Jornalista e comentarista de economia

Opinião|O rombo e os auditores


Em mais um caso de possível negligência na auditoria de contas de grandes empresas, a governança corporativa e a confiança das consultorias ficam sob desconfiança

Por Celso Ming
Atualização:

O rombo inicialmente avaliado em R$ 20 bilhões na contabilidade das Americanas  não se resolve apenas com punição dos funcionários responsáveis e capitalização da empresa.

A questão mais profunda que tem de ser examinada é saber o que faziam os auditores, no caso a PwC, que levaram uma bola de nove anos entre as pernas.

O balanço de 2021 e os dos três trimestres seguintes foram aprovados pelo auditor, sem nenhum reparo, sem nenhuma ressalva, como se tudo estivesse dentro dos conformes. E, no entanto, o rombo é de quase o dobro do valor de mercado da empresa antes de ele se tornar público. Não é um cisco à toa; é um tronco de maçaranduba, que vai exigir forte recapitalização e renegociação do passivo da empresa. Mas os auditores não o viram ou tinham os olhos dormentes postados na paisagem de além.

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Essa é uma história antiga no Brasil. Em 1986, os auditores da KPMG não tinham enxergado o buracão no então Banco Nacional, que, em seguida, quebrou. Logo antes do naufrágio do Banco Econômico, em 2007, a Ernest & Young atestava que a contabilidade do banco irradiava saúde.

De nenhum acionista, muito menos de leigos que atuam no mercado de renda variável ou em outras áreas, se espera conhecimento suficiente para destrinchar uma contabilidade de uma empresa complexa, carregada de milhares e milhares de notas e de contratos. Para atestar a qualidade dos lançamentos contábeis e dos resultados dessas companhias, existem os auditores, que examinam em profundidade as contas e devem garantir (ou não) sua lisura e sua capacidade de produzir renda.

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A Americanas anunciou que a nova gestão da companhia identificou R$ 20 bilhões em “inconsistências” no balanço da empresa. Foto: São Luís Shopping

Mas nem sempre as coisas funcionam assim. No caso das Americanas, bastaram 10 dias de avaliação para que o então CEO, Sergio Rial, agora demissionário, topasse com o rombo bilionário que, uma vez denunciado, derrubou o valor da ação da empresa na Bolsa brasileira no pregão seguinte em nada menos de 77% e produziu perdas de valor de mercado de R$ 8,3 bilhões. A PWC não foi capaz disso em anos. Por quê?

Quando se trata de fraude, nem sempre o auditor consegue rastreá-la, porque os fraudadores podem ser mais espertos. Mas, ao acreditar na hipótese externada pelo agora ex-presidente da empresa, a principal distorção tem como causa grave erro de lançamento contábil que um auditor qualificado teria de descobrir.

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O problema extrapola o âmbito das Americanas e se estende às demais empresas, abertas ou fechadas. Se um rombo desses apareceu na contabilidade de uma empresa relativamente pequena sem ter sido detectado anteriormente pelo auditor, o que não poderá acontecer nas contas das empresas maiores e de grande liquidez?

E, assim, ficou inevitável certa perda de confiança nos atestados de qualidade repassados pelas auditorias.

O rombo inicialmente avaliado em R$ 20 bilhões na contabilidade das Americanas  não se resolve apenas com punição dos funcionários responsáveis e capitalização da empresa.

A questão mais profunda que tem de ser examinada é saber o que faziam os auditores, no caso a PwC, que levaram uma bola de nove anos entre as pernas.

O balanço de 2021 e os dos três trimestres seguintes foram aprovados pelo auditor, sem nenhum reparo, sem nenhuma ressalva, como se tudo estivesse dentro dos conformes. E, no entanto, o rombo é de quase o dobro do valor de mercado da empresa antes de ele se tornar público. Não é um cisco à toa; é um tronco de maçaranduba, que vai exigir forte recapitalização e renegociação do passivo da empresa. Mas os auditores não o viram ou tinham os olhos dormentes postados na paisagem de além.

Essa é uma história antiga no Brasil. Em 1986, os auditores da KPMG não tinham enxergado o buracão no então Banco Nacional, que, em seguida, quebrou. Logo antes do naufrágio do Banco Econômico, em 2007, a Ernest & Young atestava que a contabilidade do banco irradiava saúde.

De nenhum acionista, muito menos de leigos que atuam no mercado de renda variável ou em outras áreas, se espera conhecimento suficiente para destrinchar uma contabilidade de uma empresa complexa, carregada de milhares e milhares de notas e de contratos. Para atestar a qualidade dos lançamentos contábeis e dos resultados dessas companhias, existem os auditores, que examinam em profundidade as contas e devem garantir (ou não) sua lisura e sua capacidade de produzir renda.

A Americanas anunciou que a nova gestão da companhia identificou R$ 20 bilhões em “inconsistências” no balanço da empresa. Foto: São Luís Shopping

Mas nem sempre as coisas funcionam assim. No caso das Americanas, bastaram 10 dias de avaliação para que o então CEO, Sergio Rial, agora demissionário, topasse com o rombo bilionário que, uma vez denunciado, derrubou o valor da ação da empresa na Bolsa brasileira no pregão seguinte em nada menos de 77% e produziu perdas de valor de mercado de R$ 8,3 bilhões. A PWC não foi capaz disso em anos. Por quê?

Quando se trata de fraude, nem sempre o auditor consegue rastreá-la, porque os fraudadores podem ser mais espertos. Mas, ao acreditar na hipótese externada pelo agora ex-presidente da empresa, a principal distorção tem como causa grave erro de lançamento contábil que um auditor qualificado teria de descobrir.

O problema extrapola o âmbito das Americanas e se estende às demais empresas, abertas ou fechadas. Se um rombo desses apareceu na contabilidade de uma empresa relativamente pequena sem ter sido detectado anteriormente pelo auditor, o que não poderá acontecer nas contas das empresas maiores e de grande liquidez?

E, assim, ficou inevitável certa perda de confiança nos atestados de qualidade repassados pelas auditorias.

O rombo inicialmente avaliado em R$ 20 bilhões na contabilidade das Americanas  não se resolve apenas com punição dos funcionários responsáveis e capitalização da empresa.

A questão mais profunda que tem de ser examinada é saber o que faziam os auditores, no caso a PwC, que levaram uma bola de nove anos entre as pernas.

O balanço de 2021 e os dos três trimestres seguintes foram aprovados pelo auditor, sem nenhum reparo, sem nenhuma ressalva, como se tudo estivesse dentro dos conformes. E, no entanto, o rombo é de quase o dobro do valor de mercado da empresa antes de ele se tornar público. Não é um cisco à toa; é um tronco de maçaranduba, que vai exigir forte recapitalização e renegociação do passivo da empresa. Mas os auditores não o viram ou tinham os olhos dormentes postados na paisagem de além.

Essa é uma história antiga no Brasil. Em 1986, os auditores da KPMG não tinham enxergado o buracão no então Banco Nacional, que, em seguida, quebrou. Logo antes do naufrágio do Banco Econômico, em 2007, a Ernest & Young atestava que a contabilidade do banco irradiava saúde.

De nenhum acionista, muito menos de leigos que atuam no mercado de renda variável ou em outras áreas, se espera conhecimento suficiente para destrinchar uma contabilidade de uma empresa complexa, carregada de milhares e milhares de notas e de contratos. Para atestar a qualidade dos lançamentos contábeis e dos resultados dessas companhias, existem os auditores, que examinam em profundidade as contas e devem garantir (ou não) sua lisura e sua capacidade de produzir renda.

A Americanas anunciou que a nova gestão da companhia identificou R$ 20 bilhões em “inconsistências” no balanço da empresa. Foto: São Luís Shopping

Mas nem sempre as coisas funcionam assim. No caso das Americanas, bastaram 10 dias de avaliação para que o então CEO, Sergio Rial, agora demissionário, topasse com o rombo bilionário que, uma vez denunciado, derrubou o valor da ação da empresa na Bolsa brasileira no pregão seguinte em nada menos de 77% e produziu perdas de valor de mercado de R$ 8,3 bilhões. A PWC não foi capaz disso em anos. Por quê?

Quando se trata de fraude, nem sempre o auditor consegue rastreá-la, porque os fraudadores podem ser mais espertos. Mas, ao acreditar na hipótese externada pelo agora ex-presidente da empresa, a principal distorção tem como causa grave erro de lançamento contábil que um auditor qualificado teria de descobrir.

O problema extrapola o âmbito das Americanas e se estende às demais empresas, abertas ou fechadas. Se um rombo desses apareceu na contabilidade de uma empresa relativamente pequena sem ter sido detectado anteriormente pelo auditor, o que não poderá acontecer nas contas das empresas maiores e de grande liquidez?

E, assim, ficou inevitável certa perda de confiança nos atestados de qualidade repassados pelas auditorias.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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