As apostas online, conhecidas como bets, ganharam outras funcionalidades para os apostadores que moram na cidade de São Paulo. Apesar de a grande maioria (59%) buscar os jogos como forma entretenimento e diversão, um quarto dos paulistanos procura obter dinheiro rápido com os jogos e 9% consideram as apostas como investimento.
Somente 6% admitem o jogo como um vício, revela pesquisa inédita feita pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) para avaliar o impacto das apostas online, legalizadas em 2018. A enquete foi presencial e ouviu 3.622 pessoas, entre os dias 12 e 19 de julho.
Os 25% de paulistanos que jogam para obter dinheiro rápido somados aos 9% que encaram as apostas online como investimentos estão correndo um grande risco, avalia assessora técnica da Fecomércio-SP, a economista Kelly Carvalho. “É um grande erro ter essa percepção”, afirma, destacando que o comportamento pode trazer danos a médio e longo prazos para a saúde financeira das famílias.
Na sua análise, o principal motivo que leva as pessoas a apostarem com esses objetivos é a falta de educação financeira. A outra razão poderia ser um aperto no orçamento. Mas a conjuntura atual da inadimplência e do endividamento tem mostrado dados favoráveis nesses dois indicadores.
De acordo com Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) da entidade, a fatia de famílias inadimplentes recuou de 20,8% em junho para 19,9% em julho. No caso daquelas que declaram que não vão conseguir pagar as dívidas, eram 8,8% das famílias em junho e o índice caiu para 8,2% em julho, a menor marca desde janeiro de 2022.
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“É um erro encarar as apostas como investimento”, afirma Enrico Cozzolino, chefe de análise da Levante, empresa de análise de investimentos. Ele também frisa que considerar jogo como investimento revela a falta de educação financeira da população. “Mas tem uma parte de apostadores que fala que jogo é investimento para justificar o vício”, pondera.
Tanto no investimento como no jogo há risco. A diferença, diz Cozzolino, é que o risco que se corre no investimento é mensurável. Ou seja, é possível determinar qual é a exposição que se quer ter. Já no jogo, que é um evento cujo resultado é aleatório e depende de sorte, a perda é de 100%.
Sem explosão
A intenção da pesquisa foi avaliar o impacto das apostas online, que recentemente foram legalizadas, no comportamento do consumidor. Do total de paulistanos consultados, 17% declararam que fazem algum tipo de aposta nas bets.
Segundo Kelly, esse resultado é compatível com outros mercados no mundo, onde esse tipo de jogo já é legalizado há mais tempo. Nos Estados Unidos, por exemplo, a fatia da população que aposta nas bets varia entre 10% e 15%.
“Não há um crescimento explosivo das bets”, afirma a economista. Ela argumenta que o que se vê no momento é uma migração, era um mercado que existia na ilegalidade e que agora passou a ser legal.
Um recorte importante da enquete mostra que o setor mais afetado pelas bets é o de serviços. Segundo a pesquisa, 41% dos entrevistados declararam que utilizariam os recursos com lazer e entretenimento caso não tivessem apostado.
Comprar produtos, como comida e roupas e calçados também aparece nessa lista com 12% e 9%, respectivamente, das respostas onde os recursos seriam alocados no lugar das apostas online.
A Fecomércio-SP, porém, acredita que consumo do varejo e de itens essenciais está sob risco, já que boa parte dos montantes apostados seria importante para a composição das despesas rotineiras dos lares, como as de supermercado.
Em relação ao nível de sucesso nas apostas, 44% dos que apostam admitiram que tiveram mais perdas do que ganhos. Isso reforça um risco potencial do jogo com desdobramentos sobre a saúde financeira das famílias, sobretudo pelo fato de um dos objetivos das apostas é aumentar rapidamente a renda e o investimento, observa Kelly.
Pequeno apostador
O perfil médio das apostas retratado pela pesquisa é baixo, reforçando o argumento de que o brasileiro adepto das bets é um pequeno apostador. Segundo a pesquisa, 52% dos entrevistados disseram que não gastam mais do que R$ 50 por mês nas bets e outros 19% desembolsam até R$ 100. São cifras equivalentes a compras do dia a dia, gastas, por exemplo, nos supermercados.