A vida profissional do administrador de empresas André Magozo, de 42 anos, estava indo bem em São Paulo quando sua mulher recebeu um convite para comandar a área de inteligência artificial do Google, nos Estados Unidos. Naquele momento, o executivo tinha dupla jornada numa empresa de private equity e na companhia da família, no setor imobiliário. Apesar disso, ele não titubeou para embarcar na experiência da esposa em terras estrangeiras.
A ideia era se estabelecer no país, organizar a vida por lá e, no futuro, pensar em um novo negócio. Mas, durante as andanças e dificuldades para conseguir uma boa casa para morar, ele viu a oportunidade de explorar o mercado imobiliário americano. Em menos de um ano, ele criou a Fab Homes – uma empresa que faz casas modulares e sustentáveis em Palo Alto, no Vale do Silício. São imóveis desenhados para o estilo de vida e poder aquisitivo dos profissionais locais, e custam alguns milhões de dólares.
“Decidi trazer a arquitetura brasileira para cá em casas pré-fabricadas de luxo e sustentáveis”, diz Magozo. O negócio consiste em comprar terrenos ou casas pequenas e transformá-las em residências luxuosas capazes de atrair os endinheirados do Vale do Silício. A casa adquirida passa por um processo de desconstrução, em que todos os materiais retirados têm alguma destinação, como o concreto, portas, janelas e madeira. Tudo é reaproveitado.
O imóvel novo é construído, em peças, a 350 km de Palo Alto e depois montado no local. “É como um lego, com peças de encaixe”, explica o empresário.
No primeiro negócio, o executivo comprou uma casa de US$ 1,2 milhão, reformou e vendeu por US$ 1,6 milhão; na segunda, comprou por US$ 1,4 milhão e vendeu por US$ 3,5 milhões, em 25 dias.
Magozo usou todas as economias para iniciar o projeto, mas hoje já conta com a parceria de investidores, sobretudo de brasileiros. Com a taxa Selic no atual patamar (subiu para 2,75% ao ano na semana passada), muita gente está em busca de alternativas rentáveis para colocar o dinheiro, incluindo negócios fora do País. Além do capital próprio, ele conseguiu captar R$ 11 milhões – sendo que parte desse valor vem do Brasil. O atrativo está nas elevadas taxas de retorno, entre 10% e 15% ao ano, em dólar.
Para cada projeto é criado uma espécie de Sociedade de Propósito Específico (SPE), em que os parceiros compram cotas. Por enquanto, ele só trabalha com investidores profissionais, que investem valores maiores. Por isso, não precisa de aprovação dos órgãos de controle, como a SEC – a CVM americana. “Queremos ser uma referência na Califórnia, para investidores que gostam da segurança do investimento em imóveis e procuram diversificar o risco ao real. Com a desvalorização do real de mais de 30% este ano, esse interesse aumentou muito em 2020”, diz Magozo.
Em dois anos de operação, a Fab Homes alcançou R$ 28 milhões de faturamento. Para 2022, a previsão é chegar a R$ 104,5 milhões. Esses números estão baseados nos próximos projetos da empresa. Um deles é o de uma casa comprada por US$ 3 milhões e que o executivo espera vender por entre US$ 8 milhões e US$ 9 milhões. O projeto tem assinatura do Studio Arthur Casas, autor do Hotel Emiliano, no Rio de Janeiro; do Four Seasons Private Residences, em São Paulo; e das lojas H.Stern de Nova York e Tel Aviv.
O outro projeto é um condomínio de 10 residências premium, cujo valor geral de vendas (VGV) deve ser de R$ 11 milhões. O empreendimento está localizado em East Palo Alto, próximo às sedes do Facebook e Google. Um dos diferenciais dos empreendimentos da Fab Homes é o uso de materiais e procedimentos sustentáveis, que inclui desde a identificação das áreas até a entrega das chaves. Segundo a empresa, a partir da análise de dados, é possível combinar eficiência industrial à montagem customizada do terreno, reduzindo o desperdício de materiais.