BRASÍLIA - O novo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tomou posse nesta segunda-feira, 2, com a delicada missão de reduzir as resistências do setor agrário ao governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Boa tarde do agronegócio, durante a campanha eleitoral, esteve mais próxima ao presidente Jair Bolsonaro.
A preocupação com as relações políticas entre Lula e o agronegócio ficou evidente no tom que marcou praticamente todas as declarações feitas na cerimônia de posse de Fávaro. Partiu do próprio ministro o reconhecimento de que é preciso “reconstruir pontes” e “pacificar” as relações do setor com o novo governo.
“A eleição acabou. Nós temos um novo presidente. A união de todos facilitará o trabalho para que nós possamos ter um País melhor para todos os brasileiros. Eu convoco aqui a Frente Parlamentar da Agropecuária, para quetragam lideranças não para apoiar, que estejam alinhados, que queiram construir pontes. Uma das minhas maiores missões é pacificar isso, é pacificar o agronegócio com lideranças que queiram o bem da nossa agropecuária, que queiram o bem do nosso produtor rural, que queiram combater a fome e o bem da população”, disse Fávaro.
O ministro citou ainda, nominalmente, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, sobre eventuais conflitos que sua pasta poderiam ter com o seu ministério, para afastar qualquer tipo de embate.
“Muitos têm dito como será o conflito do ministro Carlos Fávaro com a ministra Marina Silva, como será o conflito com o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Eu posso adiantar para vocês que todos se surpreenderão, porque estamos todos do mesmo lado, queremos e vamos ter a produção agrícola mais sustentável do mundo”, disse Fávaro, aplaudido pela plateia que acompanhou o ato.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que é do Mato Grosso e é amigo de Carlos Fávaro, esteve presente na cerimônia e discursou no evento, mandando recados ao setor e batendo na tecla de que é preciso assegurar a liberdade de expressão, mas isso “não pode colocar em xeque a democracia”.
“Essa é uma grande missão com nosso povo matogrossense. Acompanhamos com muita apreensão os desdobramentos pós eleitorais que todos conhecem, o bloqueio de rodovias, o atingimento da propriedade das pessoas, as sugestões de boicote”, disse Mendes. Sem citar o nome de Bolsonaro, o ministro prosseguiu. “Eventualmente, se alguém perdeu por uma margem maior ou menor, ele recebe uma designação para fazer oposição, que também é uma missão constitucional, tem que se compreender isto. Portanto, é lamber as feridas, eventualmente chorar e se preparar para novas eleições. É assim que se dá na democracia, é fundamental que isso seja traduzido para as pessoas.”
Gilmar Mendes atribuiu os atritos entre os ruralistas e a campanha petista a uma “visão apaixonada” e um “engajamento apaixonado” do setor contra Lula. “É fundamental que se mostre a essas pessoas que a vida continua, que as suas pretensões legítimas serão devidamente atendidas e que nós temos que cultivar a união na defesa do Brasil, que é uno, é um só País. Nós não podemos ter essa adversariedade política como um elemento de inimizade absoluta e total. Um adversário, e a gente está vendo isso na composição do ministério, pode ser um aliado potencial.”
Carlos Fávaro enfrenta forte resistência política em seu próprio Estado, o Mato Grosso, desde que declarou apoio à campanha de Lula e atuou para a sua eleição, ao lado do deputado Neri Geller (PP-MT). Fávaro é conhecido pelo trabalho que desempenhou, nos últimos anos, à frente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), que o projetou para o mundo político e que acabou por elegê-lo senador em 2018. Até o momento, a Aprosoja-MT faz oposição a seu nome, dizendo que o ruralista que decidiu apoiar o governo Lula “não tem legitimidade para representar o setor como interlocutor em Brasília”.
Nos bastidores, a escolha de Fávaro para o posto teve forte atuação do ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que comandou a pasta no governo Dilma Rousseff. Na posse de hoje, o ministro procurou mostrar apoio de diversos parlamentares e entidades de classe, além de contar com a presença de membros da própria FPA, como forma de sinalizar um caminho para reunificar o setor.