BRASÍLIA – Com o avanço da transição energética, o biodiesel tem movimentado uma vasta cadeia de negócios, que vai desde investimentos da gigante de commodities agrícolas Cargill até os geradores que garantiram os shows da última turnê do Coldplay no País, em 2023.
Os equipamentos foram desenvolvidos pela BRG Geradores em parceria com a Volvo e são movidos 100% a biodiesel. “Essas máquinas já estavam prontas desde a Copa de 2014 – ou seja, há dez anos. Mas agora a questão climática pesou e a população está mais engajada no assunto. Então, a procura cresceu”, afirma a CEO da BRG, Paula Cristina Crispim.
Ela projeta que daqui a três anos todos os grandes eventos terão geradores a biodiesel puro ou bateria. Ou seja, com uma geração limpa, de baixa ou zero emissão de gases do efeito estufa.
“O custo, claro, é uma barreira importante que a gente tenta vencer”, afirma Paula. “O preço do biodiesel já está quase equiparado ao do diesel, mas há outros custos pelo fato de ser uma máquina mais especial, que demanda um pouco mais de cuidado”, diz a executiva.
No caso da banda britânica, foram onze shows no Brasil, sendo que cada um consumiu cerca de 30 mil litros de biodiesel. O combustível puro, que precisa de autorização da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para ser vendido, foi fornecido pela Biopower, o braço da JBS na área de energia renovável. A empresa de frigoríficos usa principalmente o sebo bovino para fabricar o produto.
Em outra frente, a multinacional Cargill, maior trading mundial de commodities agrícolas, fechou a aquisição de três fábricas de processamento de soja e produção de biodiesel que pertenciam à Granol, além de quatro armazéns. O negócio, concluído em dezembro de 2023, envolve unidades localizadas nos Estados de Goiás, Tocantins e Rio Grande do Sul.
“A aquisição aumenta a capacidade da Cargill de esmagamento de soja no Brasil e solidifica a participação da empresa nesse segmento e no de produção de farelo e óleos vegetais”, afirma Diogo Araújo, gerente geral de novas operações da empresa.
Com a transação, a companhia passou a liderar o ranking de capacidade produtiva de biodiesel no País, mas ainda não usufrui 100% da estrutura. A ociosidade é um problema geral das empresas do setor, que lidou com diversas idas e vindas na mistura obrigatória no diesel. Como consequência, houve irregularidade na demanda.
Na planta de Anápolis (GO), a maior das três recém-adquiridas, é possível esmagar 2 mil toneladas de soja por dia. A partir do óleo que resulta desse esmagamento, somado à matéria-prima proveniente de outra planta da empresa, podem ser produzidas até 1,3 mil toneladas diárias de biodiesel.
Uma vez pronto e com a qualidade aferida em laboratório certificado pelo Inmetro, o combustível é vendido às distribuidoras e misturado ao diesel, que abastece, principalmente, veículos pesados. Hoje, a mistura obrigatória é de 14%, mas poderá chegar a 25% após 2031, como prevê o projeto de lei do Combustível do Futuro, em discussão no Senado Federal.