SÃO PAULO - O Comitê de Política Monetária (Copom)do Banco Central define nesta quarta-feira, 26, o novo nível da Selic, a taxa básica de juros da economia. As apostas do mercado, desta vez, são unânimes: os juros vão se manter no mesmo patamar atual, de 13,75% ao ano. A incerteza é quanto ao período de duração dessa estabilidade da Selic. O rumo da política fiscal, dependente do cenário eleitoral, ainda é o principal vetor de dúvidas para a política monetária, segundo economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast.
“Se tivermos uma nova onda de estímulos fiscais, de 1% ou 2% do PIB na largada do ano, isso pode mudar percepção para o PIB (de 2023) e para as projeções de inflação, o que pode causar um embaraço para o Banco Central”, diz o economista-chefe da Wealth High Governance (WHG), Fernando Fenolio. “Precisamos monitorar, mas está longe de ser o nosso cenário básico.”
A projeção de Fenolio é de manutenção da Selic em 13,75% até junho de 2023, quando prevê o início do ciclo de cortes. O economista diz que há vários fatores que limitam o início dos cortes mais cedo, entre eles a inflação ainda resistente de serviços e as surpresas positivas com o mercado de trabalho e com a atividade econômica, além do cenário internacional nebuloso. Para o economista, a taxa básica de juros deve encerrar 2023 em 12,5% e 2024 em 10%.
Para o economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Lemos Rosal, o arrefecimento previsto para a inflação no curto e no médio prazos deve permitir que o BC mantenha a Selic em 13,75% e inicie um ciclo de cortes no fim do segundo trimestre de 2023, levando a taxa a 11% no encerramento do ano.
O principal risco está relacionado à autorização para despesas além do teto de gastos em 2023. De acordo com Rosal, as projeções do mercado já parecem ter incorporado uma licença para gastar em torno de R$ 130 bilhões. Caso a despesa fique abaixo disso, o BC poderia ter espaço para reduzir mais os juros. Se superar esse montante, a perspectiva é de menos cortes e de uma Selic mais alta no fim do ano que vem.
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De acordo com Rosal, a Selic deve ser reduzida a 7,75% até o final de 2024. O alívio na inflação brasileira oriundo da redução prevista para os preços das commodities no mercado internacional deve contribuir para esse movimento, segundo o economista.
O economista-chefe da Santander Asset, Eduardo Jarra, considera que o BC somente deve iniciar os cortes da taxa Selic no terceiro trimestre de 2023, em um ritmo de 0,5 ponto porcentual por reunião, que levaria os juros a 11,75% no fim de 2023. Segundo o economista, esse prazo deve ser suficiente para observar uma tendência mais clara de queda da inflação, que leve as expectativas para 2024 para o centro da meta, em meio à desaceleração esperada para a economia global.
Para Jarra, o movimento recente de desaceleração da inflação ajuda a reduzir as incertezas com relação à política monetária no curto prazo. A comunicação do BC, no entanto, deve continuar com um tom que reforce o cenário de juros altos por mais tempo.
“Com os juros parados, o BC tem a tarefa de manter a sua credibilidade, e o jeito de fazer isso é manter um tom razoavelmente conservador pelas próximas reuniões”, diz o economista, que vê a persistência da estratégia ao menos até o Copom de dezembro. “Como consequência, acho que a tendência é não deixar o mercado precificar os cortes de juros muito cedo.”
A antecipação desse ciclo de cortes ou um ritmo mais acelerado de afrouxamento são possíveis, mas dependeriam de um cenário de menor risco fiscal no País. “É um cenário em que as expectativas podem reancorar um pouco mais rápido, o que contribuiria para uma apreciação da moeda, ao menos do lado doméstico. Seria um balanço mais construtivo para o BC”, diz Jarra.