Campos Neto diz que houve ‘exagero’ do mercado com fiscal, mas aponta preocupação com transparência


Presidente do BC afirmou entender desejo do mercado por uma sinalização dos próximos passos, mas acrescentou que, às vezes, a autoridade monetária não sabe a decisão que vai tomar

Por Daniel Tozzi Mendes, Francisco Carlos de Assis e Eduardo Laguna

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a política fiscal do Brasil nesta terça-feira, 24, destacou que, mais do que os números em si apresentados pelo governo, é preciso se atentar para “a transparência e qualidade” desses dados.

“Acho que, na ponta, surgiu esse tema, esse questionamento em relação não só ao número fiscal, mas à transparência, à qualidade desses dados”, disse o banqueiro central, durante evento do Banco Safra, reforçando que esse é um tema “importante de se acompanhar”. Para ele, é preciso também observar essa situação em um horizonte um pouco mais longo, para além do que ele chamou de “ruídos de curto prazo”.

Ele ressaltou, porém, que “é difícil” para o Banco Central fazer comentários sobre política fiscal e que cabe à autoridade monetária utilizar modelos para entender sobre essa área e calibrar a sua função de reação.

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Campos Neto disse que BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado Foto: Alex Silva/Estadão

O banqueiro central ainda afirmou que parece ter havido “um exagero” por parte do mercado financeiro ao precificar os riscos fiscais, mas que não cabe ao BC julgar os preços de mercado, e sim entendê-los. “Nós entendemos que, olhando os preços de mercado, eles parecem um exagero em relação ao que foi feito (pelo governo, na área fiscal), mas estamos acompanhando porque é importante para a nossa função reação”.

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Campos Neto disse ainda que o BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado. “O quanto (vai diminuir o gasto) a gente não arrisca a colocar, mas a gente entende que vai ter uma desaceleração nos gastos, isso já está nas nossas projeções”, explicou.

Próximos passos

O presidente do BC destacou a coesão do Comitê de Política Monetária (Copom) em suas duas últimas reuniões. Segundo ele, houve uma percepção unânime entre os membros de que era importante comunicar a decisão de forma eficiente.

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Ele disse entender o desejo do mercado em ter um guidance — ou seja, uma sinalização dos próximos passos do BC. E acrescentou que, às vezes, a autoridade monetária não sabe a decisão que vai tomar na reunião seguinte. É o que acontece no momento, quando o BC prefere esperar por indicadores econômicos.

“Nem sempre é possível dar guidance, apesar de o mercado sempre esperar. Sempre há redução de volatilidade quando o BC dá guidance, mas neste momento não daremos”, declarou.

O presidente do BC expressou desconforto tanto com a desancoragem das expectativas quanto com o prêmio de risco na curva longa de juros, atribuído, em parte, a incertezas sobre a política fiscal. Ponderou, no entanto, que a questão fiscal pode ser endereçada rapidamente, ao justificar a decisão do BC de aguardar a evolução do cenário.

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Ao ser questionado sobre qual conselho deixaria para a direção do BC, Campos Neto, que deixa o cargo na virada do ano, respondeu que a recomendação é agir com independência, aguentar a pressão e ser técnico, sem se levar por ruídos de curto prazo.

Mercado de crédito

Campos Neto afirmou que há percepção de alguma piora “na ponta” no mercado de crédito do País, especialmente entre a população de renda mais baixa. Em um âmbito mais amplo, porém, a avaliação do presidente do BC é que o mercado de crédito se mostrou mais forte do que o inicialmente esperado neste ano.

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“Quando a gente olha a baixa renda na ponta, tem um pouquinho de piora”, disse Campos Neto, que em seguida traçou uma possível correlação entre esse cenário e o mercado das “bets”, as apostas esportivas online, no País.

“É um tema muito relevante e que tem sido falado sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse. Segundo ele, já há estudos indicando, por exemplo, que uma parcela considerável de pessoas beneficiárias do Bolsa Família estão colocando o dinheiro nas bets.

Assim, o crescimento dessas casas de apostas é uma questão que preocupa o Banco Central, de acordo com Campos Neto, que, no entanto, reforçou que o trabalho no BC nesta questão deve se limitar a ajudar o governo e o Congresso com dados.

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“Uma coisa que tem gerado preocupação na ponta é que o crescimento é muito grande. A gente consegue mapear o que foi feito de Pix para esses sites de apostas e o crescimento de janeiro até hoje é muito grande”, detalhou Campos Neto, que cita ainda que o chamado “tíquete médio” dessas transações já subiu mais de 200%.

“Já começamos a ter a percepção de um efeito disso [bets] sobre a inadimplência na ponta”, disse o banqueiro central. “O crédito segue muito bem e saudável, mas tem esses pontos de atenção”, reforçou.

Contato: daniel.mendes@estadao.com; francisco.assis@esstadao.com; eduardo.laguna@estadao.com

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a política fiscal do Brasil nesta terça-feira, 24, destacou que, mais do que os números em si apresentados pelo governo, é preciso se atentar para “a transparência e qualidade” desses dados.

“Acho que, na ponta, surgiu esse tema, esse questionamento em relação não só ao número fiscal, mas à transparência, à qualidade desses dados”, disse o banqueiro central, durante evento do Banco Safra, reforçando que esse é um tema “importante de se acompanhar”. Para ele, é preciso também observar essa situação em um horizonte um pouco mais longo, para além do que ele chamou de “ruídos de curto prazo”.

Ele ressaltou, porém, que “é difícil” para o Banco Central fazer comentários sobre política fiscal e que cabe à autoridade monetária utilizar modelos para entender sobre essa área e calibrar a sua função de reação.

Campos Neto disse que BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado Foto: Alex Silva/Estadão

O banqueiro central ainda afirmou que parece ter havido “um exagero” por parte do mercado financeiro ao precificar os riscos fiscais, mas que não cabe ao BC julgar os preços de mercado, e sim entendê-los. “Nós entendemos que, olhando os preços de mercado, eles parecem um exagero em relação ao que foi feito (pelo governo, na área fiscal), mas estamos acompanhando porque é importante para a nossa função reação”.

Campos Neto disse ainda que o BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado. “O quanto (vai diminuir o gasto) a gente não arrisca a colocar, mas a gente entende que vai ter uma desaceleração nos gastos, isso já está nas nossas projeções”, explicou.

Próximos passos

O presidente do BC destacou a coesão do Comitê de Política Monetária (Copom) em suas duas últimas reuniões. Segundo ele, houve uma percepção unânime entre os membros de que era importante comunicar a decisão de forma eficiente.

Ele disse entender o desejo do mercado em ter um guidance — ou seja, uma sinalização dos próximos passos do BC. E acrescentou que, às vezes, a autoridade monetária não sabe a decisão que vai tomar na reunião seguinte. É o que acontece no momento, quando o BC prefere esperar por indicadores econômicos.

“Nem sempre é possível dar guidance, apesar de o mercado sempre esperar. Sempre há redução de volatilidade quando o BC dá guidance, mas neste momento não daremos”, declarou.

O presidente do BC expressou desconforto tanto com a desancoragem das expectativas quanto com o prêmio de risco na curva longa de juros, atribuído, em parte, a incertezas sobre a política fiscal. Ponderou, no entanto, que a questão fiscal pode ser endereçada rapidamente, ao justificar a decisão do BC de aguardar a evolução do cenário.

Ao ser questionado sobre qual conselho deixaria para a direção do BC, Campos Neto, que deixa o cargo na virada do ano, respondeu que a recomendação é agir com independência, aguentar a pressão e ser técnico, sem se levar por ruídos de curto prazo.

Mercado de crédito

Campos Neto afirmou que há percepção de alguma piora “na ponta” no mercado de crédito do País, especialmente entre a população de renda mais baixa. Em um âmbito mais amplo, porém, a avaliação do presidente do BC é que o mercado de crédito se mostrou mais forte do que o inicialmente esperado neste ano.

“Quando a gente olha a baixa renda na ponta, tem um pouquinho de piora”, disse Campos Neto, que em seguida traçou uma possível correlação entre esse cenário e o mercado das “bets”, as apostas esportivas online, no País.

“É um tema muito relevante e que tem sido falado sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse. Segundo ele, já há estudos indicando, por exemplo, que uma parcela considerável de pessoas beneficiárias do Bolsa Família estão colocando o dinheiro nas bets.

Assim, o crescimento dessas casas de apostas é uma questão que preocupa o Banco Central, de acordo com Campos Neto, que, no entanto, reforçou que o trabalho no BC nesta questão deve se limitar a ajudar o governo e o Congresso com dados.

“Uma coisa que tem gerado preocupação na ponta é que o crescimento é muito grande. A gente consegue mapear o que foi feito de Pix para esses sites de apostas e o crescimento de janeiro até hoje é muito grande”, detalhou Campos Neto, que cita ainda que o chamado “tíquete médio” dessas transações já subiu mais de 200%.

“Já começamos a ter a percepção de um efeito disso [bets] sobre a inadimplência na ponta”, disse o banqueiro central. “O crédito segue muito bem e saudável, mas tem esses pontos de atenção”, reforçou.

Contato: daniel.mendes@estadao.com; francisco.assis@esstadao.com; eduardo.laguna@estadao.com

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a política fiscal do Brasil nesta terça-feira, 24, destacou que, mais do que os números em si apresentados pelo governo, é preciso se atentar para “a transparência e qualidade” desses dados.

“Acho que, na ponta, surgiu esse tema, esse questionamento em relação não só ao número fiscal, mas à transparência, à qualidade desses dados”, disse o banqueiro central, durante evento do Banco Safra, reforçando que esse é um tema “importante de se acompanhar”. Para ele, é preciso também observar essa situação em um horizonte um pouco mais longo, para além do que ele chamou de “ruídos de curto prazo”.

Ele ressaltou, porém, que “é difícil” para o Banco Central fazer comentários sobre política fiscal e que cabe à autoridade monetária utilizar modelos para entender sobre essa área e calibrar a sua função de reação.

Campos Neto disse que BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado Foto: Alex Silva/Estadão

O banqueiro central ainda afirmou que parece ter havido “um exagero” por parte do mercado financeiro ao precificar os riscos fiscais, mas que não cabe ao BC julgar os preços de mercado, e sim entendê-los. “Nós entendemos que, olhando os preços de mercado, eles parecem um exagero em relação ao que foi feito (pelo governo, na área fiscal), mas estamos acompanhando porque é importante para a nossa função reação”.

Campos Neto disse ainda que o BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado. “O quanto (vai diminuir o gasto) a gente não arrisca a colocar, mas a gente entende que vai ter uma desaceleração nos gastos, isso já está nas nossas projeções”, explicou.

Próximos passos

O presidente do BC destacou a coesão do Comitê de Política Monetária (Copom) em suas duas últimas reuniões. Segundo ele, houve uma percepção unânime entre os membros de que era importante comunicar a decisão de forma eficiente.

Ele disse entender o desejo do mercado em ter um guidance — ou seja, uma sinalização dos próximos passos do BC. E acrescentou que, às vezes, a autoridade monetária não sabe a decisão que vai tomar na reunião seguinte. É o que acontece no momento, quando o BC prefere esperar por indicadores econômicos.

“Nem sempre é possível dar guidance, apesar de o mercado sempre esperar. Sempre há redução de volatilidade quando o BC dá guidance, mas neste momento não daremos”, declarou.

O presidente do BC expressou desconforto tanto com a desancoragem das expectativas quanto com o prêmio de risco na curva longa de juros, atribuído, em parte, a incertezas sobre a política fiscal. Ponderou, no entanto, que a questão fiscal pode ser endereçada rapidamente, ao justificar a decisão do BC de aguardar a evolução do cenário.

Ao ser questionado sobre qual conselho deixaria para a direção do BC, Campos Neto, que deixa o cargo na virada do ano, respondeu que a recomendação é agir com independência, aguentar a pressão e ser técnico, sem se levar por ruídos de curto prazo.

Mercado de crédito

Campos Neto afirmou que há percepção de alguma piora “na ponta” no mercado de crédito do País, especialmente entre a população de renda mais baixa. Em um âmbito mais amplo, porém, a avaliação do presidente do BC é que o mercado de crédito se mostrou mais forte do que o inicialmente esperado neste ano.

“Quando a gente olha a baixa renda na ponta, tem um pouquinho de piora”, disse Campos Neto, que em seguida traçou uma possível correlação entre esse cenário e o mercado das “bets”, as apostas esportivas online, no País.

“É um tema muito relevante e que tem sido falado sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse. Segundo ele, já há estudos indicando, por exemplo, que uma parcela considerável de pessoas beneficiárias do Bolsa Família estão colocando o dinheiro nas bets.

Assim, o crescimento dessas casas de apostas é uma questão que preocupa o Banco Central, de acordo com Campos Neto, que, no entanto, reforçou que o trabalho no BC nesta questão deve se limitar a ajudar o governo e o Congresso com dados.

“Uma coisa que tem gerado preocupação na ponta é que o crescimento é muito grande. A gente consegue mapear o que foi feito de Pix para esses sites de apostas e o crescimento de janeiro até hoje é muito grande”, detalhou Campos Neto, que cita ainda que o chamado “tíquete médio” dessas transações já subiu mais de 200%.

“Já começamos a ter a percepção de um efeito disso [bets] sobre a inadimplência na ponta”, disse o banqueiro central. “O crédito segue muito bem e saudável, mas tem esses pontos de atenção”, reforçou.

Contato: daniel.mendes@estadao.com; francisco.assis@esstadao.com; eduardo.laguna@estadao.com

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a política fiscal do Brasil nesta terça-feira, 24, destacou que, mais do que os números em si apresentados pelo governo, é preciso se atentar para “a transparência e qualidade” desses dados.

“Acho que, na ponta, surgiu esse tema, esse questionamento em relação não só ao número fiscal, mas à transparência, à qualidade desses dados”, disse o banqueiro central, durante evento do Banco Safra, reforçando que esse é um tema “importante de se acompanhar”. Para ele, é preciso também observar essa situação em um horizonte um pouco mais longo, para além do que ele chamou de “ruídos de curto prazo”.

Ele ressaltou, porém, que “é difícil” para o Banco Central fazer comentários sobre política fiscal e que cabe à autoridade monetária utilizar modelos para entender sobre essa área e calibrar a sua função de reação.

Campos Neto disse que BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado Foto: Alex Silva/Estadão

O banqueiro central ainda afirmou que parece ter havido “um exagero” por parte do mercado financeiro ao precificar os riscos fiscais, mas que não cabe ao BC julgar os preços de mercado, e sim entendê-los. “Nós entendemos que, olhando os preços de mercado, eles parecem um exagero em relação ao que foi feito (pelo governo, na área fiscal), mas estamos acompanhando porque é importante para a nossa função reação”.

Campos Neto disse ainda que o BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado. “O quanto (vai diminuir o gasto) a gente não arrisca a colocar, mas a gente entende que vai ter uma desaceleração nos gastos, isso já está nas nossas projeções”, explicou.

Próximos passos

O presidente do BC destacou a coesão do Comitê de Política Monetária (Copom) em suas duas últimas reuniões. Segundo ele, houve uma percepção unânime entre os membros de que era importante comunicar a decisão de forma eficiente.

Ele disse entender o desejo do mercado em ter um guidance — ou seja, uma sinalização dos próximos passos do BC. E acrescentou que, às vezes, a autoridade monetária não sabe a decisão que vai tomar na reunião seguinte. É o que acontece no momento, quando o BC prefere esperar por indicadores econômicos.

“Nem sempre é possível dar guidance, apesar de o mercado sempre esperar. Sempre há redução de volatilidade quando o BC dá guidance, mas neste momento não daremos”, declarou.

O presidente do BC expressou desconforto tanto com a desancoragem das expectativas quanto com o prêmio de risco na curva longa de juros, atribuído, em parte, a incertezas sobre a política fiscal. Ponderou, no entanto, que a questão fiscal pode ser endereçada rapidamente, ao justificar a decisão do BC de aguardar a evolução do cenário.

Ao ser questionado sobre qual conselho deixaria para a direção do BC, Campos Neto, que deixa o cargo na virada do ano, respondeu que a recomendação é agir com independência, aguentar a pressão e ser técnico, sem se levar por ruídos de curto prazo.

Mercado de crédito

Campos Neto afirmou que há percepção de alguma piora “na ponta” no mercado de crédito do País, especialmente entre a população de renda mais baixa. Em um âmbito mais amplo, porém, a avaliação do presidente do BC é que o mercado de crédito se mostrou mais forte do que o inicialmente esperado neste ano.

“Quando a gente olha a baixa renda na ponta, tem um pouquinho de piora”, disse Campos Neto, que em seguida traçou uma possível correlação entre esse cenário e o mercado das “bets”, as apostas esportivas online, no País.

“É um tema muito relevante e que tem sido falado sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse. Segundo ele, já há estudos indicando, por exemplo, que uma parcela considerável de pessoas beneficiárias do Bolsa Família estão colocando o dinheiro nas bets.

Assim, o crescimento dessas casas de apostas é uma questão que preocupa o Banco Central, de acordo com Campos Neto, que, no entanto, reforçou que o trabalho no BC nesta questão deve se limitar a ajudar o governo e o Congresso com dados.

“Uma coisa que tem gerado preocupação na ponta é que o crescimento é muito grande. A gente consegue mapear o que foi feito de Pix para esses sites de apostas e o crescimento de janeiro até hoje é muito grande”, detalhou Campos Neto, que cita ainda que o chamado “tíquete médio” dessas transações já subiu mais de 200%.

“Já começamos a ter a percepção de um efeito disso [bets] sobre a inadimplência na ponta”, disse o banqueiro central. “O crédito segue muito bem e saudável, mas tem esses pontos de atenção”, reforçou.

Contato: daniel.mendes@estadao.com; francisco.assis@esstadao.com; eduardo.laguna@estadao.com

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao comentar a política fiscal do Brasil nesta terça-feira, 24, destacou que, mais do que os números em si apresentados pelo governo, é preciso se atentar para “a transparência e qualidade” desses dados.

“Acho que, na ponta, surgiu esse tema, esse questionamento em relação não só ao número fiscal, mas à transparência, à qualidade desses dados”, disse o banqueiro central, durante evento do Banco Safra, reforçando que esse é um tema “importante de se acompanhar”. Para ele, é preciso também observar essa situação em um horizonte um pouco mais longo, para além do que ele chamou de “ruídos de curto prazo”.

Ele ressaltou, porém, que “é difícil” para o Banco Central fazer comentários sobre política fiscal e que cabe à autoridade monetária utilizar modelos para entender sobre essa área e calibrar a sua função de reação.

Campos Neto disse que BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado Foto: Alex Silva/Estadão

O banqueiro central ainda afirmou que parece ter havido “um exagero” por parte do mercado financeiro ao precificar os riscos fiscais, mas que não cabe ao BC julgar os preços de mercado, e sim entendê-los. “Nós entendemos que, olhando os preços de mercado, eles parecem um exagero em relação ao que foi feito (pelo governo, na área fiscal), mas estamos acompanhando porque é importante para a nossa função reação”.

Campos Neto disse ainda que o BC trabalha com um cenário em que haverá redução dos gastos do governo federal na comparação com o que foi gasto no ano passado. “O quanto (vai diminuir o gasto) a gente não arrisca a colocar, mas a gente entende que vai ter uma desaceleração nos gastos, isso já está nas nossas projeções”, explicou.

Próximos passos

O presidente do BC destacou a coesão do Comitê de Política Monetária (Copom) em suas duas últimas reuniões. Segundo ele, houve uma percepção unânime entre os membros de que era importante comunicar a decisão de forma eficiente.

Ele disse entender o desejo do mercado em ter um guidance — ou seja, uma sinalização dos próximos passos do BC. E acrescentou que, às vezes, a autoridade monetária não sabe a decisão que vai tomar na reunião seguinte. É o que acontece no momento, quando o BC prefere esperar por indicadores econômicos.

“Nem sempre é possível dar guidance, apesar de o mercado sempre esperar. Sempre há redução de volatilidade quando o BC dá guidance, mas neste momento não daremos”, declarou.

O presidente do BC expressou desconforto tanto com a desancoragem das expectativas quanto com o prêmio de risco na curva longa de juros, atribuído, em parte, a incertezas sobre a política fiscal. Ponderou, no entanto, que a questão fiscal pode ser endereçada rapidamente, ao justificar a decisão do BC de aguardar a evolução do cenário.

Ao ser questionado sobre qual conselho deixaria para a direção do BC, Campos Neto, que deixa o cargo na virada do ano, respondeu que a recomendação é agir com independência, aguentar a pressão e ser técnico, sem se levar por ruídos de curto prazo.

Mercado de crédito

Campos Neto afirmou que há percepção de alguma piora “na ponta” no mercado de crédito do País, especialmente entre a população de renda mais baixa. Em um âmbito mais amplo, porém, a avaliação do presidente do BC é que o mercado de crédito se mostrou mais forte do que o inicialmente esperado neste ano.

“Quando a gente olha a baixa renda na ponta, tem um pouquinho de piora”, disse Campos Neto, que em seguida traçou uma possível correlação entre esse cenário e o mercado das “bets”, as apostas esportivas online, no País.

“É um tema muito relevante e que tem sido falado sobre o comprometimento da renda das famílias nesses sites de apostas”, disse. Segundo ele, já há estudos indicando, por exemplo, que uma parcela considerável de pessoas beneficiárias do Bolsa Família estão colocando o dinheiro nas bets.

Assim, o crescimento dessas casas de apostas é uma questão que preocupa o Banco Central, de acordo com Campos Neto, que, no entanto, reforçou que o trabalho no BC nesta questão deve se limitar a ajudar o governo e o Congresso com dados.

“Uma coisa que tem gerado preocupação na ponta é que o crescimento é muito grande. A gente consegue mapear o que foi feito de Pix para esses sites de apostas e o crescimento de janeiro até hoje é muito grande”, detalhou Campos Neto, que cita ainda que o chamado “tíquete médio” dessas transações já subiu mais de 200%.

“Já começamos a ter a percepção de um efeito disso [bets] sobre a inadimplência na ponta”, disse o banqueiro central. “O crédito segue muito bem e saudável, mas tem esses pontos de atenção”, reforçou.

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