Campos Neto reforça defesa da taxa de juros: ‘Economia não gira em torno da Selic’


Em evento do Lide em Londres, presidente do Banco Central disse que decisão sobre baixar juros tem ‘timing técnico’, não político

Por Pedro Venceslau e Francisco Carlos de Assis
Atualização:

ENVIADO A LONDRES - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 21, que a economia não gira em torno da Selic. Ao ouvir de um empresário no Lide Brazil Conference que o elevado patamar da taxa de juros atrapalha o Brasil a crescer, Campos Neto respondeu que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é relacionado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse.

“Se a gente não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai”, justificou. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”.

Para justificar a necessidade de se manter a Selic no patamar em que se encontra, Campos Neto comparou a politica monetária a uma tubulação de água que se encontra entupida. Ou seja, para se atingir o fluxo de água desejado numa tubulação entupida, e neste caso pelo elevado porcentual de crédito, o BC precisa elevar a pressão da água.

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O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fala em evento do Lide em Londres. Foto: Reprodução/Lide

“Uma das coisas que explicam a tubulação de política monetária entupida é o elevado porcentual de crédito direcionado”, disse, explicando que quando isso ocorre e a política monetária muda, o BC não tem influência sobre este porcentual.

Então, de acordo com ele, para se ter o efeito desejado o BC aumenta a pressão de juro na “tubulação congestionada”. “É o efeito que a gente chama também da meia entrada. Se você tem a meia entrada, a principal tem que ser mais cara para compensar”, disse acrescentando que enquanto no Brasil há 40% de direcionamento de crédito, em outros países o índice é de, em média, 4%. “Isso explica, em parte, o porquê de às vezes o nosso juro ser mais alto. É porque um componente de crédito subsidiado mais alto faz com que nossa política monetária tenha menos efeito”.

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Campos Neto insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior. “Isso não é porque eu acho A ou B é correto ou errado. Isso é um estudo que sai da relação entre potência da política monetária e o espaço que a gente tem”, afirmou.

Sobre os argumentos de que a taxa de juro real no Brasil é muito alta, o presidente do BC diz que se for comparar a taxa real de um país que já aumentou a taxa nominal com países que ainda estão subindo a sua taxa nominal de juro, o resultado da comparação das taxas reais será distorcido.

“Então, a gente precisa medir contra o núcleo da inflação, dado que nossa inflação cheia tem a contaminação da desoneração dos preços de comunicação, gasolina e energia elétrica. Isso afetou a inflação cheia. Mas ela é alta, mas não está muito distante das dos outros”, disse Campos Neto.

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O presidente do Banco Central fez um discurso amparado em números, no qual defendeu com veemência o sistema de metas de inflação e a autonomia do BC. “O anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico”, afirmou Campos Neto.

O dirigente lembrou que a Argentina aumentou sua meta e a taxa de juros caiu, mas a inflação disparou. Segundo Campos Neto, se o Banco Central não tivesse aumentado a taxa de juros na eleição, hoje a Selic seria de 18,75%. “Quando a inflação sai do controle, as empresas e o ricos se adaptam, mas os pobres não. Inflação é desigualdade e aumento de pobreza. Quem tem menos recursos não consegue se proteger”, afirmou.

O economista frisou que, se for feito um ajuste de juros “sem as condições”, o resultado pode ser “desastroso” para o crédito. “Países que abandonaram o sistema de meta entraram num sistema inflacionário muito alto”, completou.

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Campos Neto responde Rodrigo Pacheco e reforça autonomia do BC

No momento mais aguardado do Lide Brazil Conference em Londres, Campos Neto respondeu à “súplica” feita ontem pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela redução “imediata” da taxa de juros.

“O Banco Central é um órgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos. O timing técnico é diferente do timing político”, disse. “Por isso que a autonomia (do BC) é importante: para dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos e que tomamos decisões sem viés político”.

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Em sua palestra na manhã de ontem no evento do Lide com empresários e autoridades em Londres, Pacheco fez coro às pressões do PT e do Palácio do Planalto pela redução da taxa de juros, que está em 13,75%. Antes da fala de Campos Neto nesta sexta-feira, Pacheco voltou a falar na “reivindicação” e “súplica” do Senado para que se reduza a taxa de juros.

Campos Neto e Pacheco em evento do Lide em Londres Foto: Divulgação/Lide

No debate após sua fala, Campos Neto foi questionado se a autonomia do Banco Central estaria sob risco e minimizou a pressão do governo federal. “O debate sobre juros é normal. A autonomia do Banco Central não está em risco”, respondeu.

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O presidente do BC voltou a elogiar o projeto de arcabouço fiscal, enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso. “O arcabouço fiscal está na direção certa. É preciso trabalhar a comunicação. Pode ser que tenham reparos e melhorias no Congresso”, opinou.

O tema do arcabouço uniu os presidentes do Senado e do Banco Central. Rodrigo Pacheco disse que o projeto enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi recebido com “otimismo” no Senado. “A linha apresentada pelo ministro Fernando Haddad agradou de sobremaneira a maioria dos líderes que compõem o Senado Federal”, comentou Pacheco. “Eu devo reconhecer que o teto de gastos foi muito útil para sustentar o Brasil em crises agudas. Mas chegou o momento de haver a substituição do teto de gastos”.

Veja a fala de Campos Neto abaixo:

*O repórter viajou a convite do Lide

ENVIADO A LONDRES - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 21, que a economia não gira em torno da Selic. Ao ouvir de um empresário no Lide Brazil Conference que o elevado patamar da taxa de juros atrapalha o Brasil a crescer, Campos Neto respondeu que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é relacionado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse.

“Se a gente não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai”, justificou. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”.

Para justificar a necessidade de se manter a Selic no patamar em que se encontra, Campos Neto comparou a politica monetária a uma tubulação de água que se encontra entupida. Ou seja, para se atingir o fluxo de água desejado numa tubulação entupida, e neste caso pelo elevado porcentual de crédito, o BC precisa elevar a pressão da água.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fala em evento do Lide em Londres. Foto: Reprodução/Lide

“Uma das coisas que explicam a tubulação de política monetária entupida é o elevado porcentual de crédito direcionado”, disse, explicando que quando isso ocorre e a política monetária muda, o BC não tem influência sobre este porcentual.

Então, de acordo com ele, para se ter o efeito desejado o BC aumenta a pressão de juro na “tubulação congestionada”. “É o efeito que a gente chama também da meia entrada. Se você tem a meia entrada, a principal tem que ser mais cara para compensar”, disse acrescentando que enquanto no Brasil há 40% de direcionamento de crédito, em outros países o índice é de, em média, 4%. “Isso explica, em parte, o porquê de às vezes o nosso juro ser mais alto. É porque um componente de crédito subsidiado mais alto faz com que nossa política monetária tenha menos efeito”.

Campos Neto insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior. “Isso não é porque eu acho A ou B é correto ou errado. Isso é um estudo que sai da relação entre potência da política monetária e o espaço que a gente tem”, afirmou.

Sobre os argumentos de que a taxa de juro real no Brasil é muito alta, o presidente do BC diz que se for comparar a taxa real de um país que já aumentou a taxa nominal com países que ainda estão subindo a sua taxa nominal de juro, o resultado da comparação das taxas reais será distorcido.

“Então, a gente precisa medir contra o núcleo da inflação, dado que nossa inflação cheia tem a contaminação da desoneração dos preços de comunicação, gasolina e energia elétrica. Isso afetou a inflação cheia. Mas ela é alta, mas não está muito distante das dos outros”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central fez um discurso amparado em números, no qual defendeu com veemência o sistema de metas de inflação e a autonomia do BC. “O anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico”, afirmou Campos Neto.

O dirigente lembrou que a Argentina aumentou sua meta e a taxa de juros caiu, mas a inflação disparou. Segundo Campos Neto, se o Banco Central não tivesse aumentado a taxa de juros na eleição, hoje a Selic seria de 18,75%. “Quando a inflação sai do controle, as empresas e o ricos se adaptam, mas os pobres não. Inflação é desigualdade e aumento de pobreza. Quem tem menos recursos não consegue se proteger”, afirmou.

O economista frisou que, se for feito um ajuste de juros “sem as condições”, o resultado pode ser “desastroso” para o crédito. “Países que abandonaram o sistema de meta entraram num sistema inflacionário muito alto”, completou.

Campos Neto responde Rodrigo Pacheco e reforça autonomia do BC

No momento mais aguardado do Lide Brazil Conference em Londres, Campos Neto respondeu à “súplica” feita ontem pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela redução “imediata” da taxa de juros.

“O Banco Central é um órgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos. O timing técnico é diferente do timing político”, disse. “Por isso que a autonomia (do BC) é importante: para dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos e que tomamos decisões sem viés político”.

Em sua palestra na manhã de ontem no evento do Lide com empresários e autoridades em Londres, Pacheco fez coro às pressões do PT e do Palácio do Planalto pela redução da taxa de juros, que está em 13,75%. Antes da fala de Campos Neto nesta sexta-feira, Pacheco voltou a falar na “reivindicação” e “súplica” do Senado para que se reduza a taxa de juros.

Campos Neto e Pacheco em evento do Lide em Londres Foto: Divulgação/Lide

No debate após sua fala, Campos Neto foi questionado se a autonomia do Banco Central estaria sob risco e minimizou a pressão do governo federal. “O debate sobre juros é normal. A autonomia do Banco Central não está em risco”, respondeu.

O presidente do BC voltou a elogiar o projeto de arcabouço fiscal, enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso. “O arcabouço fiscal está na direção certa. É preciso trabalhar a comunicação. Pode ser que tenham reparos e melhorias no Congresso”, opinou.

O tema do arcabouço uniu os presidentes do Senado e do Banco Central. Rodrigo Pacheco disse que o projeto enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi recebido com “otimismo” no Senado. “A linha apresentada pelo ministro Fernando Haddad agradou de sobremaneira a maioria dos líderes que compõem o Senado Federal”, comentou Pacheco. “Eu devo reconhecer que o teto de gastos foi muito útil para sustentar o Brasil em crises agudas. Mas chegou o momento de haver a substituição do teto de gastos”.

Veja a fala de Campos Neto abaixo:

*O repórter viajou a convite do Lide

ENVIADO A LONDRES - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 21, que a economia não gira em torno da Selic. Ao ouvir de um empresário no Lide Brazil Conference que o elevado patamar da taxa de juros atrapalha o Brasil a crescer, Campos Neto respondeu que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é relacionado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse.

“Se a gente não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai”, justificou. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”.

Para justificar a necessidade de se manter a Selic no patamar em que se encontra, Campos Neto comparou a politica monetária a uma tubulação de água que se encontra entupida. Ou seja, para se atingir o fluxo de água desejado numa tubulação entupida, e neste caso pelo elevado porcentual de crédito, o BC precisa elevar a pressão da água.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fala em evento do Lide em Londres. Foto: Reprodução/Lide

“Uma das coisas que explicam a tubulação de política monetária entupida é o elevado porcentual de crédito direcionado”, disse, explicando que quando isso ocorre e a política monetária muda, o BC não tem influência sobre este porcentual.

Então, de acordo com ele, para se ter o efeito desejado o BC aumenta a pressão de juro na “tubulação congestionada”. “É o efeito que a gente chama também da meia entrada. Se você tem a meia entrada, a principal tem que ser mais cara para compensar”, disse acrescentando que enquanto no Brasil há 40% de direcionamento de crédito, em outros países o índice é de, em média, 4%. “Isso explica, em parte, o porquê de às vezes o nosso juro ser mais alto. É porque um componente de crédito subsidiado mais alto faz com que nossa política monetária tenha menos efeito”.

Campos Neto insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior. “Isso não é porque eu acho A ou B é correto ou errado. Isso é um estudo que sai da relação entre potência da política monetária e o espaço que a gente tem”, afirmou.

Sobre os argumentos de que a taxa de juro real no Brasil é muito alta, o presidente do BC diz que se for comparar a taxa real de um país que já aumentou a taxa nominal com países que ainda estão subindo a sua taxa nominal de juro, o resultado da comparação das taxas reais será distorcido.

“Então, a gente precisa medir contra o núcleo da inflação, dado que nossa inflação cheia tem a contaminação da desoneração dos preços de comunicação, gasolina e energia elétrica. Isso afetou a inflação cheia. Mas ela é alta, mas não está muito distante das dos outros”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central fez um discurso amparado em números, no qual defendeu com veemência o sistema de metas de inflação e a autonomia do BC. “O anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico”, afirmou Campos Neto.

O dirigente lembrou que a Argentina aumentou sua meta e a taxa de juros caiu, mas a inflação disparou. Segundo Campos Neto, se o Banco Central não tivesse aumentado a taxa de juros na eleição, hoje a Selic seria de 18,75%. “Quando a inflação sai do controle, as empresas e o ricos se adaptam, mas os pobres não. Inflação é desigualdade e aumento de pobreza. Quem tem menos recursos não consegue se proteger”, afirmou.

O economista frisou que, se for feito um ajuste de juros “sem as condições”, o resultado pode ser “desastroso” para o crédito. “Países que abandonaram o sistema de meta entraram num sistema inflacionário muito alto”, completou.

Campos Neto responde Rodrigo Pacheco e reforça autonomia do BC

No momento mais aguardado do Lide Brazil Conference em Londres, Campos Neto respondeu à “súplica” feita ontem pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela redução “imediata” da taxa de juros.

“O Banco Central é um órgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos. O timing técnico é diferente do timing político”, disse. “Por isso que a autonomia (do BC) é importante: para dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos e que tomamos decisões sem viés político”.

Em sua palestra na manhã de ontem no evento do Lide com empresários e autoridades em Londres, Pacheco fez coro às pressões do PT e do Palácio do Planalto pela redução da taxa de juros, que está em 13,75%. Antes da fala de Campos Neto nesta sexta-feira, Pacheco voltou a falar na “reivindicação” e “súplica” do Senado para que se reduza a taxa de juros.

Campos Neto e Pacheco em evento do Lide em Londres Foto: Divulgação/Lide

No debate após sua fala, Campos Neto foi questionado se a autonomia do Banco Central estaria sob risco e minimizou a pressão do governo federal. “O debate sobre juros é normal. A autonomia do Banco Central não está em risco”, respondeu.

O presidente do BC voltou a elogiar o projeto de arcabouço fiscal, enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso. “O arcabouço fiscal está na direção certa. É preciso trabalhar a comunicação. Pode ser que tenham reparos e melhorias no Congresso”, opinou.

O tema do arcabouço uniu os presidentes do Senado e do Banco Central. Rodrigo Pacheco disse que o projeto enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi recebido com “otimismo” no Senado. “A linha apresentada pelo ministro Fernando Haddad agradou de sobremaneira a maioria dos líderes que compõem o Senado Federal”, comentou Pacheco. “Eu devo reconhecer que o teto de gastos foi muito útil para sustentar o Brasil em crises agudas. Mas chegou o momento de haver a substituição do teto de gastos”.

Veja a fala de Campos Neto abaixo:

*O repórter viajou a convite do Lide

ENVIADO A LONDRES - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 21, que a economia não gira em torno da Selic. Ao ouvir de um empresário no Lide Brazil Conference que o elevado patamar da taxa de juros atrapalha o Brasil a crescer, Campos Neto respondeu que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é relacionado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse.

“Se a gente não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai”, justificou. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”.

Para justificar a necessidade de se manter a Selic no patamar em que se encontra, Campos Neto comparou a politica monetária a uma tubulação de água que se encontra entupida. Ou seja, para se atingir o fluxo de água desejado numa tubulação entupida, e neste caso pelo elevado porcentual de crédito, o BC precisa elevar a pressão da água.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fala em evento do Lide em Londres. Foto: Reprodução/Lide

“Uma das coisas que explicam a tubulação de política monetária entupida é o elevado porcentual de crédito direcionado”, disse, explicando que quando isso ocorre e a política monetária muda, o BC não tem influência sobre este porcentual.

Então, de acordo com ele, para se ter o efeito desejado o BC aumenta a pressão de juro na “tubulação congestionada”. “É o efeito que a gente chama também da meia entrada. Se você tem a meia entrada, a principal tem que ser mais cara para compensar”, disse acrescentando que enquanto no Brasil há 40% de direcionamento de crédito, em outros países o índice é de, em média, 4%. “Isso explica, em parte, o porquê de às vezes o nosso juro ser mais alto. É porque um componente de crédito subsidiado mais alto faz com que nossa política monetária tenha menos efeito”.

Campos Neto insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior. “Isso não é porque eu acho A ou B é correto ou errado. Isso é um estudo que sai da relação entre potência da política monetária e o espaço que a gente tem”, afirmou.

Sobre os argumentos de que a taxa de juro real no Brasil é muito alta, o presidente do BC diz que se for comparar a taxa real de um país que já aumentou a taxa nominal com países que ainda estão subindo a sua taxa nominal de juro, o resultado da comparação das taxas reais será distorcido.

“Então, a gente precisa medir contra o núcleo da inflação, dado que nossa inflação cheia tem a contaminação da desoneração dos preços de comunicação, gasolina e energia elétrica. Isso afetou a inflação cheia. Mas ela é alta, mas não está muito distante das dos outros”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central fez um discurso amparado em números, no qual defendeu com veemência o sistema de metas de inflação e a autonomia do BC. “O anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico”, afirmou Campos Neto.

O dirigente lembrou que a Argentina aumentou sua meta e a taxa de juros caiu, mas a inflação disparou. Segundo Campos Neto, se o Banco Central não tivesse aumentado a taxa de juros na eleição, hoje a Selic seria de 18,75%. “Quando a inflação sai do controle, as empresas e o ricos se adaptam, mas os pobres não. Inflação é desigualdade e aumento de pobreza. Quem tem menos recursos não consegue se proteger”, afirmou.

O economista frisou que, se for feito um ajuste de juros “sem as condições”, o resultado pode ser “desastroso” para o crédito. “Países que abandonaram o sistema de meta entraram num sistema inflacionário muito alto”, completou.

Campos Neto responde Rodrigo Pacheco e reforça autonomia do BC

No momento mais aguardado do Lide Brazil Conference em Londres, Campos Neto respondeu à “súplica” feita ontem pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela redução “imediata” da taxa de juros.

“O Banco Central é um órgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos. O timing técnico é diferente do timing político”, disse. “Por isso que a autonomia (do BC) é importante: para dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos e que tomamos decisões sem viés político”.

Em sua palestra na manhã de ontem no evento do Lide com empresários e autoridades em Londres, Pacheco fez coro às pressões do PT e do Palácio do Planalto pela redução da taxa de juros, que está em 13,75%. Antes da fala de Campos Neto nesta sexta-feira, Pacheco voltou a falar na “reivindicação” e “súplica” do Senado para que se reduza a taxa de juros.

Campos Neto e Pacheco em evento do Lide em Londres Foto: Divulgação/Lide

No debate após sua fala, Campos Neto foi questionado se a autonomia do Banco Central estaria sob risco e minimizou a pressão do governo federal. “O debate sobre juros é normal. A autonomia do Banco Central não está em risco”, respondeu.

O presidente do BC voltou a elogiar o projeto de arcabouço fiscal, enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso. “O arcabouço fiscal está na direção certa. É preciso trabalhar a comunicação. Pode ser que tenham reparos e melhorias no Congresso”, opinou.

O tema do arcabouço uniu os presidentes do Senado e do Banco Central. Rodrigo Pacheco disse que o projeto enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi recebido com “otimismo” no Senado. “A linha apresentada pelo ministro Fernando Haddad agradou de sobremaneira a maioria dos líderes que compõem o Senado Federal”, comentou Pacheco. “Eu devo reconhecer que o teto de gastos foi muito útil para sustentar o Brasil em crises agudas. Mas chegou o momento de haver a substituição do teto de gastos”.

Veja a fala de Campos Neto abaixo:

*O repórter viajou a convite do Lide

ENVIADO A LONDRES - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira, 21, que a economia não gira em torno da Selic. Ao ouvir de um empresário no Lide Brazil Conference que o elevado patamar da taxa de juros atrapalha o Brasil a crescer, Campos Neto respondeu que só 20% do crédito é ligado à Selic; o restante é relacionado a taxas longas. “Obviamente, o Banco Central quer cair o juro”, disse.

“Se a gente não conseguir fazer um movimento na Selic com credibilidade, a taxa longa não cai”, justificou. “O que move o Brasil não é a taxa de juros de um dia, é a taxa de juros de três, cinco, dez anos. Para fazer que a queda da Selic gere um movimento de queda prolongada de juros, precisa ter credibilidade. O Banco Central está esperando o melhor momento para fazer para que isso tenha um ganho real para as pessoas. A economia não gira na Selic”.

Para justificar a necessidade de se manter a Selic no patamar em que se encontra, Campos Neto comparou a politica monetária a uma tubulação de água que se encontra entupida. Ou seja, para se atingir o fluxo de água desejado numa tubulação entupida, e neste caso pelo elevado porcentual de crédito, o BC precisa elevar a pressão da água.

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, fala em evento do Lide em Londres. Foto: Reprodução/Lide

“Uma das coisas que explicam a tubulação de política monetária entupida é o elevado porcentual de crédito direcionado”, disse, explicando que quando isso ocorre e a política monetária muda, o BC não tem influência sobre este porcentual.

Então, de acordo com ele, para se ter o efeito desejado o BC aumenta a pressão de juro na “tubulação congestionada”. “É o efeito que a gente chama também da meia entrada. Se você tem a meia entrada, a principal tem que ser mais cara para compensar”, disse acrescentando que enquanto no Brasil há 40% de direcionamento de crédito, em outros países o índice é de, em média, 4%. “Isso explica, em parte, o porquê de às vezes o nosso juro ser mais alto. É porque um componente de crédito subsidiado mais alto faz com que nossa política monetária tenha menos efeito”.

Campos Neto insistiu que, estruturalmente, a taxa de juro tem que ser maior quando o componente de crédito subsidiado é também maior. “Isso não é porque eu acho A ou B é correto ou errado. Isso é um estudo que sai da relação entre potência da política monetária e o espaço que a gente tem”, afirmou.

Sobre os argumentos de que a taxa de juro real no Brasil é muito alta, o presidente do BC diz que se for comparar a taxa real de um país que já aumentou a taxa nominal com países que ainda estão subindo a sua taxa nominal de juro, o resultado da comparação das taxas reais será distorcido.

“Então, a gente precisa medir contra o núcleo da inflação, dado que nossa inflação cheia tem a contaminação da desoneração dos preços de comunicação, gasolina e energia elétrica. Isso afetou a inflação cheia. Mas ela é alta, mas não está muito distante das dos outros”, disse Campos Neto.

O presidente do Banco Central fez um discurso amparado em números, no qual defendeu com veemência o sistema de metas de inflação e a autonomia do BC. “O anseio pela queda de juros é político, mas nosso trabalho é técnico”, afirmou Campos Neto.

O dirigente lembrou que a Argentina aumentou sua meta e a taxa de juros caiu, mas a inflação disparou. Segundo Campos Neto, se o Banco Central não tivesse aumentado a taxa de juros na eleição, hoje a Selic seria de 18,75%. “Quando a inflação sai do controle, as empresas e o ricos se adaptam, mas os pobres não. Inflação é desigualdade e aumento de pobreza. Quem tem menos recursos não consegue se proteger”, afirmou.

O economista frisou que, se for feito um ajuste de juros “sem as condições”, o resultado pode ser “desastroso” para o crédito. “Países que abandonaram o sistema de meta entraram num sistema inflacionário muito alto”, completou.

Campos Neto responde Rodrigo Pacheco e reforça autonomia do BC

No momento mais aguardado do Lide Brazil Conference em Londres, Campos Neto respondeu à “súplica” feita ontem pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) pela redução “imediata” da taxa de juros.

“O Banco Central é um órgão técnico, que toma decisões baseadas em critérios técnicos. O timing técnico é diferente do timing político”, disse. “Por isso que a autonomia (do BC) é importante: para dar à sociedade a garantia de que a gente tem funcionários técnicos e que tomamos decisões sem viés político”.

Em sua palestra na manhã de ontem no evento do Lide com empresários e autoridades em Londres, Pacheco fez coro às pressões do PT e do Palácio do Planalto pela redução da taxa de juros, que está em 13,75%. Antes da fala de Campos Neto nesta sexta-feira, Pacheco voltou a falar na “reivindicação” e “súplica” do Senado para que se reduza a taxa de juros.

Campos Neto e Pacheco em evento do Lide em Londres Foto: Divulgação/Lide

No debate após sua fala, Campos Neto foi questionado se a autonomia do Banco Central estaria sob risco e minimizou a pressão do governo federal. “O debate sobre juros é normal. A autonomia do Banco Central não está em risco”, respondeu.

O presidente do BC voltou a elogiar o projeto de arcabouço fiscal, enviado na terça-feira pelo governo ao Congresso. “O arcabouço fiscal está na direção certa. É preciso trabalhar a comunicação. Pode ser que tenham reparos e melhorias no Congresso”, opinou.

O tema do arcabouço uniu os presidentes do Senado e do Banco Central. Rodrigo Pacheco disse que o projeto enviado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi recebido com “otimismo” no Senado. “A linha apresentada pelo ministro Fernando Haddad agradou de sobremaneira a maioria dos líderes que compõem o Senado Federal”, comentou Pacheco. “Eu devo reconhecer que o teto de gastos foi muito útil para sustentar o Brasil em crises agudas. Mas chegou o momento de haver a substituição do teto de gastos”.

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