A queda de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre teve forte influência de fatores temporários, como a redução na produção de minério de ferro após a tragédia da barragem da Vale em Brumadinho (MG). Mas os sinais iniciais são de que a atividade deve seguir fraca no segundo trimestre do ano e o PIB pode vir novamente negativo, na avaliação da consultoria inglesa Capital Economics. Com isso, o Brasil entraria oficialmente em uma nova recessão (que se configura quando há dois trimestres seguidos de desempenho negativo).
“Há um crescente risco de que a economia se contraia novamente no trimestre atual”, disse William Jackson, economista para a América Latina da Capital Economics. “Existe, agora, um risco real de que a economia entre em recessão técnica”, destacou em relatório, observando os fracos números do investimento privado e a queda das exportações no período.
O economista prevê expansão de 1,5% para o PIB do Brasil em 2019, mas vê chance alta de o número ter de ser revisto para baixo. E este ambiente de baixo crescimento, segundo Jackson, pode trazer cortes de juros para a agenda do Banco Central.
A economista Giulia Coelho, da 4E Consultoria, disse que a queda de 0,2% do PIB no primeiro trimestre é indício de estagnação tanto pelo lado da oferta, quanto pelo lado da demanda. “É difícil afirmar se vai retomar no segundo trimestre, temos muita incerteza no cenário.”
O resultado no primeiro trimestre veio em linha com as expectativas da 4E, disse a economista. Por isso, a consultoria mantém sua estimativa de alta de 1,0% do PIB em 2019. “A perspectiva é de que, com a reforma da Previdência, a economia volte a crescer a uma taxa em torno de 0,5% por trimestre, na margem, até o final do ano.”
Por outro lado, havendo uma frustração com a economia da reforma, ou até mesmo não aprovação, o PIB recebe um viés de baixa, declarou a economista da 4E.
Para Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, a queda do PIB respondeu a um cenário externo mais adverso, com a desaceleração da economia na China e a recessão na Argentina, à renda mais fraca das famílias, por causa da aceleração da inflação no início do ano, e também a choques, como a redução da produção da Vale após a tragédia de Brumadinho (MG), e ao aumento da incerteza.
Ele disse não ver, porém, um cenário de recessão no Brasil e que a perspectiva é que a retomada lenta da economia siga seu curso. "O PIB negativo afetou e afeta a confiança, mas é um processo temporário." Para o segundo trimestre, o economista afirma que a expectativa é de que o PIB fique entre estável e levemente positivo.
No segundo semestre, a retomada se aceleraria, no cenário de Padovani, justamente porque vê um maior efeito da reversão da desaceleração econômica da China e também a diluição das incertezas, com a aprovação da reforma da Previdência.
O Banco Votorantim prevê que a reforma será aprovada em primeiro turno na Câmara antes do recesso parlamentar, com uma economia fiscal em dez anos de cerca de R$ 700 bilhões.
Padovani completa que o País só não continuaria em retomada caso haja novos choques negativos, como uma nova desaceleração da economia chinesa ou a não aprovação da reforma da Previdência ou uma aprovação de uma reforma fraca, coisas que não estão no cenário do Banco Votorantim.