Como a canadense Brookfield passou de R$ 34 bi para R$ 200 bi em ativos no Brasil em dez anos


Crescimento da multinacional no País foi decorrente tanto de aquisições como do desenvolvimento próprio dos negócios

Por Circe Bonatelli e Ivo Ribeiro
Atualização:
Foto: FELIPE RAU
Entrevista comRoberto PerroniPresidente da Brookfield no Brasil

A multinacional canadense Brookfield acaba de atingir a marca de R$ 200 bilhões em ativos sob gestão no Brasil, consolidando sua posição entre os maiores investidores no País. Essa montanha de dinheiro está distribuída em quatro segmentos que revelam as áreas mais promissoras da economia brasileira, na visão da Brookfield.

O setor de infraestrutura é o principal deles, com R$ 92 bilhões aplicados. Na sequência vêm private equity (participações em empresas), com R$ 50 bilhões; energia renovável, com R$ 32 bilhões; e imobiliário, com R$ 26 bilhões. “Há dez anos, tínhamos R$ 34 bilhões investidos no Brasil”, diz Roberto Perroni, presidente da Brookfield no Brasil, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. “Boa parte desse crescimento foi por aquisições e boa parte por desenvolvimento próprio dos negócios”, complementa.

A Brookfield desembarcou no Brasil em 1899, com a fundação da São Paulo Tramway, Light & Power Company, que atuava na distribuição de energia e no transporte público por bondes. De lá para cá, a essência dos investimentos continuou a mesma, isto é, focada em setores que são a espinha dorsal da economia.

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Entre as empresas do seu portfólio atual estão a Ascenty (data centers), Arteris (rodovias), VLI (ferrovias e portos), Elera Renováveis (energia hidrelétrica, eólica, solar e biomassa), NTS (gasodutos), Unidas (locação de veículos) e BRK (saneamento). Além disso, o grupo detém dezenas de galpões logísticos e é o maior dono de prédios de escritórios no País.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

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Como a Brookfield chegou a R$ 200 bilhões em ativos sob gestão no Brasil?

Há dez anos, tínhamos R$ 34 bilhões investidos no Brasil. Hoje, são R$ 200 bilhões. No mundo, eram US$ 204 bilhões (R$ 1,1 trilhão pela cotação de hoje) e atualmente passam de US$ 1 trilhão (R$ 5,74 trilhões). Boa parte desse crescimento aqui foi por aquisições e boa parte por desenvolvimento próprio, ou seja, comprar uma empresa e investir muito nela. No triênio de 2023 a 2025, o “capex” (investimentos) nas empresas ou nos empreendimentos nos quais temos participação ultrapassa R$ 60 bilhões.

Como se deu a trajetória dos investimentos?

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É fruto de muito comprometimento que a Brookfield tem e da sua história com o Brasil em uma visão de longo prazo. Somos investidores estrangeiros, mas com uma experiência local muito grande. A Brookfield tem 125 anos de Brasil. Essa experiência nos permite fazer investimentos não só nos momentos de euforia, mas principalmente nos momentos de crise, quando poucos investidores têm apetite pelo País. Isso é um diferencial importante.

Qual a prioridade dos investimentos do fundo?

Nossos investimentos são de longo prazo, e a maioria apresenta fluxo de caixa constante. São investimentos em ativos reais, na espinha dorsal da economia. A Brookfield está hoje em tudo que as pessoas precisam: nas rodovias, na água, na distribuição de esgoto, nos escritórios, nos galpões de logística que armazenam mercadorias, etc.

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A Brookfield também vende seus negócios de tempos em tempos, fazendo a reciclagem do capital. Qual é o momento do grupo? Vocês estão mais na ponta compradora ou mais na ponta vendedora?

Estamos equilibrados entre compras e vendas. Investimos pensando no horizonte de sete a dez anos. Hoje, vários dos nossos fundos de private equity globais já estão numa fase de pré-amadurecimento, completando cinco a sete anos no mercado, com receita madura e fluxo de caixa estável. E quando chega nesse ponto, há interesse de empresas em fazer aquisições. Estamos num momento que devemos vender, mas também de continuar comprando.

Você pode dar exemplo de algumas dessas operações?

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Se pegarmos os últimos cinco anos, tivemos R$ 31 bilhões de aquisições e R$ 20 bilhões de desinvestimentos. Esse é um dado interessante. Estamos crescendo e devemos continuar crescendo nosso portfólio no Brasil.

Roberto Perroni, presidente da Brookfield no Brasil: "olhamos oportunidades para comprar, crescer nos segmentos que gostamos e com oportunidades para fazer as vendas" Foto: FELIPE RAU

Uma dessas compras recentes foi a participação de 10% na VLI, vendida pelo grupo japonês Mitsui.

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Esse é um caso interessante. No mercado tinha um rumor de que queríamos vender, mas compramos. Todos ficaram surpresos. De fato, vimos uma oportunidade interessante. Hoje somos o principal acionista da VLI, com 36,5%. Isso é parte do nosso dia a dia: olhar oportunidades para comprar, crescer nos segmentos que gostamos e com oportunidades para fazer as vendas.

Quais são os segmentos na rota de crescimento, na sua visão?

Vemos muita oportunidade naquilo que o nosso CEO mundial, Bruce Flatt, chama de “3Ds”, que são descarbonização, digitalização e desglobalização.

Você pode detalhar cada uma dessas áreas?

Na descarbonização, o Brasil tem muitas oportunidades. Há um vasto mercado para oferecer energia limpa. Temos a maior usina solar do Hemisfério Sul, em Janaúba (MG), com 1,2 gigawatts. Vemos oportunidades aqui e no mundo. Os especialistas estimam que esse setor vai atrair, no mundo, US$ 150 trilhões (R$ 861 trilhões) de investimentos nos próximos 30 anos. Globalmente, fomos pioneiros no primeiro fundo de transição, o Brookfield Global Transition Fund (BGTF1), de US$ 15 bilhões (R$ 86 bilhões). Estamos levantando o BGTF2, previsto para US$ 17 bilhões (R$ 97 bilhões). Outro fundo importante é o Catalytic Transition Fund (CTF), com meta de levantar US$ 5 bilhões (R$ 28 bilhões). Esse é só para países emergentes.

E quanto ao segundo D, da digitalização?

Temos hoje, na América Latina, a maior empresa de data centers, a Ascenty, com 34 unidades. Além disso, tem a fibra ótica, que é muito importante para esse segmento. Essa área tem crescido de forma exponencial. Com a inteligência artificial, é um segmento que vai crescer exponencialmente no Brasil e no mundo. E os principais clientes de data centers querem instalações com energia limpa.

E o terceiro D, de desglobalização?

A desglobalização realmente muda o comércio internacional. Muitas empresas já começam a pensar em ter a sua produção industrial localizada no país de destino ou próximo dele. E isso é uma oportunidade de investimento no mundo.

Ainda que vocês sejam investidores de longo prazo, qual sua visão sobre o momento da economia brasileira? Houve alguma mudança na política de investimentos em razão do cenário atual?

Hoje, a diferença entre inflação corrente e juro corrente é um gap acima do que o Brasil já viveu no passado. Isso, sem dúvida, afeta o resultado das empresas. Às vezes, ao analisar o risco de um investimento nosso, pode ocorrer algumas diferenças nas previsões e afetar o resultado, mas nada dramático. Acho que o Brasil tem tido bons índices: baixo desemprego, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), além das perspectivas. Deve ter um ajuste, e os juros voltam a cair em 2025. Não há nenhum cenário que nos deixe realmente preocupados. Como faz parte da nossa cultura, estamos sempre focados no longo prazo. Não temos mudado nada na nossa política de investimentos.

Qual é a receita dessa política de investimentos?

Nossa presença nos países por muito tempo é fundamental para nosso sucesso. Não só saber onde investir, mas também o tempo certo do investimento e como operar a empresa, fazer com que ela tenha crescimento. No mundo temos 240 mil funcionários, 20 mil só no Brasil (incluindo empresas investidas). Estamos sempre muito próximos da operação, entendendo as necessidades do seu mercado. Temos presença em 30 países. Quando decidimos investir em um país, colocamos um time de especialistas estudando durante muito tempo. Na nossa estratégia de investimento está embutida a paciência.

A multinacional canadense Brookfield acaba de atingir a marca de R$ 200 bilhões em ativos sob gestão no Brasil, consolidando sua posição entre os maiores investidores no País. Essa montanha de dinheiro está distribuída em quatro segmentos que revelam as áreas mais promissoras da economia brasileira, na visão da Brookfield.

O setor de infraestrutura é o principal deles, com R$ 92 bilhões aplicados. Na sequência vêm private equity (participações em empresas), com R$ 50 bilhões; energia renovável, com R$ 32 bilhões; e imobiliário, com R$ 26 bilhões. “Há dez anos, tínhamos R$ 34 bilhões investidos no Brasil”, diz Roberto Perroni, presidente da Brookfield no Brasil, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. “Boa parte desse crescimento foi por aquisições e boa parte por desenvolvimento próprio dos negócios”, complementa.

A Brookfield desembarcou no Brasil em 1899, com a fundação da São Paulo Tramway, Light & Power Company, que atuava na distribuição de energia e no transporte público por bondes. De lá para cá, a essência dos investimentos continuou a mesma, isto é, focada em setores que são a espinha dorsal da economia.

Entre as empresas do seu portfólio atual estão a Ascenty (data centers), Arteris (rodovias), VLI (ferrovias e portos), Elera Renováveis (energia hidrelétrica, eólica, solar e biomassa), NTS (gasodutos), Unidas (locação de veículos) e BRK (saneamento). Além disso, o grupo detém dezenas de galpões logísticos e é o maior dono de prédios de escritórios no País.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Como a Brookfield chegou a R$ 200 bilhões em ativos sob gestão no Brasil?

Há dez anos, tínhamos R$ 34 bilhões investidos no Brasil. Hoje, são R$ 200 bilhões. No mundo, eram US$ 204 bilhões (R$ 1,1 trilhão pela cotação de hoje) e atualmente passam de US$ 1 trilhão (R$ 5,74 trilhões). Boa parte desse crescimento aqui foi por aquisições e boa parte por desenvolvimento próprio, ou seja, comprar uma empresa e investir muito nela. No triênio de 2023 a 2025, o “capex” (investimentos) nas empresas ou nos empreendimentos nos quais temos participação ultrapassa R$ 60 bilhões.

Como se deu a trajetória dos investimentos?

É fruto de muito comprometimento que a Brookfield tem e da sua história com o Brasil em uma visão de longo prazo. Somos investidores estrangeiros, mas com uma experiência local muito grande. A Brookfield tem 125 anos de Brasil. Essa experiência nos permite fazer investimentos não só nos momentos de euforia, mas principalmente nos momentos de crise, quando poucos investidores têm apetite pelo País. Isso é um diferencial importante.

Qual a prioridade dos investimentos do fundo?

Nossos investimentos são de longo prazo, e a maioria apresenta fluxo de caixa constante. São investimentos em ativos reais, na espinha dorsal da economia. A Brookfield está hoje em tudo que as pessoas precisam: nas rodovias, na água, na distribuição de esgoto, nos escritórios, nos galpões de logística que armazenam mercadorias, etc.

A Brookfield também vende seus negócios de tempos em tempos, fazendo a reciclagem do capital. Qual é o momento do grupo? Vocês estão mais na ponta compradora ou mais na ponta vendedora?

Estamos equilibrados entre compras e vendas. Investimos pensando no horizonte de sete a dez anos. Hoje, vários dos nossos fundos de private equity globais já estão numa fase de pré-amadurecimento, completando cinco a sete anos no mercado, com receita madura e fluxo de caixa estável. E quando chega nesse ponto, há interesse de empresas em fazer aquisições. Estamos num momento que devemos vender, mas também de continuar comprando.

Você pode dar exemplo de algumas dessas operações?

Se pegarmos os últimos cinco anos, tivemos R$ 31 bilhões de aquisições e R$ 20 bilhões de desinvestimentos. Esse é um dado interessante. Estamos crescendo e devemos continuar crescendo nosso portfólio no Brasil.

Roberto Perroni, presidente da Brookfield no Brasil: "olhamos oportunidades para comprar, crescer nos segmentos que gostamos e com oportunidades para fazer as vendas" Foto: FELIPE RAU

Uma dessas compras recentes foi a participação de 10% na VLI, vendida pelo grupo japonês Mitsui.

Esse é um caso interessante. No mercado tinha um rumor de que queríamos vender, mas compramos. Todos ficaram surpresos. De fato, vimos uma oportunidade interessante. Hoje somos o principal acionista da VLI, com 36,5%. Isso é parte do nosso dia a dia: olhar oportunidades para comprar, crescer nos segmentos que gostamos e com oportunidades para fazer as vendas.

Quais são os segmentos na rota de crescimento, na sua visão?

Vemos muita oportunidade naquilo que o nosso CEO mundial, Bruce Flatt, chama de “3Ds”, que são descarbonização, digitalização e desglobalização.

Você pode detalhar cada uma dessas áreas?

Na descarbonização, o Brasil tem muitas oportunidades. Há um vasto mercado para oferecer energia limpa. Temos a maior usina solar do Hemisfério Sul, em Janaúba (MG), com 1,2 gigawatts. Vemos oportunidades aqui e no mundo. Os especialistas estimam que esse setor vai atrair, no mundo, US$ 150 trilhões (R$ 861 trilhões) de investimentos nos próximos 30 anos. Globalmente, fomos pioneiros no primeiro fundo de transição, o Brookfield Global Transition Fund (BGTF1), de US$ 15 bilhões (R$ 86 bilhões). Estamos levantando o BGTF2, previsto para US$ 17 bilhões (R$ 97 bilhões). Outro fundo importante é o Catalytic Transition Fund (CTF), com meta de levantar US$ 5 bilhões (R$ 28 bilhões). Esse é só para países emergentes.

E quanto ao segundo D, da digitalização?

Temos hoje, na América Latina, a maior empresa de data centers, a Ascenty, com 34 unidades. Além disso, tem a fibra ótica, que é muito importante para esse segmento. Essa área tem crescido de forma exponencial. Com a inteligência artificial, é um segmento que vai crescer exponencialmente no Brasil e no mundo. E os principais clientes de data centers querem instalações com energia limpa.

E o terceiro D, de desglobalização?

A desglobalização realmente muda o comércio internacional. Muitas empresas já começam a pensar em ter a sua produção industrial localizada no país de destino ou próximo dele. E isso é uma oportunidade de investimento no mundo.

Ainda que vocês sejam investidores de longo prazo, qual sua visão sobre o momento da economia brasileira? Houve alguma mudança na política de investimentos em razão do cenário atual?

Hoje, a diferença entre inflação corrente e juro corrente é um gap acima do que o Brasil já viveu no passado. Isso, sem dúvida, afeta o resultado das empresas. Às vezes, ao analisar o risco de um investimento nosso, pode ocorrer algumas diferenças nas previsões e afetar o resultado, mas nada dramático. Acho que o Brasil tem tido bons índices: baixo desemprego, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), além das perspectivas. Deve ter um ajuste, e os juros voltam a cair em 2025. Não há nenhum cenário que nos deixe realmente preocupados. Como faz parte da nossa cultura, estamos sempre focados no longo prazo. Não temos mudado nada na nossa política de investimentos.

Qual é a receita dessa política de investimentos?

Nossa presença nos países por muito tempo é fundamental para nosso sucesso. Não só saber onde investir, mas também o tempo certo do investimento e como operar a empresa, fazer com que ela tenha crescimento. No mundo temos 240 mil funcionários, 20 mil só no Brasil (incluindo empresas investidas). Estamos sempre muito próximos da operação, entendendo as necessidades do seu mercado. Temos presença em 30 países. Quando decidimos investir em um país, colocamos um time de especialistas estudando durante muito tempo. Na nossa estratégia de investimento está embutida a paciência.

A multinacional canadense Brookfield acaba de atingir a marca de R$ 200 bilhões em ativos sob gestão no Brasil, consolidando sua posição entre os maiores investidores no País. Essa montanha de dinheiro está distribuída em quatro segmentos que revelam as áreas mais promissoras da economia brasileira, na visão da Brookfield.

O setor de infraestrutura é o principal deles, com R$ 92 bilhões aplicados. Na sequência vêm private equity (participações em empresas), com R$ 50 bilhões; energia renovável, com R$ 32 bilhões; e imobiliário, com R$ 26 bilhões. “Há dez anos, tínhamos R$ 34 bilhões investidos no Brasil”, diz Roberto Perroni, presidente da Brookfield no Brasil, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast. “Boa parte desse crescimento foi por aquisições e boa parte por desenvolvimento próprio dos negócios”, complementa.

A Brookfield desembarcou no Brasil em 1899, com a fundação da São Paulo Tramway, Light & Power Company, que atuava na distribuição de energia e no transporte público por bondes. De lá para cá, a essência dos investimentos continuou a mesma, isto é, focada em setores que são a espinha dorsal da economia.

Entre as empresas do seu portfólio atual estão a Ascenty (data centers), Arteris (rodovias), VLI (ferrovias e portos), Elera Renováveis (energia hidrelétrica, eólica, solar e biomassa), NTS (gasodutos), Unidas (locação de veículos) e BRK (saneamento). Além disso, o grupo detém dezenas de galpões logísticos e é o maior dono de prédios de escritórios no País.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

Como a Brookfield chegou a R$ 200 bilhões em ativos sob gestão no Brasil?

Há dez anos, tínhamos R$ 34 bilhões investidos no Brasil. Hoje, são R$ 200 bilhões. No mundo, eram US$ 204 bilhões (R$ 1,1 trilhão pela cotação de hoje) e atualmente passam de US$ 1 trilhão (R$ 5,74 trilhões). Boa parte desse crescimento aqui foi por aquisições e boa parte por desenvolvimento próprio, ou seja, comprar uma empresa e investir muito nela. No triênio de 2023 a 2025, o “capex” (investimentos) nas empresas ou nos empreendimentos nos quais temos participação ultrapassa R$ 60 bilhões.

Como se deu a trajetória dos investimentos?

É fruto de muito comprometimento que a Brookfield tem e da sua história com o Brasil em uma visão de longo prazo. Somos investidores estrangeiros, mas com uma experiência local muito grande. A Brookfield tem 125 anos de Brasil. Essa experiência nos permite fazer investimentos não só nos momentos de euforia, mas principalmente nos momentos de crise, quando poucos investidores têm apetite pelo País. Isso é um diferencial importante.

Qual a prioridade dos investimentos do fundo?

Nossos investimentos são de longo prazo, e a maioria apresenta fluxo de caixa constante. São investimentos em ativos reais, na espinha dorsal da economia. A Brookfield está hoje em tudo que as pessoas precisam: nas rodovias, na água, na distribuição de esgoto, nos escritórios, nos galpões de logística que armazenam mercadorias, etc.

A Brookfield também vende seus negócios de tempos em tempos, fazendo a reciclagem do capital. Qual é o momento do grupo? Vocês estão mais na ponta compradora ou mais na ponta vendedora?

Estamos equilibrados entre compras e vendas. Investimos pensando no horizonte de sete a dez anos. Hoje, vários dos nossos fundos de private equity globais já estão numa fase de pré-amadurecimento, completando cinco a sete anos no mercado, com receita madura e fluxo de caixa estável. E quando chega nesse ponto, há interesse de empresas em fazer aquisições. Estamos num momento que devemos vender, mas também de continuar comprando.

Você pode dar exemplo de algumas dessas operações?

Se pegarmos os últimos cinco anos, tivemos R$ 31 bilhões de aquisições e R$ 20 bilhões de desinvestimentos. Esse é um dado interessante. Estamos crescendo e devemos continuar crescendo nosso portfólio no Brasil.

Roberto Perroni, presidente da Brookfield no Brasil: "olhamos oportunidades para comprar, crescer nos segmentos que gostamos e com oportunidades para fazer as vendas" Foto: FELIPE RAU

Uma dessas compras recentes foi a participação de 10% na VLI, vendida pelo grupo japonês Mitsui.

Esse é um caso interessante. No mercado tinha um rumor de que queríamos vender, mas compramos. Todos ficaram surpresos. De fato, vimos uma oportunidade interessante. Hoje somos o principal acionista da VLI, com 36,5%. Isso é parte do nosso dia a dia: olhar oportunidades para comprar, crescer nos segmentos que gostamos e com oportunidades para fazer as vendas.

Quais são os segmentos na rota de crescimento, na sua visão?

Vemos muita oportunidade naquilo que o nosso CEO mundial, Bruce Flatt, chama de “3Ds”, que são descarbonização, digitalização e desglobalização.

Você pode detalhar cada uma dessas áreas?

Na descarbonização, o Brasil tem muitas oportunidades. Há um vasto mercado para oferecer energia limpa. Temos a maior usina solar do Hemisfério Sul, em Janaúba (MG), com 1,2 gigawatts. Vemos oportunidades aqui e no mundo. Os especialistas estimam que esse setor vai atrair, no mundo, US$ 150 trilhões (R$ 861 trilhões) de investimentos nos próximos 30 anos. Globalmente, fomos pioneiros no primeiro fundo de transição, o Brookfield Global Transition Fund (BGTF1), de US$ 15 bilhões (R$ 86 bilhões). Estamos levantando o BGTF2, previsto para US$ 17 bilhões (R$ 97 bilhões). Outro fundo importante é o Catalytic Transition Fund (CTF), com meta de levantar US$ 5 bilhões (R$ 28 bilhões). Esse é só para países emergentes.

E quanto ao segundo D, da digitalização?

Temos hoje, na América Latina, a maior empresa de data centers, a Ascenty, com 34 unidades. Além disso, tem a fibra ótica, que é muito importante para esse segmento. Essa área tem crescido de forma exponencial. Com a inteligência artificial, é um segmento que vai crescer exponencialmente no Brasil e no mundo. E os principais clientes de data centers querem instalações com energia limpa.

E o terceiro D, de desglobalização?

A desglobalização realmente muda o comércio internacional. Muitas empresas já começam a pensar em ter a sua produção industrial localizada no país de destino ou próximo dele. E isso é uma oportunidade de investimento no mundo.

Ainda que vocês sejam investidores de longo prazo, qual sua visão sobre o momento da economia brasileira? Houve alguma mudança na política de investimentos em razão do cenário atual?

Hoje, a diferença entre inflação corrente e juro corrente é um gap acima do que o Brasil já viveu no passado. Isso, sem dúvida, afeta o resultado das empresas. Às vezes, ao analisar o risco de um investimento nosso, pode ocorrer algumas diferenças nas previsões e afetar o resultado, mas nada dramático. Acho que o Brasil tem tido bons índices: baixo desemprego, crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), além das perspectivas. Deve ter um ajuste, e os juros voltam a cair em 2025. Não há nenhum cenário que nos deixe realmente preocupados. Como faz parte da nossa cultura, estamos sempre focados no longo prazo. Não temos mudado nada na nossa política de investimentos.

Qual é a receita dessa política de investimentos?

Nossa presença nos países por muito tempo é fundamental para nosso sucesso. Não só saber onde investir, mas também o tempo certo do investimento e como operar a empresa, fazer com que ela tenha crescimento. No mundo temos 240 mil funcionários, 20 mil só no Brasil (incluindo empresas investidas). Estamos sempre muito próximos da operação, entendendo as necessidades do seu mercado. Temos presença em 30 países. Quando decidimos investir em um país, colocamos um time de especialistas estudando durante muito tempo. Na nossa estratégia de investimento está embutida a paciência.

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Entrevista por Circe Bonatelli

Circe Bonatelli é repórter especial, voltado à cobertura dos setores imobiliário, de shoppings e de telecomunicações

Ivo Ribeiro

Formado em jornalismo pela USP, Ivo Ribeiro foi repórter na Brasil Mineral e no Diário do Comércio e Indústria. De 1991 a 2000 trabalhou na Gazeta Mercantil, onde foi editor e chefe da sucursal de BH. Depois, passou a ser editor de Empresas no Valor. Em 2023, tornou-se repórter especial da Infomoney e, atualmente, é repórter de Economia do Estadão.

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