THE NEW YORK TIMES - Um voo angustiante neste final de semana está forçando novamente a Boeing a enfrentar as preocupações com seus aviões, especialmente o 737 Max, que já é um dos jatos mais investigados da história.
Ninguém ficou gravemente ferido no episódio ocorrido em um voo da Alaska Airlines na noite de sexta-feira, 5, no qual uma parte da fuselagem de um 737 Max 9 explodiu no ar, expondo os passageiros a ventos uivantes. O avião aterrissou em segurança, mas o evento, em um voo de Portland, Oregon, para Ontário, Canadá, assustou os viajantes e provocou inspeções de segurança imediatas em aviões semelhantes.
As autoridades federais concentraram a atenção em um plugue de porta no meio da cabine, que é usado para preencher o espaço onde uma saída de emergência seria colocada se o avião fosse configurado com mais assentos.
A Administração Federal de Aviação (FAA, na sigla em inglês) ordenou a inspeção de 171 aviões Max 9 operados pela Alaska e outras companhias aéreas dos EUA, o que causou dezenas de cancelamentos de voos no sábado, 6. A administração disse que as inspeções devem levar de quatro a oito horas por avião para serem concluídas.
“Concordamos e apoiamos totalmente a decisão da FAA de exigir inspeções imediatas nos aviões 737-9 com a mesma configuração do avião afetado”, disse Jessica Kowal, porta-voz da Boeing, no sábado.
Não está claro se a Boeing é a culpada pelo que aconteceu, mas o episódio levanta novas questões para o fabricante. Outra versão do Max, um 737 Max 8, esteve envolvida em dois acidentes que mataram centenas de pessoas em 2018 e 2019 e levaram a um aterramento mundial desse avião.
“A questão é o que está acontecendo na Boeing”, disse John Goglia, consultor de segurança da aviação de longa data e membro aposentado do National Transportation Safety Board, que investiga acidentes aéreos.
No mês passado, a empresa solicitou às companhias aéreas que inspecionassem os mais de 1,3 mil aviões Max entregues em busca de um possível parafuso solto no sistema de controle do leme. Durante o verão, a Boeing disse que um fornecedor importante havia feito furos incorretos em um componente que ajuda a manter a pressão da cabine. Desde então, a Boeing investiu e trabalhou mais de perto com esse fornecedor, a Spirit AeroSystems, para resolver os problemas de produção.
“Estamos observando uma maior estabilidade e desempenho de qualidade em nossas próprias fábricas, mas estamos trabalhando para que a cadeia de suprimentos atinja os mesmos padrões”, disse o executivo-chefe da Boeing, Dave Calhoun, em uma ligação com analistas investidores e repórteres em outubro.
A Spirit AeroSystems também trabalhou na fuselagem do 737 Max 9, incluindo a fabricação e instalação do plugue da porta que falhou no voo da Alaska Airlines.
As entregas de outro avião da Boeing, o 787 Dreamliner de dois corredores, ficaram praticamente paradas por mais de um ano, até o verão de 2022, enquanto a fabricante de aeronaves trabalhava com a FAA para resolver vários problemas de qualidade, incluindo lacunas finas como papel no corpo do avião.
Outra falha descoberta no verão passado atrasou novamente as entregas do avião. E a produção do 737 e do 787 tem sido lenta para acelerar em meio a esses e outros problemas com a qualidade e a cadeia de suprimentos.
O Max foi suspenso no início de 2019 depois que dois acidentes mataram um total de 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia. Durante 20 meses, a Boeing trabalhou com órgãos reguladores de todo o mundo para corrigir problemas no software de controle de voo do avião e em outros componentes.
Quando os voos de passageiros a bordo do Max foram retomados no final de 2020, a crise havia custado à empresa cerca de US$ 20 bilhões.
As duas variantes de médio porte do avião, o Max 8 e o Max 9, estão voando desde então. Mas o menor, o Max 7, e o maior, o Max 10, ainda não foram aprovados pelos órgãos reguladores.
O Max é o avião mais vendido da história da Boeing. Os mais de 4,5 mil pedidos pendentes para o avião representam mais de 76% da carteira de pedidos da Boeing. O avião também é popular entre as companhias aéreas: dos quase três milhões de voos programados globalmente para este mês, cerca de 5% estão planejados para serem realizados com um Max, principalmente o Max 8, de acordo com a Cirium, um provedor de dados de aviação.
A Alaska Airlines tem 65 aviões Max 9, enquanto a United Airlines tem 79. Ambas estavam realizando inspeções no sábado.
No domingo, a Turkish Airlines anunciou que iria suspender imediatamente os cinco aviões Max 9 de sua frota até segunda ordem.
Os investigadores do National Transportation Safety Board (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes) começaram a investigar o caso e devem examinar uma ampla gama de fatores, incluindo o processo de fabricação da Boeing e a supervisão da FAA sobre a empresa e qualquer trabalho que a Boeing ou a Alaska Airlines tenham realizado no avião. Os investigadores também identificaram uma área onde a porta provavelmente aterrissou e pediram a ajuda do público para encontrá-la.
“Esse é o tipo de coisa em que, até que você realmente entre na investigação - você identifica todos os fatos, condições e circunstâncias desse evento em particular - você determina se é apenas um problema pontual ou sistêmico”, disse Greg Feith, especialista em segurança de aviação e ex-investigador da National Transportation Safety Board.
Enquanto isso, todos aqueles que fabricam, fazem a manutenção, operam e regulam os aviões estarão sob os holofotes.
“Todos os americanos merecem uma explicação completa da Boeing e da FAA sobre o que deu errado e sobre as medidas que estão sendo tomadas para garantir que outro incidente não ocorra no futuro”, disse o senador J.D. Vance, republicano de Ohio, em um post no sábado no X.
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