Episódio com o Carrefour afeta a imagem da carne brasileira, diz ex-embaixador Rubens Barbosa


Brasil não exportaria para 170 países se houvesse falta de qualidade da carne do País, afirma o ex-embaixador

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:
Foto: Amanda Perobelli/Estadão
Entrevista comRubens Barbosapresidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington

Ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington entre 1994 e 2004, Rubens Barbosa acredita que a polêmica envolvendo as compras de carne brasileira pelo Carrefour deve ter pouco efeito nas exportações do Brasil ou travar a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Mas, apesar da retratação do CEO global do Carrefour, o episódio pode deixar marcas. “Ele traz um problema de imagem”, diz Barbosa ao Estadão, por relacionar a decisão de não fazer compras a questões sanitárias e ambientais.

O Carrefour publicou na segunda-feira, 25, uma carta de retratação assinada pelo CEO global, Alexandre Bompard, dizendo que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, em respeito às normas e sabor”. O executivo abriu uma crise ao anunciar, na semana passada, que o Carrefour na França deixaria de vender carne proveniente do Mercosul, causando reação de políticos e produtores brasileiros, que afirmaram que o País deixaria de vender também para a varejista aqui.

Leia os principais trechos da entrevista com Barbosa.

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Apesar dos pedidos de desculpas do Carrefour, ficarão cicatrizes desta polêmica envolvendo a compra de carne brasileira?

As medidas anunciadas pelo presidente do Carrefour tinham como motivação a política interna da França e o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Quem é contra a assinatura do acordo está vendo as negociações prestes a serem concluídas, o que possivelmente acontecerá na reunião no Uruguai, na primeira semana de dezembro. Então, foi uma manifestação política, talvez inspirada pelo (presidente da França, Emmanuel) Macron. Mas foi chato, porque traz um problema de imagem, quando o presidente do Carrefour não atribui a decisão de não comprar carne do Mercosul a uma questão protecionista, mas cita questões sanitárias e ambientais. Isso afeta a imagem da carne brasileira.

Então, pode haver reflexos desta declaração?

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A nota do presidente do Carrefour pode ser usada no futuro. É uma questão de acusação que, mesmo desmentida, pode ser invocada por outros. Era algo sem fundamento. Se a carne brasileira não prestasse, o País não estaria exportando para 170 países.

O ex-embaixador Rubens Barbosa Foto: Filipe Araujo/Estadão

E há algum impacto prático de curto prazo nessa resistência francesa?

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Não sei se por falta de informações, mas os agricultores franceses que protestam contra o Mercosul parecem não saber que o acordo amplia muito pouco as cotas de carnes que poderão ser vendidas para a Europa. Atualmente, são permitidas 200 mil toneladas e o acordo prevê 99 mil toneladas adicionais. Não vai haver uma inundação do mercado. Uma das críticas ao acordo era de que as cotas são muito baixas. O Brasil exporta muito pouco para a França. Não tem relevância, é menos de 0,5% das exportações de carne. Se a Europa vai fazer compras do mercado brasileiro, é um problema deles.

O acordo, então, tem pouco potencial de abrir mercado para a agricultura brasileira na França?

Quase 90% do consumo interno é atendido pela pecuária francesa. Para o nosso setor agrícola, não tem nenhum impacto. É uma bobagem. Na França, o setor agrícola representa em torno de 2% do PIB. Mas eles têm um poder político muito grande. Aqui o setor atende por cerca de 25% do PIB, e já é um grande exportador para o resto do mundo. O acordo entre a Europa e o Mercosul é visto mais do ponto de vista geopolítico do que comercial. Existe um período de liberalização de até 15 anos para produtos mais sensíveis.

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Com esse episódio, pode haver mais empecilhos para a assinatura do acordo entre os dois blocos econômicos?

A França vai ficar contra. O acordo tem três pilares: de livre comércio, de cooperação e de diálogo político. Mas, pelo que me informaram, os dois últimos seriam submetidos aos parlamentos de todos os países, mas a parte comercial seria submetida ao Parlamento Europeu. Assim, apesar da oposição da França e talvez da Itália, ele será aprovado. O Macron apareceria como contrário, mas ele seria voto vencido.

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Mesmo com as desculpas públicas do Carrefour, o Congresso brasileiro ameaça passar uma regra de reciprocidade para países que levantam barreiras para a agricultura brasileira. Isso pode ter algum impacto maior?

Também é algo sem grande impacto. Os congressistas e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estão fazendo um gesto político interno.

Ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington entre 1994 e 2004, Rubens Barbosa acredita que a polêmica envolvendo as compras de carne brasileira pelo Carrefour deve ter pouco efeito nas exportações do Brasil ou travar a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Mas, apesar da retratação do CEO global do Carrefour, o episódio pode deixar marcas. “Ele traz um problema de imagem”, diz Barbosa ao Estadão, por relacionar a decisão de não fazer compras a questões sanitárias e ambientais.

O Carrefour publicou na segunda-feira, 25, uma carta de retratação assinada pelo CEO global, Alexandre Bompard, dizendo que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, em respeito às normas e sabor”. O executivo abriu uma crise ao anunciar, na semana passada, que o Carrefour na França deixaria de vender carne proveniente do Mercosul, causando reação de políticos e produtores brasileiros, que afirmaram que o País deixaria de vender também para a varejista aqui.

Leia os principais trechos da entrevista com Barbosa.

Apesar dos pedidos de desculpas do Carrefour, ficarão cicatrizes desta polêmica envolvendo a compra de carne brasileira?

As medidas anunciadas pelo presidente do Carrefour tinham como motivação a política interna da França e o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Quem é contra a assinatura do acordo está vendo as negociações prestes a serem concluídas, o que possivelmente acontecerá na reunião no Uruguai, na primeira semana de dezembro. Então, foi uma manifestação política, talvez inspirada pelo (presidente da França, Emmanuel) Macron. Mas foi chato, porque traz um problema de imagem, quando o presidente do Carrefour não atribui a decisão de não comprar carne do Mercosul a uma questão protecionista, mas cita questões sanitárias e ambientais. Isso afeta a imagem da carne brasileira.

Então, pode haver reflexos desta declaração?

A nota do presidente do Carrefour pode ser usada no futuro. É uma questão de acusação que, mesmo desmentida, pode ser invocada por outros. Era algo sem fundamento. Se a carne brasileira não prestasse, o País não estaria exportando para 170 países.

O ex-embaixador Rubens Barbosa Foto: Filipe Araujo/Estadão

E há algum impacto prático de curto prazo nessa resistência francesa?

Não sei se por falta de informações, mas os agricultores franceses que protestam contra o Mercosul parecem não saber que o acordo amplia muito pouco as cotas de carnes que poderão ser vendidas para a Europa. Atualmente, são permitidas 200 mil toneladas e o acordo prevê 99 mil toneladas adicionais. Não vai haver uma inundação do mercado. Uma das críticas ao acordo era de que as cotas são muito baixas. O Brasil exporta muito pouco para a França. Não tem relevância, é menos de 0,5% das exportações de carne. Se a Europa vai fazer compras do mercado brasileiro, é um problema deles.

O acordo, então, tem pouco potencial de abrir mercado para a agricultura brasileira na França?

Quase 90% do consumo interno é atendido pela pecuária francesa. Para o nosso setor agrícola, não tem nenhum impacto. É uma bobagem. Na França, o setor agrícola representa em torno de 2% do PIB. Mas eles têm um poder político muito grande. Aqui o setor atende por cerca de 25% do PIB, e já é um grande exportador para o resto do mundo. O acordo entre a Europa e o Mercosul é visto mais do ponto de vista geopolítico do que comercial. Existe um período de liberalização de até 15 anos para produtos mais sensíveis.

Com esse episódio, pode haver mais empecilhos para a assinatura do acordo entre os dois blocos econômicos?

A França vai ficar contra. O acordo tem três pilares: de livre comércio, de cooperação e de diálogo político. Mas, pelo que me informaram, os dois últimos seriam submetidos aos parlamentos de todos os países, mas a parte comercial seria submetida ao Parlamento Europeu. Assim, apesar da oposição da França e talvez da Itália, ele será aprovado. O Macron apareceria como contrário, mas ele seria voto vencido.

Mesmo com as desculpas públicas do Carrefour, o Congresso brasileiro ameaça passar uma regra de reciprocidade para países que levantam barreiras para a agricultura brasileira. Isso pode ter algum impacto maior?

Também é algo sem grande impacto. Os congressistas e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estão fazendo um gesto político interno.

Ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington entre 1994 e 2004, Rubens Barbosa acredita que a polêmica envolvendo as compras de carne brasileira pelo Carrefour deve ter pouco efeito nas exportações do Brasil ou travar a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Mas, apesar da retratação do CEO global do Carrefour, o episódio pode deixar marcas. “Ele traz um problema de imagem”, diz Barbosa ao Estadão, por relacionar a decisão de não fazer compras a questões sanitárias e ambientais.

O Carrefour publicou na segunda-feira, 25, uma carta de retratação assinada pelo CEO global, Alexandre Bompard, dizendo que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, em respeito às normas e sabor”. O executivo abriu uma crise ao anunciar, na semana passada, que o Carrefour na França deixaria de vender carne proveniente do Mercosul, causando reação de políticos e produtores brasileiros, que afirmaram que o País deixaria de vender também para a varejista aqui.

Leia os principais trechos da entrevista com Barbosa.

Apesar dos pedidos de desculpas do Carrefour, ficarão cicatrizes desta polêmica envolvendo a compra de carne brasileira?

As medidas anunciadas pelo presidente do Carrefour tinham como motivação a política interna da França e o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Quem é contra a assinatura do acordo está vendo as negociações prestes a serem concluídas, o que possivelmente acontecerá na reunião no Uruguai, na primeira semana de dezembro. Então, foi uma manifestação política, talvez inspirada pelo (presidente da França, Emmanuel) Macron. Mas foi chato, porque traz um problema de imagem, quando o presidente do Carrefour não atribui a decisão de não comprar carne do Mercosul a uma questão protecionista, mas cita questões sanitárias e ambientais. Isso afeta a imagem da carne brasileira.

Então, pode haver reflexos desta declaração?

A nota do presidente do Carrefour pode ser usada no futuro. É uma questão de acusação que, mesmo desmentida, pode ser invocada por outros. Era algo sem fundamento. Se a carne brasileira não prestasse, o País não estaria exportando para 170 países.

O ex-embaixador Rubens Barbosa Foto: Filipe Araujo/Estadão

E há algum impacto prático de curto prazo nessa resistência francesa?

Não sei se por falta de informações, mas os agricultores franceses que protestam contra o Mercosul parecem não saber que o acordo amplia muito pouco as cotas de carnes que poderão ser vendidas para a Europa. Atualmente, são permitidas 200 mil toneladas e o acordo prevê 99 mil toneladas adicionais. Não vai haver uma inundação do mercado. Uma das críticas ao acordo era de que as cotas são muito baixas. O Brasil exporta muito pouco para a França. Não tem relevância, é menos de 0,5% das exportações de carne. Se a Europa vai fazer compras do mercado brasileiro, é um problema deles.

O acordo, então, tem pouco potencial de abrir mercado para a agricultura brasileira na França?

Quase 90% do consumo interno é atendido pela pecuária francesa. Para o nosso setor agrícola, não tem nenhum impacto. É uma bobagem. Na França, o setor agrícola representa em torno de 2% do PIB. Mas eles têm um poder político muito grande. Aqui o setor atende por cerca de 25% do PIB, e já é um grande exportador para o resto do mundo. O acordo entre a Europa e o Mercosul é visto mais do ponto de vista geopolítico do que comercial. Existe um período de liberalização de até 15 anos para produtos mais sensíveis.

Com esse episódio, pode haver mais empecilhos para a assinatura do acordo entre os dois blocos econômicos?

A França vai ficar contra. O acordo tem três pilares: de livre comércio, de cooperação e de diálogo político. Mas, pelo que me informaram, os dois últimos seriam submetidos aos parlamentos de todos os países, mas a parte comercial seria submetida ao Parlamento Europeu. Assim, apesar da oposição da França e talvez da Itália, ele será aprovado. O Macron apareceria como contrário, mas ele seria voto vencido.

Mesmo com as desculpas públicas do Carrefour, o Congresso brasileiro ameaça passar uma regra de reciprocidade para países que levantam barreiras para a agricultura brasileira. Isso pode ter algum impacto maior?

Também é algo sem grande impacto. Os congressistas e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estão fazendo um gesto político interno.

Ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington entre 1994 e 2004, Rubens Barbosa acredita que a polêmica envolvendo as compras de carne brasileira pelo Carrefour deve ter pouco efeito nas exportações do Brasil ou travar a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Mas, apesar da retratação do CEO global do Carrefour, o episódio pode deixar marcas. “Ele traz um problema de imagem”, diz Barbosa ao Estadão, por relacionar a decisão de não fazer compras a questões sanitárias e ambientais.

O Carrefour publicou na segunda-feira, 25, uma carta de retratação assinada pelo CEO global, Alexandre Bompard, dizendo que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, em respeito às normas e sabor”. O executivo abriu uma crise ao anunciar, na semana passada, que o Carrefour na França deixaria de vender carne proveniente do Mercosul, causando reação de políticos e produtores brasileiros, que afirmaram que o País deixaria de vender também para a varejista aqui.

Leia os principais trechos da entrevista com Barbosa.

Apesar dos pedidos de desculpas do Carrefour, ficarão cicatrizes desta polêmica envolvendo a compra de carne brasileira?

As medidas anunciadas pelo presidente do Carrefour tinham como motivação a política interna da França e o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Quem é contra a assinatura do acordo está vendo as negociações prestes a serem concluídas, o que possivelmente acontecerá na reunião no Uruguai, na primeira semana de dezembro. Então, foi uma manifestação política, talvez inspirada pelo (presidente da França, Emmanuel) Macron. Mas foi chato, porque traz um problema de imagem, quando o presidente do Carrefour não atribui a decisão de não comprar carne do Mercosul a uma questão protecionista, mas cita questões sanitárias e ambientais. Isso afeta a imagem da carne brasileira.

Então, pode haver reflexos desta declaração?

A nota do presidente do Carrefour pode ser usada no futuro. É uma questão de acusação que, mesmo desmentida, pode ser invocada por outros. Era algo sem fundamento. Se a carne brasileira não prestasse, o País não estaria exportando para 170 países.

O ex-embaixador Rubens Barbosa Foto: Filipe Araujo/Estadão

E há algum impacto prático de curto prazo nessa resistência francesa?

Não sei se por falta de informações, mas os agricultores franceses que protestam contra o Mercosul parecem não saber que o acordo amplia muito pouco as cotas de carnes que poderão ser vendidas para a Europa. Atualmente, são permitidas 200 mil toneladas e o acordo prevê 99 mil toneladas adicionais. Não vai haver uma inundação do mercado. Uma das críticas ao acordo era de que as cotas são muito baixas. O Brasil exporta muito pouco para a França. Não tem relevância, é menos de 0,5% das exportações de carne. Se a Europa vai fazer compras do mercado brasileiro, é um problema deles.

O acordo, então, tem pouco potencial de abrir mercado para a agricultura brasileira na França?

Quase 90% do consumo interno é atendido pela pecuária francesa. Para o nosso setor agrícola, não tem nenhum impacto. É uma bobagem. Na França, o setor agrícola representa em torno de 2% do PIB. Mas eles têm um poder político muito grande. Aqui o setor atende por cerca de 25% do PIB, e já é um grande exportador para o resto do mundo. O acordo entre a Europa e o Mercosul é visto mais do ponto de vista geopolítico do que comercial. Existe um período de liberalização de até 15 anos para produtos mais sensíveis.

Com esse episódio, pode haver mais empecilhos para a assinatura do acordo entre os dois blocos econômicos?

A França vai ficar contra. O acordo tem três pilares: de livre comércio, de cooperação e de diálogo político. Mas, pelo que me informaram, os dois últimos seriam submetidos aos parlamentos de todos os países, mas a parte comercial seria submetida ao Parlamento Europeu. Assim, apesar da oposição da França e talvez da Itália, ele será aprovado. O Macron apareceria como contrário, mas ele seria voto vencido.

Mesmo com as desculpas públicas do Carrefour, o Congresso brasileiro ameaça passar uma regra de reciprocidade para países que levantam barreiras para a agricultura brasileira. Isso pode ter algum impacto maior?

Também é algo sem grande impacto. Os congressistas e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estão fazendo um gesto político interno.

Ex-embaixador do Brasil em Londres e em Washington entre 1994 e 2004, Rubens Barbosa acredita que a polêmica envolvendo as compras de carne brasileira pelo Carrefour deve ter pouco efeito nas exportações do Brasil ou travar a assinatura do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Mas, apesar da retratação do CEO global do Carrefour, o episódio pode deixar marcas. “Ele traz um problema de imagem”, diz Barbosa ao Estadão, por relacionar a decisão de não fazer compras a questões sanitárias e ambientais.

O Carrefour publicou na segunda-feira, 25, uma carta de retratação assinada pelo CEO global, Alexandre Bompard, dizendo que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, em respeito às normas e sabor”. O executivo abriu uma crise ao anunciar, na semana passada, que o Carrefour na França deixaria de vender carne proveniente do Mercosul, causando reação de políticos e produtores brasileiros, que afirmaram que o País deixaria de vender também para a varejista aqui.

Leia os principais trechos da entrevista com Barbosa.

Apesar dos pedidos de desculpas do Carrefour, ficarão cicatrizes desta polêmica envolvendo a compra de carne brasileira?

As medidas anunciadas pelo presidente do Carrefour tinham como motivação a política interna da França e o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Quem é contra a assinatura do acordo está vendo as negociações prestes a serem concluídas, o que possivelmente acontecerá na reunião no Uruguai, na primeira semana de dezembro. Então, foi uma manifestação política, talvez inspirada pelo (presidente da França, Emmanuel) Macron. Mas foi chato, porque traz um problema de imagem, quando o presidente do Carrefour não atribui a decisão de não comprar carne do Mercosul a uma questão protecionista, mas cita questões sanitárias e ambientais. Isso afeta a imagem da carne brasileira.

Então, pode haver reflexos desta declaração?

A nota do presidente do Carrefour pode ser usada no futuro. É uma questão de acusação que, mesmo desmentida, pode ser invocada por outros. Era algo sem fundamento. Se a carne brasileira não prestasse, o País não estaria exportando para 170 países.

O ex-embaixador Rubens Barbosa Foto: Filipe Araujo/Estadão

E há algum impacto prático de curto prazo nessa resistência francesa?

Não sei se por falta de informações, mas os agricultores franceses que protestam contra o Mercosul parecem não saber que o acordo amplia muito pouco as cotas de carnes que poderão ser vendidas para a Europa. Atualmente, são permitidas 200 mil toneladas e o acordo prevê 99 mil toneladas adicionais. Não vai haver uma inundação do mercado. Uma das críticas ao acordo era de que as cotas são muito baixas. O Brasil exporta muito pouco para a França. Não tem relevância, é menos de 0,5% das exportações de carne. Se a Europa vai fazer compras do mercado brasileiro, é um problema deles.

O acordo, então, tem pouco potencial de abrir mercado para a agricultura brasileira na França?

Quase 90% do consumo interno é atendido pela pecuária francesa. Para o nosso setor agrícola, não tem nenhum impacto. É uma bobagem. Na França, o setor agrícola representa em torno de 2% do PIB. Mas eles têm um poder político muito grande. Aqui o setor atende por cerca de 25% do PIB, e já é um grande exportador para o resto do mundo. O acordo entre a Europa e o Mercosul é visto mais do ponto de vista geopolítico do que comercial. Existe um período de liberalização de até 15 anos para produtos mais sensíveis.

Com esse episódio, pode haver mais empecilhos para a assinatura do acordo entre os dois blocos econômicos?

A França vai ficar contra. O acordo tem três pilares: de livre comércio, de cooperação e de diálogo político. Mas, pelo que me informaram, os dois últimos seriam submetidos aos parlamentos de todos os países, mas a parte comercial seria submetida ao Parlamento Europeu. Assim, apesar da oposição da França e talvez da Itália, ele será aprovado. O Macron apareceria como contrário, mas ele seria voto vencido.

Mesmo com as desculpas públicas do Carrefour, o Congresso brasileiro ameaça passar uma regra de reciprocidade para países que levantam barreiras para a agricultura brasileira. Isso pode ter algum impacto maior?

Também é algo sem grande impacto. Os congressistas e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estão fazendo um gesto político interno.

Entrevista por Carlos Eduardo Valim

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