Quem são os sobre-educados, brasileiros com ensino superior que não encontram trabalho qualificado


Número chega a 5,4 milhões de pessoas em todo o País, equivalente à população da Noruega

Por Luiz Guilherme Gerbelli

O mercado de trabalho brasileiro carrega uma estatística perversa. Entre as pessoas ocupadas com ensino superior completo, 5,4 milhões não conseguem exercer um trabalho na área de formação e que exija alta qualificação, mostra um levantamento da consultoria IDados. Na prática, o elevado contingente dos chamados sobre-educados - equivalente à população da Noruega - mostra que o Brasil desperdiça recursos aplicados no ensino superior e, sobretudo, boa parte do seu capital humano.

“O Brasil é um país que investe muito em educação de nível superior. Esse dado indica que parte desses recursos não está atingindo o objetivo principal”, afirma Ana Tereza, pesquisadora do IDados e responsável pelo levantamento. “Essas pessoas sobre-educadas recebem mais na comparação com aquelas que têm um nível médio. Não é um capital humano totalmente perdido, mas, frente ao trabalhador que está numa ocupação que exige ensino superior, elas vão ganhar menos.”

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Nos últimos anos, o número de trabalhadores graduados em funções que exigem uma qualificação menor foi crescente, na esteira da fraqueza do mercado de trabalho. Em 2015 e 2016, houve uma dura recessão econômica, seguida apenas por uma lenta retomada nos anos seguintes, que foi interrompida pelos estragos provocados pela pandemia de coronavírus. No último trimestre de 2019, antes, portanto, da crise sanitária, o contingente de sobre-educados era de 4,5 milhões de pessoas.

“Duas coisas podem ter acontecido. Primeiro, a pessoa ocupava um trabalho de nível superior, ficou desempregada durante a pandemia e, agora, não consegue encontrar um trabalho de nível superior”, afirma Ana. “E segundo, a entrada dos jovens na força de trabalho pode levá-los a ocupar esses cargos de nível superior, fazendo com que a sobre-educação aumente entre os mais velhos.”

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Engenheiro virou marceneiro

Desde que se formou em engenharia civil em 2016, Tales Fernando Lima, de 30 anos, enfrentou uma série de crises e nunca conseguiu trabalhar na sua área de formação. Sem emprego, decidiu, então, ajudar na marcenaria do pai em Pirituba, zona norte de São Paulo. “Quando eu entrei na faculdade, a área de engenharia civil estava bem quente. Havia muita oferta de trabalho, mas a crise pegou, e as empresas pararam de contratar”, diz.

Formado em engenharia civil, Tales não encontrou emprego e foi trabalhar na marcenaria do pai Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO
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Sem experiência, Tales deixou de buscar trabalho como engenheiro. “Se eu arrumar um emprego como engenheiro, também não vou conseguir ganhar o que recebo na oficina de marcenaria. Virou uma questão material também”, afirma.

Agora, ele decidiu partir para uma segunda graduação, em história. Em 2023, vai para o segundo ano. “Decidi fazer o que eu gosto, e espero dar aulas nos próximos anos”, afirma Tales. “Eu me enquadro numa categoria que busca um trabalho na área em que se formou, mas não encontra.”

No interior da Bahia, em Tanhaçu, Iris Naraiana Silva, de 27 anos, enfrenta o mesmo problema. Formada em pedagogia no início de 2020, não consegue exercer a sua profissão, porque não há mais concursos públicos na região. Para ter uma renda, trabalha como assistente administrativa na Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), uma obra do governo federal que pretende ligar o porto de Ilhéus a Tocantins.s. “Como a cidade é pequena, não existem muitas escolas particulares, e as vagas já estão preenchidas.”

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Dos colegas de classe, Iris diz que só trabalham como pedagogos aqueles que já “atuavam na área” durante o curso de graduação. “Mas o restante, não. Trabalha em supermercados e lojas.”

‘Efeito cicatriz’

Entre os jovens, a demora para se inserir no mercado de trabalho na área de formação leva a um cenário ainda mais crítico, porque os primeiros anos de formação são considerados essenciais para o desenvolvimento profissional.

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“O atraso para se inserir no mercado de trabalho acaba gerando o chamado efeito cicatriz. Os jovens que iniciam a carreira em uma crise vão estar em uma desvantagem duradoura. É uma força de trabalho que acaba desaprendendo como realizar as tarefas”, afirma Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.

Num recorte específico realizado entre a população ocupada de 22 a 29 anos, o levantamento do IDados apurou que o País tem 1,06 milhão de trabalhadores com ensino superior completo, mas em funções que exigem baixa qualificação.

Na leitura dos analistas, o Brasil precisa definir como um dos seus principais objetivos a capacidade de abrir oportunidade para os trabalhadores qualificados, como foco especial na população mais jovens.

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“Por conta do envelhecimento da população e desse baixo crescimento esperado para a economia até o final da década, é preciso colocar esses jovens no centro de uma política pública ambiciosa”, diz Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.

O desafio da economia brasileira é urgente e grande para criar empregos qualificados, porque cada vez mais o mercado de trabalho deve receber trabalhadores com graduação completa. Mas a avaliação é que a economia brasileira só vai conseguir dar um salto com investimento em ciência e tecnologia e se endereçar questões ligadas à qualidade educacional, sobretudo, reduzindo a diferença entre escolas públicas e privadas.

“Eu vejo um problema estrutural na educação que acaba afetando a economia no longo prazo. E há alguns problemas que precisam ser resolvidos no campo educacional, como essa discrepância muito grande entre as escolas públicas e privadas”, afirma Bruno Imaizumi, economista da consultoria LCA. “O País precisa pensar em como o mundo está mudando e se estamos formando pessoas com as habilidades requeridas pelas empresas.”

Futuro do mercado de trabalho

Há ainda uma entrave para os próximos anos, com a perspectiva de que a concorrência aumente no mercado de trabalho com o retorno de boa parte da população em busca de emprego, agora que a fase mais aguda da pandemia foi superada e a vacinação está avançada em boa parte do País.

”Ainda não houve um retorno massivo dos inativo a força de trabalho”, diz Assis.

Mais pessoas devem voltar a procurar emprego em 2023 Foto: DANILO M YOSHIOKA / PAGOS

Ao longo de 2022, o mercado de trabalho surpreendeu positivamente. A taxa de desocupação caiu a 8,3% no trimestre encerrado em outubro – o último dado disponível –, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período de 2021, estava em 12,1%.

Além da concorrência, um outro entrave tem a ver com a perda de fôlego esperada para a criação de vagas de trabalho neste ano, diante da expectativa de um crescimento econômico mais fraco do Brasil. O País vai lidar com os impactos cumulativos da alta da taxa básica de juros e o esgotamento do impulso na atividade provocado pela normalização dos serviços presenciais.

“Não se espera uma queda da ocupação ao longo do ano, mas uma ampliação do número de desocupados, de pessoas fazendo um busca efetiva por um emprego”, diz o economista da consultoria Tendências.

O mercado de trabalho brasileiro carrega uma estatística perversa. Entre as pessoas ocupadas com ensino superior completo, 5,4 milhões não conseguem exercer um trabalho na área de formação e que exija alta qualificação, mostra um levantamento da consultoria IDados. Na prática, o elevado contingente dos chamados sobre-educados - equivalente à população da Noruega - mostra que o Brasil desperdiça recursos aplicados no ensino superior e, sobretudo, boa parte do seu capital humano.

“O Brasil é um país que investe muito em educação de nível superior. Esse dado indica que parte desses recursos não está atingindo o objetivo principal”, afirma Ana Tereza, pesquisadora do IDados e responsável pelo levantamento. “Essas pessoas sobre-educadas recebem mais na comparação com aquelas que têm um nível médio. Não é um capital humano totalmente perdido, mas, frente ao trabalhador que está numa ocupação que exige ensino superior, elas vão ganhar menos.”

Nos últimos anos, o número de trabalhadores graduados em funções que exigem uma qualificação menor foi crescente, na esteira da fraqueza do mercado de trabalho. Em 2015 e 2016, houve uma dura recessão econômica, seguida apenas por uma lenta retomada nos anos seguintes, que foi interrompida pelos estragos provocados pela pandemia de coronavírus. No último trimestre de 2019, antes, portanto, da crise sanitária, o contingente de sobre-educados era de 4,5 milhões de pessoas.

“Duas coisas podem ter acontecido. Primeiro, a pessoa ocupava um trabalho de nível superior, ficou desempregada durante a pandemia e, agora, não consegue encontrar um trabalho de nível superior”, afirma Ana. “E segundo, a entrada dos jovens na força de trabalho pode levá-los a ocupar esses cargos de nível superior, fazendo com que a sobre-educação aumente entre os mais velhos.”

Engenheiro virou marceneiro

Desde que se formou em engenharia civil em 2016, Tales Fernando Lima, de 30 anos, enfrentou uma série de crises e nunca conseguiu trabalhar na sua área de formação. Sem emprego, decidiu, então, ajudar na marcenaria do pai em Pirituba, zona norte de São Paulo. “Quando eu entrei na faculdade, a área de engenharia civil estava bem quente. Havia muita oferta de trabalho, mas a crise pegou, e as empresas pararam de contratar”, diz.

Formado em engenharia civil, Tales não encontrou emprego e foi trabalhar na marcenaria do pai Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Sem experiência, Tales deixou de buscar trabalho como engenheiro. “Se eu arrumar um emprego como engenheiro, também não vou conseguir ganhar o que recebo na oficina de marcenaria. Virou uma questão material também”, afirma.

Agora, ele decidiu partir para uma segunda graduação, em história. Em 2023, vai para o segundo ano. “Decidi fazer o que eu gosto, e espero dar aulas nos próximos anos”, afirma Tales. “Eu me enquadro numa categoria que busca um trabalho na área em que se formou, mas não encontra.”

No interior da Bahia, em Tanhaçu, Iris Naraiana Silva, de 27 anos, enfrenta o mesmo problema. Formada em pedagogia no início de 2020, não consegue exercer a sua profissão, porque não há mais concursos públicos na região. Para ter uma renda, trabalha como assistente administrativa na Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), uma obra do governo federal que pretende ligar o porto de Ilhéus a Tocantins.s. “Como a cidade é pequena, não existem muitas escolas particulares, e as vagas já estão preenchidas.”

Dos colegas de classe, Iris diz que só trabalham como pedagogos aqueles que já “atuavam na área” durante o curso de graduação. “Mas o restante, não. Trabalha em supermercados e lojas.”

‘Efeito cicatriz’

Entre os jovens, a demora para se inserir no mercado de trabalho na área de formação leva a um cenário ainda mais crítico, porque os primeiros anos de formação são considerados essenciais para o desenvolvimento profissional.

“O atraso para se inserir no mercado de trabalho acaba gerando o chamado efeito cicatriz. Os jovens que iniciam a carreira em uma crise vão estar em uma desvantagem duradoura. É uma força de trabalho que acaba desaprendendo como realizar as tarefas”, afirma Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.

Num recorte específico realizado entre a população ocupada de 22 a 29 anos, o levantamento do IDados apurou que o País tem 1,06 milhão de trabalhadores com ensino superior completo, mas em funções que exigem baixa qualificação.

Na leitura dos analistas, o Brasil precisa definir como um dos seus principais objetivos a capacidade de abrir oportunidade para os trabalhadores qualificados, como foco especial na população mais jovens.

“Por conta do envelhecimento da população e desse baixo crescimento esperado para a economia até o final da década, é preciso colocar esses jovens no centro de uma política pública ambiciosa”, diz Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.

O desafio da economia brasileira é urgente e grande para criar empregos qualificados, porque cada vez mais o mercado de trabalho deve receber trabalhadores com graduação completa. Mas a avaliação é que a economia brasileira só vai conseguir dar um salto com investimento em ciência e tecnologia e se endereçar questões ligadas à qualidade educacional, sobretudo, reduzindo a diferença entre escolas públicas e privadas.

“Eu vejo um problema estrutural na educação que acaba afetando a economia no longo prazo. E há alguns problemas que precisam ser resolvidos no campo educacional, como essa discrepância muito grande entre as escolas públicas e privadas”, afirma Bruno Imaizumi, economista da consultoria LCA. “O País precisa pensar em como o mundo está mudando e se estamos formando pessoas com as habilidades requeridas pelas empresas.”

Futuro do mercado de trabalho

Há ainda uma entrave para os próximos anos, com a perspectiva de que a concorrência aumente no mercado de trabalho com o retorno de boa parte da população em busca de emprego, agora que a fase mais aguda da pandemia foi superada e a vacinação está avançada em boa parte do País.

”Ainda não houve um retorno massivo dos inativo a força de trabalho”, diz Assis.

Mais pessoas devem voltar a procurar emprego em 2023 Foto: DANILO M YOSHIOKA / PAGOS

Ao longo de 2022, o mercado de trabalho surpreendeu positivamente. A taxa de desocupação caiu a 8,3% no trimestre encerrado em outubro – o último dado disponível –, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período de 2021, estava em 12,1%.

Além da concorrência, um outro entrave tem a ver com a perda de fôlego esperada para a criação de vagas de trabalho neste ano, diante da expectativa de um crescimento econômico mais fraco do Brasil. O País vai lidar com os impactos cumulativos da alta da taxa básica de juros e o esgotamento do impulso na atividade provocado pela normalização dos serviços presenciais.

“Não se espera uma queda da ocupação ao longo do ano, mas uma ampliação do número de desocupados, de pessoas fazendo um busca efetiva por um emprego”, diz o economista da consultoria Tendências.

O mercado de trabalho brasileiro carrega uma estatística perversa. Entre as pessoas ocupadas com ensino superior completo, 5,4 milhões não conseguem exercer um trabalho na área de formação e que exija alta qualificação, mostra um levantamento da consultoria IDados. Na prática, o elevado contingente dos chamados sobre-educados - equivalente à população da Noruega - mostra que o Brasil desperdiça recursos aplicados no ensino superior e, sobretudo, boa parte do seu capital humano.

“O Brasil é um país que investe muito em educação de nível superior. Esse dado indica que parte desses recursos não está atingindo o objetivo principal”, afirma Ana Tereza, pesquisadora do IDados e responsável pelo levantamento. “Essas pessoas sobre-educadas recebem mais na comparação com aquelas que têm um nível médio. Não é um capital humano totalmente perdido, mas, frente ao trabalhador que está numa ocupação que exige ensino superior, elas vão ganhar menos.”

Nos últimos anos, o número de trabalhadores graduados em funções que exigem uma qualificação menor foi crescente, na esteira da fraqueza do mercado de trabalho. Em 2015 e 2016, houve uma dura recessão econômica, seguida apenas por uma lenta retomada nos anos seguintes, que foi interrompida pelos estragos provocados pela pandemia de coronavírus. No último trimestre de 2019, antes, portanto, da crise sanitária, o contingente de sobre-educados era de 4,5 milhões de pessoas.

“Duas coisas podem ter acontecido. Primeiro, a pessoa ocupava um trabalho de nível superior, ficou desempregada durante a pandemia e, agora, não consegue encontrar um trabalho de nível superior”, afirma Ana. “E segundo, a entrada dos jovens na força de trabalho pode levá-los a ocupar esses cargos de nível superior, fazendo com que a sobre-educação aumente entre os mais velhos.”

Engenheiro virou marceneiro

Desde que se formou em engenharia civil em 2016, Tales Fernando Lima, de 30 anos, enfrentou uma série de crises e nunca conseguiu trabalhar na sua área de formação. Sem emprego, decidiu, então, ajudar na marcenaria do pai em Pirituba, zona norte de São Paulo. “Quando eu entrei na faculdade, a área de engenharia civil estava bem quente. Havia muita oferta de trabalho, mas a crise pegou, e as empresas pararam de contratar”, diz.

Formado em engenharia civil, Tales não encontrou emprego e foi trabalhar na marcenaria do pai Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

Sem experiência, Tales deixou de buscar trabalho como engenheiro. “Se eu arrumar um emprego como engenheiro, também não vou conseguir ganhar o que recebo na oficina de marcenaria. Virou uma questão material também”, afirma.

Agora, ele decidiu partir para uma segunda graduação, em história. Em 2023, vai para o segundo ano. “Decidi fazer o que eu gosto, e espero dar aulas nos próximos anos”, afirma Tales. “Eu me enquadro numa categoria que busca um trabalho na área em que se formou, mas não encontra.”

No interior da Bahia, em Tanhaçu, Iris Naraiana Silva, de 27 anos, enfrenta o mesmo problema. Formada em pedagogia no início de 2020, não consegue exercer a sua profissão, porque não há mais concursos públicos na região. Para ter uma renda, trabalha como assistente administrativa na Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), uma obra do governo federal que pretende ligar o porto de Ilhéus a Tocantins.s. “Como a cidade é pequena, não existem muitas escolas particulares, e as vagas já estão preenchidas.”

Dos colegas de classe, Iris diz que só trabalham como pedagogos aqueles que já “atuavam na área” durante o curso de graduação. “Mas o restante, não. Trabalha em supermercados e lojas.”

‘Efeito cicatriz’

Entre os jovens, a demora para se inserir no mercado de trabalho na área de formação leva a um cenário ainda mais crítico, porque os primeiros anos de formação são considerados essenciais para o desenvolvimento profissional.

“O atraso para se inserir no mercado de trabalho acaba gerando o chamado efeito cicatriz. Os jovens que iniciam a carreira em uma crise vão estar em uma desvantagem duradoura. É uma força de trabalho que acaba desaprendendo como realizar as tarefas”, afirma Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.

Num recorte específico realizado entre a população ocupada de 22 a 29 anos, o levantamento do IDados apurou que o País tem 1,06 milhão de trabalhadores com ensino superior completo, mas em funções que exigem baixa qualificação.

Na leitura dos analistas, o Brasil precisa definir como um dos seus principais objetivos a capacidade de abrir oportunidade para os trabalhadores qualificados, como foco especial na população mais jovens.

“Por conta do envelhecimento da população e desse baixo crescimento esperado para a economia até o final da década, é preciso colocar esses jovens no centro de uma política pública ambiciosa”, diz Lucas Assis, economista da consultoria Tendências.

O desafio da economia brasileira é urgente e grande para criar empregos qualificados, porque cada vez mais o mercado de trabalho deve receber trabalhadores com graduação completa. Mas a avaliação é que a economia brasileira só vai conseguir dar um salto com investimento em ciência e tecnologia e se endereçar questões ligadas à qualidade educacional, sobretudo, reduzindo a diferença entre escolas públicas e privadas.

“Eu vejo um problema estrutural na educação que acaba afetando a economia no longo prazo. E há alguns problemas que precisam ser resolvidos no campo educacional, como essa discrepância muito grande entre as escolas públicas e privadas”, afirma Bruno Imaizumi, economista da consultoria LCA. “O País precisa pensar em como o mundo está mudando e se estamos formando pessoas com as habilidades requeridas pelas empresas.”

Futuro do mercado de trabalho

Há ainda uma entrave para os próximos anos, com a perspectiva de que a concorrência aumente no mercado de trabalho com o retorno de boa parte da população em busca de emprego, agora que a fase mais aguda da pandemia foi superada e a vacinação está avançada em boa parte do País.

”Ainda não houve um retorno massivo dos inativo a força de trabalho”, diz Assis.

Mais pessoas devem voltar a procurar emprego em 2023 Foto: DANILO M YOSHIOKA / PAGOS

Ao longo de 2022, o mercado de trabalho surpreendeu positivamente. A taxa de desocupação caiu a 8,3% no trimestre encerrado em outubro – o último dado disponível –, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo período de 2021, estava em 12,1%.

Além da concorrência, um outro entrave tem a ver com a perda de fôlego esperada para a criação de vagas de trabalho neste ano, diante da expectativa de um crescimento econômico mais fraco do Brasil. O País vai lidar com os impactos cumulativos da alta da taxa básica de juros e o esgotamento do impulso na atividade provocado pela normalização dos serviços presenciais.

“Não se espera uma queda da ocupação ao longo do ano, mas uma ampliação do número de desocupados, de pessoas fazendo um busca efetiva por um emprego”, diz o economista da consultoria Tendências.

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