RIO - A pandemia de covid-19 acelerou nos últimos dois anos o acesso à internet no Brasil, mas 7,280 milhões de famílias permaneciam sem conexão à rede em casa em 2021. Cerca de 28,2 milhões de brasileiros de 10 anos ou mais de idade não usavam a internet, sendo 3,6 milhões deles estudantes. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Tecnologia da Informação e Comunicação 2021, a Pnad TIC, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os excluídos digitais representavam 15,3% da população com 10 anos ou mais de idade. Dois em cada dez apontaram motivos financeiros para a falta de acesso à internet: 14,0% disseram que o acesso à rede era caro, e outros 6,2% declararam que o equipamento eletrônico necessário era caro. Os dois motivos mais mencionados para a exclusão digital foram não saber usar a internet (42,2%) e falta de interesse em acessar a internet (27,7%).
Entre os estudantes que não tinham internet, a maioria esmagadora frequentava a rede pública de ensino: 94,7%. Os estudantes de 10 anos ou mais que ainda eram excluídos digitais em 2021 relataram maior peso da questão financeira para o problema: 25,1% consideravam o serviço caro e 18,3% afirmaram que o equipamento necessário para o acesso era caro. As demais razões apontadas para a falta de acesso à rede foram ausência de interesse (17,5%), não saber utilizar (15,9%) e falta de disponibilidade do serviço nos locais que costumava frequentar (10,6%).
A exclusão digital era mais grave no pré-pandemia, quando havia 37 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais de idade sem acesso à internet, 8,8 milhões de pessoas a mais que em 2021. Em 2019, 11,365 milhões de lares estavam desconectados da rede, 4,085 milhões a mais que em 2021.
No ano passado, entre os 183,9 milhões de brasileiros de 10 anos ou mais de idade, 84,7%, ou 155,7 milhões, utilizaram a internet. Entre as mulheres, 85,6% estavam conectadas, ante uma proporção de 83,7% dos homens.
Acesso pelo celular
Na população que usava a internet, o meio de acesso mais adotado foi o telefone móvel celular, mencionado por 98,8% dos conectados, seguido pela televisão (45,1%), pelo microcomputador (41,9%) e pelo tablet (9,3%).
“É a primeira vez que a televisão supera o microcomputador no acesso à internet, a primeira vez que a televisão fica em segundo lugar no acesso à internet”, disse Flávia Vinhaes, analista do IBGE.
A principal finalidade da internet foi conversar por chamadas de voz ou vídeo (mencionada por 95,7% dos usuários), ultrapassando assim o envio ou recebimento de mensagens de texto, voz ou imagens por aplicativos (com 94,9% das menções), seguida pela opção de assistir a vídeos, inclusive programas, séries e filmes (89,1%) e enviar e receber e-mail (62,0%).
Os domicílios com internet que utilizavam a conexão discada eram apenas 0,1% do total conectado em 2021.
“Até 2019, ambos os tipos de conexão por banda larga mostraram gradual sentido de crescimento nos domicílios, ao passo que, em 2021, a banda larga móvel (3G ou 4G) se reduziu e a fixa aumentou, fazendo com que, pela primeira vez na série, a proporção de domicílios com acesso à banda larga fixa superasse a da banda larga móvel”, apontou o IBGE, em nota.
Nos domicílios com internet, o porcentual com banda larga móvel passou de 81,2% em 2019 para 79,2% em 2021, enquanto a fatia com banda larga fixa aumentou de 78,0% para 83,5%. Na Região Norte, a banda larga fixa avançou de 54,7% dos domicílios conectados em 2019 para 70,5% em 2021.
No ano passado, 155,2 milhões de pessoas tinham aparelho de telefone celular no País, 84,4% da população com 10 anos ou mais. Entre os 28,7 milhões sem telefone celular, 8,9 milhões eram estudantes, sendo 91,6% deles da rede pública de ensino. O principal motivo para a ausência de telefone nesse nicho da população também foi financeiro, 40% dos estudantes do ensino público sem celular disseram que o aparelho telefônico era caro, e outros 4,7% relataram que o serviço era caro.
Televisão em casa
Durante a pandemia, aumentou o número de domicílios particulares permanentes no País, de 71,12 milhões em 2019 para 72,9 milhões em 2021, mas diminuiu a proporção deles com televisão, de 96,2% para 95,5%. O total de lares sem televisão aumentou de 2,7 milhões em 2019 para 3,2 milhões em 2021.
“O número de domicílios cresce mais rápido que o número de domicílios com televisão”, explicou Vinhaes.
Na passagem de 2019 para 2021, o número de domicílios com televisão de tela fina subiu de 55,9 milhões para 61,4 milhões, enquanto o total com televisão de tubo diminuiu de 17,6 milhões para 11,0 milhões.
A proporção de lares apenas com televisão de tela fina cresceu de 74,3% em 2019 para 84,2% em 2021, e a fatia que possuía somente televisão de tubo caiu de 18,3% para 11,9%. A proporção com ambos os tipos de televisão teve redução de 7,4% para 3,9%.
Embora venha melhorando o acesso da população a aparelhos de TV mais modernos, antenas ou conversores para recebimento do serviço digital, ainda havia 1,539 milhão de famílias no ano passado sem alternativa à televisão analógica aberta, sendo 80,6% delas em área urbana, o equivalente a 1,2 milhão de domicílios.
“O processo de implantação do sinal digital para acesso aos canais de televisão aberta em substituição ao analógico, transmitido por antenas terrestres, ainda estava em andamento em 2021. Quando a transmissão do sinal analógico for inteiramente desligada, as televisões sem conversor para receber o sinal digital não terão acesso direto aos canais de televisão aberta, a não ser por meio de televisão por assinatura ou antena parabólica”, lembrou o IBGE.
Em 2020, primeiro ano da pandemia de covid-19, o IBGE não coletou informações na Pnad Contínua sobre acesso à internet, televisão e posse de telefone celular. Por questões sanitárias, a coleta da pesquisa passou de presencial a remota, feita por telefone, forçando um enxugamento do questionário para que contemplasse somente os temas do núcleo básico da pesquisa, justificou o instituto. Por este motivo, a série histórica sobre as informações de televisão e internet, iniciada em 2016, foi interrompida em 2020, e as análises sobre os resultados de 2021 têm como base de comparação o ano de 2019, no pré-pandemia.