Análise|BC ameaça subir os juros, mas é prudente ao ganhar tempo em meio à escalada do risco global


Ata do Copom enfatiza que Banco Central ‘não hesitará' em subir a Selic, dá recado ao governo sobre o risco fiscal, mas diz que precisa acompanhar o cenário para decidir o que fazer com os juros

Por Alvaro Gribel

BRASÍLIA - O cenário de turbulência no mercado financeiro mundial nos últimos pregões jogou a favor do Banco Central brasileiro, que endureceu mais uma vez o tom na Ata do Copom divulgada na manhã desta quarta-feira, 6, mas pediu mais tempo para decidir o que fazer.

O BC foi enfático em dizer que “não hesitará” em subir a Selic, em caso de piora do cenário, mas também afirmou que não há estratégia definida, e que pode também simplesmente manter os juros em 10,5% por tempo prolongado.

De um jeito ou de outro, o tom foi mais duro em relação ao comunicado da reunião na semana passada, e isso será importante para que o BC ganhe mais credibilidade durante as incertezas em torno da transição para a presidência do Banco.

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Os diretores do BC, em reunião do Comitê de Política Monetária Foto: Raphael Ribeiro/BC

Com o risco de recessão nos EUA e a forte volatilidade dos ativos, essa parece ser a estratégia mais adequada até a próxima reunião em setembro. A única certeza, por ora, é que não há previsão de novos cortes da Selic, como defendem vários integrantes do governo Lula. Isso é importante para mostrar que a nova diretoria tem uma visão técnica e que não pretende sucumbir a pressões políticas.

O tamanho da Ata desta reunião já demonstra como o cenário ficou mais desafiador, com sete parágrafos a mais em relação ao texto da reunião de junho. O parágrafo mais importante é o 25, no qual o BC dá os três principais recados: não há cenário fechado sobre o que vai fazer, pode manter a Selic, pode elevar a taxa.

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“(...) o Comitê, unanimemente, avalia que o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras. À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado (...).”

No melhor cenário para a reputação do Banco Central, o simples endurecimento do discurso será suficiente para controlar as expectativas, que estão piorando semana a semana. Com o risco de recessão nos EUA, e a forte volatilidade dos mercados internacionais, economistas que defendiam o aumento da Selic já em setembro serão obrigados a repensar se essa é mesmo a melhor estratégia.

Se a economia americana, de fato, estiver entrando em um ciclo de retração, o Fed (o banco central americano) será obrigado a cortar os juros rapidamente, e isso irá aumentar o diferencial entre a taxa de juros dos EUA e a brasileira. Nesse cenário, portanto, há menos pressão sobre o dólar em relação ao real, e sobre a inflação no Brasil.

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Em seu balanço de riscos para a inflação, o BC também ficou mais pessimista, ao afirmar que “durante as discussões, todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, inclusive com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos”.

Sobre a política fiscal do governo, houve um recado mais duro, com a inclusão nesse parágrafo de que a percepção do mercado em relação às contas públicas está tendo “impacto relevante” sobre os preços dos ativos e as expectativas.

“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas”, diz.

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Com o cenário externo mais duvidoso e com o mercado precificando riscos tanto na política fiscal quanto na política monetária, o BC acerta ao indicar que pode subir a Selic, mas sem se comprometer com qualquer decisão. A volatilidade está extremamente elevada e um passo em qualquer direção pode rapidamente se transformar em um grande equívoco.

Como os juros reais no País permanecem elevados, ninguém poderá, neste momento, acusar o BC de ser leniente com a inflação. O melhor, neste momento, é endurecer o discurso e manter a cautela.

BRASÍLIA - O cenário de turbulência no mercado financeiro mundial nos últimos pregões jogou a favor do Banco Central brasileiro, que endureceu mais uma vez o tom na Ata do Copom divulgada na manhã desta quarta-feira, 6, mas pediu mais tempo para decidir o que fazer.

O BC foi enfático em dizer que “não hesitará” em subir a Selic, em caso de piora do cenário, mas também afirmou que não há estratégia definida, e que pode também simplesmente manter os juros em 10,5% por tempo prolongado.

De um jeito ou de outro, o tom foi mais duro em relação ao comunicado da reunião na semana passada, e isso será importante para que o BC ganhe mais credibilidade durante as incertezas em torno da transição para a presidência do Banco.

Os diretores do BC, em reunião do Comitê de Política Monetária Foto: Raphael Ribeiro/BC

Com o risco de recessão nos EUA e a forte volatilidade dos ativos, essa parece ser a estratégia mais adequada até a próxima reunião em setembro. A única certeza, por ora, é que não há previsão de novos cortes da Selic, como defendem vários integrantes do governo Lula. Isso é importante para mostrar que a nova diretoria tem uma visão técnica e que não pretende sucumbir a pressões políticas.

O tamanho da Ata desta reunião já demonstra como o cenário ficou mais desafiador, com sete parágrafos a mais em relação ao texto da reunião de junho. O parágrafo mais importante é o 25, no qual o BC dá os três principais recados: não há cenário fechado sobre o que vai fazer, pode manter a Selic, pode elevar a taxa.

“(...) o Comitê, unanimemente, avalia que o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras. À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado (...).”

No melhor cenário para a reputação do Banco Central, o simples endurecimento do discurso será suficiente para controlar as expectativas, que estão piorando semana a semana. Com o risco de recessão nos EUA, e a forte volatilidade dos mercados internacionais, economistas que defendiam o aumento da Selic já em setembro serão obrigados a repensar se essa é mesmo a melhor estratégia.

Se a economia americana, de fato, estiver entrando em um ciclo de retração, o Fed (o banco central americano) será obrigado a cortar os juros rapidamente, e isso irá aumentar o diferencial entre a taxa de juros dos EUA e a brasileira. Nesse cenário, portanto, há menos pressão sobre o dólar em relação ao real, e sobre a inflação no Brasil.

Em seu balanço de riscos para a inflação, o BC também ficou mais pessimista, ao afirmar que “durante as discussões, todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, inclusive com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos”.

Sobre a política fiscal do governo, houve um recado mais duro, com a inclusão nesse parágrafo de que a percepção do mercado em relação às contas públicas está tendo “impacto relevante” sobre os preços dos ativos e as expectativas.

“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas”, diz.

Com o cenário externo mais duvidoso e com o mercado precificando riscos tanto na política fiscal quanto na política monetária, o BC acerta ao indicar que pode subir a Selic, mas sem se comprometer com qualquer decisão. A volatilidade está extremamente elevada e um passo em qualquer direção pode rapidamente se transformar em um grande equívoco.

Como os juros reais no País permanecem elevados, ninguém poderá, neste momento, acusar o BC de ser leniente com a inflação. O melhor, neste momento, é endurecer o discurso e manter a cautela.

BRASÍLIA - O cenário de turbulência no mercado financeiro mundial nos últimos pregões jogou a favor do Banco Central brasileiro, que endureceu mais uma vez o tom na Ata do Copom divulgada na manhã desta quarta-feira, 6, mas pediu mais tempo para decidir o que fazer.

O BC foi enfático em dizer que “não hesitará” em subir a Selic, em caso de piora do cenário, mas também afirmou que não há estratégia definida, e que pode também simplesmente manter os juros em 10,5% por tempo prolongado.

De um jeito ou de outro, o tom foi mais duro em relação ao comunicado da reunião na semana passada, e isso será importante para que o BC ganhe mais credibilidade durante as incertezas em torno da transição para a presidência do Banco.

Os diretores do BC, em reunião do Comitê de Política Monetária Foto: Raphael Ribeiro/BC

Com o risco de recessão nos EUA e a forte volatilidade dos ativos, essa parece ser a estratégia mais adequada até a próxima reunião em setembro. A única certeza, por ora, é que não há previsão de novos cortes da Selic, como defendem vários integrantes do governo Lula. Isso é importante para mostrar que a nova diretoria tem uma visão técnica e que não pretende sucumbir a pressões políticas.

O tamanho da Ata desta reunião já demonstra como o cenário ficou mais desafiador, com sete parágrafos a mais em relação ao texto da reunião de junho. O parágrafo mais importante é o 25, no qual o BC dá os três principais recados: não há cenário fechado sobre o que vai fazer, pode manter a Selic, pode elevar a taxa.

“(...) o Comitê, unanimemente, avalia que o momento corrente é de ainda maior cautela e de acompanhamento diligente dos condicionantes da inflação, sem se comprometer com estratégias futuras. À luz desse acompanhamento, o Comitê avaliará a melhor estratégia: de um lado, se a estratégia de manutenção da taxa de juros por um tempo suficientemente longo levará a inflação à meta no horizonte relevante; de outro lado, o Comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado (...).”

No melhor cenário para a reputação do Banco Central, o simples endurecimento do discurso será suficiente para controlar as expectativas, que estão piorando semana a semana. Com o risco de recessão nos EUA, e a forte volatilidade dos mercados internacionais, economistas que defendiam o aumento da Selic já em setembro serão obrigados a repensar se essa é mesmo a melhor estratégia.

Se a economia americana, de fato, estiver entrando em um ciclo de retração, o Fed (o banco central americano) será obrigado a cortar os juros rapidamente, e isso irá aumentar o diferencial entre a taxa de juros dos EUA e a brasileira. Nesse cenário, portanto, há menos pressão sobre o dólar em relação ao real, e sobre a inflação no Brasil.

Em seu balanço de riscos para a inflação, o BC também ficou mais pessimista, ao afirmar que “durante as discussões, todos os membros concordaram que há mais riscos para cima na inflação, inclusive com vários membros enfatizando a assimetria do balanço de riscos”.

Sobre a política fiscal do governo, houve um recado mais duro, com a inclusão nesse parágrafo de que a percepção do mercado em relação às contas públicas está tendo “impacto relevante” sobre os preços dos ativos e as expectativas.

“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas”, diz.

Com o cenário externo mais duvidoso e com o mercado precificando riscos tanto na política fiscal quanto na política monetária, o BC acerta ao indicar que pode subir a Selic, mas sem se comprometer com qualquer decisão. A volatilidade está extremamente elevada e um passo em qualquer direção pode rapidamente se transformar em um grande equívoco.

Como os juros reais no País permanecem elevados, ninguém poderá, neste momento, acusar o BC de ser leniente com a inflação. O melhor, neste momento, é endurecer o discurso e manter a cautela.

Análise por Alvaro Gribel

Repórter especial e colunista do Estadão em Brasília. Há mais de 15 anos acompanha os principais assuntos macroeconômicos no Brasil e no mundo. Foi colunista e coordenador de economia no Globo.

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