Biden, Nixon, Lula e a taxa de juros


Lula precisaria de humildade para ver os erros que vem cometendo e mudar o rumo do governo

Por Affonso Celso Pastore

A queda de 1,8% do Ibovespa na última quarta-feira, 22, não teve qualquer relação com a tragédia ocorrida no litoral paulista. Em um mercado globalmente integrado, ela foi consequência da queda das Bolsas nos Estados Unidos devido à frustração dos investidores com a ata do Fed, que deixou claro que os juros continuarão subindo para controlar uma inflação que tem sido bem mais persistente do que muitos acreditavam. Será que existe o risco de uma recessão nos EUA?

Ninguém tem a resposta correta a esta pergunta, mas o modelo Probit, cujos resultados estão no site do New York Fed, nos dá indicações. Com base na diferença entre as taxas de juros da T-bill de 3 meses e da Treasury de 10 anos, o modelo estima em mais de 40% a probabilidade de que ocorra uma recessão em 2023/24.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Foto: Divulgação
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Seu grau de acerto é atestado pelos resultados: todas as recessões datadas pelo NBER tiveram probabilidades iguais ou maiores do que 40%, existindo apenas um “falso negativo” ao final dos anos 60. Um cínico poderia argumentar que há uma probabilidade de 60% de que não ocorra a recessão, mas ficaria encabulado quando indagado se teria a coragem de viajar em um avião que tem 40% de probabilidade de cair.

Certamente, Biden gostaria de ver os EUA crescendo, o que elevaria sua popularidade e a probabilidade de ser reeleito, mas também sabe que não tem poderes para determinar a conduta do Fed. Não era assim que pensava Nixon, que em conversa telefônica gravada com Arthur Burns, então presidente do Fed, acertou uma baixa da taxa de juros que culminou no aumento da inflação e no fim do regime de Bretton Woods. Este episódio é relatado por Alan Blinder em A Monetary History of the United States, 1961 – 2021, publicado em 2022.

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Em 2011, assistimos à versão brasileira do arranjo que foi negociado entre Nixon e Burns. A pedido de Dilma, o Banco Central não só truncou o movimento de elevação da Selic como, sem pestanejar, o transformou em queda. Em alguns meses, a taxa real de juros já havia caído para cerca de 2%, bem abaixo de qualquer estimativa de taxa neutra. O resultado foi o superaquecimento da economia e o aumento da inflação, levando ao aperto monetário que acentuou a recessão de 2014/16.

Se Lula fosse tão pragmático como diz a lenda, deixaria o Banco Central em paz e usaria o primeiro ano de seu mandato para corrigir os excessos fiscais do governo anterior, criando as bases para três anos de crescimento. Precisaria, no entanto, de inusitada dose de humildade para reconhecer os erros que vem cometendo e mudar o rumo de seu governo.

A queda de 1,8% do Ibovespa na última quarta-feira, 22, não teve qualquer relação com a tragédia ocorrida no litoral paulista. Em um mercado globalmente integrado, ela foi consequência da queda das Bolsas nos Estados Unidos devido à frustração dos investidores com a ata do Fed, que deixou claro que os juros continuarão subindo para controlar uma inflação que tem sido bem mais persistente do que muitos acreditavam. Será que existe o risco de uma recessão nos EUA?

Ninguém tem a resposta correta a esta pergunta, mas o modelo Probit, cujos resultados estão no site do New York Fed, nos dá indicações. Com base na diferença entre as taxas de juros da T-bill de 3 meses e da Treasury de 10 anos, o modelo estima em mais de 40% a probabilidade de que ocorra uma recessão em 2023/24.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Foto: Divulgação

Seu grau de acerto é atestado pelos resultados: todas as recessões datadas pelo NBER tiveram probabilidades iguais ou maiores do que 40%, existindo apenas um “falso negativo” ao final dos anos 60. Um cínico poderia argumentar que há uma probabilidade de 60% de que não ocorra a recessão, mas ficaria encabulado quando indagado se teria a coragem de viajar em um avião que tem 40% de probabilidade de cair.

Certamente, Biden gostaria de ver os EUA crescendo, o que elevaria sua popularidade e a probabilidade de ser reeleito, mas também sabe que não tem poderes para determinar a conduta do Fed. Não era assim que pensava Nixon, que em conversa telefônica gravada com Arthur Burns, então presidente do Fed, acertou uma baixa da taxa de juros que culminou no aumento da inflação e no fim do regime de Bretton Woods. Este episódio é relatado por Alan Blinder em A Monetary History of the United States, 1961 – 2021, publicado em 2022.

Em 2011, assistimos à versão brasileira do arranjo que foi negociado entre Nixon e Burns. A pedido de Dilma, o Banco Central não só truncou o movimento de elevação da Selic como, sem pestanejar, o transformou em queda. Em alguns meses, a taxa real de juros já havia caído para cerca de 2%, bem abaixo de qualquer estimativa de taxa neutra. O resultado foi o superaquecimento da economia e o aumento da inflação, levando ao aperto monetário que acentuou a recessão de 2014/16.

Se Lula fosse tão pragmático como diz a lenda, deixaria o Banco Central em paz e usaria o primeiro ano de seu mandato para corrigir os excessos fiscais do governo anterior, criando as bases para três anos de crescimento. Precisaria, no entanto, de inusitada dose de humildade para reconhecer os erros que vem cometendo e mudar o rumo de seu governo.

A queda de 1,8% do Ibovespa na última quarta-feira, 22, não teve qualquer relação com a tragédia ocorrida no litoral paulista. Em um mercado globalmente integrado, ela foi consequência da queda das Bolsas nos Estados Unidos devido à frustração dos investidores com a ata do Fed, que deixou claro que os juros continuarão subindo para controlar uma inflação que tem sido bem mais persistente do que muitos acreditavam. Será que existe o risco de uma recessão nos EUA?

Ninguém tem a resposta correta a esta pergunta, mas o modelo Probit, cujos resultados estão no site do New York Fed, nos dá indicações. Com base na diferença entre as taxas de juros da T-bill de 3 meses e da Treasury de 10 anos, o modelo estima em mais de 40% a probabilidade de que ocorra uma recessão em 2023/24.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva em visita ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Foto: Divulgação

Seu grau de acerto é atestado pelos resultados: todas as recessões datadas pelo NBER tiveram probabilidades iguais ou maiores do que 40%, existindo apenas um “falso negativo” ao final dos anos 60. Um cínico poderia argumentar que há uma probabilidade de 60% de que não ocorra a recessão, mas ficaria encabulado quando indagado se teria a coragem de viajar em um avião que tem 40% de probabilidade de cair.

Certamente, Biden gostaria de ver os EUA crescendo, o que elevaria sua popularidade e a probabilidade de ser reeleito, mas também sabe que não tem poderes para determinar a conduta do Fed. Não era assim que pensava Nixon, que em conversa telefônica gravada com Arthur Burns, então presidente do Fed, acertou uma baixa da taxa de juros que culminou no aumento da inflação e no fim do regime de Bretton Woods. Este episódio é relatado por Alan Blinder em A Monetary History of the United States, 1961 – 2021, publicado em 2022.

Em 2011, assistimos à versão brasileira do arranjo que foi negociado entre Nixon e Burns. A pedido de Dilma, o Banco Central não só truncou o movimento de elevação da Selic como, sem pestanejar, o transformou em queda. Em alguns meses, a taxa real de juros já havia caído para cerca de 2%, bem abaixo de qualquer estimativa de taxa neutra. O resultado foi o superaquecimento da economia e o aumento da inflação, levando ao aperto monetário que acentuou a recessão de 2014/16.

Se Lula fosse tão pragmático como diz a lenda, deixaria o Banco Central em paz e usaria o primeiro ano de seu mandato para corrigir os excessos fiscais do governo anterior, criando as bases para três anos de crescimento. Precisaria, no entanto, de inusitada dose de humildade para reconhecer os erros que vem cometendo e mudar o rumo de seu governo.

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