Veja três declarações/reclamações que se engancham umas às outras.
Tanto o presidente Lula como o ministro Fernando Haddad não só se vêm queixando da falta do selo de grau de investimento da economia brasileira, como garantem que este é objetivo da atual política econômica.
Enquanto isso, o vice-presidente da República e ministro do ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, afirma que a política de juros altos piora a situação das contas públicas. E o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, reclama de que, por conta dos juros altos, o brasileiro se tornou um rentista e não quer saber de investimentos. Com isso, o crescimento econômico e a criação de empregos ficam comprometidos.
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O presidente Lula e o ministro Haddad garantem que perseguem o grau de investimento, mas essa intenção declarada nada tem a ver com a política de fato. Grau de investimento é a avaliação feita pelas agências de análise de risco, as mais importantes são a Fitch, S&P Global Ratings e Moody’s, quando consideram que sobre um país (ou uma empresa) não recai suspeita de calote. Ora, no caso de um país, essa situação só é obtida quando as contas públicas estão equilibradas e eventual déficit está coberto com recursos disponíveis.
Se, no Brasil, as contas públicas estão no estado em que estão e se o rombo fiscal é coberto por “matemágicas” – para ficar com a expressão do economista Gabriel de Barros –, não dá para pretender que as agências de risco confiram grau de investimento ao Brasil, que é o carimbo que atrai investimentos de risco e cria empregos. Curiosamente, o presidente Lula vem se referindo ao grau de investimento como projeto dos banqueiros da Faria Lima e, no entanto, eis que é proclamado também como objetivo do seu governo.
Alckmin tem certa razão quando afirma que “não tem nada pior para a questão fiscal do que a alta da Selic”, porque juros altos aumentam a dívida pública. Mas essa afirmação tem o mesmo nível de verdade que a afirmação de que “nada pior para a covid-19 do que muita covid”, pelo aumento do potencial de contaminação. O vice-presidente parece desconhecer que os juros são altos no Brasil, principalmente, porque a inflação é impulsionada por uma política fiscal dominada pela gastança.
É também verdadeiro que o brasileiro prefere aplicar recursos no mole do que em outros tipos de investimento, porque a rentabilidade da aplicação financeira desestimula a tomada de risco. Só que não basta apontar para essa distorção se não se aponta, também, para a mãe das distorções: a atual política fiscal que, para a cura, exige aplicação de soro contra picada de cobra, feito com veneno de cobra... pelo Banco Central.
Para obter o desejado grau de investimento e, assim, conseguir crescimento sustentável e pleno-emprego, ou o governo preza o controle das contas públicas com uma política fiscal equilibrada ou, então, o Banco Central terá de agir com o remédio de que dispõe