Brasil e China: veja a evolução da relação comercial entre os dois países


Corrente comercial entre os dois países passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões em 2023

Por Clayton Freitas
Atualização:

Nesta quarta-feira, 20, o presidente da China, Xi Jinping, será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Alvorada, em Brasília. Segundo o Palácio do Planalto, a agenda prevê reunião, cerimônia de assinatura de atos, declaração à imprensa e almoço. À noite, será oferecido um jantar ao chefe de estado do país asiático, parceiro comercial do Brasil há 50 anos, e destino principal das exportações brasileiras.

Em um intervalo de 20 anos, a corrente do comércio bilateral entre o Brasil e a China passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões, resultado obtido em 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Dados deste ano indicam que o comércio chegou a US$ 136,35 bilhões até outubro.

Ainda no ano passado, os embarques brasileiros para a China superaram em três vezes o que foi enviado para os Estados Unidos - a China é a maior parceira comercial do Brasil, enquanto os EUA ficam em segundo lugar. Desde 2009, a China já havia superado os Estados Unidos em vendas externas do Brasil, e, no ano passado, respondeu por 31% do total exportado e por 23% das importações. No gráfico abaixo é possível observar essa evolução. Navegue com o mouse para ver os números absolutos de cada período.

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Tudo indica que esse volume irá crescer ainda mais, sobretudo se as tarifas adicionais de 60% ou mais sobre as todas as importações chinesas, alardeadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de fato forem colocadas em prática em seu novo governo, segundo análise do economista Paulo Feldmann, coordenador de projetos e professor da FIA Business School. “Se isso de fato acontecer, a China poderá comprar mais produtos do Brasil, já que vai agora precisar mais ainda do País, sobretudo em questões de muitos produtos agrícolas. Podem ser ampliadas ainda mais as exportações de milho, trigo, soja e até mesmo açúcar”, avalia Feldmann.

Ele lembra que a relação comercial entre o Brasil e a China teve início há 50 anos, em 1974, quando o Brasil era comandado pelos militares. “A China era um país comunista, como ainda é, e, à época, os militares tinham muitas restrições ao comunismo. Mesmo assim, foi iniciada a relação comercial nesta época”, diz Feldmann.

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Segundo ele explica, essa relação se intensificou justamente nas últimas duas décadas, com o rápido desenvolvimento da China. Um dos focos do país asiático era a eliminação da pobreza e isso demandou mais alimentos. Já o Brasil historicamente foi importador de produtos manufaturados, ainda mais nos últimos anos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Xi Jinping, da China, durante encontro do G-20.  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Soja, semicondutores e carros elétricos

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Entre os cinco produtos mais exportados pelo Brasil para a China a soja ficou em primeiro nos últimos cinco anos, segundo dados do Ministério. Já o item que o Brasil mais importou da China no mesmo período foram semicondutores. Veja a seguir a lista com os produtos mais exportados e importados entre os dois países nos últimos cinco anos.

Itens mais exportados pelo Brasil para a China

  1. Soja: US$ 169,2 bilhões
  2. Minério de ferro e seus concentrados, não aglomerado: US$ 113,9 bilhões
  3. Óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, cruds: US$ 94,9 bilhões
  4. Carne de gado bovino congelada, desossada: US$ 29,15 bilhões
  5. Pastas químicas de madeira, ao bissulfito, exceto pastas para dissolução, não-coníferas: US$ 17,4 bilhões
  6. Açúcar de cana, em bruto: US$ 8,9 bilhões
  7. Cortes de aves ou outros despojos, congelados: US$ 7,78 bilhões
  8. Algodão (exceto fios), não cardado nem penteado: US$ 6,8 bilhões
  9. Ferro-ligas: US$ 5,3 bilhões
  10. Minérios de cobre e seus concentrados: US$ 2,76 bilhões
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Itens mais importados pelo Brasil da China

  1. Dispositivos fotossensíveis semicondutores; diodos emissores de luz: US$ 16,9 bilhões
  2. Peças: US$ 8,2 bilhões
  3. Herbicidas, inibidores de germinação e reguladores de crescimento para plantas: US$ 6,9 bilhões
  4. Conversores estáticos (por exemplo, retificadores): US$ 4,85 bilhões
  5. Veículos automóveis para transporte de pessoas: US$ 4,55 bilhões
  6. Peças e acessórios (exceto estojos, capas e semelhantes) exclusiva ou principalmente destinados às máquinas do grupo 752: US$ 4,53 bilhões
  7. Processadores e controladores, mesmo combinados com memórias, conversores, circuitos lógicos, amplificadores, circuitos temporizadores e de sincronização, outros circuitos: US$ 4,2 bilhões
  8. Sulfato de amônio: US$ 4 bilhões
  9. Outros aparelhos para transmissão ou recepção de voz, imagens ou outros dados, incluindo os aparelhos para comunicação em redes por fio ou sem fio (tais como uma rede local ou de longa distância): US$ 4 bilhões
  10. Meios magnéticos: US$ 2,65 bilhões

O volume de veículos trazidos para o País soma US$ 4,85 bilhões no período analisado. Em 2023, a importação de veículos pelo Brasil era de US$ 1,08 bilhão, número que mais que duplicou neste ano, com US$ 2,95 bilhões.

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A evolução pode ser explicada pela entrada dos elétricos no mercado brasileiro. “O carro elétrico ocupa hoje uma fatia significativa das importações vindas da China, dado ao boom enorme que está ocorendo. Na esteira disso, vem os investimentos diretos na base de montadoras em busca de industrialização”, afirma Guilherme Rosenthal, co-fundador da Vixtra, uma fintech focada em crédito para importadores.

Fábrica de baterias para ônibus elétricos da BYD em Manaus (AM); relação com a China não é restrita à pauta de exportações e importações, mas também aos investimentos do país asiático no Brasil Foto: BYD/Divulgação

Concentração

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Para os especialistas ouvidos pela reportagem, no que depender das atuais taxas de crescimento da China - só no último trimestre, o país avançou 4,6% - as exportações brasileiras para o gigante asiático devem evoluir ainda mais.

“Não é uma relação maravilhosa para o Brasil, já que a gente exporta commodities. Além dos produtos agrícolas, exportamos muito minerais, que também são commodities, cujo preço não é determinado por nós, mas por bolsas internacionais. Já nós compramos produtos altamente sofisticados”, avalia Feldmann. “Quando tínhamos esse tipo de relação com os EUA, havia críticas muito sérias, chamando eles (norte-americanos) de imperialistas. Mas também vivemos hoje uma relação imperialista”, complementa.

Para Rosenthal, a pauta de exportações do Brasil melhorou com a venda de produtos mais industrializados, como no caso de jatos e aviões comerciais, mas ainda é muito concentrada. “Há sempre dois lados da moeda. É, sim, um risco para o Brasil ter uma concentração tão grande”, avalia.

Os dois analistas indicam que a importante relação comercial do Brasil com a China não se limita apenas às exportações e importações. Um estudo da Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), com base nos dados do Banco Central, indica que a China já é o oitavo maior investidor do Brasil, com US$ 37 bilhões até junho deste ano, sendo que US$ 14 bilhões foram no setor de energia.

Feldmann, também docente da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA-USP), diz que essa relação têm impactos também em outras áreas, como a acadêmica, devido ao interesse de chineses, que, segundo ele, estudam muito sobre o Brasil. “Existem de fato outros interesses, além do puramente comerciais, como apoiar a pesquisa científica e as universidades”, afirma.

Desde 2017, a USP é uma das 12 universidades latino-americanas que participam de um consórcio coordenado pela Fudan University, de Xangai, uma das mais antigas e importantes do país asiático. Em debate, temas comuns tanto à China quanto ao Brasil, como aumento da produtividade, mudanças climáticas e combate à poluição, impactos da automação e da inteligência artificial sobre o emprego, melhoria do ensino e também erradicação da pobreza.

Nesta quarta-feira, 20, o presidente da China, Xi Jinping, será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Alvorada, em Brasília. Segundo o Palácio do Planalto, a agenda prevê reunião, cerimônia de assinatura de atos, declaração à imprensa e almoço. À noite, será oferecido um jantar ao chefe de estado do país asiático, parceiro comercial do Brasil há 50 anos, e destino principal das exportações brasileiras.

Em um intervalo de 20 anos, a corrente do comércio bilateral entre o Brasil e a China passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões, resultado obtido em 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Dados deste ano indicam que o comércio chegou a US$ 136,35 bilhões até outubro.

Ainda no ano passado, os embarques brasileiros para a China superaram em três vezes o que foi enviado para os Estados Unidos - a China é a maior parceira comercial do Brasil, enquanto os EUA ficam em segundo lugar. Desde 2009, a China já havia superado os Estados Unidos em vendas externas do Brasil, e, no ano passado, respondeu por 31% do total exportado e por 23% das importações. No gráfico abaixo é possível observar essa evolução. Navegue com o mouse para ver os números absolutos de cada período.

Tudo indica que esse volume irá crescer ainda mais, sobretudo se as tarifas adicionais de 60% ou mais sobre as todas as importações chinesas, alardeadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de fato forem colocadas em prática em seu novo governo, segundo análise do economista Paulo Feldmann, coordenador de projetos e professor da FIA Business School. “Se isso de fato acontecer, a China poderá comprar mais produtos do Brasil, já que vai agora precisar mais ainda do País, sobretudo em questões de muitos produtos agrícolas. Podem ser ampliadas ainda mais as exportações de milho, trigo, soja e até mesmo açúcar”, avalia Feldmann.

Ele lembra que a relação comercial entre o Brasil e a China teve início há 50 anos, em 1974, quando o Brasil era comandado pelos militares. “A China era um país comunista, como ainda é, e, à época, os militares tinham muitas restrições ao comunismo. Mesmo assim, foi iniciada a relação comercial nesta época”, diz Feldmann.

Segundo ele explica, essa relação se intensificou justamente nas últimas duas décadas, com o rápido desenvolvimento da China. Um dos focos do país asiático era a eliminação da pobreza e isso demandou mais alimentos. Já o Brasil historicamente foi importador de produtos manufaturados, ainda mais nos últimos anos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Xi Jinping, da China, durante encontro do G-20.  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Soja, semicondutores e carros elétricos

Entre os cinco produtos mais exportados pelo Brasil para a China a soja ficou em primeiro nos últimos cinco anos, segundo dados do Ministério. Já o item que o Brasil mais importou da China no mesmo período foram semicondutores. Veja a seguir a lista com os produtos mais exportados e importados entre os dois países nos últimos cinco anos.

Itens mais exportados pelo Brasil para a China

  1. Soja: US$ 169,2 bilhões
  2. Minério de ferro e seus concentrados, não aglomerado: US$ 113,9 bilhões
  3. Óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, cruds: US$ 94,9 bilhões
  4. Carne de gado bovino congelada, desossada: US$ 29,15 bilhões
  5. Pastas químicas de madeira, ao bissulfito, exceto pastas para dissolução, não-coníferas: US$ 17,4 bilhões
  6. Açúcar de cana, em bruto: US$ 8,9 bilhões
  7. Cortes de aves ou outros despojos, congelados: US$ 7,78 bilhões
  8. Algodão (exceto fios), não cardado nem penteado: US$ 6,8 bilhões
  9. Ferro-ligas: US$ 5,3 bilhões
  10. Minérios de cobre e seus concentrados: US$ 2,76 bilhões

Itens mais importados pelo Brasil da China

  1. Dispositivos fotossensíveis semicondutores; diodos emissores de luz: US$ 16,9 bilhões
  2. Peças: US$ 8,2 bilhões
  3. Herbicidas, inibidores de germinação e reguladores de crescimento para plantas: US$ 6,9 bilhões
  4. Conversores estáticos (por exemplo, retificadores): US$ 4,85 bilhões
  5. Veículos automóveis para transporte de pessoas: US$ 4,55 bilhões
  6. Peças e acessórios (exceto estojos, capas e semelhantes) exclusiva ou principalmente destinados às máquinas do grupo 752: US$ 4,53 bilhões
  7. Processadores e controladores, mesmo combinados com memórias, conversores, circuitos lógicos, amplificadores, circuitos temporizadores e de sincronização, outros circuitos: US$ 4,2 bilhões
  8. Sulfato de amônio: US$ 4 bilhões
  9. Outros aparelhos para transmissão ou recepção de voz, imagens ou outros dados, incluindo os aparelhos para comunicação em redes por fio ou sem fio (tais como uma rede local ou de longa distância): US$ 4 bilhões
  10. Meios magnéticos: US$ 2,65 bilhões

O volume de veículos trazidos para o País soma US$ 4,85 bilhões no período analisado. Em 2023, a importação de veículos pelo Brasil era de US$ 1,08 bilhão, número que mais que duplicou neste ano, com US$ 2,95 bilhões.

A evolução pode ser explicada pela entrada dos elétricos no mercado brasileiro. “O carro elétrico ocupa hoje uma fatia significativa das importações vindas da China, dado ao boom enorme que está ocorendo. Na esteira disso, vem os investimentos diretos na base de montadoras em busca de industrialização”, afirma Guilherme Rosenthal, co-fundador da Vixtra, uma fintech focada em crédito para importadores.

Fábrica de baterias para ônibus elétricos da BYD em Manaus (AM); relação com a China não é restrita à pauta de exportações e importações, mas também aos investimentos do país asiático no Brasil Foto: BYD/Divulgação

Concentração

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, no que depender das atuais taxas de crescimento da China - só no último trimestre, o país avançou 4,6% - as exportações brasileiras para o gigante asiático devem evoluir ainda mais.

“Não é uma relação maravilhosa para o Brasil, já que a gente exporta commodities. Além dos produtos agrícolas, exportamos muito minerais, que também são commodities, cujo preço não é determinado por nós, mas por bolsas internacionais. Já nós compramos produtos altamente sofisticados”, avalia Feldmann. “Quando tínhamos esse tipo de relação com os EUA, havia críticas muito sérias, chamando eles (norte-americanos) de imperialistas. Mas também vivemos hoje uma relação imperialista”, complementa.

Para Rosenthal, a pauta de exportações do Brasil melhorou com a venda de produtos mais industrializados, como no caso de jatos e aviões comerciais, mas ainda é muito concentrada. “Há sempre dois lados da moeda. É, sim, um risco para o Brasil ter uma concentração tão grande”, avalia.

Os dois analistas indicam que a importante relação comercial do Brasil com a China não se limita apenas às exportações e importações. Um estudo da Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), com base nos dados do Banco Central, indica que a China já é o oitavo maior investidor do Brasil, com US$ 37 bilhões até junho deste ano, sendo que US$ 14 bilhões foram no setor de energia.

Feldmann, também docente da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA-USP), diz que essa relação têm impactos também em outras áreas, como a acadêmica, devido ao interesse de chineses, que, segundo ele, estudam muito sobre o Brasil. “Existem de fato outros interesses, além do puramente comerciais, como apoiar a pesquisa científica e as universidades”, afirma.

Desde 2017, a USP é uma das 12 universidades latino-americanas que participam de um consórcio coordenado pela Fudan University, de Xangai, uma das mais antigas e importantes do país asiático. Em debate, temas comuns tanto à China quanto ao Brasil, como aumento da produtividade, mudanças climáticas e combate à poluição, impactos da automação e da inteligência artificial sobre o emprego, melhoria do ensino e também erradicação da pobreza.

Nesta quarta-feira, 20, o presidente da China, Xi Jinping, será recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Alvorada, em Brasília. Segundo o Palácio do Planalto, a agenda prevê reunião, cerimônia de assinatura de atos, declaração à imprensa e almoço. À noite, será oferecido um jantar ao chefe de estado do país asiático, parceiro comercial do Brasil há 50 anos, e destino principal das exportações brasileiras.

Em um intervalo de 20 anos, a corrente do comércio bilateral entre o Brasil e a China passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões, resultado obtido em 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Dados deste ano indicam que o comércio chegou a US$ 136,35 bilhões até outubro.

Ainda no ano passado, os embarques brasileiros para a China superaram em três vezes o que foi enviado para os Estados Unidos - a China é a maior parceira comercial do Brasil, enquanto os EUA ficam em segundo lugar. Desde 2009, a China já havia superado os Estados Unidos em vendas externas do Brasil, e, no ano passado, respondeu por 31% do total exportado e por 23% das importações. No gráfico abaixo é possível observar essa evolução. Navegue com o mouse para ver os números absolutos de cada período.

Tudo indica que esse volume irá crescer ainda mais, sobretudo se as tarifas adicionais de 60% ou mais sobre as todas as importações chinesas, alardeadas pelo presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, de fato forem colocadas em prática em seu novo governo, segundo análise do economista Paulo Feldmann, coordenador de projetos e professor da FIA Business School. “Se isso de fato acontecer, a China poderá comprar mais produtos do Brasil, já que vai agora precisar mais ainda do País, sobretudo em questões de muitos produtos agrícolas. Podem ser ampliadas ainda mais as exportações de milho, trigo, soja e até mesmo açúcar”, avalia Feldmann.

Ele lembra que a relação comercial entre o Brasil e a China teve início há 50 anos, em 1974, quando o Brasil era comandado pelos militares. “A China era um país comunista, como ainda é, e, à época, os militares tinham muitas restrições ao comunismo. Mesmo assim, foi iniciada a relação comercial nesta época”, diz Feldmann.

Segundo ele explica, essa relação se intensificou justamente nas últimas duas décadas, com o rápido desenvolvimento da China. Um dos focos do país asiático era a eliminação da pobreza e isso demandou mais alimentos. Já o Brasil historicamente foi importador de produtos manufaturados, ainda mais nos últimos anos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimenta Xi Jinping, da China, durante encontro do G-20.  Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República

Soja, semicondutores e carros elétricos

Entre os cinco produtos mais exportados pelo Brasil para a China a soja ficou em primeiro nos últimos cinco anos, segundo dados do Ministério. Já o item que o Brasil mais importou da China no mesmo período foram semicondutores. Veja a seguir a lista com os produtos mais exportados e importados entre os dois países nos últimos cinco anos.

Itens mais exportados pelo Brasil para a China

  1. Soja: US$ 169,2 bilhões
  2. Minério de ferro e seus concentrados, não aglomerado: US$ 113,9 bilhões
  3. Óleos de petróleo ou de minerais betuminosos, cruds: US$ 94,9 bilhões
  4. Carne de gado bovino congelada, desossada: US$ 29,15 bilhões
  5. Pastas químicas de madeira, ao bissulfito, exceto pastas para dissolução, não-coníferas: US$ 17,4 bilhões
  6. Açúcar de cana, em bruto: US$ 8,9 bilhões
  7. Cortes de aves ou outros despojos, congelados: US$ 7,78 bilhões
  8. Algodão (exceto fios), não cardado nem penteado: US$ 6,8 bilhões
  9. Ferro-ligas: US$ 5,3 bilhões
  10. Minérios de cobre e seus concentrados: US$ 2,76 bilhões

Itens mais importados pelo Brasil da China

  1. Dispositivos fotossensíveis semicondutores; diodos emissores de luz: US$ 16,9 bilhões
  2. Peças: US$ 8,2 bilhões
  3. Herbicidas, inibidores de germinação e reguladores de crescimento para plantas: US$ 6,9 bilhões
  4. Conversores estáticos (por exemplo, retificadores): US$ 4,85 bilhões
  5. Veículos automóveis para transporte de pessoas: US$ 4,55 bilhões
  6. Peças e acessórios (exceto estojos, capas e semelhantes) exclusiva ou principalmente destinados às máquinas do grupo 752: US$ 4,53 bilhões
  7. Processadores e controladores, mesmo combinados com memórias, conversores, circuitos lógicos, amplificadores, circuitos temporizadores e de sincronização, outros circuitos: US$ 4,2 bilhões
  8. Sulfato de amônio: US$ 4 bilhões
  9. Outros aparelhos para transmissão ou recepção de voz, imagens ou outros dados, incluindo os aparelhos para comunicação em redes por fio ou sem fio (tais como uma rede local ou de longa distância): US$ 4 bilhões
  10. Meios magnéticos: US$ 2,65 bilhões

O volume de veículos trazidos para o País soma US$ 4,85 bilhões no período analisado. Em 2023, a importação de veículos pelo Brasil era de US$ 1,08 bilhão, número que mais que duplicou neste ano, com US$ 2,95 bilhões.

A evolução pode ser explicada pela entrada dos elétricos no mercado brasileiro. “O carro elétrico ocupa hoje uma fatia significativa das importações vindas da China, dado ao boom enorme que está ocorendo. Na esteira disso, vem os investimentos diretos na base de montadoras em busca de industrialização”, afirma Guilherme Rosenthal, co-fundador da Vixtra, uma fintech focada em crédito para importadores.

Fábrica de baterias para ônibus elétricos da BYD em Manaus (AM); relação com a China não é restrita à pauta de exportações e importações, mas também aos investimentos do país asiático no Brasil Foto: BYD/Divulgação

Concentração

Para os especialistas ouvidos pela reportagem, no que depender das atuais taxas de crescimento da China - só no último trimestre, o país avançou 4,6% - as exportações brasileiras para o gigante asiático devem evoluir ainda mais.

“Não é uma relação maravilhosa para o Brasil, já que a gente exporta commodities. Além dos produtos agrícolas, exportamos muito minerais, que também são commodities, cujo preço não é determinado por nós, mas por bolsas internacionais. Já nós compramos produtos altamente sofisticados”, avalia Feldmann. “Quando tínhamos esse tipo de relação com os EUA, havia críticas muito sérias, chamando eles (norte-americanos) de imperialistas. Mas também vivemos hoje uma relação imperialista”, complementa.

Para Rosenthal, a pauta de exportações do Brasil melhorou com a venda de produtos mais industrializados, como no caso de jatos e aviões comerciais, mas ainda é muito concentrada. “Há sempre dois lados da moeda. É, sim, um risco para o Brasil ter uma concentração tão grande”, avalia.

Os dois analistas indicam que a importante relação comercial do Brasil com a China não se limita apenas às exportações e importações. Um estudo da Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), com base nos dados do Banco Central, indica que a China já é o oitavo maior investidor do Brasil, com US$ 37 bilhões até junho deste ano, sendo que US$ 14 bilhões foram no setor de energia.

Feldmann, também docente da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA-USP), diz que essa relação têm impactos também em outras áreas, como a acadêmica, devido ao interesse de chineses, que, segundo ele, estudam muito sobre o Brasil. “Existem de fato outros interesses, além do puramente comerciais, como apoiar a pesquisa científica e as universidades”, afirma.

Desde 2017, a USP é uma das 12 universidades latino-americanas que participam de um consórcio coordenado pela Fudan University, de Xangai, uma das mais antigas e importantes do país asiático. Em debate, temas comuns tanto à China quanto ao Brasil, como aumento da produtividade, mudanças climáticas e combate à poluição, impactos da automação e da inteligência artificial sobre o emprego, melhoria do ensino e também erradicação da pobreza.

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