O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, prometeu nesta quarta-feira, 3, contribuir para que a sua sucessão aconteça da forma “mais suave possível”. Ele também defendeu que a sabatina no Senado com o indicado a ocupar o cargo a partir de janeiro aconteça, por razões práticas, ainda neste ano, conforme antecipou o Estadão em reportagem nesta terça-feira.
“Vou fazer a transição mais suave possível. Eu entendo que seja bom fazer a sabatina neste ano. Senão, passa para o outro ano e aí tem um problema, porque o meu mandato termina no dia 31 (de dezembro). Se um diretor for presidente interino, ele tem de passar por sabatina também, mas aí o Congresso vai estar fechado (em recesso)”, declarou Campos Neto durante participação em fórum do Bradesco BBI.
Ele considerou que, como as decisões no Comitê de Política Monetária (Copom) têm sido unânimes – indicando, portanto, um alinhamento entre os diretores –, o prêmio de risco no mercado pela mudança no comando do BC diminuiu bastante.
Na terça-feira, 2, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também já havia falado na possibilidade de acelerar a escolha do nome do novo presidente do BC. “Vamos ouvir o Banco Central sobre essa transição, sobre como fazer, e essa transição vai ser muito diferente da de 2022 para 2023″, declarou o ministro, ao ser questionado, no evento do Bradesco BBI, pelo economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, em referência à reportagem do Estadão.
Segundo o ministro, as relações com o BC foram comprometidas pela ausência da administração anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, durante a transição entre os governos. “O Executivo sumiu, tirou férias. A transição foi, a rigor, feita pelo Legislativo [...] Esta questão do Banco Central foi prejudicada por uma tensão que respingou em tudo”, lembrou Haddad. “Isso tudo foi vencido”, acrescentou o ministro.
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Ao falar sobre os desafios do cargo, Campos Neto frisou que “o mais importante” para quem senta na cadeira do BC é ter a firmeza de dizer não quando for necessário. “Vai ser necessário, sempre é em algum momento, dizer não”, afirmou.
“Os ciclos são diferentes, os desejos vão ser diferentes, os entendimentos sobre o que é bom vão ser diferentes. Então, é importante ter a firmeza de dizer não, e explicar, para dentro e para fora, que o maior problema é a inflação. O melhor plano econômico é ter inflação baixa e estável”, reforçou.
Inflação
Durante sua fala no fórum, o presidente do BC voltou a ressaltar que, embora a desaceleração da inflação esteja em linha com as expectativas da instituição, a alta nos preços subjacentes (que exclui questões transitórias) de serviços no Brasil se mostra resiliente nos segmentos ligados ao mercado de trabalho.
“A desinflação no Brasil está em linha com a expectativa do BC”, disse, ressaltando, porém, que a autarquia espera uma pequena piora do processo desinflação na ponta. Na edição mais recente do Relatório Trimestral de Inflação, o Banco Central afirmou que espera inflação de 0,24% em março e 0,35% em abril, com uma desaceleração nos meses seguintes, para 0,27% em maio e 0,15% em junho. O IPCA-15 subiu 0,36% em março.
Ao se referir ao quadro fiscal, ele voltou a afirmar que o Brasil tem chance de fazer um bom resultado neste ano. Na avaliação dele, no campo fiscal, o desafio maior será em 2025.