Campos Neto diz que Lula tem direito de se manifestar e nega conversa com Tarcísio para ser ministro


Presidente do BC reforçou que não pretende se candidatar a nada e reiterou que tem planos, após deixar a autarquia, de trabalhar no setor privado

Por Cicero Cotrim, Eduardo Laguna e Francisco Carlos de Assis

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 27, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito de se manifestar sobre a política monetária. Na semana passada, o mandatário criticou o nível da taxa Selic e acusou Campos Neto de ter lado político.

“O presidente da República tem todo o direito de se manifestar em relação ao que está acontecendo, o que está sendo feito no Banco Central ou em qualquer outro órgão”, disse Campos Neto, ao ser indagado sobre o tema em uma entrevista à imprensa. “Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos.”

Ele afirmou que o BC “tem mostrado e vai continuar mostrando” que toma decisões técnicas. “Eu vou sair em breve (da presidência do BC), o tema político vai continuar e as pessoas vão fazer uma análise um período depois de eu ter saído e vão chegar à conclusão de que, enquanto o Roberto esteve lá, foi 100% técnico”, disse em entrevista à imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em São Paulo.

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Campos Neto lembrou que, em 2022, o BC fez o “maior aumento de juros em ano eleitoral da história do mundo emergente”, em termos proporcionais. E lembrou que a missão do BC é entregar a inflação baixa, o que classificou como a “melhor política social.”

Ao responder, porém, se os ataques de Lula dificultam o trabalho do BC, Campos Neto observou que, conforme mostra o comportamento do mercado em tempo real no passado recente, houve piora de preços de ativos e de variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente.

Dessa forma, ele ponderou que o aumento do prêmio de risco, com volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a potência da política monetária, tornando, sim, mais difícil o trabalho do BC ao longo do tempo.

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Campos Neto negou que tenha cogitado abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Campos Neto procurou não comentar as falas em que Lula descarta a ideia de desvincular os reajustes de benefícios previdenciários do salário mínimo. Segundo o presidente do BC, não faz sentido comentar medidas específicas relacionadas às contas públicas, acrescentando que o que importa são os desdobramentos da política fiscal na função de reação do Banco Central.

Apesar da avaliação de que ruídos fiscais contribuem para elevar o prêmio de risco, Campos Neto explicou por que as incertezas fiscais não voltam ao balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom).

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Ao contrário das expectativas, os números das contas públicas de curto prazo têm sido positivos, lembrou, de modo que não faz sentido dar peso muito grande ao fiscal no balanço. “Entendemos que estamos passando por ruídos de curto prazo e precisamos falar mais de variáveis estruturais.”

Campos Neto afirmou também que a estratégia do BC de não antecipar os próximos passos do Copom, com o fim do forward guidance, não significa que a autoridade monetária não esteja vigilante. Nesse ponto, reafirmou que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa muito o BC.

Conversa com Tarcísio

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O presidente do BC negou que tenha conversado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a possibilidade de tornar-se ministro da Fazenda caso Tarcísio seja eleito à Presidência da República. “É importante dizer que eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada”, disse.

Neste mês, ele participou de um jantar organizado por Tarcísio, que é cotado para enfrentar Lula em 2026, em São Paulo. Depois, foi criticado pelo mandatário, que o acusou de ter lado político.

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Campos Neto disse ser amigo de Tarcísio desde o governo anterior, quando o hoje governador paulista era ministro da Infraestrutura. “Continuamos conversando sobre economia, como converso com vários agentes e parlamentares, pessoas do governo. As nossas famílias são próximas, então a gente tem uma amizade grande”, afirmou.

O presidente do BC afirmou que, na percepção dele, Tarcísio “não será candidato agora” e negou ter sugerido que o governador de São Paulo não se candidate. Ele não quis antecipar agora se aceitaria um convite caso o governador decida lançar uma candidatura à presidência após terminar um segundo mandato no governo paulista. “Tenho 55 anos, em 2030 vou ter 61, falar do que vou fazer daqui a seis anos não faz o menor sentido”, declarou.

Campos Neto reforçou que não pretende se candidatar a nada e reiterou que tem planos, após deixar a autarquia, de trabalhar no setor privado em alguma atividade que combine tecnologia e finanças.

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Abreviar mandato

O presidente do Banco Central disse que “em nenhum momento” falou em abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária. Ele foi indagado sobre um eventual impacto positivo nos mercados se o governo antecipasse a indicação do nome que vai substituí-lo a partir de 2025.

“Eu acho que é importante frisar que em nenhum momento eu disse que eu queria abreviar o meu mandato, de nenhuma forma. Eu acho que é importante que eu fique até o último dia. Esse é o primeiro grande teste do processo de autonomia”, disse.

Ele defendeu, no entanto, que a autonomia tem grande valor institucional e disse ter o dever de promover uma “transição suave”, independente de quem venha a sucedê-lo. Acrescentou, ainda, que é importante que o indicado tenha tempo de fazer corpo a corpo no Senado, para a sabatina pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

“Se ter uma antecipação maior é melhor ou não para o mercado, eu acho que tem interpretações diferentes, acho que não cabe a mim falar se é melhor ou se não é melhor”, disse. “O que eu disse é que é importante ter tempo para fazer esse processo e fazer a transição suave.”

Câmbio flutuante

Campos Neto e o diretor de Política Econômica da autarquia, Diogo Guillen, ao discorrerem sobre a taxa de câmbio no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), reforçaram que a autoridade monetária segue o princípio do câmbio flutuante e que não fazem intervenção neste mercado mirando o nível da taxa.

Campos Neto disse que o câmbio apresentou uma desvalorização em linha com as variáveis do prêmio de risco. “Não temos feito operação direcional no câmbio. Operação de swap foi uma rolagem”, disse.

De acordo com o banqueiro central, intervenções no mercado de câmbio só vão ocorrer quando houver disfuncionalidade.

Ele ressaltou que a comunicação do BC tem sido compatível com a estratégia de não fornecer ao mercado um guidance, ou seja, uma sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Nesse sentido, disse que um movimento de alta dos juros, como tem sido precificado pelo mercado, não faz parte do cenário-base do Banco Central.

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 27, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito de se manifestar sobre a política monetária. Na semana passada, o mandatário criticou o nível da taxa Selic e acusou Campos Neto de ter lado político.

“O presidente da República tem todo o direito de se manifestar em relação ao que está acontecendo, o que está sendo feito no Banco Central ou em qualquer outro órgão”, disse Campos Neto, ao ser indagado sobre o tema em uma entrevista à imprensa. “Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos.”

Ele afirmou que o BC “tem mostrado e vai continuar mostrando” que toma decisões técnicas. “Eu vou sair em breve (da presidência do BC), o tema político vai continuar e as pessoas vão fazer uma análise um período depois de eu ter saído e vão chegar à conclusão de que, enquanto o Roberto esteve lá, foi 100% técnico”, disse em entrevista à imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em São Paulo.

Campos Neto lembrou que, em 2022, o BC fez o “maior aumento de juros em ano eleitoral da história do mundo emergente”, em termos proporcionais. E lembrou que a missão do BC é entregar a inflação baixa, o que classificou como a “melhor política social.”

Ao responder, porém, se os ataques de Lula dificultam o trabalho do BC, Campos Neto observou que, conforme mostra o comportamento do mercado em tempo real no passado recente, houve piora de preços de ativos e de variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente.

Dessa forma, ele ponderou que o aumento do prêmio de risco, com volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a potência da política monetária, tornando, sim, mais difícil o trabalho do BC ao longo do tempo.

Campos Neto negou que tenha cogitado abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Campos Neto procurou não comentar as falas em que Lula descarta a ideia de desvincular os reajustes de benefícios previdenciários do salário mínimo. Segundo o presidente do BC, não faz sentido comentar medidas específicas relacionadas às contas públicas, acrescentando que o que importa são os desdobramentos da política fiscal na função de reação do Banco Central.

Apesar da avaliação de que ruídos fiscais contribuem para elevar o prêmio de risco, Campos Neto explicou por que as incertezas fiscais não voltam ao balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao contrário das expectativas, os números das contas públicas de curto prazo têm sido positivos, lembrou, de modo que não faz sentido dar peso muito grande ao fiscal no balanço. “Entendemos que estamos passando por ruídos de curto prazo e precisamos falar mais de variáveis estruturais.”

Campos Neto afirmou também que a estratégia do BC de não antecipar os próximos passos do Copom, com o fim do forward guidance, não significa que a autoridade monetária não esteja vigilante. Nesse ponto, reafirmou que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa muito o BC.

Conversa com Tarcísio

O presidente do BC negou que tenha conversado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a possibilidade de tornar-se ministro da Fazenda caso Tarcísio seja eleito à Presidência da República. “É importante dizer que eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada”, disse.

Neste mês, ele participou de um jantar organizado por Tarcísio, que é cotado para enfrentar Lula em 2026, em São Paulo. Depois, foi criticado pelo mandatário, que o acusou de ter lado político.

Campos Neto disse ser amigo de Tarcísio desde o governo anterior, quando o hoje governador paulista era ministro da Infraestrutura. “Continuamos conversando sobre economia, como converso com vários agentes e parlamentares, pessoas do governo. As nossas famílias são próximas, então a gente tem uma amizade grande”, afirmou.

O presidente do BC afirmou que, na percepção dele, Tarcísio “não será candidato agora” e negou ter sugerido que o governador de São Paulo não se candidate. Ele não quis antecipar agora se aceitaria um convite caso o governador decida lançar uma candidatura à presidência após terminar um segundo mandato no governo paulista. “Tenho 55 anos, em 2030 vou ter 61, falar do que vou fazer daqui a seis anos não faz o menor sentido”, declarou.

Campos Neto reforçou que não pretende se candidatar a nada e reiterou que tem planos, após deixar a autarquia, de trabalhar no setor privado em alguma atividade que combine tecnologia e finanças.

Abreviar mandato

O presidente do Banco Central disse que “em nenhum momento” falou em abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária. Ele foi indagado sobre um eventual impacto positivo nos mercados se o governo antecipasse a indicação do nome que vai substituí-lo a partir de 2025.

“Eu acho que é importante frisar que em nenhum momento eu disse que eu queria abreviar o meu mandato, de nenhuma forma. Eu acho que é importante que eu fique até o último dia. Esse é o primeiro grande teste do processo de autonomia”, disse.

Ele defendeu, no entanto, que a autonomia tem grande valor institucional e disse ter o dever de promover uma “transição suave”, independente de quem venha a sucedê-lo. Acrescentou, ainda, que é importante que o indicado tenha tempo de fazer corpo a corpo no Senado, para a sabatina pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

“Se ter uma antecipação maior é melhor ou não para o mercado, eu acho que tem interpretações diferentes, acho que não cabe a mim falar se é melhor ou se não é melhor”, disse. “O que eu disse é que é importante ter tempo para fazer esse processo e fazer a transição suave.”

Câmbio flutuante

Campos Neto e o diretor de Política Econômica da autarquia, Diogo Guillen, ao discorrerem sobre a taxa de câmbio no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), reforçaram que a autoridade monetária segue o princípio do câmbio flutuante e que não fazem intervenção neste mercado mirando o nível da taxa.

Campos Neto disse que o câmbio apresentou uma desvalorização em linha com as variáveis do prêmio de risco. “Não temos feito operação direcional no câmbio. Operação de swap foi uma rolagem”, disse.

De acordo com o banqueiro central, intervenções no mercado de câmbio só vão ocorrer quando houver disfuncionalidade.

Ele ressaltou que a comunicação do BC tem sido compatível com a estratégia de não fornecer ao mercado um guidance, ou seja, uma sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Nesse sentido, disse que um movimento de alta dos juros, como tem sido precificado pelo mercado, não faz parte do cenário-base do Banco Central.

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 27, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito de se manifestar sobre a política monetária. Na semana passada, o mandatário criticou o nível da taxa Selic e acusou Campos Neto de ter lado político.

“O presidente da República tem todo o direito de se manifestar em relação ao que está acontecendo, o que está sendo feito no Banco Central ou em qualquer outro órgão”, disse Campos Neto, ao ser indagado sobre o tema em uma entrevista à imprensa. “Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos.”

Ele afirmou que o BC “tem mostrado e vai continuar mostrando” que toma decisões técnicas. “Eu vou sair em breve (da presidência do BC), o tema político vai continuar e as pessoas vão fazer uma análise um período depois de eu ter saído e vão chegar à conclusão de que, enquanto o Roberto esteve lá, foi 100% técnico”, disse em entrevista à imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em São Paulo.

Campos Neto lembrou que, em 2022, o BC fez o “maior aumento de juros em ano eleitoral da história do mundo emergente”, em termos proporcionais. E lembrou que a missão do BC é entregar a inflação baixa, o que classificou como a “melhor política social.”

Ao responder, porém, se os ataques de Lula dificultam o trabalho do BC, Campos Neto observou que, conforme mostra o comportamento do mercado em tempo real no passado recente, houve piora de preços de ativos e de variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente.

Dessa forma, ele ponderou que o aumento do prêmio de risco, com volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a potência da política monetária, tornando, sim, mais difícil o trabalho do BC ao longo do tempo.

Campos Neto negou que tenha cogitado abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Campos Neto procurou não comentar as falas em que Lula descarta a ideia de desvincular os reajustes de benefícios previdenciários do salário mínimo. Segundo o presidente do BC, não faz sentido comentar medidas específicas relacionadas às contas públicas, acrescentando que o que importa são os desdobramentos da política fiscal na função de reação do Banco Central.

Apesar da avaliação de que ruídos fiscais contribuem para elevar o prêmio de risco, Campos Neto explicou por que as incertezas fiscais não voltam ao balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao contrário das expectativas, os números das contas públicas de curto prazo têm sido positivos, lembrou, de modo que não faz sentido dar peso muito grande ao fiscal no balanço. “Entendemos que estamos passando por ruídos de curto prazo e precisamos falar mais de variáveis estruturais.”

Campos Neto afirmou também que a estratégia do BC de não antecipar os próximos passos do Copom, com o fim do forward guidance, não significa que a autoridade monetária não esteja vigilante. Nesse ponto, reafirmou que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa muito o BC.

Conversa com Tarcísio

O presidente do BC negou que tenha conversado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a possibilidade de tornar-se ministro da Fazenda caso Tarcísio seja eleito à Presidência da República. “É importante dizer que eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada”, disse.

Neste mês, ele participou de um jantar organizado por Tarcísio, que é cotado para enfrentar Lula em 2026, em São Paulo. Depois, foi criticado pelo mandatário, que o acusou de ter lado político.

Campos Neto disse ser amigo de Tarcísio desde o governo anterior, quando o hoje governador paulista era ministro da Infraestrutura. “Continuamos conversando sobre economia, como converso com vários agentes e parlamentares, pessoas do governo. As nossas famílias são próximas, então a gente tem uma amizade grande”, afirmou.

O presidente do BC afirmou que, na percepção dele, Tarcísio “não será candidato agora” e negou ter sugerido que o governador de São Paulo não se candidate. Ele não quis antecipar agora se aceitaria um convite caso o governador decida lançar uma candidatura à presidência após terminar um segundo mandato no governo paulista. “Tenho 55 anos, em 2030 vou ter 61, falar do que vou fazer daqui a seis anos não faz o menor sentido”, declarou.

Campos Neto reforçou que não pretende se candidatar a nada e reiterou que tem planos, após deixar a autarquia, de trabalhar no setor privado em alguma atividade que combine tecnologia e finanças.

Abreviar mandato

O presidente do Banco Central disse que “em nenhum momento” falou em abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária. Ele foi indagado sobre um eventual impacto positivo nos mercados se o governo antecipasse a indicação do nome que vai substituí-lo a partir de 2025.

“Eu acho que é importante frisar que em nenhum momento eu disse que eu queria abreviar o meu mandato, de nenhuma forma. Eu acho que é importante que eu fique até o último dia. Esse é o primeiro grande teste do processo de autonomia”, disse.

Ele defendeu, no entanto, que a autonomia tem grande valor institucional e disse ter o dever de promover uma “transição suave”, independente de quem venha a sucedê-lo. Acrescentou, ainda, que é importante que o indicado tenha tempo de fazer corpo a corpo no Senado, para a sabatina pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

“Se ter uma antecipação maior é melhor ou não para o mercado, eu acho que tem interpretações diferentes, acho que não cabe a mim falar se é melhor ou se não é melhor”, disse. “O que eu disse é que é importante ter tempo para fazer esse processo e fazer a transição suave.”

Câmbio flutuante

Campos Neto e o diretor de Política Econômica da autarquia, Diogo Guillen, ao discorrerem sobre a taxa de câmbio no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), reforçaram que a autoridade monetária segue o princípio do câmbio flutuante e que não fazem intervenção neste mercado mirando o nível da taxa.

Campos Neto disse que o câmbio apresentou uma desvalorização em linha com as variáveis do prêmio de risco. “Não temos feito operação direcional no câmbio. Operação de swap foi uma rolagem”, disse.

De acordo com o banqueiro central, intervenções no mercado de câmbio só vão ocorrer quando houver disfuncionalidade.

Ele ressaltou que a comunicação do BC tem sido compatível com a estratégia de não fornecer ao mercado um guidance, ou seja, uma sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Nesse sentido, disse que um movimento de alta dos juros, como tem sido precificado pelo mercado, não faz parte do cenário-base do Banco Central.

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quinta-feira, 27, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito de se manifestar sobre a política monetária. Na semana passada, o mandatário criticou o nível da taxa Selic e acusou Campos Neto de ter lado político.

“O presidente da República tem todo o direito de se manifestar em relação ao que está acontecendo, o que está sendo feito no Banco Central ou em qualquer outro órgão”, disse Campos Neto, ao ser indagado sobre o tema em uma entrevista à imprensa. “Não cabe a mim, presidente do BC, entrar em debates políticos.”

Ele afirmou que o BC “tem mostrado e vai continuar mostrando” que toma decisões técnicas. “Eu vou sair em breve (da presidência do BC), o tema político vai continuar e as pessoas vão fazer uma análise um período depois de eu ter saído e vão chegar à conclusão de que, enquanto o Roberto esteve lá, foi 100% técnico”, disse em entrevista à imprensa para comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), em São Paulo.

Campos Neto lembrou que, em 2022, o BC fez o “maior aumento de juros em ano eleitoral da história do mundo emergente”, em termos proporcionais. E lembrou que a missão do BC é entregar a inflação baixa, o que classificou como a “melhor política social.”

Ao responder, porém, se os ataques de Lula dificultam o trabalho do BC, Campos Neto observou que, conforme mostra o comportamento do mercado em tempo real no passado recente, houve piora de preços de ativos e de variáveis econômicas em momentos de pronunciamento do presidente.

Dessa forma, ele ponderou que o aumento do prêmio de risco, com volatilidade, afeta o canal das expectativas e, consequentemente, a potência da política monetária, tornando, sim, mais difícil o trabalho do BC ao longo do tempo.

Campos Neto negou que tenha cogitado abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária Foto: Raphael Ribeiro/BCB

Campos Neto procurou não comentar as falas em que Lula descarta a ideia de desvincular os reajustes de benefícios previdenciários do salário mínimo. Segundo o presidente do BC, não faz sentido comentar medidas específicas relacionadas às contas públicas, acrescentando que o que importa são os desdobramentos da política fiscal na função de reação do Banco Central.

Apesar da avaliação de que ruídos fiscais contribuem para elevar o prêmio de risco, Campos Neto explicou por que as incertezas fiscais não voltam ao balanço de riscos do Comitê de Política Monetária (Copom).

Ao contrário das expectativas, os números das contas públicas de curto prazo têm sido positivos, lembrou, de modo que não faz sentido dar peso muito grande ao fiscal no balanço. “Entendemos que estamos passando por ruídos de curto prazo e precisamos falar mais de variáveis estruturais.”

Campos Neto afirmou também que a estratégia do BC de não antecipar os próximos passos do Copom, com o fim do forward guidance, não significa que a autoridade monetária não esteja vigilante. Nesse ponto, reafirmou que a desancoragem das expectativas de inflação preocupa muito o BC.

Conversa com Tarcísio

O presidente do BC negou que tenha conversado com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sobre a possibilidade de tornar-se ministro da Fazenda caso Tarcísio seja eleito à Presidência da República. “É importante dizer que eu nunca tive nenhuma conversa com o Tarcísio sobre ser ministro de nada”, disse.

Neste mês, ele participou de um jantar organizado por Tarcísio, que é cotado para enfrentar Lula em 2026, em São Paulo. Depois, foi criticado pelo mandatário, que o acusou de ter lado político.

Campos Neto disse ser amigo de Tarcísio desde o governo anterior, quando o hoje governador paulista era ministro da Infraestrutura. “Continuamos conversando sobre economia, como converso com vários agentes e parlamentares, pessoas do governo. As nossas famílias são próximas, então a gente tem uma amizade grande”, afirmou.

O presidente do BC afirmou que, na percepção dele, Tarcísio “não será candidato agora” e negou ter sugerido que o governador de São Paulo não se candidate. Ele não quis antecipar agora se aceitaria um convite caso o governador decida lançar uma candidatura à presidência após terminar um segundo mandato no governo paulista. “Tenho 55 anos, em 2030 vou ter 61, falar do que vou fazer daqui a seis anos não faz o menor sentido”, declarou.

Campos Neto reforçou que não pretende se candidatar a nada e reiterou que tem planos, após deixar a autarquia, de trabalhar no setor privado em alguma atividade que combine tecnologia e finanças.

Abreviar mandato

O presidente do Banco Central disse que “em nenhum momento” falou em abreviar seu mandato à frente da autoridade monetária. Ele foi indagado sobre um eventual impacto positivo nos mercados se o governo antecipasse a indicação do nome que vai substituí-lo a partir de 2025.

“Eu acho que é importante frisar que em nenhum momento eu disse que eu queria abreviar o meu mandato, de nenhuma forma. Eu acho que é importante que eu fique até o último dia. Esse é o primeiro grande teste do processo de autonomia”, disse.

Ele defendeu, no entanto, que a autonomia tem grande valor institucional e disse ter o dever de promover uma “transição suave”, independente de quem venha a sucedê-lo. Acrescentou, ainda, que é importante que o indicado tenha tempo de fazer corpo a corpo no Senado, para a sabatina pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

“Se ter uma antecipação maior é melhor ou não para o mercado, eu acho que tem interpretações diferentes, acho que não cabe a mim falar se é melhor ou se não é melhor”, disse. “O que eu disse é que é importante ter tempo para fazer esse processo e fazer a transição suave.”

Câmbio flutuante

Campos Neto e o diretor de Política Econômica da autarquia, Diogo Guillen, ao discorrerem sobre a taxa de câmbio no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), reforçaram que a autoridade monetária segue o princípio do câmbio flutuante e que não fazem intervenção neste mercado mirando o nível da taxa.

Campos Neto disse que o câmbio apresentou uma desvalorização em linha com as variáveis do prêmio de risco. “Não temos feito operação direcional no câmbio. Operação de swap foi uma rolagem”, disse.

De acordo com o banqueiro central, intervenções no mercado de câmbio só vão ocorrer quando houver disfuncionalidade.

Ele ressaltou que a comunicação do BC tem sido compatível com a estratégia de não fornecer ao mercado um guidance, ou seja, uma sinalização sobre os próximos passos da política monetária. Nesse sentido, disse que um movimento de alta dos juros, como tem sido precificado pelo mercado, não faz parte do cenário-base do Banco Central.

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