A Casa do Pão de Queijo entrou, na última sexta-feira, 28, com pedido de recuperação judicial. O valor acumulado da dívida é de R$ 57.496.189,82. O valor inclui contas de luz não pagas da fábrica da empresa, que corre o risco de parar a produção se a energia for interrompida. O processo está a cargo do juiz Leonardo Manso Vicentin, da 1ª Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem do Fórum João Mendes, na capital paulista.
Em nota emitida por sua assessoria de imprensa, a empresa afirmou que foi fortemente impactada pela pandemia de Covid-19, pela alta de juros e pelo clima. Em relação à pandemia, a Casa do Pão de Queijo diz que o evento a “obrigou a suspensão de atividades por razões sanitárias com a consequente perda de produtos, sem uma contrapartida suficiente em termos de aluguéis de lojas, pagamento de funcionários e contratos com fornecedores”.
A empresa também credita o cenário macroeconômico pouco favorável. “Em especial com os juros altos que afetaram não apenas a companhia, mas também vários setores da economia, notadamente o varejo”. Outro fator elencado envolve o clima, que levou a “perda de receitas relevantes”, diz a Casa do Pão de Queijo.
O pedido de recuperação judicial visa, segundo a empresa, “uma ampla e negociada solução para a situação financeira atual, de modo a permitir à direção da empresa honrar todos os seus compromissos”.
A Casa do Pão de Queijo informou ainda que as operações da companhia devem continuar normalmente na fábrica, nas lojas próprias e nas franquias, e que, inclusive, deve abrir novos pontos de venda. “Também estão previstos lançamentos de produtos no final do ano, como de costume”, diz.
O pedido inicial da ação, assinado pelos advogados Odair de Mores Júnior e Cybelle Guedes Campos, pede para que o caso seja tratado pela Vara Regional de Competência Empresarial e de Conflitos Relacionados à Arbitragem da 4ª Região Administrativa Judiciária (RAJ), em Campinas. O motivo é que a matriz da empresa é em Itupeva, onde também funciona a sua fábrica e área de competência da 4ª RAJ.
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Os R$ 57.496.189,82 que a Casa do Pão de Queijo pede para que seja incluído na recuperação judicial não são a dívida total da empresa. Ela contabiliza ainda outros R$ 28.712.388,90 de passivo tributário devido a municípios, governos estaduais e União, que não entram na recuperação judicial, e R$ 53.220.190,14 que também são passivos não sujeitos a entrar na ação. Se forem somadas, as três dívidas chegam juntas a R$ 139.428.768,86.
Do montante de R$ 57 milhões que são alvo do pedido de recuperação judicial, R$ 244.318,51 são dívidas trabalhistas. Outro R$ 1,3 milhão, devido a microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP). A maior parte, de R$ 55.890.806,88, forma os chamados credores quirográficos, que não terem direitos preferenciais de pagamento em uma eventual recuperação judicial.
Uma das dívidas que preocupa a empresa é a de fornecimento de energia elétrica contratada junto à CPFL Energia e EDP Smart. São três contas que somam juntas somam R$ 192.738,27. Uma delas, de R$ 60.446,18 está em aberto desde 23 de maio.
“Pois bem, a presente situação é extremamente grave e delicada, pois o corte dos serviços de energia elétrica, em razão do inadimplemento de dívida sujeita à recuperação judicial acarretará a paralisação das atividades comerciais da requerente e, fato este que poderá ensejar a sua falência, ante a impossibilidade do regular exercício de sua atividade empresarial”, afirma o texto da inicial da ação.
Histórico da empresa
A primeira unidade do que hoje é a Casa do Pão de Queijo foi fundada no ano de 1967 na rua Aurora, no centro de São Paulo, por Mario Carneiro e tinha o nome de Produtos Alimentícios Pereira Carneiro Ltda. A receita foi criada por Arthêmia Chaves Carneiro, a mulher que estampa a marca até os dias de hoje. Segundo a história contada pela própria empresa, no primeiro dia de atuação, foram vendidos 2.000 pães de queijo.
Com o crescimento da demanda, a empresa abriu a sua primeira fábrica no ano de 1983, na Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. O modelo de franquias foi adotado 20 anos após a criação da primeira unidade, em 1987. À época eram 13 lojas, número que saltou para 200 em 2000.
Ainda em 2000 a CPQ Brasil S/A, razão social da empresa, recebeu aporte financeiro do fundo de Private Equity do Banco Pátria. No mesmo ano, teve início a construção da fábrica de Itupeva, no interior do Estado. Cinco anos depois, o número de pontos de venda saltou para 700, e, em 2008, atingiu 1.000 lojas. Em 2009, um novo sócio entra no negócio, o Banco Santander. Em 2010 a empresa decidiu ampliar os negócios para além do pão de queijo e decidiu adquirir a marca O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo. Dois anos depois, em 2012, a família Carneiro tornou-se proprietária de 100% do negócio. Ela é presidida por Alberto Carneiro Neto.