Campos Neto diz que BC subirá juro se for preciso, independentemente de estar no comando do banco


Segundo ele, autoridade monetária concluiu que precisava reforçar mensagem de que suas decisões são técnicas, diante de percepção no mercado de menor credibilidade da política monetária no futuro

Por Eduardo Laguna e Cicero Cotrim

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A quatro meses de encerrar o mandato, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje que as decisões da autoridade monetária continuarão sendo técnicas após a troca de comando. “O Banco Central vai subir os juros se for preciso, independente de eu estar ou não no BC”, declarou ao participar do Macro Day, fórum do BTG Pactual.

Reiterando o forte incômodo com o descolamento das expectativas de inflação da meta, atribuído em parte à percepção no mercado de menor credibilidade da política monetária no futuro, Campos Neto observou que o BC concluiu que precisava reforçar a mensagem de que suas decisões são técnicas, de forma que a meta sempre será perseguida.

O posicionamento, destacou, contribuiu para derrubar parte do prêmio de risco, que havia crescido após a leitura dos investidores de influência política no racha do Copom na reunião de maio, quando diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votaram por corte maior dos juros.

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Campos Neto disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato no BC, em 31 de dezembro Foto: Wilton Junior/Estadão

Após pontuar que credibilidade não se conquista “de um dia para outro”, Campos Neto disse que a construção da confiança no trabalho do BC é um processo de longo prazo. “Não é sobre uma ou duas reuniões.”

Mapear o que cada diretor pensa faz parte da autonomia do BC

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A autonomia operacional do Banco Central ainda está em fase de amadurecimento e, conforme o tempo passa, o mercado deve começar a mapear as posições individuais de cada membro do Comitê de Política Monetária (Copom), Campos Neto.

“À medida que você tenha um processo mais longo, onde você tem diretores entrando e saindo de governos diferentes, eu acho que o mercado vai começar a mapear muito o que cada diretor está pensando, e faz parte do processo em vários outros países”, disse.

Campos Neto recordou a decisão dividida do Copom em maio, quando os quatro diretores nomeados pelo governo do presidente Lula, crítico do nível dos juros, votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual da Selic. Eles foram vencidos pelos cinco membros do Copom indicados em governos anteriores, que defenderam uma baixa menor, de 0,25 ponto.

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“A gente passou por uma situação onde, apesar de a decisão ter sido técnica, teve uma interpretação que todos entenderam que, no final, foi pior para todo mundo”, afirmou o presidente do BC, repetindo que, desde então, o comitê tem buscado decisões “mais coesas” e uma comunicação mais clara para mostrar que o racha não foi político.

Segundo o presidente do BC, divergências entre membros do Copom são comuns e acabaram exacerbadas por um “momento de críticas” à autoridade monetária. “Mas acho que, à medida que isso passa e a gente vai amadurecendo, esse processo tende a melhorar”, afirmou, reforçando que a autoridade monetária tem de ficar à margem da polarização da sociedade e das divergências de governos.

Campos Neto disse que, mesmo antes de a autonomia do BC ter sido aprovada, teve em diversos momentos divergências com diretores da autarquia que haviam sido indicados por ele próprio. E defendeu que é necessário conviver com essas diferenças.

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Esforços concentrados para transição suave no Banco Central

O presidente do BC disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato, em 31 de dezembro, e que agora está concentrando todos os seus esforços em garantir uma transição suave no comando da autoridade monetária.

“Para fazer uma transição suave, para que as pessoas entendam que tudo tem continuidade, que o BC vai perseguir a meta, vai trabalhar de forma técnica”, afirmou. Ele acrescentou que essa transição suave é importante para reforçar a institucionalidade da autoridade monetária.

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Evocando uma entrevista sua publicada hoje pelo jornal O Globo, Campos Neto repetiu que o próximo chefe do BC terá de estar próximo do governo e de parlamentares para aprovar os seus projetos. “Mas você precisa ter a capacidade de diferenciar o que é proximidade e o que é autonomia e independência”, disse.

Campos Neto acrescentou que não pretende continuar na esfera pública, embora tenha considerado a sua experiência à frente do BC “excelente.” Ele disse que deseja migrar para a iniciativa privada e que pode fazer algo que misture finanças e tecnologia.

Inflação em 12 meses sobe por alimentos e energia

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Campos Neto atribuiu a alta da inflação no Brasil, no México e no Chile basicamente à pressão dos preços de alimentos e energia. Ele observou que, em geral, há um processo de convergência da inflação global no pós-pandemia, sendo que alguns índices mostram, na margem, números mais otimistas, com os núcleos de inflação também em queda nas economias desenvolvidas.

Apesar disso, ponderou, não existe uma sincronia de política monetária, dada as diferenças no ritmo de convergência da inflação entre as economias. Ao falar da América Latina, Campos Neto pontuou que os bancos centrais começam a observar diferenças de inflação, sendo que no Brasil e no México, assim como no Chile, a variação em 12 meses sobe “um pouco” em razão, basicamente, dos alimentos.

O presidente do BC comentou ainda que existe dúvida sobre o impacto da mão de obra apertada na inflação de serviços, que cai em menor velocidade ao redor do mundo. Conforme Campos Neto, a mão de obra está mais apertada em quase todos os países da América Latina, mas com efeito diferente em serviços.

O presidente do BC disse que a correlação entre indicadores de emprego, que têm surpreendido, e a inflação de serviços não é algo que tenha sido comprovado. “Tentamos fazer um link entre desemprego e o que isso significa em termos de inflação de serviços. Achamos que tem uma correlação na ponta, mas não é uma coisa que está verificada, que a gente possa, de fato, dizer: ‘isso vai gerar uma trajetória diferente (da inflação)”, comentou.

Campos Neto deu a declaração ao explicar por que o BC tem repetido a mensagem da última ata do Copom, onde o colegiado deixou em aberto a possibilidade de tanto manter quanto subir os juros na reunião de setembro.

Ainda que indicadores tenham mostrado força da economia doméstica, inclusive no mercado de trabalho, que continua surpreendendo, o presidente do BC ponderou que o cenário externo melhorou, dada a perspectiva no mercado de início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos a partir de setembro.

Cenário externo melhorou nas últimas seis, sete semanas

Campos Neto ressaltou uma melhora no cenário externo, dada a expectativa de início de cortes de juros nos Estados Unidos. Ele disse que houve uma diminuição, nas últimas seis ou sete semanas, do risco de o Federal Reserve não cortar ou levar mais tempo para começar a baixar os juros da maior economia do mundo, o que prejudicaria a liquidez global, com impacto nas economias emergentes como o Brasil.

Conforme Campos Neto, hoje está menor o risco, que era o mais preocupante, de no-landing nos Estados Unidos — ou seja, de a economia americana não desacelerar, fechando espaço para corte de juros pelo Fed. Hoje o que prevalece, frisou, é o cenário de pouso suave nos Estados Unidos.

O presidente do BC lembrou que o ponto de inflexão foi a divulgação de indicadores mais fracos nos Estados Unidos, levando a uma expectativa que considerou “precipitada” de desaceleração um pouco mais forte no país. “O cenário que prevalece é de desaceleração organizada nos Estados Unidos”, comentou.

Embora reconheça que as propostas debatidas nas eleições americanas são inflacionárias, Campos Neto ponderou que o mercado começou a entender que existe menos espaço a políticas contracíclicas no mundo, já que os governos não têm espaço fiscal para responder a uma desaceleração da atividade.

A observação foi feita após Campos Neto ressaltar que a dívida global cresceu muito rápido, levando a um aumento no custo de carregamento, levando como consequência a um aumento no custo de financiamento que começa a ser sentido em alguns países emergentes.

Assim, a percepção de melhora fiscal no mundo ficou mais sincronizada, e a tendência é de desaceleração dos impulsos fiscais em vários lugares do mundo. “Nos últimos tempos, parece ter entendimento de que o fiscal entrou em sintonia no mundo”, disse o presidente do BC, acrescentando que o fiscal cliff (abismo fiscal) está acontecendo de forma “mais ou menos organizada”.

Ele observou ainda, ao falar do cenário externo, que o volume grande de carry trade com iene está sendo desarmado. Por outro lado, lembrou, a China está passando por desaceleração, saindo de consumo externo para exportação, sendo que seus produtos enfrentam alta de tarifas em mercados externos.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A quatro meses de encerrar o mandato, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje que as decisões da autoridade monetária continuarão sendo técnicas após a troca de comando. “O Banco Central vai subir os juros se for preciso, independente de eu estar ou não no BC”, declarou ao participar do Macro Day, fórum do BTG Pactual.

Reiterando o forte incômodo com o descolamento das expectativas de inflação da meta, atribuído em parte à percepção no mercado de menor credibilidade da política monetária no futuro, Campos Neto observou que o BC concluiu que precisava reforçar a mensagem de que suas decisões são técnicas, de forma que a meta sempre será perseguida.

O posicionamento, destacou, contribuiu para derrubar parte do prêmio de risco, que havia crescido após a leitura dos investidores de influência política no racha do Copom na reunião de maio, quando diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votaram por corte maior dos juros.

Campos Neto disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato no BC, em 31 de dezembro Foto: Wilton Junior/Estadão

Após pontuar que credibilidade não se conquista “de um dia para outro”, Campos Neto disse que a construção da confiança no trabalho do BC é um processo de longo prazo. “Não é sobre uma ou duas reuniões.”

Mapear o que cada diretor pensa faz parte da autonomia do BC

A autonomia operacional do Banco Central ainda está em fase de amadurecimento e, conforme o tempo passa, o mercado deve começar a mapear as posições individuais de cada membro do Comitê de Política Monetária (Copom), Campos Neto.

“À medida que você tenha um processo mais longo, onde você tem diretores entrando e saindo de governos diferentes, eu acho que o mercado vai começar a mapear muito o que cada diretor está pensando, e faz parte do processo em vários outros países”, disse.

Campos Neto recordou a decisão dividida do Copom em maio, quando os quatro diretores nomeados pelo governo do presidente Lula, crítico do nível dos juros, votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual da Selic. Eles foram vencidos pelos cinco membros do Copom indicados em governos anteriores, que defenderam uma baixa menor, de 0,25 ponto.

“A gente passou por uma situação onde, apesar de a decisão ter sido técnica, teve uma interpretação que todos entenderam que, no final, foi pior para todo mundo”, afirmou o presidente do BC, repetindo que, desde então, o comitê tem buscado decisões “mais coesas” e uma comunicação mais clara para mostrar que o racha não foi político.

Segundo o presidente do BC, divergências entre membros do Copom são comuns e acabaram exacerbadas por um “momento de críticas” à autoridade monetária. “Mas acho que, à medida que isso passa e a gente vai amadurecendo, esse processo tende a melhorar”, afirmou, reforçando que a autoridade monetária tem de ficar à margem da polarização da sociedade e das divergências de governos.

Campos Neto disse que, mesmo antes de a autonomia do BC ter sido aprovada, teve em diversos momentos divergências com diretores da autarquia que haviam sido indicados por ele próprio. E defendeu que é necessário conviver com essas diferenças.

Esforços concentrados para transição suave no Banco Central

O presidente do BC disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato, em 31 de dezembro, e que agora está concentrando todos os seus esforços em garantir uma transição suave no comando da autoridade monetária.

“Para fazer uma transição suave, para que as pessoas entendam que tudo tem continuidade, que o BC vai perseguir a meta, vai trabalhar de forma técnica”, afirmou. Ele acrescentou que essa transição suave é importante para reforçar a institucionalidade da autoridade monetária.

Evocando uma entrevista sua publicada hoje pelo jornal O Globo, Campos Neto repetiu que o próximo chefe do BC terá de estar próximo do governo e de parlamentares para aprovar os seus projetos. “Mas você precisa ter a capacidade de diferenciar o que é proximidade e o que é autonomia e independência”, disse.

Campos Neto acrescentou que não pretende continuar na esfera pública, embora tenha considerado a sua experiência à frente do BC “excelente.” Ele disse que deseja migrar para a iniciativa privada e que pode fazer algo que misture finanças e tecnologia.

Inflação em 12 meses sobe por alimentos e energia

Campos Neto atribuiu a alta da inflação no Brasil, no México e no Chile basicamente à pressão dos preços de alimentos e energia. Ele observou que, em geral, há um processo de convergência da inflação global no pós-pandemia, sendo que alguns índices mostram, na margem, números mais otimistas, com os núcleos de inflação também em queda nas economias desenvolvidas.

Apesar disso, ponderou, não existe uma sincronia de política monetária, dada as diferenças no ritmo de convergência da inflação entre as economias. Ao falar da América Latina, Campos Neto pontuou que os bancos centrais começam a observar diferenças de inflação, sendo que no Brasil e no México, assim como no Chile, a variação em 12 meses sobe “um pouco” em razão, basicamente, dos alimentos.

O presidente do BC comentou ainda que existe dúvida sobre o impacto da mão de obra apertada na inflação de serviços, que cai em menor velocidade ao redor do mundo. Conforme Campos Neto, a mão de obra está mais apertada em quase todos os países da América Latina, mas com efeito diferente em serviços.

O presidente do BC disse que a correlação entre indicadores de emprego, que têm surpreendido, e a inflação de serviços não é algo que tenha sido comprovado. “Tentamos fazer um link entre desemprego e o que isso significa em termos de inflação de serviços. Achamos que tem uma correlação na ponta, mas não é uma coisa que está verificada, que a gente possa, de fato, dizer: ‘isso vai gerar uma trajetória diferente (da inflação)”, comentou.

Campos Neto deu a declaração ao explicar por que o BC tem repetido a mensagem da última ata do Copom, onde o colegiado deixou em aberto a possibilidade de tanto manter quanto subir os juros na reunião de setembro.

Ainda que indicadores tenham mostrado força da economia doméstica, inclusive no mercado de trabalho, que continua surpreendendo, o presidente do BC ponderou que o cenário externo melhorou, dada a perspectiva no mercado de início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos a partir de setembro.

Cenário externo melhorou nas últimas seis, sete semanas

Campos Neto ressaltou uma melhora no cenário externo, dada a expectativa de início de cortes de juros nos Estados Unidos. Ele disse que houve uma diminuição, nas últimas seis ou sete semanas, do risco de o Federal Reserve não cortar ou levar mais tempo para começar a baixar os juros da maior economia do mundo, o que prejudicaria a liquidez global, com impacto nas economias emergentes como o Brasil.

Conforme Campos Neto, hoje está menor o risco, que era o mais preocupante, de no-landing nos Estados Unidos — ou seja, de a economia americana não desacelerar, fechando espaço para corte de juros pelo Fed. Hoje o que prevalece, frisou, é o cenário de pouso suave nos Estados Unidos.

O presidente do BC lembrou que o ponto de inflexão foi a divulgação de indicadores mais fracos nos Estados Unidos, levando a uma expectativa que considerou “precipitada” de desaceleração um pouco mais forte no país. “O cenário que prevalece é de desaceleração organizada nos Estados Unidos”, comentou.

Embora reconheça que as propostas debatidas nas eleições americanas são inflacionárias, Campos Neto ponderou que o mercado começou a entender que existe menos espaço a políticas contracíclicas no mundo, já que os governos não têm espaço fiscal para responder a uma desaceleração da atividade.

A observação foi feita após Campos Neto ressaltar que a dívida global cresceu muito rápido, levando a um aumento no custo de carregamento, levando como consequência a um aumento no custo de financiamento que começa a ser sentido em alguns países emergentes.

Assim, a percepção de melhora fiscal no mundo ficou mais sincronizada, e a tendência é de desaceleração dos impulsos fiscais em vários lugares do mundo. “Nos últimos tempos, parece ter entendimento de que o fiscal entrou em sintonia no mundo”, disse o presidente do BC, acrescentando que o fiscal cliff (abismo fiscal) está acontecendo de forma “mais ou menos organizada”.

Ele observou ainda, ao falar do cenário externo, que o volume grande de carry trade com iene está sendo desarmado. Por outro lado, lembrou, a China está passando por desaceleração, saindo de consumo externo para exportação, sendo que seus produtos enfrentam alta de tarifas em mercados externos.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A quatro meses de encerrar o mandato, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje que as decisões da autoridade monetária continuarão sendo técnicas após a troca de comando. “O Banco Central vai subir os juros se for preciso, independente de eu estar ou não no BC”, declarou ao participar do Macro Day, fórum do BTG Pactual.

Reiterando o forte incômodo com o descolamento das expectativas de inflação da meta, atribuído em parte à percepção no mercado de menor credibilidade da política monetária no futuro, Campos Neto observou que o BC concluiu que precisava reforçar a mensagem de que suas decisões são técnicas, de forma que a meta sempre será perseguida.

O posicionamento, destacou, contribuiu para derrubar parte do prêmio de risco, que havia crescido após a leitura dos investidores de influência política no racha do Copom na reunião de maio, quando diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votaram por corte maior dos juros.

Campos Neto disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato no BC, em 31 de dezembro Foto: Wilton Junior/Estadão

Após pontuar que credibilidade não se conquista “de um dia para outro”, Campos Neto disse que a construção da confiança no trabalho do BC é um processo de longo prazo. “Não é sobre uma ou duas reuniões.”

Mapear o que cada diretor pensa faz parte da autonomia do BC

A autonomia operacional do Banco Central ainda está em fase de amadurecimento e, conforme o tempo passa, o mercado deve começar a mapear as posições individuais de cada membro do Comitê de Política Monetária (Copom), Campos Neto.

“À medida que você tenha um processo mais longo, onde você tem diretores entrando e saindo de governos diferentes, eu acho que o mercado vai começar a mapear muito o que cada diretor está pensando, e faz parte do processo em vários outros países”, disse.

Campos Neto recordou a decisão dividida do Copom em maio, quando os quatro diretores nomeados pelo governo do presidente Lula, crítico do nível dos juros, votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual da Selic. Eles foram vencidos pelos cinco membros do Copom indicados em governos anteriores, que defenderam uma baixa menor, de 0,25 ponto.

“A gente passou por uma situação onde, apesar de a decisão ter sido técnica, teve uma interpretação que todos entenderam que, no final, foi pior para todo mundo”, afirmou o presidente do BC, repetindo que, desde então, o comitê tem buscado decisões “mais coesas” e uma comunicação mais clara para mostrar que o racha não foi político.

Segundo o presidente do BC, divergências entre membros do Copom são comuns e acabaram exacerbadas por um “momento de críticas” à autoridade monetária. “Mas acho que, à medida que isso passa e a gente vai amadurecendo, esse processo tende a melhorar”, afirmou, reforçando que a autoridade monetária tem de ficar à margem da polarização da sociedade e das divergências de governos.

Campos Neto disse que, mesmo antes de a autonomia do BC ter sido aprovada, teve em diversos momentos divergências com diretores da autarquia que haviam sido indicados por ele próprio. E defendeu que é necessário conviver com essas diferenças.

Esforços concentrados para transição suave no Banco Central

O presidente do BC disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato, em 31 de dezembro, e que agora está concentrando todos os seus esforços em garantir uma transição suave no comando da autoridade monetária.

“Para fazer uma transição suave, para que as pessoas entendam que tudo tem continuidade, que o BC vai perseguir a meta, vai trabalhar de forma técnica”, afirmou. Ele acrescentou que essa transição suave é importante para reforçar a institucionalidade da autoridade monetária.

Evocando uma entrevista sua publicada hoje pelo jornal O Globo, Campos Neto repetiu que o próximo chefe do BC terá de estar próximo do governo e de parlamentares para aprovar os seus projetos. “Mas você precisa ter a capacidade de diferenciar o que é proximidade e o que é autonomia e independência”, disse.

Campos Neto acrescentou que não pretende continuar na esfera pública, embora tenha considerado a sua experiência à frente do BC “excelente.” Ele disse que deseja migrar para a iniciativa privada e que pode fazer algo que misture finanças e tecnologia.

Inflação em 12 meses sobe por alimentos e energia

Campos Neto atribuiu a alta da inflação no Brasil, no México e no Chile basicamente à pressão dos preços de alimentos e energia. Ele observou que, em geral, há um processo de convergência da inflação global no pós-pandemia, sendo que alguns índices mostram, na margem, números mais otimistas, com os núcleos de inflação também em queda nas economias desenvolvidas.

Apesar disso, ponderou, não existe uma sincronia de política monetária, dada as diferenças no ritmo de convergência da inflação entre as economias. Ao falar da América Latina, Campos Neto pontuou que os bancos centrais começam a observar diferenças de inflação, sendo que no Brasil e no México, assim como no Chile, a variação em 12 meses sobe “um pouco” em razão, basicamente, dos alimentos.

O presidente do BC comentou ainda que existe dúvida sobre o impacto da mão de obra apertada na inflação de serviços, que cai em menor velocidade ao redor do mundo. Conforme Campos Neto, a mão de obra está mais apertada em quase todos os países da América Latina, mas com efeito diferente em serviços.

O presidente do BC disse que a correlação entre indicadores de emprego, que têm surpreendido, e a inflação de serviços não é algo que tenha sido comprovado. “Tentamos fazer um link entre desemprego e o que isso significa em termos de inflação de serviços. Achamos que tem uma correlação na ponta, mas não é uma coisa que está verificada, que a gente possa, de fato, dizer: ‘isso vai gerar uma trajetória diferente (da inflação)”, comentou.

Campos Neto deu a declaração ao explicar por que o BC tem repetido a mensagem da última ata do Copom, onde o colegiado deixou em aberto a possibilidade de tanto manter quanto subir os juros na reunião de setembro.

Ainda que indicadores tenham mostrado força da economia doméstica, inclusive no mercado de trabalho, que continua surpreendendo, o presidente do BC ponderou que o cenário externo melhorou, dada a perspectiva no mercado de início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos a partir de setembro.

Cenário externo melhorou nas últimas seis, sete semanas

Campos Neto ressaltou uma melhora no cenário externo, dada a expectativa de início de cortes de juros nos Estados Unidos. Ele disse que houve uma diminuição, nas últimas seis ou sete semanas, do risco de o Federal Reserve não cortar ou levar mais tempo para começar a baixar os juros da maior economia do mundo, o que prejudicaria a liquidez global, com impacto nas economias emergentes como o Brasil.

Conforme Campos Neto, hoje está menor o risco, que era o mais preocupante, de no-landing nos Estados Unidos — ou seja, de a economia americana não desacelerar, fechando espaço para corte de juros pelo Fed. Hoje o que prevalece, frisou, é o cenário de pouso suave nos Estados Unidos.

O presidente do BC lembrou que o ponto de inflexão foi a divulgação de indicadores mais fracos nos Estados Unidos, levando a uma expectativa que considerou “precipitada” de desaceleração um pouco mais forte no país. “O cenário que prevalece é de desaceleração organizada nos Estados Unidos”, comentou.

Embora reconheça que as propostas debatidas nas eleições americanas são inflacionárias, Campos Neto ponderou que o mercado começou a entender que existe menos espaço a políticas contracíclicas no mundo, já que os governos não têm espaço fiscal para responder a uma desaceleração da atividade.

A observação foi feita após Campos Neto ressaltar que a dívida global cresceu muito rápido, levando a um aumento no custo de carregamento, levando como consequência a um aumento no custo de financiamento que começa a ser sentido em alguns países emergentes.

Assim, a percepção de melhora fiscal no mundo ficou mais sincronizada, e a tendência é de desaceleração dos impulsos fiscais em vários lugares do mundo. “Nos últimos tempos, parece ter entendimento de que o fiscal entrou em sintonia no mundo”, disse o presidente do BC, acrescentando que o fiscal cliff (abismo fiscal) está acontecendo de forma “mais ou menos organizada”.

Ele observou ainda, ao falar do cenário externo, que o volume grande de carry trade com iene está sendo desarmado. Por outro lado, lembrou, a China está passando por desaceleração, saindo de consumo externo para exportação, sendo que seus produtos enfrentam alta de tarifas em mercados externos.

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A quatro meses de encerrar o mandato, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse hoje que as decisões da autoridade monetária continuarão sendo técnicas após a troca de comando. “O Banco Central vai subir os juros se for preciso, independente de eu estar ou não no BC”, declarou ao participar do Macro Day, fórum do BTG Pactual.

Reiterando o forte incômodo com o descolamento das expectativas de inflação da meta, atribuído em parte à percepção no mercado de menor credibilidade da política monetária no futuro, Campos Neto observou que o BC concluiu que precisava reforçar a mensagem de que suas decisões são técnicas, de forma que a meta sempre será perseguida.

O posicionamento, destacou, contribuiu para derrubar parte do prêmio de risco, que havia crescido após a leitura dos investidores de influência política no racha do Copom na reunião de maio, quando diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votaram por corte maior dos juros.

Campos Neto disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato no BC, em 31 de dezembro Foto: Wilton Junior/Estadão

Após pontuar que credibilidade não se conquista “de um dia para outro”, Campos Neto disse que a construção da confiança no trabalho do BC é um processo de longo prazo. “Não é sobre uma ou duas reuniões.”

Mapear o que cada diretor pensa faz parte da autonomia do BC

A autonomia operacional do Banco Central ainda está em fase de amadurecimento e, conforme o tempo passa, o mercado deve começar a mapear as posições individuais de cada membro do Comitê de Política Monetária (Copom), Campos Neto.

“À medida que você tenha um processo mais longo, onde você tem diretores entrando e saindo de governos diferentes, eu acho que o mercado vai começar a mapear muito o que cada diretor está pensando, e faz parte do processo em vários outros países”, disse.

Campos Neto recordou a decisão dividida do Copom em maio, quando os quatro diretores nomeados pelo governo do presidente Lula, crítico do nível dos juros, votaram por um corte de 0,5 ponto porcentual da Selic. Eles foram vencidos pelos cinco membros do Copom indicados em governos anteriores, que defenderam uma baixa menor, de 0,25 ponto.

“A gente passou por uma situação onde, apesar de a decisão ter sido técnica, teve uma interpretação que todos entenderam que, no final, foi pior para todo mundo”, afirmou o presidente do BC, repetindo que, desde então, o comitê tem buscado decisões “mais coesas” e uma comunicação mais clara para mostrar que o racha não foi político.

Segundo o presidente do BC, divergências entre membros do Copom são comuns e acabaram exacerbadas por um “momento de críticas” à autoridade monetária. “Mas acho que, à medida que isso passa e a gente vai amadurecendo, esse processo tende a melhorar”, afirmou, reforçando que a autoridade monetária tem de ficar à margem da polarização da sociedade e das divergências de governos.

Campos Neto disse que, mesmo antes de a autonomia do BC ter sido aprovada, teve em diversos momentos divergências com diretores da autarquia que haviam sido indicados por ele próprio. E defendeu que é necessário conviver com essas diferenças.

Esforços concentrados para transição suave no Banco Central

O presidente do BC disse que ainda não sabe o que fará após o fim do seu mandato, em 31 de dezembro, e que agora está concentrando todos os seus esforços em garantir uma transição suave no comando da autoridade monetária.

“Para fazer uma transição suave, para que as pessoas entendam que tudo tem continuidade, que o BC vai perseguir a meta, vai trabalhar de forma técnica”, afirmou. Ele acrescentou que essa transição suave é importante para reforçar a institucionalidade da autoridade monetária.

Evocando uma entrevista sua publicada hoje pelo jornal O Globo, Campos Neto repetiu que o próximo chefe do BC terá de estar próximo do governo e de parlamentares para aprovar os seus projetos. “Mas você precisa ter a capacidade de diferenciar o que é proximidade e o que é autonomia e independência”, disse.

Campos Neto acrescentou que não pretende continuar na esfera pública, embora tenha considerado a sua experiência à frente do BC “excelente.” Ele disse que deseja migrar para a iniciativa privada e que pode fazer algo que misture finanças e tecnologia.

Inflação em 12 meses sobe por alimentos e energia

Campos Neto atribuiu a alta da inflação no Brasil, no México e no Chile basicamente à pressão dos preços de alimentos e energia. Ele observou que, em geral, há um processo de convergência da inflação global no pós-pandemia, sendo que alguns índices mostram, na margem, números mais otimistas, com os núcleos de inflação também em queda nas economias desenvolvidas.

Apesar disso, ponderou, não existe uma sincronia de política monetária, dada as diferenças no ritmo de convergência da inflação entre as economias. Ao falar da América Latina, Campos Neto pontuou que os bancos centrais começam a observar diferenças de inflação, sendo que no Brasil e no México, assim como no Chile, a variação em 12 meses sobe “um pouco” em razão, basicamente, dos alimentos.

O presidente do BC comentou ainda que existe dúvida sobre o impacto da mão de obra apertada na inflação de serviços, que cai em menor velocidade ao redor do mundo. Conforme Campos Neto, a mão de obra está mais apertada em quase todos os países da América Latina, mas com efeito diferente em serviços.

O presidente do BC disse que a correlação entre indicadores de emprego, que têm surpreendido, e a inflação de serviços não é algo que tenha sido comprovado. “Tentamos fazer um link entre desemprego e o que isso significa em termos de inflação de serviços. Achamos que tem uma correlação na ponta, mas não é uma coisa que está verificada, que a gente possa, de fato, dizer: ‘isso vai gerar uma trajetória diferente (da inflação)”, comentou.

Campos Neto deu a declaração ao explicar por que o BC tem repetido a mensagem da última ata do Copom, onde o colegiado deixou em aberto a possibilidade de tanto manter quanto subir os juros na reunião de setembro.

Ainda que indicadores tenham mostrado força da economia doméstica, inclusive no mercado de trabalho, que continua surpreendendo, o presidente do BC ponderou que o cenário externo melhorou, dada a perspectiva no mercado de início do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos a partir de setembro.

Cenário externo melhorou nas últimas seis, sete semanas

Campos Neto ressaltou uma melhora no cenário externo, dada a expectativa de início de cortes de juros nos Estados Unidos. Ele disse que houve uma diminuição, nas últimas seis ou sete semanas, do risco de o Federal Reserve não cortar ou levar mais tempo para começar a baixar os juros da maior economia do mundo, o que prejudicaria a liquidez global, com impacto nas economias emergentes como o Brasil.

Conforme Campos Neto, hoje está menor o risco, que era o mais preocupante, de no-landing nos Estados Unidos — ou seja, de a economia americana não desacelerar, fechando espaço para corte de juros pelo Fed. Hoje o que prevalece, frisou, é o cenário de pouso suave nos Estados Unidos.

O presidente do BC lembrou que o ponto de inflexão foi a divulgação de indicadores mais fracos nos Estados Unidos, levando a uma expectativa que considerou “precipitada” de desaceleração um pouco mais forte no país. “O cenário que prevalece é de desaceleração organizada nos Estados Unidos”, comentou.

Embora reconheça que as propostas debatidas nas eleições americanas são inflacionárias, Campos Neto ponderou que o mercado começou a entender que existe menos espaço a políticas contracíclicas no mundo, já que os governos não têm espaço fiscal para responder a uma desaceleração da atividade.

A observação foi feita após Campos Neto ressaltar que a dívida global cresceu muito rápido, levando a um aumento no custo de carregamento, levando como consequência a um aumento no custo de financiamento que começa a ser sentido em alguns países emergentes.

Assim, a percepção de melhora fiscal no mundo ficou mais sincronizada, e a tendência é de desaceleração dos impulsos fiscais em vários lugares do mundo. “Nos últimos tempos, parece ter entendimento de que o fiscal entrou em sintonia no mundo”, disse o presidente do BC, acrescentando que o fiscal cliff (abismo fiscal) está acontecendo de forma “mais ou menos organizada”.

Ele observou ainda, ao falar do cenário externo, que o volume grande de carry trade com iene está sendo desarmado. Por outro lado, lembrou, a China está passando por desaceleração, saindo de consumo externo para exportação, sendo que seus produtos enfrentam alta de tarifas em mercados externos.

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