O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira, 12, que, independentemente de quem seja seu sucessor no comando da autarquia no próximo ano, o BC terá um compromisso “inequívoco” de trabalhar para levar a inflação à meta.
“Temos tido mensagem inequívoca e consensual de que o BC fará o que precisar para trazer inflação para meta”, disse em palestra na Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo. “Isso está bem sedimentado no grupo que temos hoje e no debate que fazemos”, acrescentou.
Na avaliação de Campos Neto, o BC tem se esforçado para externalizar esse compromisso e que, por isso, o prêmio de risco que trouxe volatilidade ao ambiente interno tende a diminuir à frente.
“E à medida que seja demonstrado esse esforço (de compromisso com a meta) de forma mais clara, o prêmio de risco tende a diminuir”, disse. Ele afirmou ainda que o governo federal “tem se esforçado” para reduzir incertezas, mas que é importante acompanhar como será a dinâmica à frente e o impacto sobre a percepção de riscos dos agentes do mercado.
O presidente do BC acrescentou que o Brasil precisa fazer um esforço extra para que os agentes econômicos acreditem que haverá redução da dívida pública.
Campos Neto lembrou que o juro real no Brasil é historicamente sempre alto, mas que, em um horizonte mais longo, tem caído. Para o presidente do BC, para além da discussão da taxa de juro real na comparação com outros países do mundo, é importante observar o que ele chama de “esforço monetário” que é a diferença entre a taxa de juro real e a taxa de juro real neutra. “Só comparar o juro real não faz todo o trabalho”, pontuou.
Juro nos EUA
Sobre o cenário externo, ele afirmou que, apesar de a inflação nos Estados Unidos estar convergindo à meta, o juro norte-americano pode ficar mais alto por mais tempo.
O presidente do BC afirmou que existem elementos que apontam para uma desaceleração da economia nos EUA, com arrefecimento do ritmo da inflação e do próprio Produto Interno Bruto (PIB). Uma recessão nos EUA, porém, ainda “não parece provável”, segundo ele. “Existe a possibilidade, mas não é o mais provável”, apontou.
Campos Neto ressaltou que existem elementos na dinâmica norte-americana que apontam para algum risco inflacionário, como, por exemplo, a eleição. Para ele, a tendência para uma política fiscal expansionista está presente no discurso dos principais candidatos que disputam a eleição e que por isso existe, no mercado, a percepção de que, independentemente do vencedor, não deverá haver uma política austera nos EUA.
Na avaliação do presidente do BC, esse debate talvez faça com que a “ficha caia” para alguns agentes de mercado de que “é difícil” o mundo voltar a ter juros baixos no nível de antes da pandemia de covid-19.
Em relação ao ambiente global e a realidade da maioria dos países, Campos Neto destacou que houve um aumento da dívida desde a pandemia, que os juros estão mais altos e, por isso, o custo para rolagem dessa dívida está também mais alto.
Entre os países emergentes, Campos Neto citou que a inflação cheia e a média de núcleos começou a cair. Na América Latina, contudo, ele destacou uma elevação recente nos preços de energia. Já em relação à Índia, Campos Neto citou que tem havido uma desaceleração na inflação de serviços. “No geral, a convergência está bem lenta”, disse.