que tem um caso muito sólido para subir o juro, inclusive depois do número do PIB (do segundo trimestre). E não é só isso: olha o mercado de trabalho, a utilização de capacidade ociosa e o que está acontecendo com o câmbio. Tudo isso aponta para uma política monetária mais restritiva para o que a gente tem hoje. Não sei o BC vai fazer. Gostaria de acreditar que sim. A ver”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

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Mais juros

Com as projeções de inflação crescendo tanto para 2024 como para 2025, uma parte relevante do mercado começou a apostar na alta dos juros. Na terça-feira, 3, o Citi passou a prever alta de 0,25 ponto percentual da Selic nas próximas quatro reuniões do Copom. O banco estima que a taxa básica de juro deve encerrar este ano em 11,25% e 11% em 2025.

“Dadas as previsões de inflação acima da meta, a persistente deterioração das expectativas de inflação e da taxa de câmbio, o descompasso entre demanda e oferta na atividade e no mercado de trabalho, um aumento da taxa de juros parece ser o cenário mais provável”, disse o banco em relatório.

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No cenário de hoje, a grande dificuldade é que o Banco Central parece solitário no combate à inflação. Com uma política fiscal expansionista - ou seja, com o governo gastando muito mais do que arrecada - numa economia já aquecida, uma eventual alta de juros vai encarecer o crédito para famílias e empresas, buscando diminuir o ritmo da atividade econômica e, assim, melhorar os números da inflação.

“O grande piloto da economia vai ter de ser o BC”, diz Andrea, da Warren. “Quando não tem um compasso entre a política fiscal e monetária, alguém tem de pagar a conta para tentar equilibrar as forças. E, nesse caso, nós entendemos que é via juro.” O cenário da Warren, porém, é de que a Selic vai permanecer estável, porque a economia brasileira deve arrefecer com o menor impulso fiscal na segunda metade do ano.

A cobrança da bandeira tarifária vermelha 2 na conta de energia elétrica se transformou em mais um ingrediente de dificuldade para o Banco Central conseguir colocar a inflação no centro da meta. Hoje, parte dos analistas projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) encerre o ano muito próximo do teto da meta perseguida pelo BC, que é de 4,5%, ou até mesmo acima desse limite.

Na sexta-feira, 30, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de setembro por causa da previsão de chuvas abaixo da média. Isso não ocorria desde meados de 2021, quando o País enfrentou uma crise hídrica. A mudança resulta num acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

A conta de luz mais cara reforçou um cenário que já vinha ganhando força nas últimas semanas, de que o Banco Central pode ter de voltar a aumentar a taxa básica de juros para domar as expectativas de inflação. Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 17 e 18 de setembro.

“A bandeira vermelha deve trazer um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA de setembro”, diz Sergio Vale, economista chefe da MB Associados. “Mesmo que volte à bandeira amarela no final do ano, o risco é de o IPCA bater no teto este ano. Estamos com (uma previsão de inflação de) 4,5% agora.” A consultoria avalia que o BC deve promover dois aumentos de juros de 0,5 ponto ainda neste ano, levando a Selic para 11,5% ao ano.

Parte do mercado avalia que Banco Central terá de subir os juros  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em 2024, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. No caso do estouro do teto dessa meta, o Banco Central precisará escrever uma carta para explicar os motivos do descumprimento. Seria a terceira vez em que o teto estouraria nos últimos anos - já ficou acima do limite máximo em 2021 e 2022.

No cenário da Warren Investimentos, o IPCA deve terminar 2024 em 4,55%, portanto ligeiramente acima do teto da meta. Por ora, a expectativa da gestora é a de que a bandeira vermelha 2 siga nos meses de setembro e outubro, mas em novembro e dezembro, no período das chuvas, a amarela vigore. “Se a bandeira for vermelha (em dezembro), a inflação irá para 4,87%”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren.

A cobrança de uma tarifa extra na conta de luz é mais um componente num cenário inflacionário que se revelou mais difícil do que o esperado. No primeiro relatório Focus deste ano, por exemplo, os analistas consultados pela pesquisa semanal do BC projetavam uma inflação de 3,90% em 2024. A previsão para 2025, por sua vez, subiu de 3,50% em janeiro para 3,92% agora.

A conjuntura ficou mais delicada diante das incertezas com a política fiscal local e o cenário externo, que levaram o câmbio para um novo patamar, de R$ 5,60. O real mais depreciado afetou os preços de bens industriais, como os eletroeletrônicos. Além disso, a economia brasileira está num ritmo mais forte do que o previsto, com um crescimento robusto e um mercado de trabalho apertado, o que afeta os preços dos serviços.

E essa força ficou evidente no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% na comparação com os três primeiros meses de 2024. Novamente, o resultado veio melhor do que o esperado pelos economistas e colocou a projeção para o crescimento deste ano perto de 3%.

“Eu acho que tem um caso muito sólido para subir o juro, inclusive depois do número do PIB (do segundo trimestre). E não é só isso: olha o mercado de trabalho, a utilização de capacidade ociosa e o que está acontecendo com o câmbio. Tudo isso aponta para uma política monetária mais restritiva para o que a gente tem hoje. Não sei o BC vai fazer. Gostaria de acreditar que sim. A ver”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Mais juros

Com as projeções de inflação crescendo tanto para 2024 como para 2025, uma parte relevante do mercado começou a apostar na alta dos juros. Na terça-feira, 3, o Citi passou a prever alta de 0,25 ponto percentual da Selic nas próximas quatro reuniões do Copom. O banco estima que a taxa básica de juro deve encerrar este ano em 11,25% e 11% em 2025.

“Dadas as previsões de inflação acima da meta, a persistente deterioração das expectativas de inflação e da taxa de câmbio, o descompasso entre demanda e oferta na atividade e no mercado de trabalho, um aumento da taxa de juros parece ser o cenário mais provável”, disse o banco em relatório.

No cenário de hoje, a grande dificuldade é que o Banco Central parece solitário no combate à inflação. Com uma política fiscal expansionista - ou seja, com o governo gastando muito mais do que arrecada - numa economia já aquecida, uma eventual alta de juros vai encarecer o crédito para famílias e empresas, buscando diminuir o ritmo da atividade econômica e, assim, melhorar os números da inflação.

“O grande piloto da economia vai ter de ser o BC”, diz Andrea, da Warren. “Quando não tem um compasso entre a política fiscal e monetária, alguém tem de pagar a conta para tentar equilibrar as forças. E, nesse caso, nós entendemos que é via juro.” O cenário da Warren, porém, é de que a Selic vai permanecer estável, porque a economia brasileira deve arrefecer com o menor impulso fiscal na segunda metade do ano.

A cobrança da bandeira tarifária vermelha 2 na conta de energia elétrica se transformou em mais um ingrediente de dificuldade para o Banco Central conseguir colocar a inflação no centro da meta. Hoje, parte dos analistas projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) encerre o ano muito próximo do teto da meta perseguida pelo BC, que é de 4,5%, ou até mesmo acima desse limite.

Na sexta-feira, 30, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de setembro por causa da previsão de chuvas abaixo da média. Isso não ocorria desde meados de 2021, quando o País enfrentou uma crise hídrica. A mudança resulta num acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

A conta de luz mais cara reforçou um cenário que já vinha ganhando força nas últimas semanas, de que o Banco Central pode ter de voltar a aumentar a taxa básica de juros para domar as expectativas de inflação. Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 17 e 18 de setembro.

“A bandeira vermelha deve trazer um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA de setembro”, diz Sergio Vale, economista chefe da MB Associados. “Mesmo que volte à bandeira amarela no final do ano, o risco é de o IPCA bater no teto este ano. Estamos com (uma previsão de inflação de) 4,5% agora.” A consultoria avalia que o BC deve promover dois aumentos de juros de 0,5 ponto ainda neste ano, levando a Selic para 11,5% ao ano.

Parte do mercado avalia que Banco Central terá de subir os juros  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em 2024, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. No caso do estouro do teto dessa meta, o Banco Central precisará escrever uma carta para explicar os motivos do descumprimento. Seria a terceira vez em que o teto estouraria nos últimos anos - já ficou acima do limite máximo em 2021 e 2022.

No cenário da Warren Investimentos, o IPCA deve terminar 2024 em 4,55%, portanto ligeiramente acima do teto da meta. Por ora, a expectativa da gestora é a de que a bandeira vermelha 2 siga nos meses de setembro e outubro, mas em novembro e dezembro, no período das chuvas, a amarela vigore. “Se a bandeira for vermelha (em dezembro), a inflação irá para 4,87%”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren.

A cobrança de uma tarifa extra na conta de luz é mais um componente num cenário inflacionário que se revelou mais difícil do que o esperado. No primeiro relatório Focus deste ano, por exemplo, os analistas consultados pela pesquisa semanal do BC projetavam uma inflação de 3,90% em 2024. A previsão para 2025, por sua vez, subiu de 3,50% em janeiro para 3,92% agora.

A conjuntura ficou mais delicada diante das incertezas com a política fiscal local e o cenário externo, que levaram o câmbio para um novo patamar, de R$ 5,60. O real mais depreciado afetou os preços de bens industriais, como os eletroeletrônicos. Além disso, a economia brasileira está num ritmo mais forte do que o previsto, com um crescimento robusto e um mercado de trabalho apertado, o que afeta os preços dos serviços.

E essa força ficou evidente no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% na comparação com os três primeiros meses de 2024. Novamente, o resultado veio melhor do que o esperado pelos economistas e colocou a projeção para o crescimento deste ano perto de 3%.

“Eu acho que tem um caso muito sólido para subir o juro, inclusive depois do número do PIB (do segundo trimestre). E não é só isso: olha o mercado de trabalho, a utilização de capacidade ociosa e o que está acontecendo com o câmbio. Tudo isso aponta para uma política monetária mais restritiva para o que a gente tem hoje. Não sei o BC vai fazer. Gostaria de acreditar que sim. A ver”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Mais juros

Com as projeções de inflação crescendo tanto para 2024 como para 2025, uma parte relevante do mercado começou a apostar na alta dos juros. Na terça-feira, 3, o Citi passou a prever alta de 0,25 ponto percentual da Selic nas próximas quatro reuniões do Copom. O banco estima que a taxa básica de juro deve encerrar este ano em 11,25% e 11% em 2025.

“Dadas as previsões de inflação acima da meta, a persistente deterioração das expectativas de inflação e da taxa de câmbio, o descompasso entre demanda e oferta na atividade e no mercado de trabalho, um aumento da taxa de juros parece ser o cenário mais provável”, disse o banco em relatório.

No cenário de hoje, a grande dificuldade é que o Banco Central parece solitário no combate à inflação. Com uma política fiscal expansionista - ou seja, com o governo gastando muito mais do que arrecada - numa economia já aquecida, uma eventual alta de juros vai encarecer o crédito para famílias e empresas, buscando diminuir o ritmo da atividade econômica e, assim, melhorar os números da inflação.

“O grande piloto da economia vai ter de ser o BC”, diz Andrea, da Warren. “Quando não tem um compasso entre a política fiscal e monetária, alguém tem de pagar a conta para tentar equilibrar as forças. E, nesse caso, nós entendemos que é via juro.” O cenário da Warren, porém, é de que a Selic vai permanecer estável, porque a economia brasileira deve arrefecer com o menor impulso fiscal na segunda metade do ano.

A cobrança da bandeira tarifária vermelha 2 na conta de energia elétrica se transformou em mais um ingrediente de dificuldade para o Banco Central conseguir colocar a inflação no centro da meta. Hoje, parte dos analistas projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) encerre o ano muito próximo do teto da meta perseguida pelo BC, que é de 4,5%, ou até mesmo acima desse limite.

Na sexta-feira, 30, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de setembro por causa da previsão de chuvas abaixo da média. Isso não ocorria desde meados de 2021, quando o País enfrentou uma crise hídrica. A mudança resulta num acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

A conta de luz mais cara reforçou um cenário que já vinha ganhando força nas últimas semanas, de que o Banco Central pode ter de voltar a aumentar a taxa básica de juros para domar as expectativas de inflação. Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 17 e 18 de setembro.

“A bandeira vermelha deve trazer um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA de setembro”, diz Sergio Vale, economista chefe da MB Associados. “Mesmo que volte à bandeira amarela no final do ano, o risco é de o IPCA bater no teto este ano. Estamos com (uma previsão de inflação de) 4,5% agora.” A consultoria avalia que o BC deve promover dois aumentos de juros de 0,5 ponto ainda neste ano, levando a Selic para 11,5% ao ano.

Parte do mercado avalia que Banco Central terá de subir os juros  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em 2024, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. No caso do estouro do teto dessa meta, o Banco Central precisará escrever uma carta para explicar os motivos do descumprimento. Seria a terceira vez em que o teto estouraria nos últimos anos - já ficou acima do limite máximo em 2021 e 2022.

No cenário da Warren Investimentos, o IPCA deve terminar 2024 em 4,55%, portanto ligeiramente acima do teto da meta. Por ora, a expectativa da gestora é a de que a bandeira vermelha 2 siga nos meses de setembro e outubro, mas em novembro e dezembro, no período das chuvas, a amarela vigore. “Se a bandeira for vermelha (em dezembro), a inflação irá para 4,87%”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren.

A cobrança de uma tarifa extra na conta de luz é mais um componente num cenário inflacionário que se revelou mais difícil do que o esperado. No primeiro relatório Focus deste ano, por exemplo, os analistas consultados pela pesquisa semanal do BC projetavam uma inflação de 3,90% em 2024. A previsão para 2025, por sua vez, subiu de 3,50% em janeiro para 3,92% agora.

A conjuntura ficou mais delicada diante das incertezas com a política fiscal local e o cenário externo, que levaram o câmbio para um novo patamar, de R$ 5,60. O real mais depreciado afetou os preços de bens industriais, como os eletroeletrônicos. Além disso, a economia brasileira está num ritmo mais forte do que o previsto, com um crescimento robusto e um mercado de trabalho apertado, o que afeta os preços dos serviços.

E essa força ficou evidente no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% na comparação com os três primeiros meses de 2024. Novamente, o resultado veio melhor do que o esperado pelos economistas e colocou a projeção para o crescimento deste ano perto de 3%.

“Eu acho que tem um caso muito sólido para subir o juro, inclusive depois do número do PIB (do segundo trimestre). E não é só isso: olha o mercado de trabalho, a utilização de capacidade ociosa e o que está acontecendo com o câmbio. Tudo isso aponta para uma política monetária mais restritiva para o que a gente tem hoje. Não sei o BC vai fazer. Gostaria de acreditar que sim. A ver”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Mais juros

Com as projeções de inflação crescendo tanto para 2024 como para 2025, uma parte relevante do mercado começou a apostar na alta dos juros. Na terça-feira, 3, o Citi passou a prever alta de 0,25 ponto percentual da Selic nas próximas quatro reuniões do Copom. O banco estima que a taxa básica de juro deve encerrar este ano em 11,25% e 11% em 2025.

“Dadas as previsões de inflação acima da meta, a persistente deterioração das expectativas de inflação e da taxa de câmbio, o descompasso entre demanda e oferta na atividade e no mercado de trabalho, um aumento da taxa de juros parece ser o cenário mais provável”, disse o banco em relatório.

No cenário de hoje, a grande dificuldade é que o Banco Central parece solitário no combate à inflação. Com uma política fiscal expansionista - ou seja, com o governo gastando muito mais do que arrecada - numa economia já aquecida, uma eventual alta de juros vai encarecer o crédito para famílias e empresas, buscando diminuir o ritmo da atividade econômica e, assim, melhorar os números da inflação.

“O grande piloto da economia vai ter de ser o BC”, diz Andrea, da Warren. “Quando não tem um compasso entre a política fiscal e monetária, alguém tem de pagar a conta para tentar equilibrar as forças. E, nesse caso, nós entendemos que é via juro.” O cenário da Warren, porém, é de que a Selic vai permanecer estável, porque a economia brasileira deve arrefecer com o menor impulso fiscal na segunda metade do ano.

A cobrança da bandeira tarifária vermelha 2 na conta de energia elétrica se transformou em mais um ingrediente de dificuldade para o Banco Central conseguir colocar a inflação no centro da meta. Hoje, parte dos analistas projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumido Amplo (IPCA) encerre o ano muito próximo do teto da meta perseguida pelo BC, que é de 4,5%, ou até mesmo acima desse limite.

Na sexta-feira, 30, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) anunciou o acionamento da bandeira tarifária vermelha patamar 2 para o mês de setembro por causa da previsão de chuvas abaixo da média. Isso não ocorria desde meados de 2021, quando o País enfrentou uma crise hídrica. A mudança resulta num acréscimo de R$ 7,877 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

A conta de luz mais cara reforçou um cenário que já vinha ganhando força nas últimas semanas, de que o Banco Central pode ter de voltar a aumentar a taxa básica de juros para domar as expectativas de inflação. Atualmente, a Selic está em 10,5% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 17 e 18 de setembro.

“A bandeira vermelha deve trazer um impacto de 0,4 ponto percentual no IPCA de setembro”, diz Sergio Vale, economista chefe da MB Associados. “Mesmo que volte à bandeira amarela no final do ano, o risco é de o IPCA bater no teto este ano. Estamos com (uma previsão de inflação de) 4,5% agora.” A consultoria avalia que o BC deve promover dois aumentos de juros de 0,5 ponto ainda neste ano, levando a Selic para 11,5% ao ano.

Parte do mercado avalia que Banco Central terá de subir os juros  Foto: Wilton Junior/Estadão

Em 2024, a meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. No caso do estouro do teto dessa meta, o Banco Central precisará escrever uma carta para explicar os motivos do descumprimento. Seria a terceira vez em que o teto estouraria nos últimos anos - já ficou acima do limite máximo em 2021 e 2022.

No cenário da Warren Investimentos, o IPCA deve terminar 2024 em 4,55%, portanto ligeiramente acima do teto da meta. Por ora, a expectativa da gestora é a de que a bandeira vermelha 2 siga nos meses de setembro e outubro, mas em novembro e dezembro, no período das chuvas, a amarela vigore. “Se a bandeira for vermelha (em dezembro), a inflação irá para 4,87%”, diz Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren.

A cobrança de uma tarifa extra na conta de luz é mais um componente num cenário inflacionário que se revelou mais difícil do que o esperado. No primeiro relatório Focus deste ano, por exemplo, os analistas consultados pela pesquisa semanal do BC projetavam uma inflação de 3,90% em 2024. A previsão para 2025, por sua vez, subiu de 3,50% em janeiro para 3,92% agora.

A conjuntura ficou mais delicada diante das incertezas com a política fiscal local e o cenário externo, que levaram o câmbio para um novo patamar, de R$ 5,60. O real mais depreciado afetou os preços de bens industriais, como os eletroeletrônicos. Além disso, a economia brasileira está num ritmo mais forte do que o previsto, com um crescimento robusto e um mercado de trabalho apertado, o que afeta os preços dos serviços.

E essa força ficou evidente no segundo trimestre. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% na comparação com os três primeiros meses de 2024. Novamente, o resultado veio melhor do que o esperado pelos economistas e colocou a projeção para o crescimento deste ano perto de 3%.

“Eu acho que tem um caso muito sólido para subir o juro, inclusive depois do número do PIB (do segundo trimestre). E não é só isso: olha o mercado de trabalho, a utilização de capacidade ociosa e o que está acontecendo com o câmbio. Tudo isso aponta para uma política monetária mais restritiva para o que a gente tem hoje. Não sei o BC vai fazer. Gostaria de acreditar que sim. A ver”, diz Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central.

Mais juros

Com as projeções de inflação crescendo tanto para 2024 como para 2025, uma parte relevante do mercado começou a apostar na alta dos juros. Na terça-feira, 3, o Citi passou a prever alta de 0,25 ponto percentual da Selic nas próximas quatro reuniões do Copom. O banco estima que a taxa básica de juro deve encerrar este ano em 11,25% e 11% em 2025.

“Dadas as previsões de inflação acima da meta, a persistente deterioração das expectativas de inflação e da taxa de câmbio, o descompasso entre demanda e oferta na atividade e no mercado de trabalho, um aumento da taxa de juros parece ser o cenário mais provável”, disse o banco em relatório.

No cenário de hoje, a grande dificuldade é que o Banco Central parece solitário no combate à inflação. Com uma política fiscal expansionista - ou seja, com o governo gastando muito mais do que arrecada - numa economia já aquecida, uma eventual alta de juros vai encarecer o crédito para famílias e empresas, buscando diminuir o ritmo da atividade econômica e, assim, melhorar os números da inflação.

“O grande piloto da economia vai ter de ser o BC”, diz Andrea, da Warren. “Quando não tem um compasso entre a política fiscal e monetária, alguém tem de pagar a conta para tentar equilibrar as forças. E, nesse caso, nós entendemos que é via juro.” O cenário da Warren, porém, é de que a Selic vai permanecer estável, porque a economia brasileira deve arrefecer com o menor impulso fiscal na segunda metade do ano.

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