Houve um tempo em que o passageiro das companhias aéreas era paparicado. O comandante Rolim, fundador da TAM, estendia-lhe tapete vermelho, mais do que um simples gesto. Hoje, é tratado de qualquer jeito.
Porque as empresas cortaram funcionários, as filas para atendimento produzem quase sempre enorme desconforto.
Sujeito a atrasos e cancelamentos, o passageiro nunca sabe qual é o portão certo de embarque, especialmente em Congonhas. Lá vai ele para o portão número 2, conforme instruído, mas logo aparece na tela que seu voo mudou para o portão 11, na outra ponta do saguão. Mas pode mudar outra vez.
Leia Também:
O tratamento para os prioritários vai carregado de enganação. Quando começa o embarque, são atendidos na frente. Mas a espera não termina aí. Têm de aguardar um tempão, do jeito que dá, finger abaixo, sem atenção para com suas dores nem para o desconforto da filharada, até a liberação final.
O serviço a bordo agora é um miserê. Antes do embarque, o passageiro já teve de submeter-se aos preços absurdos do pão de queijo e do cafezinho no aeroporto – o que não é da conta das companhias aéreas, mas elas nada fazem para que não seja assim. Lá dentro é presenteado com saquinho de lascas de batata doce desidratada. Saudades dos tempos da Panair.
A política radical de redução de custos deveria, ao menos, baratear as passagens. Não é o que se vê. Os critérios para fixação de tarifas, em dinheiro ou em direitos de milhagem, são um mistério, a não ser num ponto: o de que sobem sempre. Os preços aumentaram 17,5% em 2021; outros 23,5%, em 2022; e mais 47,24%, em 2023.
Dados da ferramenta consumidor.gov.br apontam que o setor foi o segundo com o maior número de reclamações no ano passado.
As companhias aéreas nacionais querem porque querem favores do governo. Tentaram forçar subsídios ao querosene de aviação, seu combustível. Logo se viu que a benesse teria de ser estendida para todas as aéreas que operam no País, inclusive as estrangeiras, para os jatinhos particulares e para a frota de helicópteros. Depois, exigiram créditos favorecidos do BNDES ou bancados pelo Tesouro, como se os bancos privados se recusassem a isso.
A Gol, que enfrenta processo de recuperação judicial nos Estados Unidos (Chapter 11), apresentou plano de financiamento de cerca de US$ 950 milhões ou R$ 4,7 bilhões. Os credores sugeriram injetar mais, coisa de US$ 1 bilhão, o que dá quase R$ 5 bilhões.
A Azul, a mais chorona por favores do governo, obteve dos bancos quase US$ 800 milhões (ou R$ 4,96 bilhões) em julho de 2023. E a Latam, que também acaba de enfrentar processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, saiu com caixa de US$ 2,2 bilhões (R$10,8 bilhões). No balanço de 2023, apresentou lucro líquido de US$ 581,5 milhões (R$ 2,9 bilhões).
Se o mercado financeiro está tão disposto a emprestar dinheiro para elas sem medo de perder com isso, por que o poder público tem de se curvar a esse jogo protecionista?