Ata do Copom: BC diz que ‘não hesitará em subir juros’ em caso de piora do cenário para inflação


Documento indica que conjuntura demanda ‘serenidade e moderação’ na condução da política monetária; Banco Central manteve taxa básica de juros em 10,5% ao ano na semana passada

Por Célia Froufe e Fernanda Trisotto
Atualização:

BRASÍLIA - A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 6, reforçou que a autoridade monetária não “hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.

“O cenário marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação é desafiador, e o comitê avalia que o desenrolar do cenário será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária”, diz trecho do documento.

O comitê defendeu que a manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta, de 3% em 2024. Segundo o Copom, a melhor estratégia é manter a taxa de juros por um tempo suficientemente longo, para levar a inflação à meta.

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O BC indicou que a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no cenário de referência para 2024, está em 4,2% e, para 2025, em 3,6%. No comunicado e na ata, a autoridade monetária não indica qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro.

Copom defendeu que manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação Foto: Wilton Junior/Estadão

A avaliação é que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário como também a ancoragem das expectativas.

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“O comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, diz o documento.

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O Copom destacou que os riscos para o cenário inflacionário são a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e a conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário. Nesse caso, foi citado como exemplo uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada — o que tem ocorrido no Brasil.

A ata pontua que, sem prejudicar o objetivo de assegurar a estabilidade de preços, a decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A ata reitera que o comitê se manterá vigilante e eventuais ajustes futuros na taxa de juros “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

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O colegiado ainda destaca que a conjuntura atual tem um processo desinflacionário que tende a ser mais lento, com a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador. Essa conjuntura demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

Política fiscal

A ata ressalta que o Copom monitora com atenção a política fiscal. O documento destaca que a percepção recente do mercado traz impactos relevantes em ativos e nas expectativas.

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“Notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz a ata.

O colegiado reitera que políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas “contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

A ata também reforça a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia.

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Mudança de tom

A menção à possibilidade de alta de juros deixou o documento com um tom mais hawkish (agressivo) do que o comunicado de semana passada, na avaliação do economista do ASA Leonardo Costa. “O Copom vê no modelo dele que as duas principais condicionantes de inflação, o câmbio e as expectativas, estão piores”, cita Costa, pontuando que, caso não haja melhora desses vetores, o Copom deverá elevar a Selic.

“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, escreveu o colegiado na ata. O uso do termo “unanimemente”, acrescenta Costa, ainda serviu para “sanar” um ruído gerado na reunião de maio do comitê, quando a decisão dividida nos votos desagradou o mercado financeiro.

Na avaliação de Costa, o texto da ata, de maneira geral, mostrou o Copom tentando “ganhar tempo”, antes de tomar qualquer decisão. O ASA prevê Selic estável em 10,5% até o final de 2025, mas o viés é de alta.

Entre os pontos da ata divulgada nesta terça, o economista do ASA ainda destaca que o colegiado “tentou endereçar” algumas questões, como a grande volatilidade dos mercados globais. “Não acho que a ata esteja velha (por conta dos últimos dados mais fracos de atividade nos Estados Unidos). O mercado já melhorou um pouco hoje (terça, 6) e segue bastante dinâmico. A volatilidade está muito grande, e o Copom tenta endereçar isso”, disse Costa.

Para a equipe de macroeconomia da XP Investimentos, a ata reforçou a visão de que a chance de algum aperto adicional na política monetária, ou seja, elevação da taxa Selic, “está subindo”. A avaliação é que o documento do BC repetiu o tom mais conservador apresentado na semana passada.

A corretora, contudo, também continua prevendo em seu cenário-base que o juro não deve subir, mantendo-se em 10,5% até o final de 2025, “especialmente se a economia global se enfraquecer mais do que o antecipado”.

Na avaliação da XP, a ata esclareceu alguns pontos que haviam ficado “incertos” no comunicado da semana passada, como a discussão sobre o balanço de riscos para a inflação estar assimétrico ou não. “Em todos os casos, a ata esclareceu os pontos no sentido mais conservador (hawkish)”, diz a XP.

Já para a economista do BNP Paribas Laiz Carvalho, a ata veio bem mais dura do que o comunicado da semana anterior. Para ela, o documento traz elementos que já eram esperados pelo mercado e, por isso, será bem recebida.

Segundo ela, o parágrafo mais importante do comunicado é o que aponta para dois possíveis cenários dos próximos passos que serão tomados na política monetária. “Por um lado, essa estratégia pode ser de manter a taxa de juros parada por mais tempo, para fazer com que a inflação no horizonte de tempo relevante convirja para os 3% (da meta)”, indica Laiz. “Ou, por outro lado, o comitê unanimemente reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para segurar a convergência da inflação à meta”, destaca.

Outro fator da ata ressaltado pela economista do BNP Paribas é a observação de que existem discussões dentro do BC sobre o balanço de riscos assimétrico. O mercado já tinha expectativas da alteração do balanço de riscos para assimétrico, no entanto, a mudança não foi feita ainda. Segundo a economista, o documento indica que, caso os movimentos vistos agora continuem de forma persistente, isso exigirá alguma ação do Banco Central./Com Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello

BRASÍLIA - A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 6, reforçou que a autoridade monetária não “hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.

“O cenário marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação é desafiador, e o comitê avalia que o desenrolar do cenário será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária”, diz trecho do documento.

O comitê defendeu que a manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta, de 3% em 2024. Segundo o Copom, a melhor estratégia é manter a taxa de juros por um tempo suficientemente longo, para levar a inflação à meta.

O BC indicou que a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no cenário de referência para 2024, está em 4,2% e, para 2025, em 3,6%. No comunicado e na ata, a autoridade monetária não indica qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro.

Copom defendeu que manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação Foto: Wilton Junior/Estadão

A avaliação é que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário como também a ancoragem das expectativas.

“O comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, diz o documento.

O Copom destacou que os riscos para o cenário inflacionário são a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e a conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário. Nesse caso, foi citado como exemplo uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada — o que tem ocorrido no Brasil.

A ata pontua que, sem prejudicar o objetivo de assegurar a estabilidade de preços, a decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A ata reitera que o comitê se manterá vigilante e eventuais ajustes futuros na taxa de juros “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

O colegiado ainda destaca que a conjuntura atual tem um processo desinflacionário que tende a ser mais lento, com a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador. Essa conjuntura demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

Política fiscal

A ata ressalta que o Copom monitora com atenção a política fiscal. O documento destaca que a percepção recente do mercado traz impactos relevantes em ativos e nas expectativas.

“Notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz a ata.

O colegiado reitera que políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas “contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

A ata também reforça a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia.

Mudança de tom

A menção à possibilidade de alta de juros deixou o documento com um tom mais hawkish (agressivo) do que o comunicado de semana passada, na avaliação do economista do ASA Leonardo Costa. “O Copom vê no modelo dele que as duas principais condicionantes de inflação, o câmbio e as expectativas, estão piores”, cita Costa, pontuando que, caso não haja melhora desses vetores, o Copom deverá elevar a Selic.

“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, escreveu o colegiado na ata. O uso do termo “unanimemente”, acrescenta Costa, ainda serviu para “sanar” um ruído gerado na reunião de maio do comitê, quando a decisão dividida nos votos desagradou o mercado financeiro.

Na avaliação de Costa, o texto da ata, de maneira geral, mostrou o Copom tentando “ganhar tempo”, antes de tomar qualquer decisão. O ASA prevê Selic estável em 10,5% até o final de 2025, mas o viés é de alta.

Entre os pontos da ata divulgada nesta terça, o economista do ASA ainda destaca que o colegiado “tentou endereçar” algumas questões, como a grande volatilidade dos mercados globais. “Não acho que a ata esteja velha (por conta dos últimos dados mais fracos de atividade nos Estados Unidos). O mercado já melhorou um pouco hoje (terça, 6) e segue bastante dinâmico. A volatilidade está muito grande, e o Copom tenta endereçar isso”, disse Costa.

Para a equipe de macroeconomia da XP Investimentos, a ata reforçou a visão de que a chance de algum aperto adicional na política monetária, ou seja, elevação da taxa Selic, “está subindo”. A avaliação é que o documento do BC repetiu o tom mais conservador apresentado na semana passada.

A corretora, contudo, também continua prevendo em seu cenário-base que o juro não deve subir, mantendo-se em 10,5% até o final de 2025, “especialmente se a economia global se enfraquecer mais do que o antecipado”.

Na avaliação da XP, a ata esclareceu alguns pontos que haviam ficado “incertos” no comunicado da semana passada, como a discussão sobre o balanço de riscos para a inflação estar assimétrico ou não. “Em todos os casos, a ata esclareceu os pontos no sentido mais conservador (hawkish)”, diz a XP.

Já para a economista do BNP Paribas Laiz Carvalho, a ata veio bem mais dura do que o comunicado da semana anterior. Para ela, o documento traz elementos que já eram esperados pelo mercado e, por isso, será bem recebida.

Segundo ela, o parágrafo mais importante do comunicado é o que aponta para dois possíveis cenários dos próximos passos que serão tomados na política monetária. “Por um lado, essa estratégia pode ser de manter a taxa de juros parada por mais tempo, para fazer com que a inflação no horizonte de tempo relevante convirja para os 3% (da meta)”, indica Laiz. “Ou, por outro lado, o comitê unanimemente reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para segurar a convergência da inflação à meta”, destaca.

Outro fator da ata ressaltado pela economista do BNP Paribas é a observação de que existem discussões dentro do BC sobre o balanço de riscos assimétrico. O mercado já tinha expectativas da alteração do balanço de riscos para assimétrico, no entanto, a mudança não foi feita ainda. Segundo a economista, o documento indica que, caso os movimentos vistos agora continuem de forma persistente, isso exigirá alguma ação do Banco Central./Com Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello

BRASÍLIA - A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 6, reforçou que a autoridade monetária não “hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.

“O cenário marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação é desafiador, e o comitê avalia que o desenrolar do cenário será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária”, diz trecho do documento.

O comitê defendeu que a manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta, de 3% em 2024. Segundo o Copom, a melhor estratégia é manter a taxa de juros por um tempo suficientemente longo, para levar a inflação à meta.

O BC indicou que a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no cenário de referência para 2024, está em 4,2% e, para 2025, em 3,6%. No comunicado e na ata, a autoridade monetária não indica qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro.

Copom defendeu que manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação Foto: Wilton Junior/Estadão

A avaliação é que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário como também a ancoragem das expectativas.

“O comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, diz o documento.

O Copom destacou que os riscos para o cenário inflacionário são a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e a conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário. Nesse caso, foi citado como exemplo uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada — o que tem ocorrido no Brasil.

A ata pontua que, sem prejudicar o objetivo de assegurar a estabilidade de preços, a decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A ata reitera que o comitê se manterá vigilante e eventuais ajustes futuros na taxa de juros “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

O colegiado ainda destaca que a conjuntura atual tem um processo desinflacionário que tende a ser mais lento, com a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador. Essa conjuntura demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

Política fiscal

A ata ressalta que o Copom monitora com atenção a política fiscal. O documento destaca que a percepção recente do mercado traz impactos relevantes em ativos e nas expectativas.

“Notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz a ata.

O colegiado reitera que políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas “contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

A ata também reforça a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia.

Mudança de tom

A menção à possibilidade de alta de juros deixou o documento com um tom mais hawkish (agressivo) do que o comunicado de semana passada, na avaliação do economista do ASA Leonardo Costa. “O Copom vê no modelo dele que as duas principais condicionantes de inflação, o câmbio e as expectativas, estão piores”, cita Costa, pontuando que, caso não haja melhora desses vetores, o Copom deverá elevar a Selic.

“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, escreveu o colegiado na ata. O uso do termo “unanimemente”, acrescenta Costa, ainda serviu para “sanar” um ruído gerado na reunião de maio do comitê, quando a decisão dividida nos votos desagradou o mercado financeiro.

Na avaliação de Costa, o texto da ata, de maneira geral, mostrou o Copom tentando “ganhar tempo”, antes de tomar qualquer decisão. O ASA prevê Selic estável em 10,5% até o final de 2025, mas o viés é de alta.

Entre os pontos da ata divulgada nesta terça, o economista do ASA ainda destaca que o colegiado “tentou endereçar” algumas questões, como a grande volatilidade dos mercados globais. “Não acho que a ata esteja velha (por conta dos últimos dados mais fracos de atividade nos Estados Unidos). O mercado já melhorou um pouco hoje (terça, 6) e segue bastante dinâmico. A volatilidade está muito grande, e o Copom tenta endereçar isso”, disse Costa.

Para a equipe de macroeconomia da XP Investimentos, a ata reforçou a visão de que a chance de algum aperto adicional na política monetária, ou seja, elevação da taxa Selic, “está subindo”. A avaliação é que o documento do BC repetiu o tom mais conservador apresentado na semana passada.

A corretora, contudo, também continua prevendo em seu cenário-base que o juro não deve subir, mantendo-se em 10,5% até o final de 2025, “especialmente se a economia global se enfraquecer mais do que o antecipado”.

Na avaliação da XP, a ata esclareceu alguns pontos que haviam ficado “incertos” no comunicado da semana passada, como a discussão sobre o balanço de riscos para a inflação estar assimétrico ou não. “Em todos os casos, a ata esclareceu os pontos no sentido mais conservador (hawkish)”, diz a XP.

Já para a economista do BNP Paribas Laiz Carvalho, a ata veio bem mais dura do que o comunicado da semana anterior. Para ela, o documento traz elementos que já eram esperados pelo mercado e, por isso, será bem recebida.

Segundo ela, o parágrafo mais importante do comunicado é o que aponta para dois possíveis cenários dos próximos passos que serão tomados na política monetária. “Por um lado, essa estratégia pode ser de manter a taxa de juros parada por mais tempo, para fazer com que a inflação no horizonte de tempo relevante convirja para os 3% (da meta)”, indica Laiz. “Ou, por outro lado, o comitê unanimemente reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para segurar a convergência da inflação à meta”, destaca.

Outro fator da ata ressaltado pela economista do BNP Paribas é a observação de que existem discussões dentro do BC sobre o balanço de riscos assimétrico. O mercado já tinha expectativas da alteração do balanço de riscos para assimétrico, no entanto, a mudança não foi feita ainda. Segundo a economista, o documento indica que, caso os movimentos vistos agora continuem de forma persistente, isso exigirá alguma ação do Banco Central./Com Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello

BRASÍLIA - A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 6, reforçou que a autoridade monetária não “hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”.

“O cenário marcado por projeções mais elevadas e mais riscos para a alta da inflação é desafiador, e o comitê avalia que o desenrolar do cenário será particularmente importante para definir os próximos passos de política monetária”, diz trecho do documento.

O comitê defendeu que a manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta, de 3% em 2024. Segundo o Copom, a melhor estratégia é manter a taxa de juros por um tempo suficientemente longo, para levar a inflação à meta.

O BC indicou que a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no cenário de referência para 2024, está em 4,2% e, para 2025, em 3,6%. No comunicado e na ata, a autoridade monetária não indica qual será o ritmo de corte de juros na próxima reunião, marcada para 17 e 18 de setembro.

Copom defendeu que manutenção da Selic em 10,50% ao ano, de maneira unânime, na semana passada, é compatível com a estratégia de convergência da inflação Foto: Wilton Junior/Estadão

A avaliação é que a política monetária se manterá contracionista por tempo suficiente em patamar que não só consolide o processo desinflacionário como também a ancoragem das expectativas.

“O comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, diz o documento.

O Copom destacou que os riscos para o cenário inflacionário são a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; a maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e a conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário. Nesse caso, foi citado como exemplo uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada — o que tem ocorrido no Brasil.

A ata pontua que, sem prejudicar o objetivo de assegurar a estabilidade de preços, a decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A ata reitera que o comitê se manterá vigilante e eventuais ajustes futuros na taxa de juros “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.

O colegiado ainda destaca que a conjuntura atual tem um processo desinflacionário que tende a ser mais lento, com a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador. Essa conjuntura demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

Política fiscal

A ata ressalta que o Copom monitora com atenção a política fiscal. O documento destaca que a percepção recente do mercado traz impactos relevantes em ativos e nas expectativas.

“Notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, diz a ata.

O colegiado reitera que políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas “contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego”.

A ata também reforça a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento do crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia.

Mudança de tom

A menção à possibilidade de alta de juros deixou o documento com um tom mais hawkish (agressivo) do que o comunicado de semana passada, na avaliação do economista do ASA Leonardo Costa. “O Copom vê no modelo dele que as duas principais condicionantes de inflação, o câmbio e as expectativas, estão piores”, cita Costa, pontuando que, caso não haja melhora desses vetores, o Copom deverá elevar a Selic.

“O comitê, unanimemente, reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado”, escreveu o colegiado na ata. O uso do termo “unanimemente”, acrescenta Costa, ainda serviu para “sanar” um ruído gerado na reunião de maio do comitê, quando a decisão dividida nos votos desagradou o mercado financeiro.

Na avaliação de Costa, o texto da ata, de maneira geral, mostrou o Copom tentando “ganhar tempo”, antes de tomar qualquer decisão. O ASA prevê Selic estável em 10,5% até o final de 2025, mas o viés é de alta.

Entre os pontos da ata divulgada nesta terça, o economista do ASA ainda destaca que o colegiado “tentou endereçar” algumas questões, como a grande volatilidade dos mercados globais. “Não acho que a ata esteja velha (por conta dos últimos dados mais fracos de atividade nos Estados Unidos). O mercado já melhorou um pouco hoje (terça, 6) e segue bastante dinâmico. A volatilidade está muito grande, e o Copom tenta endereçar isso”, disse Costa.

Para a equipe de macroeconomia da XP Investimentos, a ata reforçou a visão de que a chance de algum aperto adicional na política monetária, ou seja, elevação da taxa Selic, “está subindo”. A avaliação é que o documento do BC repetiu o tom mais conservador apresentado na semana passada.

A corretora, contudo, também continua prevendo em seu cenário-base que o juro não deve subir, mantendo-se em 10,5% até o final de 2025, “especialmente se a economia global se enfraquecer mais do que o antecipado”.

Na avaliação da XP, a ata esclareceu alguns pontos que haviam ficado “incertos” no comunicado da semana passada, como a discussão sobre o balanço de riscos para a inflação estar assimétrico ou não. “Em todos os casos, a ata esclareceu os pontos no sentido mais conservador (hawkish)”, diz a XP.

Já para a economista do BNP Paribas Laiz Carvalho, a ata veio bem mais dura do que o comunicado da semana anterior. Para ela, o documento traz elementos que já eram esperados pelo mercado e, por isso, será bem recebida.

Segundo ela, o parágrafo mais importante do comunicado é o que aponta para dois possíveis cenários dos próximos passos que serão tomados na política monetária. “Por um lado, essa estratégia pode ser de manter a taxa de juros parada por mais tempo, para fazer com que a inflação no horizonte de tempo relevante convirja para os 3% (da meta)”, indica Laiz. “Ou, por outro lado, o comitê unanimemente reforçou que não hesitará em elevar a taxa de juros para segurar a convergência da inflação à meta”, destaca.

Outro fator da ata ressaltado pela economista do BNP Paribas é a observação de que existem discussões dentro do BC sobre o balanço de riscos assimétrico. O mercado já tinha expectativas da alteração do balanço de riscos para assimétrico, no entanto, a mudança não foi feita ainda. Segundo a economista, o documento indica que, caso os movimentos vistos agora continuem de forma persistente, isso exigirá alguma ação do Banco Central./Com Daniel Tozzi Mendes e Anna Scabello

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