Boeing: transcrições de entrevistas com funcionários mostram quadro de caos na montagem do 737 Max


Agência independente que investiga causas de acidentes aéreos nos EUA está realizando audiências sobre o caso que envolveu a explosão de um painel de porta em pleno ar em um voo da Alaska Airlines

Por Lori Aratani, Ian Duncan e Hannah Ziegler

THE WASHINGTON POST - Transcrições recém-divulgadas de entrevistas com funcionários da Boeing descrevem um esforço caótico para terminar a construção do 737 Max que teve um painel de porta solto durante o voo em janeiro, com a pressão aumentando sobre os trabalhadores da montagem em setembro passado, enquanto as tentativas de consertar rebites defeituosos se arrastavam.

Nesta terça-feira, 6, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), agência independente que investiga as causas de acidentes aéreos nos EUA, deu início a uma audiência de dois dias sobre o incidente em janeiro, que envolveu a explosão de um painel de porta em pleno ar em um voo da Alaska Airlines.

O órgão divulgou nesta terça-feira transcrições de entrevistas realizadas em março e abril com 16 funcionários da Boeing e um importante fornecedor. Todos disseram que não sabiam especificamente sobre o painel da porta que se soltou em pleno voo, mas a investigação do NTSB lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing na época.

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Um gerente da Boeing entrevistado em março pelos investigadores do NTSB descreveu como outros gerentes se envolveram conforme o trabalho de reparo atrasava. “Recebi muitas ligações telefônicas e muitos e-mails”, disse ele. Eventualmente, de acordo com o NTSB, um painel foi removido para o reparo do rebite. Mas quando o painel da porta foi colocado de volta no lugar, quatro parafusos estavam faltando, permitindo que ele se soltasse meses depois, quando o jato voava pela Alaska Airlines.

Foto divulgada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) mostra o painel de porta que caiu do voo 1282 da Alaska Airlines em janeiro, em Portland, Oregon.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

O NTSB ainda não desvendou completamente os principais momentos da jornada do avião pela fábrica nos arredores de Seattle em setembro passado, porque a remoção do painel não foi documentada. Um investigador sugeriu, em entrevistas com executivos da Boeing, que a crescente pressão sobre os trabalhadores pode ter contribuído para a falha em rastrear o trabalho.

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Outros documentos divulgados na terça-feira mostram que a Boeing há muito tempo tinha dificuldades para manter o controle sobre as remoções e lembrou os funcionários sobre a necessidade de documentá-las em julho de 2023, dizendo em letras vermelhas sublinhadas que a remoção ou afrouxamento de peças tinha que ser registrado.

Funcionários e executivos descreveram problemas recorrentes com peças defeituosas de fornecedores, além de outros problemas de produção que os atrasavam e resultavam em trabalho sendo feito fora da ordem normal, causando aumento da pressão. “Em algum momento, em 2022 ou 2023, estávamos substituindo portas como se estivéssemos substituindo nossas roupas íntimas: portas dianteiras, portas de carga, portas de compartimento”, disse um líder de equipe aos investigadores.

O gerente que foi ouvido pelo NTSB disse que gostaria que o processo de fabricação enfatizasse mais a cautela do que a velocidade. “Quero que a mentalidade de todos seja a de desacelerar um pouco e fazer as coisas corretamente, em vez de se esforçar e simplesmente fazer o que precisa ser feito”, disse o gerente. “E isso precisa ser mudado nos níveis executivos, nos níveis mais altos”, acrescentou.

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Os documentos divulgados na terça-feira, incluindo as transcrições das entrevistas, totalizaram mais de 3 mil páginas. Sua divulgação ocorreu no momento em que o NTSB realizou o primeiro de dois dias de audiências nesta semana para reunir mais informações sobre o acidente que abalou a confiança do público nas viagens aéreas comerciais e levou a um novo exame minucioso das operações da famosa empresa.

Entre os líderes da Boeing previstos para falar nas audiências estão Elizabeth Lund, executiva sênior que supervisiona a qualidade da divisão de aviões comerciais da empresa, e Terry George, executivo de alto escalão da Spirit AeroSystems, fornecedora da Boeing responsável pela fabricação da fuselagem envolvida no acidente.

Segundo disse Elizabeth, a Boeing está trabalhando em mudanças no projeto do 737 Max que impedirão que um painel de porta seja fechado se houver algum problema. A empresa, segundo ela, espera implementar as mudanças dentro de um ano e equipar outros aviões com as atualizações.

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Executivos disseram aos investigadores em depoimentos que também fizeram mudanças no processo de documentação quando as peças são removidas. No entanto, a presidente do NTSB, Jennifer Homendy, disse aos repórteres que documentos e entrevistas com funcionários da Boeing mostram que a empresa sabe há anos sobre problemas em seu programa de fabricação. Isso inclui defeitos nas fuselagens da Spirit, que forçam os trabalhadores a fazer o serviço fora da sequência.

No entanto, foi somente após o acidente que a empresa começou a se recusar a aceitar fuselagens fora de conformidade. Em junho, a Boeing anunciou que havia chegado a um acordo para readquirir a Spirit, vendida em 2005 por corte de custos, como parte de um esforço para aumentar a qualidade dos fornecedores.

“Por que é preciso uma tragédia grave, que poderia ter sido muito mais grave, para que a mudança ocorra?”, disse Homendy aos repórteres durante um intervalo na audiência de terça-feira. Ela afirmou que os investigadores não conseguiram entrevistar o gerente do painel da porta, que está em licença médica.

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Outros funcionários presentes durante o processo de montagem final forneceram declarações por escrito, mas os investigadores questionaram alguns de seus relatos. “Tenho algumas preocupações porque cada uma dessas declarações escritas termina com a frase: ‘Não tenho conhecimento. Não tenho conhecimento. Não sei”, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “É a mesma frase de fato. Portanto, tenho algumas dúvidas sobre isso.”

Embora ninguém tenha se ferido gravemente, as consequências do incidente foram generalizadas, levando a várias investigações sobre uma empresa que havia prometido um foco maior na segurança anos atrás, após dois acidentes com o 737 Max em 2018 e 2019 que mataram um total de 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Imagem divulgada pela pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes mostra onde foi o rombo na fuselagem do Boeing 737 Max da Alaska Airlines.  Foto: National Transportation Safety Board via AP
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Relatório preliminar

Em um relatório preliminar divulgado pelo NTSB em fevereiro, os investigadores determinaram que quatro parafusos projetados para manter o painel no lugar não foram reinstalados depois que a peça foi removida para que pudessem ser feitos reparos na fuselagem do avião. Os investigadores disseram que não conseguiram localizar a documentação que mostra quem removeu os parafusos e por que eles não foram reinstalados. Os funcionários da Boeing disseram que não existe tal documentação.

A luta para reconstruir a jornada do avião pela fábrica também colocou os investigadores federais e a Boeing em conflito durante a investigação do painel da porta. Em uma audiência realizada em março perante o Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, Homendy acusou a Boeing de reter informações essenciais para a investigação da agência, incluindo os nomes das pessoas que podem ter trabalhado no painel da porta enquanto o avião estava sendo montado nas instalações da companhia aérea em Renton, Washington. Porém, na terça-feira, Homendy disse que a Boeing tem respondido às solicitações de documentação.

A investigação lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing em um momento em que ela tenta se reconstruir a partir da paralisação do 737 Max após os acidentes e a pandemia do coronavírus. Esses problemas mais amplos de montagem contribuíram para uma rotatividade significativa de pessoal, disseram os executivos da Boeing ao NTSB.

Lloyd Catlin, um representante da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais que falou na audiência de terça-feira, disse que, entre janeiro de 2023 e maio de 2023, dois terços dos trabalhadores da fábrica de Renton tinham menos de dois anos de experiência com a Boeing.

A empresa disse que está trabalhando para resolver os problemas remanescentes e reconstruir a confiança do público e dos reguladores da Administração Federal de Aviação (FAA). Mas as entrevistas com os trabalhadores mostram que a Boeing precisa mostrar muito mais para melhorar sua cultura de segurança, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “Não há muita confiança”, disse ela. “Há muita desconfiança entre a força de trabalho e a gerência. E depois, é claro, a FAA tem um papel importante para garantir a supervisão.”

Renúncia

Após a explosão no ar, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, decidiu renunciar, assim como outros líderes seniores. Na semana passada, a empresa nomeou Kelly Ortberg, executivo de longa data do setor aeroespacial, como seu próximo executivo-chefe. Ortberg, 64 anos, assumirá oficialmente o cargo na quinta-feira, 8.

A FAA também está no foco das atenções. Na semana passada, a senadora Maria Cantwell, de Washington, presidente do Comitê de Comércio, enviou uma carta ao administrador da FAA, Michael Whitaker, observando que a agência havia feito quase 300 auditorias na Boeing e na Spirit AeroSystems nos dois anos anteriores, mas nenhuma resultou em ações de fiscalização. Entretanto, uma auditoria especial encomendada pela agência revelou inúmeros problemas de não conformidade na Boeing.

A supervisão da Boeing pela FAA será examinada no segundo dia da audiência do NTSB. Um relatório final sobre a explosão, incluindo causas prováveis e recomendações, pode levar de um ano a 18 meses para ser concluído.

THE WASHINGTON POST - Transcrições recém-divulgadas de entrevistas com funcionários da Boeing descrevem um esforço caótico para terminar a construção do 737 Max que teve um painel de porta solto durante o voo em janeiro, com a pressão aumentando sobre os trabalhadores da montagem em setembro passado, enquanto as tentativas de consertar rebites defeituosos se arrastavam.

Nesta terça-feira, 6, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), agência independente que investiga as causas de acidentes aéreos nos EUA, deu início a uma audiência de dois dias sobre o incidente em janeiro, que envolveu a explosão de um painel de porta em pleno ar em um voo da Alaska Airlines.

O órgão divulgou nesta terça-feira transcrições de entrevistas realizadas em março e abril com 16 funcionários da Boeing e um importante fornecedor. Todos disseram que não sabiam especificamente sobre o painel da porta que se soltou em pleno voo, mas a investigação do NTSB lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing na época.

Um gerente da Boeing entrevistado em março pelos investigadores do NTSB descreveu como outros gerentes se envolveram conforme o trabalho de reparo atrasava. “Recebi muitas ligações telefônicas e muitos e-mails”, disse ele. Eventualmente, de acordo com o NTSB, um painel foi removido para o reparo do rebite. Mas quando o painel da porta foi colocado de volta no lugar, quatro parafusos estavam faltando, permitindo que ele se soltasse meses depois, quando o jato voava pela Alaska Airlines.

Foto divulgada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) mostra o painel de porta que caiu do voo 1282 da Alaska Airlines em janeiro, em Portland, Oregon.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

O NTSB ainda não desvendou completamente os principais momentos da jornada do avião pela fábrica nos arredores de Seattle em setembro passado, porque a remoção do painel não foi documentada. Um investigador sugeriu, em entrevistas com executivos da Boeing, que a crescente pressão sobre os trabalhadores pode ter contribuído para a falha em rastrear o trabalho.

Outros documentos divulgados na terça-feira mostram que a Boeing há muito tempo tinha dificuldades para manter o controle sobre as remoções e lembrou os funcionários sobre a necessidade de documentá-las em julho de 2023, dizendo em letras vermelhas sublinhadas que a remoção ou afrouxamento de peças tinha que ser registrado.

Funcionários e executivos descreveram problemas recorrentes com peças defeituosas de fornecedores, além de outros problemas de produção que os atrasavam e resultavam em trabalho sendo feito fora da ordem normal, causando aumento da pressão. “Em algum momento, em 2022 ou 2023, estávamos substituindo portas como se estivéssemos substituindo nossas roupas íntimas: portas dianteiras, portas de carga, portas de compartimento”, disse um líder de equipe aos investigadores.

O gerente que foi ouvido pelo NTSB disse que gostaria que o processo de fabricação enfatizasse mais a cautela do que a velocidade. “Quero que a mentalidade de todos seja a de desacelerar um pouco e fazer as coisas corretamente, em vez de se esforçar e simplesmente fazer o que precisa ser feito”, disse o gerente. “E isso precisa ser mudado nos níveis executivos, nos níveis mais altos”, acrescentou.

Os documentos divulgados na terça-feira, incluindo as transcrições das entrevistas, totalizaram mais de 3 mil páginas. Sua divulgação ocorreu no momento em que o NTSB realizou o primeiro de dois dias de audiências nesta semana para reunir mais informações sobre o acidente que abalou a confiança do público nas viagens aéreas comerciais e levou a um novo exame minucioso das operações da famosa empresa.

Entre os líderes da Boeing previstos para falar nas audiências estão Elizabeth Lund, executiva sênior que supervisiona a qualidade da divisão de aviões comerciais da empresa, e Terry George, executivo de alto escalão da Spirit AeroSystems, fornecedora da Boeing responsável pela fabricação da fuselagem envolvida no acidente.

Segundo disse Elizabeth, a Boeing está trabalhando em mudanças no projeto do 737 Max que impedirão que um painel de porta seja fechado se houver algum problema. A empresa, segundo ela, espera implementar as mudanças dentro de um ano e equipar outros aviões com as atualizações.

Executivos disseram aos investigadores em depoimentos que também fizeram mudanças no processo de documentação quando as peças são removidas. No entanto, a presidente do NTSB, Jennifer Homendy, disse aos repórteres que documentos e entrevistas com funcionários da Boeing mostram que a empresa sabe há anos sobre problemas em seu programa de fabricação. Isso inclui defeitos nas fuselagens da Spirit, que forçam os trabalhadores a fazer o serviço fora da sequência.

No entanto, foi somente após o acidente que a empresa começou a se recusar a aceitar fuselagens fora de conformidade. Em junho, a Boeing anunciou que havia chegado a um acordo para readquirir a Spirit, vendida em 2005 por corte de custos, como parte de um esforço para aumentar a qualidade dos fornecedores.

“Por que é preciso uma tragédia grave, que poderia ter sido muito mais grave, para que a mudança ocorra?”, disse Homendy aos repórteres durante um intervalo na audiência de terça-feira. Ela afirmou que os investigadores não conseguiram entrevistar o gerente do painel da porta, que está em licença médica.

Outros funcionários presentes durante o processo de montagem final forneceram declarações por escrito, mas os investigadores questionaram alguns de seus relatos. “Tenho algumas preocupações porque cada uma dessas declarações escritas termina com a frase: ‘Não tenho conhecimento. Não tenho conhecimento. Não sei”, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “É a mesma frase de fato. Portanto, tenho algumas dúvidas sobre isso.”

Embora ninguém tenha se ferido gravemente, as consequências do incidente foram generalizadas, levando a várias investigações sobre uma empresa que havia prometido um foco maior na segurança anos atrás, após dois acidentes com o 737 Max em 2018 e 2019 que mataram um total de 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Imagem divulgada pela pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes mostra onde foi o rombo na fuselagem do Boeing 737 Max da Alaska Airlines.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

Relatório preliminar

Em um relatório preliminar divulgado pelo NTSB em fevereiro, os investigadores determinaram que quatro parafusos projetados para manter o painel no lugar não foram reinstalados depois que a peça foi removida para que pudessem ser feitos reparos na fuselagem do avião. Os investigadores disseram que não conseguiram localizar a documentação que mostra quem removeu os parafusos e por que eles não foram reinstalados. Os funcionários da Boeing disseram que não existe tal documentação.

A luta para reconstruir a jornada do avião pela fábrica também colocou os investigadores federais e a Boeing em conflito durante a investigação do painel da porta. Em uma audiência realizada em março perante o Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, Homendy acusou a Boeing de reter informações essenciais para a investigação da agência, incluindo os nomes das pessoas que podem ter trabalhado no painel da porta enquanto o avião estava sendo montado nas instalações da companhia aérea em Renton, Washington. Porém, na terça-feira, Homendy disse que a Boeing tem respondido às solicitações de documentação.

A investigação lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing em um momento em que ela tenta se reconstruir a partir da paralisação do 737 Max após os acidentes e a pandemia do coronavírus. Esses problemas mais amplos de montagem contribuíram para uma rotatividade significativa de pessoal, disseram os executivos da Boeing ao NTSB.

Lloyd Catlin, um representante da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais que falou na audiência de terça-feira, disse que, entre janeiro de 2023 e maio de 2023, dois terços dos trabalhadores da fábrica de Renton tinham menos de dois anos de experiência com a Boeing.

A empresa disse que está trabalhando para resolver os problemas remanescentes e reconstruir a confiança do público e dos reguladores da Administração Federal de Aviação (FAA). Mas as entrevistas com os trabalhadores mostram que a Boeing precisa mostrar muito mais para melhorar sua cultura de segurança, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “Não há muita confiança”, disse ela. “Há muita desconfiança entre a força de trabalho e a gerência. E depois, é claro, a FAA tem um papel importante para garantir a supervisão.”

Renúncia

Após a explosão no ar, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, decidiu renunciar, assim como outros líderes seniores. Na semana passada, a empresa nomeou Kelly Ortberg, executivo de longa data do setor aeroespacial, como seu próximo executivo-chefe. Ortberg, 64 anos, assumirá oficialmente o cargo na quinta-feira, 8.

A FAA também está no foco das atenções. Na semana passada, a senadora Maria Cantwell, de Washington, presidente do Comitê de Comércio, enviou uma carta ao administrador da FAA, Michael Whitaker, observando que a agência havia feito quase 300 auditorias na Boeing e na Spirit AeroSystems nos dois anos anteriores, mas nenhuma resultou em ações de fiscalização. Entretanto, uma auditoria especial encomendada pela agência revelou inúmeros problemas de não conformidade na Boeing.

A supervisão da Boeing pela FAA será examinada no segundo dia da audiência do NTSB. Um relatório final sobre a explosão, incluindo causas prováveis e recomendações, pode levar de um ano a 18 meses para ser concluído.

THE WASHINGTON POST - Transcrições recém-divulgadas de entrevistas com funcionários da Boeing descrevem um esforço caótico para terminar a construção do 737 Max que teve um painel de porta solto durante o voo em janeiro, com a pressão aumentando sobre os trabalhadores da montagem em setembro passado, enquanto as tentativas de consertar rebites defeituosos se arrastavam.

Nesta terça-feira, 6, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), agência independente que investiga as causas de acidentes aéreos nos EUA, deu início a uma audiência de dois dias sobre o incidente em janeiro, que envolveu a explosão de um painel de porta em pleno ar em um voo da Alaska Airlines.

O órgão divulgou nesta terça-feira transcrições de entrevistas realizadas em março e abril com 16 funcionários da Boeing e um importante fornecedor. Todos disseram que não sabiam especificamente sobre o painel da porta que se soltou em pleno voo, mas a investigação do NTSB lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing na época.

Um gerente da Boeing entrevistado em março pelos investigadores do NTSB descreveu como outros gerentes se envolveram conforme o trabalho de reparo atrasava. “Recebi muitas ligações telefônicas e muitos e-mails”, disse ele. Eventualmente, de acordo com o NTSB, um painel foi removido para o reparo do rebite. Mas quando o painel da porta foi colocado de volta no lugar, quatro parafusos estavam faltando, permitindo que ele se soltasse meses depois, quando o jato voava pela Alaska Airlines.

Foto divulgada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) mostra o painel de porta que caiu do voo 1282 da Alaska Airlines em janeiro, em Portland, Oregon.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

O NTSB ainda não desvendou completamente os principais momentos da jornada do avião pela fábrica nos arredores de Seattle em setembro passado, porque a remoção do painel não foi documentada. Um investigador sugeriu, em entrevistas com executivos da Boeing, que a crescente pressão sobre os trabalhadores pode ter contribuído para a falha em rastrear o trabalho.

Outros documentos divulgados na terça-feira mostram que a Boeing há muito tempo tinha dificuldades para manter o controle sobre as remoções e lembrou os funcionários sobre a necessidade de documentá-las em julho de 2023, dizendo em letras vermelhas sublinhadas que a remoção ou afrouxamento de peças tinha que ser registrado.

Funcionários e executivos descreveram problemas recorrentes com peças defeituosas de fornecedores, além de outros problemas de produção que os atrasavam e resultavam em trabalho sendo feito fora da ordem normal, causando aumento da pressão. “Em algum momento, em 2022 ou 2023, estávamos substituindo portas como se estivéssemos substituindo nossas roupas íntimas: portas dianteiras, portas de carga, portas de compartimento”, disse um líder de equipe aos investigadores.

O gerente que foi ouvido pelo NTSB disse que gostaria que o processo de fabricação enfatizasse mais a cautela do que a velocidade. “Quero que a mentalidade de todos seja a de desacelerar um pouco e fazer as coisas corretamente, em vez de se esforçar e simplesmente fazer o que precisa ser feito”, disse o gerente. “E isso precisa ser mudado nos níveis executivos, nos níveis mais altos”, acrescentou.

Os documentos divulgados na terça-feira, incluindo as transcrições das entrevistas, totalizaram mais de 3 mil páginas. Sua divulgação ocorreu no momento em que o NTSB realizou o primeiro de dois dias de audiências nesta semana para reunir mais informações sobre o acidente que abalou a confiança do público nas viagens aéreas comerciais e levou a um novo exame minucioso das operações da famosa empresa.

Entre os líderes da Boeing previstos para falar nas audiências estão Elizabeth Lund, executiva sênior que supervisiona a qualidade da divisão de aviões comerciais da empresa, e Terry George, executivo de alto escalão da Spirit AeroSystems, fornecedora da Boeing responsável pela fabricação da fuselagem envolvida no acidente.

Segundo disse Elizabeth, a Boeing está trabalhando em mudanças no projeto do 737 Max que impedirão que um painel de porta seja fechado se houver algum problema. A empresa, segundo ela, espera implementar as mudanças dentro de um ano e equipar outros aviões com as atualizações.

Executivos disseram aos investigadores em depoimentos que também fizeram mudanças no processo de documentação quando as peças são removidas. No entanto, a presidente do NTSB, Jennifer Homendy, disse aos repórteres que documentos e entrevistas com funcionários da Boeing mostram que a empresa sabe há anos sobre problemas em seu programa de fabricação. Isso inclui defeitos nas fuselagens da Spirit, que forçam os trabalhadores a fazer o serviço fora da sequência.

No entanto, foi somente após o acidente que a empresa começou a se recusar a aceitar fuselagens fora de conformidade. Em junho, a Boeing anunciou que havia chegado a um acordo para readquirir a Spirit, vendida em 2005 por corte de custos, como parte de um esforço para aumentar a qualidade dos fornecedores.

“Por que é preciso uma tragédia grave, que poderia ter sido muito mais grave, para que a mudança ocorra?”, disse Homendy aos repórteres durante um intervalo na audiência de terça-feira. Ela afirmou que os investigadores não conseguiram entrevistar o gerente do painel da porta, que está em licença médica.

Outros funcionários presentes durante o processo de montagem final forneceram declarações por escrito, mas os investigadores questionaram alguns de seus relatos. “Tenho algumas preocupações porque cada uma dessas declarações escritas termina com a frase: ‘Não tenho conhecimento. Não tenho conhecimento. Não sei”, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “É a mesma frase de fato. Portanto, tenho algumas dúvidas sobre isso.”

Embora ninguém tenha se ferido gravemente, as consequências do incidente foram generalizadas, levando a várias investigações sobre uma empresa que havia prometido um foco maior na segurança anos atrás, após dois acidentes com o 737 Max em 2018 e 2019 que mataram um total de 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Imagem divulgada pela pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes mostra onde foi o rombo na fuselagem do Boeing 737 Max da Alaska Airlines.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

Relatório preliminar

Em um relatório preliminar divulgado pelo NTSB em fevereiro, os investigadores determinaram que quatro parafusos projetados para manter o painel no lugar não foram reinstalados depois que a peça foi removida para que pudessem ser feitos reparos na fuselagem do avião. Os investigadores disseram que não conseguiram localizar a documentação que mostra quem removeu os parafusos e por que eles não foram reinstalados. Os funcionários da Boeing disseram que não existe tal documentação.

A luta para reconstruir a jornada do avião pela fábrica também colocou os investigadores federais e a Boeing em conflito durante a investigação do painel da porta. Em uma audiência realizada em março perante o Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, Homendy acusou a Boeing de reter informações essenciais para a investigação da agência, incluindo os nomes das pessoas que podem ter trabalhado no painel da porta enquanto o avião estava sendo montado nas instalações da companhia aérea em Renton, Washington. Porém, na terça-feira, Homendy disse que a Boeing tem respondido às solicitações de documentação.

A investigação lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing em um momento em que ela tenta se reconstruir a partir da paralisação do 737 Max após os acidentes e a pandemia do coronavírus. Esses problemas mais amplos de montagem contribuíram para uma rotatividade significativa de pessoal, disseram os executivos da Boeing ao NTSB.

Lloyd Catlin, um representante da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais que falou na audiência de terça-feira, disse que, entre janeiro de 2023 e maio de 2023, dois terços dos trabalhadores da fábrica de Renton tinham menos de dois anos de experiência com a Boeing.

A empresa disse que está trabalhando para resolver os problemas remanescentes e reconstruir a confiança do público e dos reguladores da Administração Federal de Aviação (FAA). Mas as entrevistas com os trabalhadores mostram que a Boeing precisa mostrar muito mais para melhorar sua cultura de segurança, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “Não há muita confiança”, disse ela. “Há muita desconfiança entre a força de trabalho e a gerência. E depois, é claro, a FAA tem um papel importante para garantir a supervisão.”

Renúncia

Após a explosão no ar, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, decidiu renunciar, assim como outros líderes seniores. Na semana passada, a empresa nomeou Kelly Ortberg, executivo de longa data do setor aeroespacial, como seu próximo executivo-chefe. Ortberg, 64 anos, assumirá oficialmente o cargo na quinta-feira, 8.

A FAA também está no foco das atenções. Na semana passada, a senadora Maria Cantwell, de Washington, presidente do Comitê de Comércio, enviou uma carta ao administrador da FAA, Michael Whitaker, observando que a agência havia feito quase 300 auditorias na Boeing e na Spirit AeroSystems nos dois anos anteriores, mas nenhuma resultou em ações de fiscalização. Entretanto, uma auditoria especial encomendada pela agência revelou inúmeros problemas de não conformidade na Boeing.

A supervisão da Boeing pela FAA será examinada no segundo dia da audiência do NTSB. Um relatório final sobre a explosão, incluindo causas prováveis e recomendações, pode levar de um ano a 18 meses para ser concluído.

THE WASHINGTON POST - Transcrições recém-divulgadas de entrevistas com funcionários da Boeing descrevem um esforço caótico para terminar a construção do 737 Max que teve um painel de porta solto durante o voo em janeiro, com a pressão aumentando sobre os trabalhadores da montagem em setembro passado, enquanto as tentativas de consertar rebites defeituosos se arrastavam.

Nesta terça-feira, 6, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), agência independente que investiga as causas de acidentes aéreos nos EUA, deu início a uma audiência de dois dias sobre o incidente em janeiro, que envolveu a explosão de um painel de porta em pleno ar em um voo da Alaska Airlines.

O órgão divulgou nesta terça-feira transcrições de entrevistas realizadas em março e abril com 16 funcionários da Boeing e um importante fornecedor. Todos disseram que não sabiam especificamente sobre o painel da porta que se soltou em pleno voo, mas a investigação do NTSB lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing na época.

Um gerente da Boeing entrevistado em março pelos investigadores do NTSB descreveu como outros gerentes se envolveram conforme o trabalho de reparo atrasava. “Recebi muitas ligações telefônicas e muitos e-mails”, disse ele. Eventualmente, de acordo com o NTSB, um painel foi removido para o reparo do rebite. Mas quando o painel da porta foi colocado de volta no lugar, quatro parafusos estavam faltando, permitindo que ele se soltasse meses depois, quando o jato voava pela Alaska Airlines.

Foto divulgada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) mostra o painel de porta que caiu do voo 1282 da Alaska Airlines em janeiro, em Portland, Oregon.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

O NTSB ainda não desvendou completamente os principais momentos da jornada do avião pela fábrica nos arredores de Seattle em setembro passado, porque a remoção do painel não foi documentada. Um investigador sugeriu, em entrevistas com executivos da Boeing, que a crescente pressão sobre os trabalhadores pode ter contribuído para a falha em rastrear o trabalho.

Outros documentos divulgados na terça-feira mostram que a Boeing há muito tempo tinha dificuldades para manter o controle sobre as remoções e lembrou os funcionários sobre a necessidade de documentá-las em julho de 2023, dizendo em letras vermelhas sublinhadas que a remoção ou afrouxamento de peças tinha que ser registrado.

Funcionários e executivos descreveram problemas recorrentes com peças defeituosas de fornecedores, além de outros problemas de produção que os atrasavam e resultavam em trabalho sendo feito fora da ordem normal, causando aumento da pressão. “Em algum momento, em 2022 ou 2023, estávamos substituindo portas como se estivéssemos substituindo nossas roupas íntimas: portas dianteiras, portas de carga, portas de compartimento”, disse um líder de equipe aos investigadores.

O gerente que foi ouvido pelo NTSB disse que gostaria que o processo de fabricação enfatizasse mais a cautela do que a velocidade. “Quero que a mentalidade de todos seja a de desacelerar um pouco e fazer as coisas corretamente, em vez de se esforçar e simplesmente fazer o que precisa ser feito”, disse o gerente. “E isso precisa ser mudado nos níveis executivos, nos níveis mais altos”, acrescentou.

Os documentos divulgados na terça-feira, incluindo as transcrições das entrevistas, totalizaram mais de 3 mil páginas. Sua divulgação ocorreu no momento em que o NTSB realizou o primeiro de dois dias de audiências nesta semana para reunir mais informações sobre o acidente que abalou a confiança do público nas viagens aéreas comerciais e levou a um novo exame minucioso das operações da famosa empresa.

Entre os líderes da Boeing previstos para falar nas audiências estão Elizabeth Lund, executiva sênior que supervisiona a qualidade da divisão de aviões comerciais da empresa, e Terry George, executivo de alto escalão da Spirit AeroSystems, fornecedora da Boeing responsável pela fabricação da fuselagem envolvida no acidente.

Segundo disse Elizabeth, a Boeing está trabalhando em mudanças no projeto do 737 Max que impedirão que um painel de porta seja fechado se houver algum problema. A empresa, segundo ela, espera implementar as mudanças dentro de um ano e equipar outros aviões com as atualizações.

Executivos disseram aos investigadores em depoimentos que também fizeram mudanças no processo de documentação quando as peças são removidas. No entanto, a presidente do NTSB, Jennifer Homendy, disse aos repórteres que documentos e entrevistas com funcionários da Boeing mostram que a empresa sabe há anos sobre problemas em seu programa de fabricação. Isso inclui defeitos nas fuselagens da Spirit, que forçam os trabalhadores a fazer o serviço fora da sequência.

No entanto, foi somente após o acidente que a empresa começou a se recusar a aceitar fuselagens fora de conformidade. Em junho, a Boeing anunciou que havia chegado a um acordo para readquirir a Spirit, vendida em 2005 por corte de custos, como parte de um esforço para aumentar a qualidade dos fornecedores.

“Por que é preciso uma tragédia grave, que poderia ter sido muito mais grave, para que a mudança ocorra?”, disse Homendy aos repórteres durante um intervalo na audiência de terça-feira. Ela afirmou que os investigadores não conseguiram entrevistar o gerente do painel da porta, que está em licença médica.

Outros funcionários presentes durante o processo de montagem final forneceram declarações por escrito, mas os investigadores questionaram alguns de seus relatos. “Tenho algumas preocupações porque cada uma dessas declarações escritas termina com a frase: ‘Não tenho conhecimento. Não tenho conhecimento. Não sei”, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “É a mesma frase de fato. Portanto, tenho algumas dúvidas sobre isso.”

Embora ninguém tenha se ferido gravemente, as consequências do incidente foram generalizadas, levando a várias investigações sobre uma empresa que havia prometido um foco maior na segurança anos atrás, após dois acidentes com o 737 Max em 2018 e 2019 que mataram um total de 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Imagem divulgada pela pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes mostra onde foi o rombo na fuselagem do Boeing 737 Max da Alaska Airlines.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

Relatório preliminar

Em um relatório preliminar divulgado pelo NTSB em fevereiro, os investigadores determinaram que quatro parafusos projetados para manter o painel no lugar não foram reinstalados depois que a peça foi removida para que pudessem ser feitos reparos na fuselagem do avião. Os investigadores disseram que não conseguiram localizar a documentação que mostra quem removeu os parafusos e por que eles não foram reinstalados. Os funcionários da Boeing disseram que não existe tal documentação.

A luta para reconstruir a jornada do avião pela fábrica também colocou os investigadores federais e a Boeing em conflito durante a investigação do painel da porta. Em uma audiência realizada em março perante o Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, Homendy acusou a Boeing de reter informações essenciais para a investigação da agência, incluindo os nomes das pessoas que podem ter trabalhado no painel da porta enquanto o avião estava sendo montado nas instalações da companhia aérea em Renton, Washington. Porém, na terça-feira, Homendy disse que a Boeing tem respondido às solicitações de documentação.

A investigação lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing em um momento em que ela tenta se reconstruir a partir da paralisação do 737 Max após os acidentes e a pandemia do coronavírus. Esses problemas mais amplos de montagem contribuíram para uma rotatividade significativa de pessoal, disseram os executivos da Boeing ao NTSB.

Lloyd Catlin, um representante da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais que falou na audiência de terça-feira, disse que, entre janeiro de 2023 e maio de 2023, dois terços dos trabalhadores da fábrica de Renton tinham menos de dois anos de experiência com a Boeing.

A empresa disse que está trabalhando para resolver os problemas remanescentes e reconstruir a confiança do público e dos reguladores da Administração Federal de Aviação (FAA). Mas as entrevistas com os trabalhadores mostram que a Boeing precisa mostrar muito mais para melhorar sua cultura de segurança, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “Não há muita confiança”, disse ela. “Há muita desconfiança entre a força de trabalho e a gerência. E depois, é claro, a FAA tem um papel importante para garantir a supervisão.”

Renúncia

Após a explosão no ar, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, decidiu renunciar, assim como outros líderes seniores. Na semana passada, a empresa nomeou Kelly Ortberg, executivo de longa data do setor aeroespacial, como seu próximo executivo-chefe. Ortberg, 64 anos, assumirá oficialmente o cargo na quinta-feira, 8.

A FAA também está no foco das atenções. Na semana passada, a senadora Maria Cantwell, de Washington, presidente do Comitê de Comércio, enviou uma carta ao administrador da FAA, Michael Whitaker, observando que a agência havia feito quase 300 auditorias na Boeing e na Spirit AeroSystems nos dois anos anteriores, mas nenhuma resultou em ações de fiscalização. Entretanto, uma auditoria especial encomendada pela agência revelou inúmeros problemas de não conformidade na Boeing.

A supervisão da Boeing pela FAA será examinada no segundo dia da audiência do NTSB. Um relatório final sobre a explosão, incluindo causas prováveis e recomendações, pode levar de um ano a 18 meses para ser concluído.

THE WASHINGTON POST - Transcrições recém-divulgadas de entrevistas com funcionários da Boeing descrevem um esforço caótico para terminar a construção do 737 Max que teve um painel de porta solto durante o voo em janeiro, com a pressão aumentando sobre os trabalhadores da montagem em setembro passado, enquanto as tentativas de consertar rebites defeituosos se arrastavam.

Nesta terça-feira, 6, o Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), agência independente que investiga as causas de acidentes aéreos nos EUA, deu início a uma audiência de dois dias sobre o incidente em janeiro, que envolveu a explosão de um painel de porta em pleno ar em um voo da Alaska Airlines.

O órgão divulgou nesta terça-feira transcrições de entrevistas realizadas em março e abril com 16 funcionários da Boeing e um importante fornecedor. Todos disseram que não sabiam especificamente sobre o painel da porta que se soltou em pleno voo, mas a investigação do NTSB lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing na época.

Um gerente da Boeing entrevistado em março pelos investigadores do NTSB descreveu como outros gerentes se envolveram conforme o trabalho de reparo atrasava. “Recebi muitas ligações telefônicas e muitos e-mails”, disse ele. Eventualmente, de acordo com o NTSB, um painel foi removido para o reparo do rebite. Mas quando o painel da porta foi colocado de volta no lugar, quatro parafusos estavam faltando, permitindo que ele se soltasse meses depois, quando o jato voava pela Alaska Airlines.

Foto divulgada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB) mostra o painel de porta que caiu do voo 1282 da Alaska Airlines em janeiro, em Portland, Oregon.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

O NTSB ainda não desvendou completamente os principais momentos da jornada do avião pela fábrica nos arredores de Seattle em setembro passado, porque a remoção do painel não foi documentada. Um investigador sugeriu, em entrevistas com executivos da Boeing, que a crescente pressão sobre os trabalhadores pode ter contribuído para a falha em rastrear o trabalho.

Outros documentos divulgados na terça-feira mostram que a Boeing há muito tempo tinha dificuldades para manter o controle sobre as remoções e lembrou os funcionários sobre a necessidade de documentá-las em julho de 2023, dizendo em letras vermelhas sublinhadas que a remoção ou afrouxamento de peças tinha que ser registrado.

Funcionários e executivos descreveram problemas recorrentes com peças defeituosas de fornecedores, além de outros problemas de produção que os atrasavam e resultavam em trabalho sendo feito fora da ordem normal, causando aumento da pressão. “Em algum momento, em 2022 ou 2023, estávamos substituindo portas como se estivéssemos substituindo nossas roupas íntimas: portas dianteiras, portas de carga, portas de compartimento”, disse um líder de equipe aos investigadores.

O gerente que foi ouvido pelo NTSB disse que gostaria que o processo de fabricação enfatizasse mais a cautela do que a velocidade. “Quero que a mentalidade de todos seja a de desacelerar um pouco e fazer as coisas corretamente, em vez de se esforçar e simplesmente fazer o que precisa ser feito”, disse o gerente. “E isso precisa ser mudado nos níveis executivos, nos níveis mais altos”, acrescentou.

Os documentos divulgados na terça-feira, incluindo as transcrições das entrevistas, totalizaram mais de 3 mil páginas. Sua divulgação ocorreu no momento em que o NTSB realizou o primeiro de dois dias de audiências nesta semana para reunir mais informações sobre o acidente que abalou a confiança do público nas viagens aéreas comerciais e levou a um novo exame minucioso das operações da famosa empresa.

Entre os líderes da Boeing previstos para falar nas audiências estão Elizabeth Lund, executiva sênior que supervisiona a qualidade da divisão de aviões comerciais da empresa, e Terry George, executivo de alto escalão da Spirit AeroSystems, fornecedora da Boeing responsável pela fabricação da fuselagem envolvida no acidente.

Segundo disse Elizabeth, a Boeing está trabalhando em mudanças no projeto do 737 Max que impedirão que um painel de porta seja fechado se houver algum problema. A empresa, segundo ela, espera implementar as mudanças dentro de um ano e equipar outros aviões com as atualizações.

Executivos disseram aos investigadores em depoimentos que também fizeram mudanças no processo de documentação quando as peças são removidas. No entanto, a presidente do NTSB, Jennifer Homendy, disse aos repórteres que documentos e entrevistas com funcionários da Boeing mostram que a empresa sabe há anos sobre problemas em seu programa de fabricação. Isso inclui defeitos nas fuselagens da Spirit, que forçam os trabalhadores a fazer o serviço fora da sequência.

No entanto, foi somente após o acidente que a empresa começou a se recusar a aceitar fuselagens fora de conformidade. Em junho, a Boeing anunciou que havia chegado a um acordo para readquirir a Spirit, vendida em 2005 por corte de custos, como parte de um esforço para aumentar a qualidade dos fornecedores.

“Por que é preciso uma tragédia grave, que poderia ter sido muito mais grave, para que a mudança ocorra?”, disse Homendy aos repórteres durante um intervalo na audiência de terça-feira. Ela afirmou que os investigadores não conseguiram entrevistar o gerente do painel da porta, que está em licença médica.

Outros funcionários presentes durante o processo de montagem final forneceram declarações por escrito, mas os investigadores questionaram alguns de seus relatos. “Tenho algumas preocupações porque cada uma dessas declarações escritas termina com a frase: ‘Não tenho conhecimento. Não tenho conhecimento. Não sei”, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “É a mesma frase de fato. Portanto, tenho algumas dúvidas sobre isso.”

Embora ninguém tenha se ferido gravemente, as consequências do incidente foram generalizadas, levando a várias investigações sobre uma empresa que havia prometido um foco maior na segurança anos atrás, após dois acidentes com o 737 Max em 2018 e 2019 que mataram um total de 346 pessoas na Indonésia e na Etiópia.

Imagem divulgada pela pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes mostra onde foi o rombo na fuselagem do Boeing 737 Max da Alaska Airlines.  Foto: National Transportation Safety Board via AP

Relatório preliminar

Em um relatório preliminar divulgado pelo NTSB em fevereiro, os investigadores determinaram que quatro parafusos projetados para manter o painel no lugar não foram reinstalados depois que a peça foi removida para que pudessem ser feitos reparos na fuselagem do avião. Os investigadores disseram que não conseguiram localizar a documentação que mostra quem removeu os parafusos e por que eles não foram reinstalados. Os funcionários da Boeing disseram que não existe tal documentação.

A luta para reconstruir a jornada do avião pela fábrica também colocou os investigadores federais e a Boeing em conflito durante a investigação do painel da porta. Em uma audiência realizada em março perante o Comitê de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, Homendy acusou a Boeing de reter informações essenciais para a investigação da agência, incluindo os nomes das pessoas que podem ter trabalhado no painel da porta enquanto o avião estava sendo montado nas instalações da companhia aérea em Renton, Washington. Porém, na terça-feira, Homendy disse que a Boeing tem respondido às solicitações de documentação.

A investigação lançou luz sobre os problemas de fabricação da Boeing em um momento em que ela tenta se reconstruir a partir da paralisação do 737 Max após os acidentes e a pandemia do coronavírus. Esses problemas mais amplos de montagem contribuíram para uma rotatividade significativa de pessoal, disseram os executivos da Boeing ao NTSB.

Lloyd Catlin, um representante da Associação Internacional de Maquinistas e Trabalhadores Aeroespaciais que falou na audiência de terça-feira, disse que, entre janeiro de 2023 e maio de 2023, dois terços dos trabalhadores da fábrica de Renton tinham menos de dois anos de experiência com a Boeing.

A empresa disse que está trabalhando para resolver os problemas remanescentes e reconstruir a confiança do público e dos reguladores da Administração Federal de Aviação (FAA). Mas as entrevistas com os trabalhadores mostram que a Boeing precisa mostrar muito mais para melhorar sua cultura de segurança, disse Homendy aos repórteres na terça-feira. “Não há muita confiança”, disse ela. “Há muita desconfiança entre a força de trabalho e a gerência. E depois, é claro, a FAA tem um papel importante para garantir a supervisão.”

Renúncia

Após a explosão no ar, o CEO da Boeing, Dave Calhoun, decidiu renunciar, assim como outros líderes seniores. Na semana passada, a empresa nomeou Kelly Ortberg, executivo de longa data do setor aeroespacial, como seu próximo executivo-chefe. Ortberg, 64 anos, assumirá oficialmente o cargo na quinta-feira, 8.

A FAA também está no foco das atenções. Na semana passada, a senadora Maria Cantwell, de Washington, presidente do Comitê de Comércio, enviou uma carta ao administrador da FAA, Michael Whitaker, observando que a agência havia feito quase 300 auditorias na Boeing e na Spirit AeroSystems nos dois anos anteriores, mas nenhuma resultou em ações de fiscalização. Entretanto, uma auditoria especial encomendada pela agência revelou inúmeros problemas de não conformidade na Boeing.

A supervisão da Boeing pela FAA será examinada no segundo dia da audiência do NTSB. Um relatório final sobre a explosão, incluindo causas prováveis e recomendações, pode levar de um ano a 18 meses para ser concluído.

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